Avaliação de Perturbação Pós-Stress Traumático (PPST) e do sono em Refugiados e Requerentes de Asilo: PCL-5 e Life Events Checklist do DSM-5 em crianças e adultos (2022-2025)

Investigadora Integrada: Sandra Figueiredo (IR)

A investigação científica, atualmente na área das Ciências do Comportamento, e mais especificamente em Psicologia, tem como responsabilidade a identificação, a análise e a elaboração de modelos de intervenção junto dos grupos vulneráveis tais como refugiados e requerentes de asilo. Os conflitos bélicos e os regimes opressores de vários países estão a provocar o aumento exponencial da mobilidade forçada de crianças e adultos com destino principal nos países europeus. A realidade portuguesa não é completamente conhecida enquanto país de acolhimento. Sobretudo, e porque é o foco deste estudo, no que respeita ao entendimento do trauma e de eventual Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) na população refugiada ucraniana. Por um lado, urge o (re)conhecimento da realidade da saúde mental desta população – especificamente no que concerne ao trauma – em contexto de mobilidade forçada resultante de experiências de guerra e de contextos de violação dos direitos humanos. Por outro lado, não se conhece instrumentos de avaliação de PSPT para população refugiada em Portugal sob a tutela da proteção internacional. Segundo o DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 2022), a PSPT refere-se a um quadro de sintomatologia que se manifesta logo após a exposição a eventos caraterizados como traumáticos ou potencialmente stressores agudos, sendo que o indivíduo os experiencia direta ou indiretamente. Essa sintomatologia – após o evento – é observável através de comportamentos tais como medo excessivo, experienciar repetitivamente o evento (memórias intrusivas), evitamento constante quando perante estímulos associados ao trauma, e hiper-vigilância. Para se diagnosticar uma PSPT, esse conjunto de sintomas tem de perdurar além de quatro semanas. Quanto ao diagnóstico da PSPT, a literatura disponibiliza alguns instrumentos (escalas ou questionários) para a sua avaliação, aplicáveis a civis e a militares envolvidos em eventos traumáticos (ainda não validados para a maioria das populações e com versões traduzidas sem supervisão científica das mesmas). No que respeita aos correntes conflitos, a população refugiada e requerente de asilo poderá apresentar uma sintomatologia intensa de trauma (com implicações diretas na qualidade do sono de crianças e adultos) que não pode ser descurada pela investigação e pelos profissionais que asseguram a inclusão dos refugiados. Aliás, é esta uma das prioridades inerentes à Agenda 2030 das Nações Unidas. O instrumento PCL-5 de Carvalho, da Motta e Pinto-Gouveia (2020) com origem no Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5 (Weathers et al., 1993, com atualização posterior dos mesmos autores (2013)) tem sido utilizado em populações vítimas de contextos bélicos, mas não só (por exemplo profissionais de segurança pública e civis com exposição a eventos de violência doméstica e de violência sexual). Nos estudos de validação prévios com outras nacionalidades em contextos bélicos maioritariamente, a escala PCL-5 tem sido reconhecida quanto à sua robustez psicométrica e adequação eficaz ao modelo de quatro fatores de PSPT do DSM-5. A aplicação do PCL-5 com índices satisfatórios foi atestada em amostras de veteranos (Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2016; Hoge et al., 2014; Keen et al., 2008; Konecky et al., 2015; Murphy et al., 2017), bombeiros (Carvalho, da Motta & Pinto-Gouveia, 2020), e refugiados (Ibrahim et al., 2018), imigrantes (Hall et al., 2019), e outros casos como amostras estudantis (Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015). Nestes estudos transculturais, verificou-se pontos de corte muito satisfatórios (entre 31 e 37), mas houve variações a considerar à medida que as populações variavam também (de 25 pontos a 42; a escala tem o máximo de 80 pontos) (Roberts et al., 2021). Os autores acima referidos são unânimes quanto à necessidade de estabelecer e diferenciar pontos de corte de acordo com as amostras e culturas, mas também é conhecida a relação frequente (e por vezes gerando ambiguidade no diagnóstico) com outras comorbidades como depressão e ansiedade (Miles et al., 2008; Roberts et al., 2020). A escala é composta pelas seguintes subescalas: Intrusão (α = .89), Evitamento (α = .76), Alterações Negativas Cognitivas e de Humor (α = .87) e de Ativação/Reatividade (α = .85). Desta forma, atendendo à extrema escassez de literatura válida e científica sobre o trauma na população refugiada e requerente de asilo (em Portugal) será administrado o PCL-5 a vários grupos de diferentes países de origem (1); e o questionário do sono de Pittsburgh para avaliar o comportamento e qualidade de sono nos mesmos grupos (2). Além do PCL-5, integrar-se-á o LEC-5 (Life Events Checklist) que é importante para cumprir o critério A do PCL-5 (e ajuda à avaliação do construto) na avaliação e protocolo. Assim, poderemos validar as propriedades psicométricas de diferentes versões dos instrumentos identificados, atendendo às principais línguas maternas de populações deslocadas; assim como compreender aspetos de vulnerabilidade e idiossincrasias da saúde mental deste novo grupo migrante e em contexto de acolhimento português.

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