Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
XVI
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
XVI
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
PSIQUE | Volume XVI | Issue 2 | 1st July – 31st December 2020
Semiannual Publication. Scientic Journal of the Centre for Research in Psychology – CIP – from the Universidade
Autónoma de Lisboa – Luís de Camões.
PSIQUE is a scientic journal in Psychology published by the Centre for Psychology of the Universidade
Autónoma de Lisboa.
Since 2005, PSIQUE has been publishing original papers in the scientic eld of Psychology, in its
several elds of specialization, in open access and free of charge.
From 2018, it is a semi-annual journal publication from 1st January to 30th June and from 1st July to
31st December.
Aims and Scope
It is particularly aimed at psychology researchers, lecturers and students but also at general readers
who are interested in this eld of science.
Psique publishes advances in basic or applied psychological research of relevance for understanding
and improving the human condition in the world. Contributions from all elds of psychology addressing
new developments with innovative approaches are encouraged. Articles that (a) integrate perspectives
from dierent areas within psychology; (b) study the roles of physical, social and cultural domains in
human psychological processes; or (c) include psychological perspectives from dierent regions in the
world are particularly welcomed.
The journal publishes papers in Portuguese, Spanish, French and English.
Directory: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Databases: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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PSIQUE | Volume XVI | Fascículo 2 | 1 de julho – 31 de dezembro 2020
Publicação semestral. Revista Cientíca do Centro de Investigação em Psicologia – CIP – da Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
A Psique é uma revista cientíca em Psicologia, editada pelo Centro de Investigação em Psicologia da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Desde 2005 publica artigos originais e comunicações na área cientíca da Psicologia, nos seus vários
domínios de especialização, de acesso livre e gratuito.
É um periódico semestral, a partir de 2018, com data de publicação de 1 de janeiro a 30 de junho e de
1 de julho a 31 de dezembro.
Âmbito e Objetivos
Dirige-se particularmente a investigadores, docentes e estudantes em Psicologia, mas também aos lei-
tores em geral que se interessem pelo conhecimento desta ciência.
A Psique publica avanços na investigação cientíca básica ou aplicada, em Psicologia, com relevância
para compreender e melhorar a condição humana no mundo. A Psique encoraja a submissão de con-
tribuições de todos os campos da Psicologia, produzindo novos desenvolvimentos cientícos, através
de abordagens inovadoras. Particularmente bem-vindos são os artigos que: (a) integram perspetivas de
diferentes áreas da Psicologia; (b) estudam o papel dos domínios físico, social e cultural nos processos
psicológicos humanos; ou (c) integram perspetivas psicológicas de diferentes regiões do mundo.
A revista aceita artigos em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Diretórios: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Base de Dados: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
Indexação: Academic Search (EBSCO Publishers)
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DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2
e-ISSN: 2183-4806
Title tulo: Psique
Site: https://cip.autonoma.pt/revista-psique/
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Periodicity: Semiannual Periodicidade: Semestral
Editor in Chief Director: João Hipólito
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Este trabalho é nanciado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – no âmbito do
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TABLE OF CONTENTS ÍNDICE
Editorial
Maria Luísa Ribeiro 7
Intervenção psicológica à distância em tempos de pandemia: da revisão de literatura à reexão prossional
Remote psychological intervention inpandemictimes: fromliterature review to professional reection
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito 8
Equilíbrio família-trabalho: considerações apartir dapandemia do COVID-19 para o trabalho
eaaprendizagem em casa
Family-Work Balance: Considerations from the COVID-19 Pandemic for Work and Learning at Home
Liliana Faria, Nazaré Loureiro 22
Ansiedade e depressão como fatores de interferência naqualidade de vida de pessoas com esclerose
múltipla
Anxiety and depression as interference factors in the quality of life of people with multiple sclerosis
Daniele Batista de Sousa, Jislaine de Oliveira da Silva, Thais Mira Simandi,
Dyana Gervana de Oliveira Fernandes, Dra Ana Maria Canzonieri, Dr Carlos Bandeira de Mello Monteiro 34
Construção e evidências iniciais de validade de uma escala brasileira de identicação nacional
Development of a Brazilian scale of national identity and preliminary evidence of validity
Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva 48
Author Instructions
Instruções aos Autores 63
Reviewers instructions
Instruções aos Revisores 67
7
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
NOTA EDITORIAL
As palavras são, na minha opinião pouco humilde, a nossa fonte inexaurível de magia. Capaz tanto de infligir
danos como de os remediar.
Albus Dumbledore, em Harry Potter.
Esta edição é o resultado de muitas ações de pessoas comuns, unidas numa intenção comum. Foi essa
colaboração e entreajuda, em condições exigentes, no meio de uma pandemia mundial, e apesar de mui-
tas limitações de tempo e espaço, que permitiu que mais uma edição da Psique estivesse completa, reu-
nindo as palavras de quatro artigos originais.
Em sintonia com os esforços da comunidade científica de outras áreas, como a Medicina, Biologia e Epi-
demiologia, os rios autores da área da Psicologia continuaram também as suas investigações, no sen-
tido de melhorar a saúde dos indivíduos nas várias áreas da sua vida. Neste número partilhamos com os
leitores quatro trabalhos bem diversos, abarcando as áreas da Psicologia Clínica, Organizacional e Social.
O nosso primeiro artigo apresenta-nos um estudo sobre intervenção psicológica efetuada à distância,
tendo ocorrido exatamente durante o segundo período de confinamento em Portugal. Apesar deexis-
tirem anteriores práticas de intervenção psicológica à disncia, e estudos sobre o tema, o contexto pan-
démico poderá trazer aqui uma caracterização particular deste tipo de intervenção, tornando este tipo
de estudos particularmente pertinente.
Também a situação de confinamento tornou ainda mais relevante a imporncia do equilíbrio entre a
área laboral e a familiar, quer para a saúde do indivíduo, quer para o bem-estar de todos os elementos
da família, e a produtividade no trabalho. Esta é a temática abordada pelo segundo artigo, fazendo uma
revisão atual do conhecimento desta temática.
O reconhecimento da visão holística do ser humano, e da interação e interdependência entre aquilo que
tradicionalmente é visto como “doença psicológica e “doença física, tem sido um dos desenvolvimentos
mais importantes nas rias ciências que estudam a saúde humana. Esta ideia é central ao terceiro traba-
lho apresentado neste número da Psique, relacionando algumas das doenças psicológicas mais prevalen-
tes, a ansiedade e a depressão, com a esclerose múltipla.
O nosso quarto artigo dedica-se a um tema de cariz mais sociológico, propondo uma escala específica
para a Identidade Nacional. Durante um acontecimento global que torna ainda mais claro a nossa inter-
dependência como habitantes do mesmo planeta, pensar na nossa identidade e como ela reflete a nossa
cultura nacional, é um exercício interessante.
A todos o meu sentido agradecimento: à Direção da Psique, pela perseveraa na manutenção deste pro-
jeto, aos colegas editores, no trabalho incansável para que este projeto tenha frutos, aos autores, que nos
confiam o seu trabalho, aos revisores, que asseguram a qualidade do que apresentamos e ajudam os auto-
res a melhorar, aos editores-assistentes que asseguram que não haja uma vírgula fora do sítio, e a toda a
equipa atrás da capa, que asseguram que tudo chegue da melhor forma aos leitores. E claro, aos leitores,
pela sua preferência.
Que o novo número da Psique nos chegue em melhores condições mundiais.
Maria Luísa Ribeiro
8
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA À DISTÂNCIA EM TEMPOS
DE PANDEMIA: DA REVISÃO DE LITERATURA À REFLEXÃO
PROFISSIONAL
REMOTE PSYCHOLOGICAL INTERVENTION INPANDEMICTIMES:
FROMLITERATURE REVIEW TO PROFESSIONAL REFLECTION
BeatrizSilva1, OdeteNunes2, RuteBrites3, JoãoHipólito4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2020 PP. 821
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2.1
Submited on March 17th, 2021
Submetido a 17 de março de 2021
Resumo
Nocontexto atual de pandemia de COVID-19, tornou-seimperiosaa utilização dastecnolo-
gias para a prática de intervenções psicológicas à distância, na tentativa de mitigar opotencial
impacto desta situação na saúde mentaldos indivíduos, sem aumentar o risco de infeção epro-
pagação do vírus.A revisão deliteraturainicial teve por objetivo analisar a evidência científica
sobre o sucesso e as características deste tipo de intervenção,por comparação com asinterven-
çõespsicológicaspresenciais. Os dados, ainda quenãoconsensuais, demonstram poucas dife-
renças significativas, sobretudo considerando a perspetiva do cliente e a aliança terapêutica.
No entanto, diversos autores alertam para as diferenças entre os dois tipos de intervenção, na
medida em que em presença se consegue desenvolver uma relação terapêutica efetiva e de
qualidade. A partir desta revisão de literatura, os autores refletem sobre os aspetos idiossincráti-
cos das intervenções psicológicas presenciais, os quais as tornam impossíveis de replicar, à dis-
tância.
Palavras-Chave: Relação terapêutica – COVID-19–Intervenções online – Comunicação
Abstract
In the current context of theCOVID-19 pandemic, the use of technologies for remote psy-
chological interventions has becomeimperioustomitigate the potential impact of this situation
1 Centro Universitário de Psicologia e Aconselhamento, Universidade Autónoma de Lisboa,Lisboa, Portugal blopestomas@
autonoma.pt
2 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
onunes@autonoma.pt
3 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
rbrites@autonoma.pt
4 CIP – Centro de Investigação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal 
jhipolito@autonoma.pt
9
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020 pp. 8-21
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito
on the mental health of individuals,without increasing the risk of infection and spread of the
virus. The initial literature review aimed to analyse the scientific evidence on the success and
characteristics of this type of intervention, by comparison with face-to-face psychological inter-
ventions. The data, although not consensual, show few significant differences, especially consid-
ering the client’s perspective and the therapeutic alliance. However, several authors warn about
the differences between the two types of intervention, as only in presence can an effective and
quality therapeutic relationship be developed. From this literature review, the authors reflect on
the idiosyncratic aspects offace-to-facepsychological interventions, which make them impos-
sible to replicate at a distance.
Keywords:Therapeutic relationship – COVID-19 –Online interventions –Communication
O novo coronavírus SARS-CoV-2(SevereAcuteRespiratorySyndromeCoronavírus 2)foi
identificado pela primeira vez no final de 2019, na China. Este vírus propagou-se pelo mundo
inteiro e é responsável pela doença Covid-19 (CoronavírusDisease-[20]19), cuja transmissão ocorre
através da libertação de gotículas com partículas virais respiratórias, transmissíveis de pessoa
para pessoa (Direção Geral daSaúde [DGS], 2020;Zhuetal., 2020).Atualmente, a nível mundial, a
pandemia de COVID-19 desencadeoua implementaçãodevárias medidas de prevenção em várias
partes do mundo, nomeadamente a que se tem designado de distanciamentofísico.Astentativas
decontrolodesta doença têm passado pela implementação de medidasde saúde pública, sobres-
saindo o isolamento, a quarentena e o distanciamento social (Centron&Landwirth, 2005;Cen-
tron& Simone, 2004; Reynoldsetal., 2008;Wilder-Smith &Freedman, 2020).
O isolamento consiste na separação de indivíduos com doenças contagiosas, dos indiví-
duosnãoinfetados, de modo a proteger estes últimos (Wilder-Smith &Freedman, 2020). A qua-
rentena é uma das mais antigas e eficazes ferramentas para controlar surtos de doenças conta-
giosas, e consiste na restrição das interações de indivíduos que, presumidamente, tenham sido
expostos a uma doença contagiosa, mas que não se encontram doentes, seja por não terem sido
infetados ou por ainda o exibirem sintomas (Wilder-Smith &Freedman, 2020). O distancia-
mentofísicofoi desenhado para reduzir as interações entre as pessoas, numa comunidade abran-
gente, em que os indivíduos podem estar infetados, mas ainda não terem sido identificados e,
consequentemente, não terem sido isolados (Wilder-Smith &Freedman, 2020).
Estas medidas, úteis ao nível da prevenção e da erradicação da CVID19,não são inócuas nas
suas consequências.Tem-se constatado que as reações psicológicas da população, durante e após
o surto (Cullen,Gulati, & Kelly, 2020), desempenham um papel crítico na propagação da doença
e na ocorrência de sofrimento emocional e desorganização social. Assim, as necessidades da
globalidade da pessoa não devem ser negligenciadas,pois que os fatores psicológicos têm uma
importância acrescida na adesão às medidas de saúde pública, e na gestão da ameaça de infeção
e consequentes perdas (Taylor, 2019).
No que respeita ao distanciamento físico, rios autoresdescrevem asconsequências nega-
tivas para a saúde mental e bem-estar dos indivíduos, a curto e longo prazo (Galea, Merchant,
&Lurie, 2020).Também os indivíduos sujeitos à quarentena (surto de SARS-CoV) experienciaram
um impacto psicológico maior do que a populaçãogeral (Reynoldsetal., 2008), havendo uma
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Intervenção psicogica à distância em tempos de pandemia:
da revisão de literatura à refleo profissional
percentagem significativa de indivíduos com perturbações do foro psicológicocomo consequên-
cia das restrições de liberdade (Hawrylucketal., 2004).
Torna-se assim urgente o recurso dos profissionais de saúde mental a diferentes formas tec-
nológicas para realizar intervenções à distância (Liu, Yangetal., 2020) que possibilitem intervir
de forma positiva no sofrimento da pessoa, tanto no contexto atual como no contextopós-pan-
demia(Ho,Chee, & Ho, 2020;Orr et al., 2020).
Assim, estas medidas de prevenção edeerradicação da infeção tiveram efeito em duas fren-
tes”. Por um lado, um potencial aumento de problemas de saúde mental; por outro, a priorizão
do uso de tecnologias digitais como meio de diminuir a distância social e proporcionar um acesso
cil a serviços de saúde mental, sem aumentar o risco de infeção (Merchant &Lurie, 2020;Rajku-
mar, 2020).
IntervençõesPsicológicasàDistância
Do ponto de vista histórico, constata-se que as intervenções psicológicas à distância emergi-
ram na internet, emmodalidadeonline,por volta de 1982, através de grupos de autoajuda (Kanani
& Regehr, 2003). Contudo, o atendimento psicológico por telefone é uma prática quejá remonta à
década de 50 (Godleski,Nieves,Darkins, &Lehmann, 2008;Scharff, 2013).
As condicionantes e consequências resultantes da pandemia COVID-19aceleraram ocresci-
mento exponencial das intervenções psicológicas à disncia,comouma alternativa às interven-
ções presenciais tradicionais (Banburyetal., 2018; Barak,Klei, &Proudfoot, 2009;Chakrabarti,
2015;Foreman-Tran, 2019;Gloff,LeNoue,Novins, &Myers, 2015;Grist,Croker,Denne, &Stallard,
2019; Kahlon, Lindner, & Nordgreen, 2019; Richardson, Frueh, Grubaugh, Egede, & Elhai,
2009;Spooneretal., 2019;Whealin,Seibert-Hatalsky,Howell, & Tsai, 2015).
Esta forma de eliminar adistância, geográfica, temporal, ou até circadiana (Gradyetal., 2011)
possibilita estabeleceracomunicaçãode forma síncrona (em tempo real), ou asncrona, em fun-
ção do meio tecnológico utilizado. Segundo vários autores, as intervenções à distância visam,
essencialmente,facilitar o acesso aos serviços de saúde mental e reduzir a estigmatização asso-
ciada à utilização dos mesmos (Bird,Chow,Meir, &Freeman, 2019; Bush, Armstrong, &Hoyt,
2019; Chakrabarti, 2015; Edirippulige, Levandovskaya, & Prishutova, 2013; Joyce, 2012; Mor-
landetal., 2013;Whealinetal., 2015). A intervenção por videoconfencia é a que mais se asse-
melha às do tipopresencial, por possibilitar que os intervenientesse vejam e ouçam em tempo
real(Berger, 2017).
Segundo a revisãode literaturaefetuada,estetipo de intervenção nãoreúne o consenso dos
investigadores, verificando-sequeraenumeração de aspetos positivosquera referência a des-
vantagens.Nadefesa dosaspetos positivosé realçada amaiorabrangência geográfica,aalgumas
ofertademeios apopulaçõesmais isoladas(Aboujaoudeetal., 2015;Chakrabarti, 2015;Mac-
Donell & Prinz, 2017; Morland, Poizner, Williams, Masino, & Thorp, 2015; Whealin et al.,
2015);oaumento de possibilidades aosindivíduoscom limitaçõessicas ou psicológicas (ex:ago-
rafobia).
Por outro lado, a flexibilidade e a conveniência também representam uma vantagem des-
tasintervençõespermitindofazer escolhas, tais como,a localização e o dispositivo, tanto pelos
clientes como pelospsicólogos; aconstituão de umgrupointegrando indivíduosde diferentes
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020 pp. 8-21
BeatrizSilva, OdeteNunes, RuteBrites, JoãoHipólito
localizações geográficas;a poupança de custos por não existir a necessidade deinfraestruturas;a
flexibilidade na organização dos horários; o dispêndio de menos tempo nas deslocações(Abou-
jaoudeetal., 2015;Gradyetal., 2011;MacDonell&Prinz, 2017;Morlandetal., 2013;Safdarietal.,
2019;Shrecketal., 2020). Tambémé enfatizadoobem-estar e conforto dos clientes, surgindo a
opinião que a intervenção à distânciaproporcionamaior privacidade.
Os autores que encontram obstáculos e desvantagens assinalam a ausência de contacto
humano; o potencial impacto na aliança terapêutica; a sensação de pouca intimidade ou proxi-
midade; a ausência de calor humano; a fácil interrupção do processo terapêutico; os problemas
de conexão tecnológica; aeventualpouca experiência no uso dos meios tecnológicos (MacDo-
nell&Prinz, 2017;Safdarietal., 2019); a preocupação com a falta de um espaço privado; a inse-
gurança no que respeita à confidencialidade (Aboujaoudeetal., 2015;Safdarietal., 2019);aredu-
ção na recolha de informação obtida pelos indicadores não-verbais (Aboujaoude et al.,
2015;Gençetal., 2019;Kocsis&Yellowlees2018;MacDonell&Prinz, 2017;Shrecket al., 2020);
easincertezas acerca de algumas implicações legais e éticas.
No que diz respeito à eficácia ecomparando os tipos de intervenção (à distância e presencial),
rios estudos assinalam não ter encontrado diferenças ao nível da eficácia, nomeadamente em
problemáticas tais como adepressão(Berryhilletal., 2019;Osenbachet al., 2013; Yang,Vigod,
&Hensel, 2019),perturbaçõesde ansiedade (Bouchardetal.,2004; Rees &Maclaine, 2015; She-
pherdetal., 2006;Tuerk,Yoder, Ruggiero,Gros, &Acierno, 2010;Yuenetal., 2010), perturba-
çõesrelacionadas com oálcool(Slone,Reese,&McClellan, 2012;Tarp,Bojesen,Mejldal, & Nielsen,
2017),perturbaçãoobsessiva compulsiva (POC,Himleetal., 2006;Stubbings, Rees, &Roberts,
2015), insónia (Lichstein et al., 2013); PSPT (Morland et al., 2014; Shreck et al., 2020), psicose
(Sharp,Kobak, &Osman, 2011).
Relação terapêutica
SegundoRogers(1942), a relação terapêutica representa um tipo de relação social, diferente
de qualquer outra que os clientes possam ter experienciado. O afeto e a responsividade por
parte dospsicoterapeutastornam possível a criação de uma ligação que, gradualmente, se desen-
volve numa relação emocional mais profunda. Nesta relação, existe totalaberturano que toca à
expressão de sentimentos; a aceitação do que é dito, a ausênciadejulgamento e a compreensão
por parte dos psicólogospromovemuma sensação que permite que os clientes reconheçam que
todos os sentimentos e atitudes podem ser expressos.
Do ponto de vista dos clientes, existe uma respostaà atmosfera de liberdade moral. Estes
apercebem-se de que não necessitam das habituaisdefesas”psicológicas para justificar o seu
comportamento, nem sentem que ospsicólogos os culpam, elogiam, apoiam ou que estão con-
tra eles. Consequentemente, os clientes podem, muitas vezes pela primeira vez na sua vida, ser
eles próprios de uma forma genuína, eliminando os mecanismos de defesa e compensações, que
lhes permitem confrontar-se com o mundo em geral.Assim,a relação terapêuticaédefinidatam-
bémpelo que não acontece – não são feitos julgamentos morais nem pressões para seguir deter-
minadas linhas de ação (Rogers, 1942).
Rogers (1951) considera que o sucesso de uma intervenção psicológica está associado ao
modo como os clientes experienciam as particularidades inerentes à relação terapêutica. Nas
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da revisão de literatura à refleo profissional
intervenções presenciais tradicionais, existem evidências de que uma boa relação facilita o
trabalho terapêutico, através da criação de um clima que promove a mudança (Fckigeretal.,
2020;Horvath,DelRe,Fckiger, &Symonds, 2011;Noyce& Simpson, 2018). Considerando que as
intervenções psicológicas, através de tecnologias, influenciam a díade clínica de modos únicos
no que toca ao envolvimento dos clientes (Stubbingsetal., 2015)é,pois,natural que surjam preo-
cupações acerca do impacto que a tecnologia pode ter neste tipo de relação (Aboujaoudeetal.,
2015).
No entanto,numa revisão de literatura sobre a relação terapêuticaà distância(Simpson &
Reid, 2014)constatou-seque, no geral, os clientes e os psicólogos atribuemclassificações altas
a esta relação, mesmo com internet lenta e imagem e áudio de qualidade.Referem, ainda,
quea)uma relação terapêutica pobre não implica a ausência de progresso no processo terapêu-
tico, principalmente se forem utilizadas técnicas psicológicas apropriadas; b) a relação tera-
utica estabelecida por videoconferênciaétão forte quanto a relação estabelecida presencial-
mente;c)os clientes afirmam beneficiar da intervenção, mesmo quando não existe uma relação
forte (Noyce& Simpson, 2018);d)os psicólogos consideram que a relação se vai fortalecendo ao
longo do processo terapêutico. Um outroestudo(Berger, 2017) demonstrou que, independente-
mente da modalidade de comunicação, os clientes avaliam a relação terapêutica construída à dis-
ncia, de um modo praticamente equivalente à relação estabelecida presencialmente.Talsugere
que, do ponto de vista dos clientes, pode ser estabelecida uma relação positiva nas intervenções
à distância, independentemente do modo como a sessão é providenciada e da modalidade de
comunicação.Reeseetal(2016)demonstraramque, após uma sessão de atendimento, os clientes
avaliaram a relação terapêutica de um modo similar,independentemente dea sessãoserpresen-
cial, por telefone ou via videoconferência, reforçando que os vários formatos baseados em tec-
nologia não prejudicam a relação terapêutica. Por fim, um estudo recente, comparou as relações
terapêuticas estabelecidas em intervenções presenciais e à disncia e concluiu que estas eram
equivalentes (Flückigeretal., 2020).
De acordo com os autoressupramencionados,as intervenções presenciais e à disnciapodem
originar resultados equivalentes, mesmo que a relação terapêutica seja avaliada como mais fraca,
sugerindo que esta relação pode ter um impacto reduzido noresultado finalda intervenção(Had-
jistavropoulos,Pugh,Hesser, & Andersson, 2017;Norwood,Moghaddam, Malins, &Sabin-Farrell,
2018; Rees & Stone, 2005).
A satisfação e bem-estar dos clientes são influenciados pela qualidade da relação (Reeseetal.,
2016). Também osclientes que sentem um maior controlo e espaço pessoal durante o processo
terapêutico, mostram-se mais ativos nestas sessões do que nas presenciais (Simpson & Reid, 2014).
É possível que este facto se deva a uma sensação de empoderamento e responsabilidade dos
clientes, na relação terapêutica (Berger, 2017).É,ainda, sublinhado que, do ponto de vistades-
tes,as intervenções à distânciatornamas relaçõesmais igualitárias e, simultaneamente, menos
geradoras de ansiedade paraestes(Kocsis, &Yellowlees, 2018;Shrecketal., 2020)
Independentemente da orientação terapêutica, os psicólogos que providenciam as condições
propostas porRogers(1975)-nomeadamente a atitude de empatia-têm maisprobabilidade de
estabelecer uma boa relação terapêutica e atingir um melhor resultado que os psicólogos que
não o fazem (Witty, 2007).Um elevado nível decompreensão empáticanuma relação é, possivel-
mente, um dos fatores mais potentes na produção de mudanças e aprendizagem (Rogers,1975).
SegundoReeseetal(2016)os psicólogos exibem níveis semelhantes decompreensãoempática,
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independentemente do formatoem queprovidenciam os seus serviços,sendo queestesfazem
ajustes frequentes, de modo a expressarem empatia e calor,de uma forma mais ativa (Simpson
& Reid, 2014).
Não obstantea existência devários estudos indicadores de que a relação terapêutica pode
ser estabelecida com sucesso através de uma intervenção psicológica à disncia, ainda exis-
tem preocupações entre alguns profissionais, relativamente aos efeitos das tecnologias, como
por exemplo, as potenciais perdas de informação não-verbal edeintimidade (Berger, 2017;Koc-
sis&Yellowlees2018; Sharpetal., 2011); os limites e impedimentos técnicos de comunicação,a
diminuão deconfidencialidade e privacidade,a atenção deresponsabilidades legais e outras
questões éticas (Kirkwood, 1998;Lustgarten&Colbow, 2017; VanAllen&Roberts, 2011);bar-
reiras culturais potencialmente exacerbadas (Shreck et al., 2020); a influência das limitações
impostas pela distância física, a capacidade de criar um espaço de atendimento de segurança
e conforto para o cliente (MacDonell&Prinz, 2017;Shrecket al., 2020); limitação da informação
observável pelos psicólogos, desde que os clientes chegamao espaço de consultaaté ao momento
que entram na sala de atendimento (e.g., onde estão sentados, como e com quem interagem,
cheiro, aspeto geral, como andam); falta de controlo da temperatura, ruído ou privacidade da
sala onde os clientes se encontram e a impossibilidade de realizarem gestos empáticos, como a
oferta de um lenço de papel num momento de necessidade. Estes aspetos podem levar a que os
clientes sejam atendidos num espaço demasiado estimulante, com distrações, impedindo-os de
se focarem ou sentirem confiança para uma abertura total (Shrecketal., 2020).
Dados estes aspetos, talvez venha a ser necessária uma alteração na maneira como a relação
terapêutica tem sido estudada até aqui, tendo em conta que, através das tecnologias, esta relação
parece adquirir características não exploradas porBordin(1979).
A situação portuguesa
Em Portugal, a prática da intervenção psicológica à distância parece ainda carecer de
investigação. A pesquisa efetuada em várias bases de dados, revelou a existência de um único
estudo sobre as intervenções psicológicas neste formato, no contexto português, efetuado em
2019, por Gamito. No entanto, a escassez de investigação nesta áreapode não significar a exis-
tência de uma escassez de prática, tendo em conta que a maioria dos profissionais da amostra
deste estudo, praticava ou tinha praticado intervenções psicológicas à distância. Ficou assim
demonstrado, que estes psicólogos portugueses, com grande variedade de idades, estabelecem
contratos terapêuticos com os seus clientes, de forma verbal, e recorrem essencialmente à plata-
forma de videoconferência para providenciarem os seus serviços remotos, por ser o método mais
similar ao atendimento presencial, apesar da maioria não aplicar testes de avaliação psicológica
à distância. Parece haver uma tendência destes psicólogos para extrapolar as regras e técnicas
da prática presencial para a prática remota, sem uma reflexão cuidada, sobre a aquisição de for-
mação e certificação (Gamito, 2019).
O contexto atual tem exigido respostas rápidas e intervenções psicológicas que contenham
a evolução de alterações psicopatológicas e, subsequentemente, previnam comportamentosmal
adaptativose um vasto leque de perturbações emocionais (Orretal., 2020). Na tentativa de miti-
gar estes efeitos, têm sido implementadas várias estratégias e intervenções terapêuticas por todo
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da revisão de literatura à refleo profissional
o mundo, sem que Portugal seja exceção. A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) criou no seu
website, uma área dedica à COVID-19 (OPP, 2020a), onde tem vindo a publicar vários materiais
informativos,psicoeducativose com várias recomendações, dirigidos às diversas populações,
desenvolvidos com o propósito de ajudar a aumentar a motivação para lidar com os desafios
emocionais emergentes. Adicionalmente, a OPP tem disponibilizado diversoswebinarse docu-
mentos de apoio à prática, com o objetivode promover a formão e desenvolvimento profissio-
nal, e tem também incentivado a participação dos psicólogos em fóruns, visando a promoção do
autocuidado e supervisão. Ademais, tem sido visível o investimento prioritário em investigação
de qualidade, com o intuito de avaliar a abrangência dos problemas de saúde mental, e iniciar o
mais rapidamente possível, a constrão e implementação de intervenções direcionadas para as
consequências pós-pandemia (OPP, 2020a, 2020b).
Desde cedo que a OPP colocou também à disposição de todos os psicólogos, uma formação
gratuita, em torno dos processos de atendimento telefónico, denominada “Guia de Orientação
para Linha de Atendimento Telefónico em Fase Pandémica COVID-19” (OPP, 2020c). Esta forma-
ção foi criada com o objetivo de gerar linhas de orientação gerais, que possam orientar a prática
profissional dos psicólogos e, consequentemente, ajudar as pessoas a lidar com as suas emoções,
facilitar as tomadas de decisão face à situação, reduzindo os riscos de infeção, desadaptação
social e de conflito e, comoresultado final, promover a adoção de comportamentos pró-saúde e
pró-sociais.
Da revisão à reflexão profissional
A pandemia de COVID-19 e os esforços para a conter, representam uma ameaça únicaem
termos da saúde mental dos indivíduos,conduzindoàimplementação de intervenções psicoló-
gicas à distânciaque visem mitigar o seu impacto (Galeaetal., 2020). Até ao momento, tem sido
observada uma resposta vigorosa e multifacetada dos profissionais, assim como uma evidente
consideração da saúde mental a rios níveis (Rajkumar, 2020), sendo que é imperativo que se
continue a apurar a eficácia destas intervenções, tendoem conta que após a emergência de saúde
públicapoderá surgir uma emergência de sofrimento psicológico (Orretal., 2020).
Independentemente da controvérsia que ainda permanece, foi demonstrado que este tipo
de intervenção oferece soluções eficientes e eficazes, para compensar algumas lacunas de outras
metodologias implementadas (Baraketal., 2009;Foreman-Tran, 2019;McCordetal., 2015). Por
exemplo, a videoconferência tem vindo a tornar-se um elemento central das intervenções de
saúde pública, por representar um todo de contacto que envolve voz e vídeo e, por isso, ser
considerado como superior a outras plataformas, como o email e mensagens detexto (Galeaetal.,
2020;Morlandetal., 2015). Através desta tecnologia, os sistemas de saúde poderão oferecer maior
conveniência, acesso e eficiência, a custos reduzidos, promovendo o controlo pessoal do cliente
(Bushetal., 2019; Vincent,Barnett,Killpack,Sehgal, &Swinden, 2017).
Os defensores deste tipo de intervenção tecnológica afirmam que os aspetos inerentes
ao processo-como a relação terapêutica-são equivalentes às intervenções presenciais e que,
apesar da inexistência de comunicão não-verbal, os psicólogos experientes têm a capacidade
de estabelecer relações terapêuticas de proximidade, afeto e empatia, e despoletar nos clientes
sentimentos de positividade, estimulação emocional e uma sensação de estarem a ser ajudados.
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Adicionalmente, salientam que este tipo de intervenção providencia anonimato, conveniência e
fácil acesso a populações com acesso limitado ao apoio psicológico presencial, devido a dificul-
dades de transporte, limitações físicas e necessidade de anonimato, gerada por timidez ou medo
de interações cara-a-cara.
Dado que o crescente desenvolvimento da investigação nesta áreanão acompanha a pida
evolução tecnológica, ainda não existem evidências suficientes para afirmar queas interven-
ções psicológicas à distânciapodem substituir totalmente as intervenções psicológicas presen-
ciais (Berryhilletal., 2019;Erbeetal., 2017;Gristetal., 2019;Hollisetal., 2017;Kocsis&Yellow-
lees2018).Este tipo de intervenção à distância assenta essencialmente na comunicação verbal
ou dialógica, na medida em que o meio privilegiado éapalavra (oral ou escrita), apresentando
algum empobrecimento na comunicação não verbal ou analógica. Facto que é comum a qualquer
dos meios tecnológicos utilizados.
Apesar deste meio proporcionar também informação anagica (imagem, som), continua
a não poder ser equiparável à potencialidade da comunicação presencial, na qual estas duas
vertentes da comunicão estão presentes, permitido uma riqueza comunicativa que propor-
cionaaos intervenientes da interação uma apreensão total das emoções e sentimentos transmiti-
dos no aqui e agora da relação.
Como é sobejamente afirmado pelas teorias da comunicação, para além da palavra existem
outros indicadores, talvez mais subtis, que permitem uma descodificação mais aprofundada das
mensagens emitidas, como otipo de timbre da voz, a expressão mímica, a postura, a respiração,
o cheiro,a transpiração,o ritmo respiratório e o olhar, entre outros.
Nas intervenções psicológicas realizadas à distância, a maior parte dos mbolos comuni-
cacionais de tipo analógico não estão presentes, dificultando ou reduzindo a essência das men-
sagens implícitas. Como exemplo, referimos a importância da sintonia do olhar, o qual numa
interaçãoonlinenão es presente. Cada interveniente pode olhar para a câmara, mas a corres-
pondência visual interativa não existe,pois,cada um olha para o vazio da distância. Não há cum-
plicidadee reciprocidadeno olhar nem a possibilidade de ser feita a descodificão das men-
sagens atravésdo cruzamentodeolhares, importanteaspeto na construção de uma seguraa
mútua, isto é, as dimensões sensorial e emocional são claramente distorcidas ou significativa-
mente filtradas.
Partindo deste exemplo, consideramos que, do ponto de vista da apreensão do outro, o estar
em presença aumenta a compreensão e a apreensão do mundo do outro pela diversidade de
níveis comunicacionais presentes na interação e que facilitam a constrão da relação de forma
consistente, possibilitando o encontro existencial.
Os oponentes desta prática demostram-se reticentesperantea ideia de recorrer às tecnolo-
gias, devido a problemas de confidencialidade e regulação, tais como qualificações e licenças de
praticante, treino, experiência, desafios técnicos, conhecimento das leis de um determinado país
e dificuldades com gestão de crises.
Faria, Brites, Paulino e Silva (2020) salientam a pertinência dasintervenções à distância, espe-
cificamente em situações em que o modelo teórico na base da intervenção não prioriza a relação
como fator preponderante para a mudaa do cliente.Quando falamos de intervenções terapêu-
ticas, é fundamental definir o tipo, os contextos, os objetivos e o modeloteórico que sustenta o
técnico. Num contextoespecíficode relação de ajuda (ex:psicoterapia), existem perspetivas cujo
tratamento é mediado essencialmente pelo impacto que a experiência relacional desencadeia
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da revisão de literatura à refleo profissional
namudança construtiva e reorganizadora da pessoa vulnevel. Assim, se umas perspetivas são
estruturadas em torno dos aspetos relacionais, emocionais e afetivos, contudo, existem outras
centradas nas dimensões cognitivas, valorizando mais atécnica e o recurso a manuais,sendo
adimensão relacionalmenosvalorizada.
Apesar dasvantagens referidas mantém-seacontrovérsia, em parte,devido às contínuas
preocupações dos clientes e psicólogos, acerca do impacto que a tecnologia pode ter na rela-
ção terapêutica (Aboujaoudeetal., 2015;Berger, 2017), sobretudo ao nível daaliança terapêu-
tica,considerada um componente essencial para o sucesso de uma intervenção psicológica (Ber-
ger, 2017;Rogers, 1951). Por esse motivo, a sua construção tem sido investigada nas intervenções,
tanto presenciais como à distância (Flückigeretal., 2020).
Como tal, torna-se fundamental continuar a desenvolver a investigação sobre este tipo de
intervenção, sobretudo focada na vivência do terapeuta (interveniente indispensável do pro-
cesso terapêutico),mediada por umquadroespaço-tempo, que parcialmenteo terapeutanão con-
trola.Ocontínuo desenvolvimentodas tecnologiasexigeuma nova análise do que é percebido
e aceite como“relações humanas, reavaliando o que é apropriado para ser realizado através de
tecnologiaà disnciaou presencialmente (Tait, 1999).Porventura, assumir que são intervenções
naturalmente diferentes, em canais comunicacionais distintos, em vez de procurar legitimar as
semelhanças entre dois tipos de intervenção.
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Submited on February 11th, 2021
Submetido a 11 de fevereiro de 2021
Resumo
A crise provocada pela pandemia do novo coronarus (COVID-19) exigiu que crianças e
adultos tivessem que se restringir ao seu domicílio, exigindo adaptações a uma nova realidade
de trabalho e aprendizagem, que privilegia as atividades remotas, provocando sérios desafios ao
equilíbrio família-trabalho. Este artigo apresenta uma revisão da literatura acerca do panorama
atual das famílias que se encontram a lidar com as exigências do teletrabalho e da aprendiza-
gem online, enquanto desempenham diferentes responsabilidades domésticas e familiares. Deste
modo, é realizada uma descrição da prestação de trabalho a partir de casa - o teletrabalho, uma
breve caracterização da aprendizagem online, do equilíbrio família-trabalho e outros papéis de
vida. Em cada um dos picos são apresentados dados relativos à situação pandémica. Por último,
sistematiza-se um conjunto de estratégias de gestão pessoal de carreira e para figuras parentais
que que podeo facilitam a conciliação dos diferentes papéis de vida.
Palavras-chave: COVID-19, teletrabalho, aprendizagem online, equilíbrio família-trabalho.
Abstract
The crisis caused by the pandemic of the new coronavirus (COVID-19) demanded that chil-
dren and adults have to restrict themselves to their home, requiring adaptations to a new reality
of work and learning, which favors remote activities and causes serious challenges to family-
-work balance. This article presents a review of the literature about the current panorama of
families that are dealing with the demands of teleworking and online learning, while perfor-
ming different domestic and family responsibilities. Therefore, this article provides a description
1 Universidade Europeia & Socius/CSG, ISEG-Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. liliana.faria@universidadeeuropeia.pt
2 Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, Porto, Portugal mnazareloureiro@gmail.com
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of telework, online learning, and family-work and other life roles balance. In each of these topics,
data related to the pandemic situation are presented. Finally, a set of strategies for personal career
management and for parental figures is systematized, which can facilitate the reconciliation of
different life roles.
Keywords: COVID-19, teleworking, online learning, family-work balance.
Introdução
A Organização Mundial da Saúde (WHO) declarou, a 12 de março de 2020, que o surto da
doença coronavírus (COVID-19), causado pelo vírus SARS-CoV-2, atingiu o nível de uma pande-
mia global (WHO, 2020).
A pandemia COVID-19 tornou-se não apenas numa emerncia médica ou de saúde mas,
também, uma emergência económica, social, laboral, educacional e familiar. Durante a pande-
mia existiram mudanças drásticas na vida das pessoas, nos seus papéis profissionais, educacio-
nais e familiares que, de certa forma, foram suspensos ou alterados. Ao longo do tempo, foram
registadas estratégias de controlo à propagação do vírus, impostas pelos diferentes governos dos
diversos países, que passaram, entre outros aspetos, pela obrigatoriedade do teletrabalho, pela
aprendizagem à distância (adopção da metodologia de ensino à disncia) e pelo confinamento
ou distanciamento social (Abuhammad, 2020; OIT, 2020). Neste contexto, adultos e crianças foram
forçados a permanecer no seu domicílio durante longos períodos de tempo, sem acesso a alguns
servos e atividades extra ou de enriquecimento, e a casa tornou-se local de trabalho, escola e
espaço de lazer, tudo em simultâneo.
Trabalhar em casa tornou-se, então, a norma para miles de trabalhadores na União Euro-
peia (UE) e em todo o mundo. Se antes do surto, apenas 15% dos trabalhadores na UE alguma vez
tinham feito teletrabalho, as primeiras apreciações do Joint Research Centre (Fana et al., 2020)
fornecem uma estimativa de cerca de 25% dos setores de emprego, cerca 40% das pessoas que
trabalham atualmente na EU, começaram a teletrabalhar a tempo inteiro. Ainda de acordo com
o Eurofound (2020), dos que trabalham a partir de casa, neste atual contexto, 26% vivem em famí-
lias com crianças com idade inferior a 12 anos e, outros 10% com crianças com idade entre os 12e
os 17 anos.
O surto também afetou o sistema educacional em todo o mundo e alterou, segundo dados da
UNESCO (2020), a vida de mais de 70% da população estudantil mundial (cerca de 1,2 bilhões de
alunos, em 186 países, e 2 milhões de alunos, em Portugal).
O confinamento colocou um desafio sem precedentes aos governos para garantir a continui-
dade da aprendizagem. Vários países, entre os quais se inclui Portugal, adotaram modalidades de
ensino à distância, via internet e online, e plataformas de ensino continuado, televisão ou outros
recursos ou media (Chang & Yano, 2020).
A fim de garantir que a aprendizagem das crianças continuava foi necessária uma colabora-
ção estreita e efetiva entre a indústria de telecomunicações, as redes escolares, o ministério da
educação, os professores e os pais (Chang & Yano, 2020; UNESCO, 2020).
Neste contexto, surgem novos desafios para os pais que colocam em causa o equilibro famí-
lia-trabalho. Aos pais, passa a ser pedido que estejam em casa em regime de teletrabalho, mas
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Equilíbrio família-trabalho: considerações apartir dapandemia do COVID-19 para o trabalho eaaprendizagem em casa
também, que colaborem nas tarefas educacionais e de ensino dos/as filhos/as e realizem tarefas
domésticas. Na maior parte das vezes, temos pais/mães a ser pais/mães, professores/as, traba-
lhadores/as, domésticos/as, cônjuges e pessoas (individualmente consideradas com necessidades
próprias), todos em casa e com as diversas funções em simultâneo/sobrepostas.
Prestação de trabalho a partir de casa: o teletrabalho
O teletrabalho é uma modalidade de trabalho, num contexto de subordinação jurídica (com
vínculo ou prestação de servos), em que o/a colaborador/a não se encontra, pelo menos, durante
a maior parte do tempo, a prestar funções nas instalações da organização e utiliza a Internet,
equipamentos informáticos e outras tecnologias para exercer as suas tarefas e funções e, comu-
nicar com a organização, clientes e fornecedores. Pode ocorrer no domicílio do/a colaborador/a,
em centros satélite, em centros ou escritórios partilhados, numa modalidade móvel ou transfron-
teiriça e acontecer a tempo inteiro ou parcial (Alon et al., 2020; Lee & Sirgy, 2019; OIT, 2020; Nilles,
1997).
Segundo Goulart (2009), a implementação do teletrabalho exige uma mudança na estrutura e
na cultura organizacional, uma vez que a relação de confiança entre as pessoas se torna funda-
mental. Com o teletrabalho aumenta a necessidade de conceder autonomia e domínio de decisão,
quer por parte da organização, quer por parte do teletrabalhador, que deverá assumir um maior
empenho para que surja uma nova forma de gestão. O Acordo-Quadro Europeu sobre o Teletra-
balho de 2002 (EU, 2017) refere que, em regime de teletrabalho, é ao teletrabalhador que compete
a gestão do seu tempo de trabalho (denominada soberania do tempo). Todavia, a carga de traba-
lho e a performance do teletrabalhador deverão ser equivalentes aos dos trabalhadores que se
encontram nas acomodações da organização.
Alguns autores (e.g., Barata, 2020; Goulart, 2009; Lee & Sirgy, 2019) abordam as vantagens e
desvantagens do teletrabalho. Assim, no que respeita às vantagens, estas assentam em três níveis
distintos: (i) a nível do colaborador/a: redução ou eliminação de deslocações, com impacto eco-
nómico e de tempo; maior flexibilidade e disponibilidade para a família, lazer e outros papéis;
maior motivação; melhoria global da qualidade de vida; diminuição do stresse, (ii) a nível da
organização: otimização dos espos da organização; diminuição de despesas relacionadas com
infraestruturas; maior responsabilidade, eficácia e produtividade dos colaboradores ou compe-
titividade, e (iii) a nível da sociedade: redução dos níveis de poluição em função do menor fluxo
de veículos a circular diariamente.
Relativamente às desvantagens, verifica-se que podem ser agrupadas em duas categorias:
na ótica da organização e na ótica do/a colaborador/a. Assim, para a organizão, o teletrabalho
pode ser desafiante porque pode verificar-se menor identidade do/a colaborador/a com a orga-
nização, maior insatisfação, tratamento desigual e menores oportunidades de partilha de ideias,
interação e aprendizagem cooperativa. Por sua vez, para o/a colaborador/a, o teletrabalho pode
ser desafiante na medida em que pode reduzir oportunidades de progressão na carreira, de for-
mação e de recompensas. Para além disso, pode conduzir a trabalhos realizados de modo mais
individual, com impacto na partilha e na aprendizagem individual. Por último, o teletrabalho
pode ser, ainda, desafiante para o/a colaborador/a na medida em que pode provocar fusão entre
tempo e contexto de trabalho-família, aumentando a duração do trabalho, as interrupções de um
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e de outro papel, a pressão laboral e a desorganização de rotinas estruturantes (Barata, 2020; Lee
& Sirgy, 2019).
A legislação em vigor, em Portugal (Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro), estabelece orientações
para prevenir parte destas desvantagens. Define, genericamente, algumas regras quanto à uti-
lização dos equipamentos, formação, limites de horário, saúde, seguraa e isolamento (artigo
168). O legislador dedicou um artigo exclusivo à privacidade, descanso, condições físicas e psico-
gicas, bem como restrições ao controlo por parte da organização (artigo 169).
Um estudo de Tavares et al. (2020) sobre a caracterização do teletrabalho realizado nas
comunidades portuguesas no contexto do estado de emergência provocado pela pandemia do
COVID-19, mostra que a adaptação ao teletrabalho foi fácil ou muito fácil e que aconteceu muito
rapidamente. Todavia, a conciliação do teletrabalho com a vida familiar / afazeres domésticos /
dedicão aos filhos e gestão do tempo / programação foram aspetos considerados entre as prin-
cipais dificuldades sentidas.
O fecho das escolas, a aprendizagem online e as figuras parentais
Na tentativa de conter a propagação da pandemia COVID-19, a maioria dos governos à volta
mundo fechou temporariamente as instituições de ensino e educativas.
Em Portugal, as aulas de todas as escolas foram suspensas de março a setembro de 2020 e,
voltaram a ser suspensas em janeiro de 2021, sendo ainda incerto o que iacontecer após este
período. Durante os meses de 2020, as escolas mudaram virtualmente para o regime de aprendi-
zagem online. De acordo com os dados do INE (2020), o número de utilizadores que comunicaram
com professores ou colegas através dos portais educativos passou de 14,5% em 2019, para 30,8%
em 2020, e o número de utilizadores que frequentaram cursos online passou de 7,7% em 2019,
para 18,0% em 2020.
A aprendizagem online denomina-se de uso educacional de dispositivos tecnológicos, fer-
ramentas e Internet (Means et al., 2009). Hrastinski (2008) afirmou que os dois tipos de aprendi-
zagem online são importantes, nomeadamente a aprendizagem online assíncrona (permite uma
comunicação entre estudante e professor de modo não simultâneo) e síncrona (permite uma
comunicação entre estudante e professor de modo simultâneo). Contudo, para que a aprendi-
zagem online seja eficaz e eficiente, os/as professores/as, organizações e instituições devem ter
uma compreensão abrangente dos benefícios e limitações deste tipo de aprendizagem. Joshi e
colaboradores (2020) referem que a realização educacional da aprendizagem online é discutível
por causa a ausência de relação face-a-face entre alunos e professores, aspeto que condiciona a
aprendizagem.
Vários autores (e.g., Bozkurt & Sharma, 2020; Hodges et al., 2020; Vlachopoulos, 2020) dife-
renciaram as experiências de aprendizagem online adequadamente planeadas, das experiências
de aprendizagem resultantes de cursos apresentados online como resposta à crise. Referem que o
ensino online durante a pandemia foi um “ensino à distância de emergência, em contraste com
aprendizagem online de qualidade ou eficaz, que é resultado de projetos cautelosamente planea-
dos e organizados (Branch & Dousay, 2015). Assim sendo, é seguro presumir que a maioria das
instituições, professores/as, estudantes e, pais/mães não estavam preparados para a aprendiza-
gem online.
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Equilíbrio família-trabalho: considerações apartir dapandemia do COVID-19 para o trabalho eaaprendizagem em casa
Com efeito, o fecho das escolas foi anunciado numa tarde de sexta-feira para iniciar na segun-
da-feira seguinte, sem grandes orientações e muita incerteza, o que levou a uma necessidade de
adaptação das famílias, num curto espaço de tempo, nomeadamente de sítios de casa, aquisição
de materiais informáticos, burocracias relacionadas com o apoio aos/às filhos/as, aprendizagem
de plataformas de comunicação, atualização de software, entre outros.
Quando os/as alunos/as são obrigados a permanecer em casa, como neste caso da pandemia,
os/as pais/mães têm que ser figuras parentais, trabalhadores/as e desempenhar as atividades
domésticas (algumas vezes amais exigentes por ausência de suporte de outros familiares e
dispensa de empregados/as domésticos/as). Se a este aspeto acrescentarmos stresse relativo a
perda de rendimentos, como aconteceu com alguns empresários/as por conta individual ou tra-
balhadores/as em regime de prestação de serviços, então o stresse é provavelmente superior,
com impacto na disponibilidade e na qualidade de interação familiar, sobretudo nas famílias
mais vulneráveis (Tomasik & Silbereisen, 2016).
Para lidar com este desafio, os pais não precisam só de ter boas competências parentais, mas
também um bom nível de educação e literacia informática. Dito de outro modo, os pais precisam
de orientar os filhos, cuidar e estimular, paralelamente a esclarecer dúvidas, fornecer recursos
e materiais de suporte e paralelamente apoiar em questões técnicas de cariz informático, em
articulação com as escolas.
A investigação mostra que o stresse parental surge quando um/a pai/e percebe a falta de
competência para lidar com os/as seus/suas filhos/as, o que aconteceu durante algumas fases
da pandemia (Spinelli et al., 2020). Este tende a provocar piores níveis de desempenho e até res-
tringir a interação com a criança/jovem (Beckerman et al., 2018). Pelo contrário, quando os pais
delegam parte das tarefas de ensino/aprendizagem na escola e estão satisfeitos/as com o tra-
balho desta, o seu stresse diminui e o seu envolvimento (em termos de quantidade e qualidade
aumenta). Este aspeto também tende a estar associado a trajetórias mais positivas de aprendiza-
gem dos/as filhos/as durante os primeiros anos (Tao et al., 2019).
Além destes desafios, o uso da tecnologia pelas crianças e jovens é outra preocupação para
os/as pais/mães. Por um lado, as crianças e jovens recorrem mais às redes sociais para se encon-
trarem socialmente com os pares. Por outro lado, sem acesso a muitas das atividades de lazer,
acabam por despender muito do seu tempo nos dispositivos eletrónicos. Por outro, ainda, uti-
lizam a própria tecnologia para aceder a conteúdos académicos, realizar trabalhos e interagir
formalmente com pares e professores/as. A investigação demonstra claramente os benefícios na
utilização das tecnologias na aprendizagem e na promoção de contactos distantes. Contudo, tam-
bém demonstra a existência de riscos ou malefícios associados ao uso sistemático da tecnologia,
desde logo, na probabilidade de exposição a conteúdos inadequados/inseguros, obesidade, per-
turbações de sono, de linguagem e comportamentais (Bruni et al., 2015; Lissak, 2018).
Um estudo realizado Abuhammad (2020) evidenciou rias barreiras percebidas pelos/as
pais/mães acerca do seu papel e responsabilidades durante a pandemia. Estas barreiras podem
ser categorizadas em barreiras de ordem pessoal (falta de treino, qualificações e apoio), finan-
ceira (comprar tecnologia, custo da internet), cnica (falta de conhecimento técnico, problemas
de ligação) e logística (comunicação inadequada ou não atempada).
O equilíbrio família-trabalho e outros papéis de vida
O equilíbrio família-trabalho diz respeito à capacidade de cumprir funções e atividades, bem
como distribuir, de forma equilibrada, o tempo e o esforço para as desempenhar, priorizando as
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mais importantes e urgentes (Clarke et al, 2004), podendo incluir outras dimensões como o lazer
e a cidadania.
A investigação relativa a estas questões sugere três perspetivas de análise: uma negativa,
outra positiva e a perspetiva integradora. A perspetiva negativa concebe esta relação entre famí-
lia e trabalho como concorrente pela gestão de recursos como o tempo e o esforço. A perspetiva
positiva concebe esta relação como facilitadora, de enriquecimento mútuo, de reforço e suporte.
Por último, a perspetiva integradora, considera a importância da coexistência, mas também da
necessidade de gestão por parte do/a colaborador/a (Wayne et al., 2020).
Relativamente às questões da conciliação de figuras parentais, a literatura sugere que os/as
pais/mães que conseguem com maior facilidade conciliar a esfera familiar e profissional eviden-
ciam maior satisfação com a vida, e mais prováveis índices de saúde mental e física (Haar et al.,
2014). Nesta gica, o conflito de papéis podeestar associado a uma menor satisfação com a
vida, ansiedade, e absentismo laboral, entre outros aspetos (Wayne et al., 2020).
Conciliar papéis de vida é mais complexo para as mulheres. Por um lado, a maior parte das
tarefas familiares e domésticas continuam a ser desempenhadas pelas mulheres. Por outro lado,
as mulheres parecem ter mais dificuldade em gerir o tempo extratrabalho, com impacto no
stresse, desempenho e descanso (Craig & Brown, 2017).
Apesar de já existirem muitos estudos e recomendações que perpassam estas questões e sus-
tentam boas práticas no âmbito da conciliação, a pandemia pode ser um motor para estas efeti-
vamente se implementarem de forma mais generalizada e efetiva, porque forçou a sua aplicação
e experimentação (Alon et al., 2020).
Ser pai ou ser mãe é, assim, muito diferente no papel de suporte à família e de realização de
tarefas domésticas e, necessariamente, pior em pandemia, teletrabalho, com crianças em casa,
em aprendizagem online, o que constituiu um desafio para muitas mulheres. Os estudos suge-
rem um aumento de pressão sobre as figuras parentais, que as mulheres mães dedicaram menos
tempo ao teletrabalho e mais tempo às tarefas de cuidado dos/as filhos/as e da casa, muitas vezes
de forma intermitente (Carlson et al., 2020; Collins et al. 2020; Craig & Churchill, 2020) e, nos
casos de trabalho efetivo, com necessidade de suporte igualitário em casa, com tarefas igual-
mente distribuídas com a outra figura parental (Qian & Fuller, 2020).
Equilíbrio família-trabalho: contributos da gestão pessoal de carreira
A gestão pessoal de carreira é um domínio de estudo da Psicologia Vocacional que pode
apoiar na questão da conciliação dos domínios família-trabalho. Gerir pessoalmente a carreira
envolve processos cíclicos de recolha de informação pessoal e do mundo do trabalho/oportuni-
dades. Envolve, ainda, definição e redefinição da imagem pessoal, de competências, interesses,
valores e estilos de vida. Envolve, também, o estabelecimento de objetivos, a identificação de
decisores e definão de estratégias que deverão ser monitorizadas (por feedback de fontes liga-
das ao trabalho e ao mundo extratrabalho) para aferição da sua eficácia (King, 2004; Wilhelm &
Hirschi, 2019). Sendo positiva, promove sentimentos de satisfação, evita a repetição de erros e
promove mudanças de direção, em face da avaliação de ineficácia.
King (2004) explora, de modo mais objetivo, algumas estratégias de carreira aplicadas a situa-
ções de conciliação família-trabalho. Para esta autora, gerir a carreira implica assumir o controlo
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da vida, que é um aspeto muito importante sobretudo em contextos de mudança e de caos. O
autor em questão, descreve a carreira como um processo dinâmico que envolve a execução de
um conjunto de comportamentos co-ocorrentes destinados essencialmente a manusear a ação
de pessoas em posição de influenciar as suas carreiras (gatekeepers), após a avaliação de opor-
tunidades e identificação desses gatekeepers(King, 2004). Para a autora, os comportamentos de
carreira co-ocorrentes são de três tipos: comportamentos de posicionamento, comportamentos
influentes e comportamentos de gestão de fronteiras. O primeiro tipo diz respeito a contactos,
habilidades/competências e experiências geradoras de potenciais oportunidades de carreira
(aproveitamento de oportunidades de carreira; procura ativa de formão/qualificação, sendo
mais estratégicas as preferidas e observáveis pelos gatekeepers; desenvolvimento ativo de redes,
não acessíveis nos contactos formais; e inovação no conteúdo e na eficácia do trabalho, aspeto
também muito valorizado pelos gatekeepers). O segundo tipo diz respeito a estratégias delibe-
radas encetadas de modo a influenciar ativamente as decisões dos gatekeepers (autopromoção,
provocão e influência superior). O terceiro tipo, diretamente relacionado com o tema deste
trabalho, diz respeito aos comportamentos de gestão de fronteiras entre os diferentes papéis de
vida (manutenção de limites e transição entre papéis). A manutenção de limites implica o esta-
belecimento de fronteiras claras entre o trabalho e outras dimensões de vida e a negociação para
manutenção da eficácia no desempenho dos diferentes papéis. Por outro lado, a transição entre
papéis, que é a outra das dimensões da gestão de fronteiras, diz respeito a rotinas e rituais de
separação de papéis. King (2004) sugere, a título de exemplo, que se possa circunscrever a dimen-
são trabalho no tempo e no espaço, mudando de roupa quando se fecha a dimensão trabalho em
cada dia, por exemplo, ou evitar falar de trabalho quando estamos a desempenhar outros papéis,
como por exemplo o papel familiar. O estabelecimento de rotinas e objetivos diários, a definição
de um espaço da casa que apenas é usado para o papel de trabalho e evitar interrupções siste-
máticas de atividades de um ou de outro papel podem ser outras das estragias de gestão de
carreira a utilizar em contexto de teletrabalho (King, 2004).
Para ultrapassar algumas das desvantagens do teletrabalho podem ser, ainda, realizadas
atividades de contacto online entre colaboradores/as com periodicidade regular, atividades de
feedback regular das chefias, atividades de reflexão conjunta acerca de estratégias e objetivos
de médio e longo prazo, partilha de informação igualitária sobre oportunidades de progressão
e formação entre os/as colaboradores/as, definão de grupos de trabalho que possam ser alter-
nados e a possibilidade de flexibilizar horários, definindo a avalião do trabalho por tarefas
realizadas em determinado período de tempo (Barata, 2020; Lee & Sirgy, 2019).
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (2020) realizou alguns documentos de suporte para lidar
com a pandemia. Num deles, destinado a trabalhadores/as e famílias, sugerem, também, a assun-
ção plena da responsabilidade pelo equilíbrio pessoal/familiar e profissional por parte de cada
um/a; a comunicação assertiva de impedimentos e necessidades pessoais e profissionais, com
vista à negociação; o investimento na rede de suporte social com pares e amigos para partilha
de sentimentos e tarefas; a realização de planos com priorização de tarefas; o estabelecimento
de limites quanto à utilização das tecnologias e quanto à assunção de tarefas; e a prática do auto-
cuidado (pensamentos e discurso de empatia para com a realização de atividades e rotinas de
cuidado e prevenção de saúde e bem estar).
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Equibrio família-trabalho: estratégias para figuras parentais
Uma das preocupações dos/as pais/mães acerca do ensino à distância está relacionada com
a utilização das novas tecnologias, para aprendizagem, para socialização e para lazer. A WHO
(2019) recomenda que as crianças com menos de cinco anos passem, no limite, até uma hora por
dia em frente aos ecrãs e que as crianças com menos de um ano nem sejam expostas a este tipo
de dispositivos. Com o ensino à distância, as crianças acabam por passar mais tempo que o reco-
mendado e os/as pais/mães podem beneficiar de estragias de mediação (Nouwen & Zaman,
2018), para as apoiar a definir e cumprir horários de utilização, para ajudar os/as seus/suas filhos/
as a relacionar-se à distância com adultos e pares, para as apoiar a encontrar prazer na realização
de outras atividades e a relacionar-se de forma saudável com as tecnologias, alertando-as para os
perigos do cyberbullying, das compras online e partilha de dados, fakenews, entre outros aspetos
(OPP, 2020a; UNESCO, 2021; UNICEF, 2021).
Outra das preocupações dos/as pais/mães diz respeito ao suporte na aprendizagem. Neste
contexto, os/as pais/mães podem ser apoiados/as a ajudar os/as seus/suas filhos/as a obviar
dificuldades de organização de materiais, do seu horário e local de estudo, a definir objetivos
de aprendizagem nalgumas disciplinas e a apoiar na resolução de dificuldades tecnológicas ou
logísticas relativas à utilização de equipamentos ou plataformas eletrónicas (OPP, 2020c).
Para além disso, no que concerne a conciliação e considerando o exposto no ponto anterior,
é importante que as figuras parentais tenham em linha de conta as exincias a que estão expos-
tos, a vários níveis, e possam implementar algumas das estratégias acima sugeridas relativa-
mente ao seu papel profissional (King, 2004; OPP, 2020b), paralelamente a estratégias de divisão
de tarefas domésticas e inclusão de tempo para lazer conjunto (Gaspar, 2020).
Outras sugestões passam por manter a autoconfiaa e autocuidado promotor de bem-estar;
investir em tempo de qualidade com as crianças e jovens; planear rotinas e atividades ou progra-
mas online que possam realizar em conjunto; aproveitar atividades diárias como oportunidades
para aprendizagem e lazer; avaliar bem o estado emocional da criança/jovem e introduzir ativi-
dades ou conversas de acordo com essa avaliação; incentivar o diálogo conjunto e a partilha de
sentimentos e pensamentos, recorrendo a estratégias facilitadoras como o desenho, por exemplo;
empatizar com os sentimentos das criaas/jovens; ativar o controlo parental nos dispositivos
eletrónicos; ser flexível e mais tolerante com os outros e com o/a próprio/a e procurar suporte
familiar ou profissional, caso se justifique (Gaspar, 2020; UNICEF, 2021).
Considerações finais
Estamos ainda a viver em situação de pandemia. Por isso, as considerações realizadas são
limitadas e muitas das implicações e consequências são ainda imprevisíveis. Todavia, com base
no conhecimento disponível até ao momento, podemos concluir que existe necessidade de
suporte a escolas, professores/as, pais/mãe e alunos/as acerca de vários aspetos como: gestão do
tempo; gestão dos contactos sociais; gestão das tecnologias e plataformas de ensino à distância; e
gestão de papéis de vida, além dos papéis profissional, familiar e doméstico.
Para além disso, esta pandemia tornou ainda mais clara a necessidade de uma reinvenção
das estratégias e todos de articulação entre organizações e colaboradores/as, casa e escola
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Equilíbrio família-trabalho: considerações apartir dapandemia do COVID-19 para o trabalho eaaprendizagem em casa
para tornar estas relações mais próximas, atempadas e, sobretudo, ajustadas a cada situação con-
creta.
Também se torna clara a necessidade de orientações governamentais no sentido de garantir
o ajustamento de conteúdos às condições de ensino, conciliando estratégias diversificadas, online
com outro tipo de estratégias, para além de garantir a universalidade no acesso aos equipamen-
tos (pelos recursos e pelas competências para a sua utilização).
o obstante todas estas dificuldades, apesar de constrangimentos pessoais e de recursos e
pais/mãe e professores/as, que provocou algum afastamento (Iivari et al., 2020), as escolas imple-
mentaram o ensino à disncia em colaboração com as famílias, enviando emails com tarefas/
conteúdos, fornecendo fotocópias a criaas e jovens com dificuldades de acesso a plataformas,
articularam com entidades sociais locais para esse suporte, fizeram aulas ncronas e asncro-
nas e a televisão implementou a telescola, pese embora, até nestes recursos tenha havido desi-
gualdade no acesso (Basilaia & Kvavadze, 2020).
Investigações futuras deveriam centrar-se em estudos empíricos sobre o impacto do regime
de teletrabalho e ensino à distância nas relações pais-filhos, bem como tentar compreender o
impacto destas medidas a nível psicológico, social e pessoal.
Em suma, a realização de mais estudos sobre o regime de teletrabalho e ensino à distância
continua a ser muito necesria. Esperamos que este trabalho tenha contribuído para encorajar
mais esforços multidisciplinares no estudo do equilíbrio família-trabalho.
Referências
Abuhammad, S. (2020). Parents’ knowledge and attitude towards COVID-19 in children: a Jordanian
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ANSIEDADE E DEPRESO COMO FATORES DE INTERFERÊNCIA
NAQUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS COM ESCLEROSE MÚLTIPLA
ANXIETY AND DEPRESSION AS INTERFERENCE FACTORS IN THE QUALITY
OF LIFE OF PEOPLE WITH MULTIPLE SCLEROSIS
Daniele Batista de Sousa1, Jislaine de Oliveira da Silva2, Thais Mira Simandi3, Dyana Gervana de Oliveira
Fernandes4, Dra Ana Maria Canzonieri5, Dr Carlos Bandeira de Mello Monteiro6
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2020 PP. 3447
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2.3
Submited on June 25th, 2019
Submetido a 25 de junho de 2019
RESUMO
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso
central, cujas lesões e o próprio adoecimento podem causar sintomas como depressão e ansie-
dade. Objetivos: avaliar depressão e ansiedade como fatores de interfencia na qualidade de
vida de pessoas com EM. Método: Pesquisa transversal com 40 pessoas com EM, em Instituição
Social Civil, no Brasil, entre 25 a 60 anos (M = 43.5; DP = 10.6), de ambos os sexos, com todos
os tipos de EM e EDSS (escala expandida de incapacidade) de 0.0 a 8.0, com aplicação dos tes-
tes psicológicos d2 (atenção), inventário de Beck, depressão (BDI), ansiedade (BAI) e escala de
qualidade de vida MSQOL - 54. Resultado: Amostra com 67.5% feminino; 67.5 % com EDSS de
0.0 a 4.0; diagnosticados há mais de 10 anos, 42.5%; com EM remitente recorrente, 85%. Foram
positivas as correlações entre ansiedade e depressão, demonstrando que pessoas com ansie-
dade têm maior presença de depressão; ansiedade e percepção da saúde mental, indicando a
interferência da ansiedade na percepção da saúde mental; ansiedade e atenção, há interferên-
cia da ansiedade na atenção; tempo de diagnóstico e percepção da saúde mental, indicando
que as pessoas com maior tempo de diagnóstico possuem uma melhor percepção do estado de
saúde mental. A ANOVA indica significância entre qualidade de vida, depressão e ansiedade.
1 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo - Brasil sousa.btt@gmail.com
2 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo - Brasil sousa.btt@gmail.com 
jioliveirasil@gmail.com
3 Escola  de  Artes,  Ciências  e  Humanidades,  da  Universidade  de  São  Paulo  (EACH-USP),  São  Paulo  -  Brasil  thais.simandi@
gmail.com
4 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo - Brasil sousa.btt@gmail.com 
dyanagervana@icloud.com
5 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo - Brasil sousa.btt@gmail.com 
amcrrr@gmail.com
6 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), São Paulo - Brasil carlosmonteiro@
usp.br
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Daniele Batista de Sousa, Jislaine de Oliveira da Silva, Thais Mira Simandi, Dyana Gervana de Oliveira Fernandes,
Dra Ana Maria Canzonieri, Dr Carlos Bandeira de Mello Monteiro
Conclusão: O estudo mostra que a ansiedade e a depressão são fatores que interferem na qua-
lidade de vida de pessoas com EM.
Palavras-chave: ansiedade, depreso, esclerose múltipla, qualidade de vida.
ABSTRACT
Multiple Sclerosis (MS) is a progressive and degenerative disease of the central nervous sys-
tem, injuries, and illness itself can cause symptoms such as depression and anxiety. Objectives:
To evaluate depression and anxiety as factors of interference in the quality of life of people with
MS. Method: Cross-sectional survey of 40 people with MS, in a Civil Social Institution, in Brazil,
between 25 and 60 years old (M = 43.5; SD = 10.6), both sexes, all types of MS and EDSS (expanded
scale of disability) from 0.0 to 8.0, with the application of psychological tests d2 (attention), Becks
inventory, depression (BDI), anxiety (BAI) and quality of life scale MSQOL - 54. Results: Sample
with 67.5% female; 67.5% with EDSS from 0.0 to 4.0; diagnosed more than 10 years are 42.5%;
with recurrent remitting MS are 85%. The correlations between anxiety and depression were
positive, demonstrating that people with anxiety have a greater presence of depression; anxiety
and perception of mental health indicating the interference of anxiety in the perception of men-
tal health; anxiety and attention, there is interference of anxiety in attention; time of diagnosis
and perception of mental health, indicating that people with a longer time of diagnosis have a
better perception of the state of mental health. ANOVA was significant between quality of life,
depression, and anxiety. Conclusion: The study shows that anxiety and depression are factors
that interfere in the quality of life of people with MS.
Keywords: anxiety, depression, multiple sclerosis, quality of life.
A Esclerose Múltipla (EM) é descrita como uma doença inflamatória, auto-imune e crônica
do Sistema Nervoso Central (SNC), em que a desmielinização das fibras nervosas do cérebro e da
medula ocasiona um processo degenerativo e progressivo, pela destruição da bainha de mielina
(Russo, 2011; Thompson et al., 2018).
A EM é de etiologia desconhecida e ainda não se encontrou a cura, portanto, todo tratamento
medicamentoso é direcionado aos sintomas, ao retardamento da degeneração e progressão da
doença, além da reabilitação para melhoria da funcionalidade (Russo, 2011).
Estima-se que atualmente 2.5 milhões de pessoas no mundo possuam a doença. No Brasil,
sua prevalência é estimada em 15/100.000 habitantes (Callegaro et al, 2001; Lopes et al, 2010).
O surgimento da doença ocorre mais comumente entre os 20 e os 40 anos e acomete mais
mulheres do que homens na proporção de 2:1, com sinais e sintomas variáveis, que dependem
dos locais lesionados no SNC. algumas hipóteses que apresentam modelos de interação com
mecanismos genéticos e ambientais para o desenvolvimento da doença (Russo, 2011).
Nem sempre o período do diagnóstico é o mesmo do aparecimento dos sintomas, normal-
mente, o período de diagnóstico é o momento de exacerbação de um sintoma. Em muitos casos
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
os pacientes percorrem muitos médicos ou realizam vários exames até terem o diagnóstico con-
cluído, pois muitos dos sintomas são comuns a outras doenças (Compston & Coles, 2002; O’Con-
nor, 2002; Russo, 2011).
A EM se desenvolve por meio de diferentes tipos: A) remitente recorrente (EMRR), que atinge
em torno de 85% dos pacientes, predominantemente do sexo feminino, e se manifesta por meio
de um processo denominado surto-remissão, que configura o aparecimento de um novo sintoma
ou a exacerbação de um sintoma existente por um período maior do que 24 horas, podendo per-
sistir por meses, e depois ocorre a remissão do sintoma. De modo geral, este tipo evolui para o
tipo secundariamente progressivo (EMSP) após 10 a 20 anos do diagnóstico, período em que não
ocorreo mais os surtos, mas a progressão da doença. B) primariamente progressiva (EMPP),
que atinge em torno de 15% dos pacientes, predominantemente do sexo masculino e afrodescen-
dentes, com o progresso contínuo da doença e sem a presença de surto. Em alguns poucos casos,
após 10 a 20 anos do diagnóstico da doença, podeaparecer o surto, passando a denominação
de progressiva com surto (EMPS) (Iwanowski & Losy, 2015; Russo, 2011).
Os sintomas predominantes são os déficits motores (marcha e equilíbrio), visuais (diplopia
[visão dupla], ficit visual), fadiga (física, mental e visual), alterações urinárias, alterações cog-
nitivas, ansiedade e depressão, entre outros (Callegaro et al., 2001; Lopes et al., 2010; Russo, 2011).
Em função da desmielinização podem surgir quadros de depressão, ansiedade e deficits
cognitivos, como alterações das funções executiva, de atenção, de memória e de concentração,
inclusive, muitas vezes, incapacitando as pessoas para o trabalho e até mesmo para atividades da
vida diária, gerando assim transtornos na qualidade de vida da pessoa com EM e de seus familia-
res (Akbar et al., 2011; Bruce & Lynch, 2011; Meneses et al., 2010; Pedro et al., 2011).
A Escala Expandida do Estado de Incapacidade EDSS (Kurtzke, 1983) é um indicador
comummente usado na avalião da EM. Confere informações importantes sobre a qualidade de
vida do paciente, os graus de comprometimento ocasionados pela doença, referentes aos níveis
sensorial, visual, cognitivo, motor, álgico e sexual. Varia de 0.0 e 10.0; a cada 0.5 e a pontuação
indica a incapacidade do paciente: até 4.0 tem pouca ou nenhuma limitação para marcha e equi-
líbrio, 4.5 a 5.5 indica limitações moderadas, acima de 6.0 há necessidade de apoio para marcha
com bengala, andador e cadeira de rodas, 9.0 significa restrição no leito e 10.0 morte (Russo, 2011).
Desde as primeiras descrições da EM, por Charcot, alguns dos sintomas referidos são alte-
rações de humor e apatia. Estima-se que 27 a 54% dos pacientes apresentam depressão, porém,
no Brasil, não existem dados concretos sobre a prevalência da depressão e da ansiedade na EM
(Mendes et al., 2003).
Considera-se que uma pessoa esteja em um estado deprimido quando há presença de alte-
rações de humor, retardo ou agitação psicomotora, perda de prazer ou interesse em atividades
da vida dria, transtornos de sono, fadiga, negatividade, pensamentos suicidas, entre outros,
por um período superior a duas semanas e com dias consecutivos da manifestação dos sintomas
(American Psychiatric Association [APA], 2014).
Se faz necessário compreender que a depressão e a ansiedade são predominantes em pacien-
tes com doença crônica. A EM, enquanto doença crônica, pode ter vários transtornos psiquiátri-
cos como comorbidades, conforme consenso realizado em 1992, na Conferência Internacional de
EM, sendo que a depressão é o transtorno mais frequentemente relatado nessa patologia, seguido
por ansiedade, que pode estar relacionada diretamente com a progressão da doença e as expec-
tativas de futuro (Anhoque et al., 2011; Beiskea et al., 2008; Fazzito et al., 2009).
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Daniele Batista de Sousa, Jislaine de Oliveira da Silva, Thais Mira Simandi, Dyana Gervana de Oliveira Fernandes,
Dra Ana Maria Canzonieri, Dr Carlos Bandeira de Mello Monteiro
A incapacidade gerada pela EM e alguns medicamentos podem desencadear os sintomas
depressivos e estes impactarem na forma como se lida com as atividades cotidianas, com o traba-
lho, com as interações sociais e com o adoecimento, entre outros (Mendes et al., 2003; Russo, 2011).
A depressão pode ser desencadeada devido ao efeito colateral de medicamentos, promo-
vendo sensações de infelicidade crônica, alterações fisiológicas e de humor (Cerqueira & Nardi,
2011; Morales et al., 2007).
Segundo Cerqueira e Nardi (2011), numa revisão da literatura embasada na PubMed / Medline,
o risco de suicídio é alto em pacientes com EM. A pesquisa mostra que na Dinamarca o risco de
suicídio é mais que o dobro quando comparado com a população em geral e, no Canadá, a pro-
porção de mortes por suicídios é 7.5 vezes maior do que para a população em geral, sendo que a
ideação suicida está presente em 28.6% dos pacientes.
Segundo Cerqueira e Nardi (2011) e Mendes et al. (2003) a taxa de suicídio não é exata devido
as diferentes metodologias e populações estudadas, porém reforçam a importância de estudos e
adoção de medidas preventivas em relação a depressão e ao suicídio no atendimento a pacientes
com EM.
Atualmente, alguns estudos não conclusivos sobre a EM realizados com o uso de neuroima-
gem e neuroimunologia, demonstram que a presença de lesões no parênquima cerebral es mais
relacionada aos transtornos depressivos do que as lesões presentes na medula espinhal e que a
depressão parece estar relacionada às mudanças causadas pela doença (Cerqueira & Nardi, 2011).
Segundo a revisão da literatura realizada por Cerqueira e Nardi (2011), foram encontrados
estudos avaliando a associão entre a gravidade dos sintomas depressivos e o desempenho cog-
nitivo em pacientes com EM, que demonstraram uma associação positiva entre depressão e dis-
função cognitiva, mas não foram encontradas pesquisas que demonstrassem que o tratamento da
depressão melhora o desempenho cognitivo.
Segundo Freitas e Aguiar (2012), a atenção e a meria são funções cognitivas cuja perda
representa um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes com EM, comprometendo o
desempenho de tarefas rotineiras e acarretando desconfortos pela percepção que a pessoa tem
da ocorrência de falhas, por isso, a recomendação é que seja feita a avaliação cognitiva desde o
início da doença. Em seu estudo, foi observado que mais da metade dos pacientes tiveram perda
de atenção avaliada pelo teste psicológico d2 e uma redução da atenção concentrada em pacien-
tes com mais de 39 anos de idade.
Outro ponto importante de ser avaliado em paciente com EM é a ansiedade que se caracte-
riza por tensão, pensamentos e preocupações futuras, podendo levar a somatizão destas inter-
corncias psicológicas e associá-las aos sintomas da EM (APA, 2014; Nogueira et al., 2017).
No estudo de Nogueira et al. (2017) com pacientes de EM, na Associação de Amigos e Porta-
dores de Esclerose Múltipla do Estado do Ceará, no Brasil, foi encontrado um escore maior para
ansiedade do que para depressão, com o uso do Inventário de Beck e, na correlação das duas
variáveis, observou-se que a maioria dos pacientes com depressão tinham ansiedade associada.
Segundo Freitas e Aguiar (2012), o adoecimento, a sintomatologia e as dificuldades de enfren-
tamento da doença fazem com que os pacientes sintam dificuldades de relacionamento social,
levando-os a posturas de evitamento. Esse fato é de suma imporncia para que o profissional da
área da saúde desenvolva um olhar além da doença, que compreenda o doente como ser biopsi-
cossocial e que os pacientes com doenças crônicas tem a qualidade de suas vidas comprometida.
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
O conceito de Qualidade de Vida (QV), definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
se confundia com o próprio conceito de saúde: ...um estado de completo bem-estar sico, mental
e social, e não apenas a ausência de doença, como citam Mendes et al. (2004). Somente em 1993,
esta definão foi aplicada para os pacientes com EM, a partir do desenvolvimento de escalas que
avaliavam a QV (Mendes et al., 2004; Soares, 2015).
Em 1995, Vickrey e colaboradores desenvolveram a Multiple Sclerosis Quality of Life (MSQOL-
54), demonstrando que os quesitos saúde sica e mental da escala, favorecem comparar a per-
cepção do paciente ano a ano sobre seu estado, contribuindo assim, com a diminuição do grau de
gravidade dos sintomas da EM e dos sintomas depressivos, por uma ação mais efetiva dos pro-
fissionais da saúde, a partir da leitura da percepção do paciente com o uso da escala. Esta escala
foi validada para o português do Brasil, por Soares, em 2015 (Soares, 2015; Vickrey et al., 1995).
Em 1996 foi feita a adaptação da Determination Scale for Quality of Life in Multiple Sclerosis
(DEFU), para a língua portuguesa, pela equipe de Mendes (Mendes et al., 2004).
Atualmente, a OMS define a QV como a percepção que a pessoa tem de si mesma na vida, no
seu contexto sociocultural e de expectativas vivenciadas, tornando o conceito mais amplificado
para a saúde como sendo a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), que retrata o grau de
satisfação percebido pela pessoa em relação a associação do estado de saúde e a resposta afetiva
a esta condição. A importância da leitura da QVRS é avaliar as incapacidades físicas e psicológi-
cas, causadas pelo adoecimento e os efeitos de tratamentos, por meio da percepção do paciente
(Silva & Cavalcanti, 2019; Soares, 2015).
A EM é uma das doenças desmielinizantes que mais atinge adultos jovens em fase produ-
tiva da vida e que causa mais danos advindos da fadiga, da cognição, da dor neuropática, das
alterações de motricidade, de sensibilidade e de equilibrio, sendo incapacitante em até 75% dos
pacientes. O medo e a incerteza gerados pela doea podem inclusive, levar a depressão e ansie-
dade. No Brasil, cerca de 66.7% a 86.7% dos pacientes possuem incapacidades, por isso, o impacto
dos sintomas demonstra a importância da avaliação, diagnóstico e tratamento precoce da EM, da
ansiedade e da depressão (Russo, 2011; Silva & Cavalcanti, 2019; Thompson et al., 2018).
Sabendo-se que os pacientes com EM têm, em média, 50% de chances de apresentarem
depressão e 41% de chances de apresentarem ansiedade (Chalah & Ayache, 2017; Silva & Caval-
canti, 2019), e que isto pode acarretar dificuldades no comprometimento da vida pessoal, relacio-
nal, profissional e alterar a qualidade de vida presente e futura do paciente, este estudo objetiva
compreender a ansiedade e a depressão como fatores de interfencia na qualidade de vida.
MÉTODO
Participantes
Este é um estudo de iniciação científica, com amostra por conveniência de 40 pessoas diag-
nosticadas com EM, pelo critério McDonald (Thompson et al., 2018), de ambos os sexos, com
idades entre 25 e 60 anos (M = 43.5 DP = 10.6), com EDSS de 0.0 até 8.0, com todos os tipos de EM,
realizada na ABEM – Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, Instituição Social Civil, em São
Paulo, no Brasil, em 2018.
Os critérios de inclusão foram: diagnóstico de EM; ausência de surto nos últimos dois meses
e por autorrelato, o paciente afirmar presença de depressão e ou ansiedade.
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Os critérios de exclusão foram: alterações visuais ou déficit motor que impedissem a execu-
ção dos testes psicogicos; erros no preenchimento dos testes psicológicos.
Material
Foram utilizadas escalas e testes psicológicos validados para o Brasil: d2 (Brickenkamp, 2000),
para avaliar a atenção concentrada; o Inventário de Beck (Cunha, 2001) para avaliar a depressão
(BDI) e para avaliar a ansiedade (BAI), a escala de avaliação da qualidade de vida MSQOL-54
(Vickrey et al., 1995; Soares, 2015) e o questionário sociodemográfico para coletar dados sobre o
paciente e seu adoecimento (idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade, trabalho, tempo de
diagnóstico, tipo de EM, EDSS, auto percepção da qualidade de sono (bom, médio e ruim), auto
percepção de ansiedade e de depressão (sim ou não)).
O d2 é um teste que avalia a atenção concentrada visual separadamente por rapidez e exatidão, a
qualidade da atenção e a flutuação no desempenho, com alfa de Cronbach (α), em média de .90. A apli-
cação é feita por um instrutor que fornece as orientações quanto ao procedimento e preenchimento da
folha de resposta e posteriormente, com um cronômetro, controla o tempo de execão da atividade,
em que a pessoa assinala a letra d” em cada linha do exercício, na folha de resposta, num total de 14
linhas. A partir da análise de resultado por escore bruto verifica-se a capacidade de atenção concen-
trada do paciente, em médio, dio superior, médio inferior, superior e inferior. Pode ser utilizado a
partir dos 9 anos de idade, para ambos os sexos, de forma individual ou coletiva (Brickenkamp, 2000).
O Inventário de Beck é um instrumento composto de itens associados aos sintomas depressi-
vos (BDI) e a ansiedade (BAI) em separados, auto responsivo, em que cada pessoa assinala apenas
um item, segundo sua percepção. Recomenda-se a utilização deste inventário em pessoas com
idade a partir de 17 anos (Cunha, 2011).
O BDI é composto de 21 itens, formado por 4 afirmações descritivas crescentes do sintoma,
com pontuação 0 (mínimo), 1 (leve), 2 (moderado) e 3 (grave). São avaliados: tristeza; desesperança
no futuro; fracasso; culpa; punição; decepção consigo mesmo; baixa autoestima; ideação suicida;
choro; irritação; falta de interesse pelos outros; indecisão; autopercepção visual; incapacidade;
sono; cansaço; apetite; perda de peso; autocuidado e interesse sexual, com α = .81 (Cunha, 2011).
O BAI é composto de 21 afirmações descritivas, numa escala crescente, sendo: 1) “Absoluta-
mente não; 2) “Levemente: Não me incomodou muito”; 3) “Moderadamente: Foi muito desagradá-
vel, mas pude suportar”; 4) “Gravemente: Dificilmente pude suportar”. Os tópicos avaliados são:
dormência ou formigamento; sensação de calor; tremores nas pernas; incapacidade de relaxar;
medo que aconteça o pior; atordoamento ou tontura; palpitação ou aceleração do coração; falta
de equilíbrio; aterrorizão; nervosismo; tremor; tremores nas mãos; medo da perda de controle;
dificuldade de respiração; medo da morte; comportamento assustado; indigestão ou desconforto
no abdômen; sensação de desmaio; afogueamento da face; sudorese (não devido ao calor), com α
= .90, em média para todos os ítens (Cunha, 2011).
A Multiple Sclerosis Quality of Life - 54 (MQOSL-54) é uma escala que avalia a qualidade de
vida de pessoas com EM. A MQOSL-54 é a modificação da escala de Qualidade de vida SF-36, na
qual foram acrescentados 18 itens específicos para EM, perfazendo o total de 54 questões, retra-
tando como o paciente se sente nas últimas 4 semanas. Os escores das subescalas em relação à
saúde física e mental variam de 0 a 100, quanto mais próximo a 100, maior é a qualidade de vida
percebida pelo paciente naquele item, com (α 0.75 – 0.96) (Soares, 2015; Vickrey et al., 1995).
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
Procedimento
Todos os 40 pacientes foram extraídos de uma pesquisa transversal com 90 pessoas, na
ABEM, que ao responderem inicialmente ao questionário sociodemográfico, assinalavam afir-
mativamente perceberem-se com depressão, ansiedade ou ambas. Não houve ponto de corte e
nem randomização. Todas as pessoas com respostas afirmativas, ao item ansiedade e depressão,
foram selecionadas para esta pesquisa.
A aplicão dos instrumentos se deu após a orientação e assinatura do Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido. Foram aplicados e corrigidos pelos pesquisadores o questionário
sociodemográfico, o teste psicológico d2, o Inventário de Beck (BAI e BDI) e a escala MSQOL-54.
O tipo de EM e o resultado da escala EDSS (Kurtzke, 1983) foi fornecido pela neurologista da
ABEM, pois são informações que caracterizam a forma de adoecimento.
Procedimentos de Análise Estatística
Os dados foram analisados pelo sistema estatístico Statistical Package for the Social Scien-
ces (IBM SPSS Statistics®, v. 23.0), para plataforma Windows, para análise de dados descritivos
como média, frequência e desvio padrão, das variáveis sociodemográficas. Foram utilizadas as
análises ANOVA para os instrumentos que avaliam qualidade de vida, depressão e ansiedade e
análises das correlações de Pearson e Spearman para os instrumentos de avaliação e os dados
sociodemográficos.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 67.5% das pessoas do sexo feminino, 47.5% casados, 60% com
nível superior completo/incompleto de ensino e 62.5% estão trabalhando.
Na EDSS, 67.5% das pessoas encontram-se entre o nível 0.0 a 4.0, indicando que conseguem
andar sem apoio para a marcha e os 32.5% fazem uso de bengala, com diagnóstico há mais de 10
anos são 42.5%, com EMRR são 85% e EMPP são 15%.
Com o nível entre leve e grave de ansiedade, no BAI, são 55% das pessoas e 37.5 % com nível
entre leve e grave de depressão, no BDI.
TABELA1
Frequência de sujeitos (%) com as medidas de ansiedade e depressão
BAI – ansiedade (%)
Mínimo Leve Moderado Grave
BDI depressão (%) Mínimo 37.5 22.5 2.5 0.0
Leve 2.0 15.0 0.0 2.5
Moderado 2.5 2.5 5.0 2.5
Grave 0.0 0.0 2.5 0.0
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Na MSQOL-54 são 57.5 % dos pacientes com percepção acima da média, na saúde física, e
30% na saúde mental, demonstrando-se assim que o paciente tem uma maior percepção da saúde
física do que mental.
As correlações de Pearson foram significativas para ansiedade (BAI), depressão (BDI) saúde
mental (MSQOL-54), saúde física (MSQOL – 54), exceto para d2.
TABELA2
Correlação de Pearson entre as Medidas
MSQOL SFísica MSQOL SMental D2 BAI BDI
MSQOL_SFísica 1 .452** .074 -.438** -.620**
MSQOL_SMental 1 .175 -.530** -.394*
D2 1 -.020 .061
BAI 1 .543**
BDI 1
*p <..05; ** p <.01
A diferença entre grupos foi significativa (ANOVA). Há diferenças significativas, ao nível da
depressão, entre as pessoas com diferentes níveis de saúde sica e saúde mental. No caso da
ansiedade, só se verificam diferenças ao nível da variável saúde mental (tabela 3).
TABELA3
Diferenças entre os grupos (ANOVA)
Saúde física Saúde mental
M SD F p. M SD F p.
BAI Entre Grupos 5.33 1.33 2.10 0ns 11.26 5.63 12.83 <0.001
BDI Entre Grupos 11.7 2.93 7.21 <0.001 6.41 3.20 6.09 0.005
Foi estatisticamente significativa a correlação de Pearson da variável do sociodemogfico,
tempo de diagnóstico e percepção da sde mental (MSQOL-54) (p = .034), indicando que as pessoas
com maior tempo de diagnóstico possuem uma melhor percepção do estado de saúde mental e com
menor significância, mas presente, o tempo de diagnóstico e qualidade do sono (p=.057) demons-
trando que as pessoas com maior tempo de diagnóstico observam ter menor qualidade de sono.
Estatisticamente as correlações de Spearman foram mais fracas, mas podem contribuir
com reflexões interessantes como: depressão e atenção teste d2 (p = .067), demonstrando que a
depressão pode não estar associada a atenção concentrada, o que pode ser positivo do ponto de
vista produtivo, pois é indicativo de que pessoas com depressão necessariamente não possuem
perdas significativas na atenção concentrada, o que pode possibilitá-las ao exercício de ativida-
des diárias, reabilitação, trabalho, entre outras tarefas; qualidade de sono e MSQOL-54 saúde
sica (p=.064), as pessoas com alteração na qualidade de sono tem uma pior percepção da qua-
lidade de vida no quesito saúde física, indicando que o sono reparador pode contribuir com uma
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
perceão melhorada da saúde física e, portanto, ser indicativo do paciente buscar tratar-se de
forma mais adequada.
houve correlação positiva com tempo de diagnóstico entre as variáveis do sociodemog-
fico, ansiedade, depressão e qualidade de vida.
TABELA4
Diferenças Relativas às Variáveis do Questionário Sociodemográfico, sobre as Medidas em Estudo
MSQOL-54 física MSQOL -54 mental
BAI BDI média abaixo média abaixo
n% n % p n % p n % p n % p
Genero .217 .486 .349 .307
masculino 13 32.5 8 20.0 7 17.5 717.5 11 27.5
feminino 27 67.5 14 35.0 10 25.0 10 25.0 17 42.5
Idade agrupada .166 .095 .362 .485
23 a 30 anos 6 15.0 2 5.0 2 5.0 1 2.5 4 10.0
31 a 40 anos 13 32.5 11 27.5 8 20.0 717.5 10 25.0
41 a 50 anos 9 22.5 5 12.5 4 10.0 5 12.5 7 17.5
acima de 50 anos 12 30.0 4 10.0 1 2.5 410.0 717.5
Estado civil .434 .944 .724 .701
casado 19 47.5 11 27.5 8 20.0 10 25.0 14 35.0
divorciado 7 17.5 4 10.0 2 5.0 3 7.5 5 12.5
solteiro 14 35.0 7 17.5 5 12.5 4 10.0 7 17.5
Grau de escolaridade .041 .146 .694 .454
ensino fundamental 3 7.5 2 5.0 2 5.0 2 5.0 3 7.5
ensino médio 13 32.5 6 15.0 4 10.0 5 12.5 10 25.0
ensino superior 24 60.0 14 35.0 9 22.5 10 25.0 15 37.5
Trabalho .151 .534 .453 .778
não 15 37.5 7 17.5 717.5 820.0 11 27.5
sim 25 62.5 15 37.5 8 20.0 9 22.5 17 42.5
Tempo de diagnóstico .241 .225 .172 .034*
até 1 ano 4 10.0 4 10.0 2 5.0 2 5.0 4 10.0
acima de 1 a 3 anos 4 10.0 2 5.0 0 0.0 00.0 0 0.0
acima de 3 a 5 anos 6 15.0 4 10.0 3 7.5 4 10.0 5 12.5
acima de 5 a 10 anos 9 22.5 5 12.5 4 10.0 3 7.5 8 20.0
acima de 10 anos 17 42.5 7 17.5 6 15.0 8 20.0 11 27.5
Tipo de EM .624 .895 .104 .158
EMRR 34 85.0 20 13 32.5 14 35.0 24 60.0
EMPP 12.512.5 00.0 12.5 12.5
EMSP 5 12.5 1 2.5 2 5.0 2 5.0 4 10.0
Qualidade de sono .083 .204 .064 .466
bom 25 62.5 9 22.5 6 15.0 10 25.0 17 42.5
médio 10 25.0 9 22.5 6 15.0 5 12.5 7 17.5
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MSQOL-54 física MSQOL -54 mental
BAI BDI média abaixo média abaixo
ruim 5 12.5 4 10.0 3 7.5 2 5.0 4 10.0
EDSS .794 .306 .256 .125
0.0 a 4.0 27 67.5 14 35.0 8 20.0 9 22.5 19 47.5
4.5 a 6.6 13 32.5 8 20.0 7 17.5 8 20.0 9 22.5
* p <.05
DISCUSSÃO
Pelas análises realizadas pode-se perceber que a ansiedade e depressão são fatores de inter-
ferência na qualidade de vida de pessoas com EM, o que pode trazer consequências para o desen-
volvimento das relações pessoais e profissionais, além de afetar o próprio adoecimento em si.
A amostra tem como média de idade 43.5 anos e predominância do sexo feminino, o que se
assemelha aos dados encontrados na literatura em termos de predomínio da idade e sexo femi-
nino, conforme visto em Russo (2011), o que impacta na idade produtiva de pessoas e, principal-
mente, de mulheres em idade de maternidade ou com filhos menores de idade.
Detetar, diagnosticar e tratar a ansiedade e depressão torna-se importantíssimo pois, na
amostragem um grande percentual de pacientes são casados, com nível superior completo/
incompleto de ensino e que estão trabalhando. Por isso, manter estas pessoas com qualidade de
vida é um ganho pessoal, familiar e social, além de diminuir um custo com a saúde pública e pri-
vada, como citado por vários autores (Akbar et al., 2011; Bruce & Lynch, 2011; Mendes et al., 2004;
Meneses et al., 2010; Morales et al., 2007; Pedro et al., 2011; Russo, 2011).
Mesmo que não haja correlação positiva entre a EDSS, ansiedade, depressão, qualidade de
vida e nem do tipo de EM, torna-se importante entender a ansiedade e a depressão para que não
sejam um dos sintomas presentes, pois com a EDSS com valores altos torna-se ainda mais com-
plexo. Aqui reside a importância da reabilitação constante para manutenção do estado e evitar
perdas.
Torna-se importante para os pacientes com EMRR, a análise do estado de ansiedade e depres-
são, que pela constância dos surtos, leva os pacientes a hospitalização e ao uso de corticocosterói-
des, o que pode vir a desencadear, como comorbilidade, a depressão e ansiedade, como efeitos
colaterais da medicação, como discutido por alguns autores (Cerqueira & Nardi, 2011; Mendes et
al., 2004; Morales et al., 2007; Russo, 2011).
Com diagnóstico mais de 10 anos há um número significativo de pessoas. Por isso, diag-
nosticar e tratar a ansiedade e depressão pode auxiliar no envelhecimento natural destas pes-
soas e, consequentemente, controlar os possiveis efeitos da ansiedade e depressão como fatores
de interferência no tempo, tanto de diagnóstico, como cronológico, pois estatisticamente houve
significância positiva entre o tempo de diagnóstico e a percepção da saúde mental (MSQOL-54).
Obteve-se no BAI maior índice de pessoas com ansiedade e no BDI menor índice de pessoas
com depressão. Acrescido a esse panorama, tem-se a ansiedade e depressão com correlações
positivas, demonstrando que há mais possibilidades de pessoas terem ansiedade e depressão
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
conjuntamente do que isoladamente, tornando clara a imporncia do diagnóstico e tratamento
precoce da ansiedade e depressão, inclusive, como visto no trabalho de Nogueira et al. (2017).
A ansiedade apresenta-se como fator de interferência na percepção da saúde mental (MSQOL
-54) e na atenção concentrada (d2). Os resultados demostram que a ansiedade é um fator de inter-
ferência mais significativo do que a depressão em relação à qualidade de vida de pessoas com
EM, apesar da depressão por si só, já ser um fator modificador da qualidade de vida, como tam-
bém citado por Cerqueira e Nardi (2011). Porém, a ansiedade pode ser um fator com maior signi-
ficância em função da EM ser uma doença crônica, degenerativa e progressiva, o que leva a pes-
soa a pensar no amanhã, manifestar incertezas quanto à doença e até mesmo a sentir medo do
futuro. Inclusive, como citado pelos autores Russo (2011), Thompson et al. (2018) e Silva e Caval-
canti (2019). No Brasil, aproximadamente 66.7% a 86.7% dos pacientes com EM possuem inca-
pacidades, portanto, a detecção precoce da depressão e ansiedade pode ser significativa para o
tratamento.
Segundo alguns autores, (Anhoque et al., 2011; Beiskea et al., 2008; Fazzito et al., 2009) a
depressão aparece como o transtorno mais frequente comparando com a ansiedade, porém,
neste estudo, verificou-se que a ansiedade tem uma significância maior, em termos percentuais,
do que a depressão, como no estudo de Nogueira et al. (2017).
Obteve-se fraca significância entre a correlação depressão (BDI) e o d2 para atenção concen-
trada, demonstrando que a depressão estatisticamente não interfere na atenção concentrada,
porém foi significante a correlação entre ansiedade (BAI) e o d2, demonstrando que a ansiedade
interfere no mecanismo da atenção concentrada, inclusive, estes dados são reforçados pelo tra-
balho de Freitas e Aguiar (2012) que aborda que distúrbios das funções cognitivas representam
uma perda na qualidade de vida dos pacientes com EM.
Do ponto de vista produtivo, percebe-se que pessoas com depressão necessariamente não
possuem perdas significativas na atenção concentrada, o que pode possibilitá-las ao exercício
de atividades. O importante é que os profissionais da área da saúde estejam atentos a isso, para
auxiliar o paciente no enfrentamento, no desenvolvimento de estratégias e na reabilitação.
Na MSQOL-54, os pacientes obtiveram maior percepção da saúde física do que da saúde
mental. Possivelmente, isto se deve ao fato dos sintomas físicos como déficits motores, visuais e
a fadiga serem mais visíveis e de maior prevalência, como cita Callegaro et al. (2001), Lopes et al.
(2010), Russo (2011), em relação aos sintomas cognitivos, depressivos e de ansiedade.
Importante ressaltar que estatisticamente foi significativa a correlação entre o tempo de diag-
nóstico e percepção da saúde mental (MSQOL-54), indicando que as pessoas com maior tempo de
diagnóstico possuem uma melhor percepção do estado de saúde mental, o que pode se justificar
pela convivência com a doença, que de certo modo conscientiza o paciente de seus sintomas.
A deteriorização das funções cognitivas representa um grande impacto na qualidade de vida
do paciente pelo comprometimento na realização das atividades da vida diária, pois as pessoas
vão tendo a percepção de suas falhas, erros e/ou esquecimentos, como descrito no estudo de Frei-
tas e Aguiar (2012), em que o resultado do teste psicológico d2 trouxe como ocorrência a redução
da atenção concentrada em pacientes com mais de 39 anos de idade e, nesta pesquisa, obteve-se
correlações significativas entre ansiedade (BAI) e d2 e correlações mais fracas, porém presentes,
entre depressão (BDI) e d2. Daí a recomendação da avaliação cognitiva juntamente com o diag-
nóstico da doença, para promover o monitoramento e a reabilitação.
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Apesar de estatisticamente ter menor significância, houve correlão do tempo de diagnós-
tico e qualidade do sono, demonstrando que as pessoas com maior tempo de diagnóstico obser-
vam ter menor qualidade de sono, o que pode ocorrer por diversos fatores, entre eles, a evolução
da doença, constância de surtos, efeitos da medicação, sintomas de ansiedade e depressão.
Houve fraca significância estatística, mas indicando presença da correlação entre qualidade
de sono e MSQOL-54 saúde sica, demonstrando que as pessoas com déficits na qualidade de
sono apresentam pior percepção da qualidade de vida no quesito saúde física. Este fato é um
ponto de alerta aos profissionais da área da saúde, para que orientem o paciente a estratégias de
higiene do sono.
Vale ressaltar que os resultados mostram a presença de ansiedade e de depressão, porém,
isto não deve ser impeditivo para o paciente no que diz respeito ao desenvolvimento pessoal,
profissional ou relacional. Apesar de serem fatores de interferência na qualidade de vida, o grau
de debilidade pode ser significativo, mas não impeditivo da realização de uma tarefa de vida
diária, por isso, se requerem práticas adaptativas, como jornada de trabalho reduzida, homeof-
fice, atendimento reabilitacional domiciliar, uso de recursos computacionais para ampliar a rede
social, praticar jogos virtuais, desenvolver trabalhos virtuais, praticar atividade reabilitacional
presencial ou virtual, práticas de terapias complementares presencial ou online, o fundamental
é que o paciente possa desenvolver estratégias para se manter ativo e com qualidade de vida.
Para discussão utilizou-se as correlações significativas ou de baixa significância que de
alguma forma merecessem a atenção dos profissionais da área da saúde, principalmente, no que-
sito qualidade de vida, já que este é um ponto fundamental para pessoas com doenças crônicas,
entre elas a EM.
CONCLUSÃO
O estudo mostra que a ansiedade e a depressão são fatores que interferem na qualidade de
vida de pessoas com EM, sendo muito mais significativa a ação da ansiedade do que da depres-
são.
Do ponto de vista da saúde física e psíquica, o diagnóstico e tratamento precoce da depressão
e ansiedade devem ser feitos para que se proporcione bem-estar e qualidade de vida ao paciente.
Por isso, informações sobre a ansiedade, depressão e qualidade de vida de pacientes com EM
podem ser úteis aos profissionais da saúde no manejo medicamentoso e reabilitacional, pois,
como não se tem a cura da doença, o tratamento está focado nos sintomas e na reabilitação.
As limitações deste estudo são quanto à amostragem e a não randomização, por ser um recorte
de uma pesquisa mais ampla, cujo desenho foi trazer todas as informações, por meio de diversos
instrumentos, sobre os pacientes com EM, por isso, não foi um desenho específico para se estudar
ansiedade e depressão, além de ter sido realizado em uma única Instituição, pom, trouxe como
aspecto positivo a inserção do teste psicológico d2 e a utilização da escala MSQOL-54, ampliando
as possibilidades de testagem das funções cognitivas e qualidade de vida nos estudos, no Brasil.
Desenhar uma pesquisa para identificar as variaveis ansiedade e depressão, em pacientes
com EM, em diferentes Instituições e com uma amostragem maior, no Brasil, será de extrema
importância para a área da saúde.
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Ansiedade e depressão como fatores de interferência na qualidade de vida de pessoas com esclerose múltipla
Referências
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CONSTRUÇÃO E EVIDÊNCIAS INICIAIS DE VALIDADE DE UMA
ESCALA BRASILEIRA DE IDENTIFICAÇÃO NACIONAL
DEVELOPMENT OF A BRAZILIAN SCALE OF NATIONAL IDENTITY
ANDPRELIMINARY EVIDENCE OF VALIDITY
Samuel Lins1, Juliane Borsa2, Sara G. Alves3, Rúben Silva4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVI • ISSUE FASCÍCULO 2
1ST JULY JULHO  31ST DECEMBER DEZEMBRO 2020 PP. 4862
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVI.2.4
Submited on April 2rd, 2020
Submetido a 2 de abril 2020
Resumo
Identidade social éparte do autoconceito de uma pessoa e é construída com base em caracte-
rísticas associadas a determinadas categorias sociais que o indivíduo faz parte. Atualmente, uma
das mais salientes categorias de identidade social é a nacionalidade. O presente estudo apresenta
uma nova medida de identificação nacional, desenvolvida para o contexto brasileiro. Para tanto,
foram realizados dois estudos. O primeiro refere-se à constrão do instrumento e à investigação
de evidências iniciais de validade interna. o segundo estudo investigou novas evidências de
validade interna e buscou evincias de validade com base nas relações com variáveis externas
e teoricamente correlatas à identificação nacional. Os resultados de ambos os estudos indicaram
evidências de validade de construto e de critério da escala. No entanto, outras evidências de
validade ainda são necessárias para atestar a qualidade da escala de identificação nacional e sua
real adequação para uso no contexto brasileiro.
Palavras-chave: identificação nacional, otimismo, autoestima, aatisfação com a vida, emoções.
1 Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Portugal.
Investigador do Laboratório de Psicologia Social (LPS) do Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP). ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6824-4691 E-mail: samuellins@fpce.up.pt
2 Professora  Adjunta  do  Departamento  de  Psicologia  e  do  Programa  de  Pós-Graduação  em  Psicologia  Clínica  da  Pontifícia 
Universidade  Católica do  Rio de  Janeiro (PUC-Rio), Brasil. Coordenadora do  Grupo  de Pesquisa  em Avaliação Psicológica 
APlab - Pessoas & Contextos. Bolsista Produtividade CNPq. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7703-5509 Email:juliborsa@
gmail.com
3 Doutoranda em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Portu-
gal. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6792-2614 Email: up201304933@fpce.up.pt
4 Mestre em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Portugal. 
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8030-1940 Email: up201303714@fpce.up.pt
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Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva
Abstract
Social identity is part of a persons self-concept and is built on characteristics associated with
certain social categories to which one belongs. Currently, one of the most salient categories of
social identity has been the nationality. The present study presents a new measurement of natio-
nal identification, developed for the Brazilian context. Two studies were carried out. The first
concerns the construction of the instrument and the investigation of initial evidence of internal
validity. The second study investigated new evidence of internal validity and sought evidence of
validity based on relationships with external variables and theoretically correlated with natio-
nal identity. The results of both studies indicated evidence of construct validity and scale crite-
rion. However, other evidence of validity is still needed to attest to the quality of the National
Identification Scale and its actual suitability for use in the Brazilian context.
Keywords: national identification, optimism, self-esteem, life satisfaction, emotions
Introdução
Enquanto seres humanos integrantes de mundos sociais complexos, os indivíduos definem-
-se não só pelo que os caracteriza pessoalmente, constituindo a sua identidade pessoal, como
também pelo que caracteriza os grupos aos quais pertencem, constituindo a sua identidade
social. Essa é a parte do autoconceito de uma pessoa que deriva das categorias sociais às quais
ela pertence (Tajfel & Turner, 1979).
Na base da constrão dessa identidade está a compreensão de que o mundo pode ser divi-
dido em categorias sociais relevantes, levando à auto-categorização em algumas dessas cate-
gorias (e.g., identificação enquanto homem, estudante, brasileiro), definindo-se assim o “nós(o
endogrupo) e o “eles” (o exogrupo) (Turner et al., 1987). Esta identificação pode diferir em intensi-
dade entre os indivíduos que pertencem ao grupo (Hogg, 1996); usando o exemplo da identidade
nacional, uma pessoa que nasceu e viveu sempre no mesmo país pode sentir uma identificação
mais intensa com o mesmo do que quem imigrou para esse país na idade adulta. Este processo de
identificação é multifacetado, compreendendo tanto uma dimensão cognitiva (e.g. se reconhecer
como membro de um grupo), como uma afetiva, vivenciando emoções positivas decorrentes do
pertencimento (e.g. satisfação, orgulho, etc.), e ainda uma dimensão avaliativa, relacionada com
o valor que a pessoa atribui a esta pertença (Brown et al., 1996; Ellemers et al., 1999; Feitosa et al.,
2012; Tajfel, 1978).
Atualmente, o fenómeno da globalização está imparável, tornando cada vez mais saliente
uma das várias categorias de identidade social, a nacionalidade (Chiu et al., 2011). Apesar ser
uma categoria de análise mais abrangente que os grupos habituais, a nação pode ser considerada
um grupo no sentido mais amplo (García-García et al., 2012), sendo o processo de identificação
semelhante aos das restantes identidades sociais, na medida em que engloba as três dimenes
previamente referidas e é frequentemente conceitualizada nesse paradigma (e.g., Huddy & Kha-
tib, 2007). A categorização segundo a nação dá-se então, com a delimitação perceptiva de um
espaço territorial e cultural comum: as pessoas reconhecem a sua pertença a um determinado
país com normas e valores concretos (Kelman, 1997).
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Constrão e evidências iniciais de validade de uma escala brasileira de identificação nacional
Assim, a identidade nacional tem um forte potencial de promoção do sentido de pertença,
de autoestima e de autoproteção (McCauley, 2001; Salazar, 1998). De fato, pessoas com uma ele-
vada identificação nacional costumam reportar níveis maiores de autoestima (e.g., Luhtanen &
Croker, 1992; Stets & Burke, 2014; Teixeira & Lins, 2018), otimismo (e.g., Smokowski et al., 2014),
e satisfação com a vida (e.g., Haslam et al., 2009). Ademais, existe evidência de que uma identi-
ficação nacional forte está associada a comportamentos pró-sociais relativos aos membros do
endogrupo (Maki et al., 2019; Zhao et al., 2020), afeição pelos mesmos (Gallagher & Cairns, 2011),
confiança nas instituições políticas (Berg & Hjerm, 2010) e, ainda, julgamentos positivos e von-
tade de comprar produtos nacionais (Zeugner-Roth et al., 2015).
Por fim, a identidade nacional também pode influenciar os julgamentos e as emoções. No
estudo de Lins e Borsa (2014), na ocasião da Copa do Mundo FIFA 2014, verificou-se que, quanto
mais forte a identidade nacional dos brasileiros, melhor a avalião dos impactos do evento no
seu país. Os participantes também reportaram mais emoções positivas e menos emoções nega-
tivas quando pensavam na Copa. O orgulho no país e nos seus feitos e conquistas também surge
como uma emoção positiva altamente associado à identidade nacional (Huddy & Khatib, 2007).
Além disso, a mera categorização do mundo social de acordo com diferentes nacionalidades
aumenta a percepção de semelhança entre as pessoas com a mesma nacionalidade, e a percepção
de diferença em relação àqueles de nacionalidades diferentes (e.g., Turner et al., 1994; Turner &
Reynolds, 2012). Quando a identidade nacional enfatiza estas diferenças, colocando o endogrupo
acima dos restantes, uma maior identificão poderá levar a uma menor aceitação de imigrantes
e refugiados (e.g., Blank & Schmidt, 2003; Esses et al., 2004; Yitmen & Verkuyten, 2018) ou dificul-
tar a resolução de conflitos internacionais (Herrmann et al., 2009; Kelman, 2001).
Contudo, a identidade nacional não é experienciada de forma necessariamente coesa e
homonea, podendo os membros de cada nação atribuir múltiplos e diversos significados à sua
identidade nacional. Lima e Santos (2016) analisaram as representações sociais de brasileiros
sobre o Brasil e sobre o que é ser brasileiro e encontraram um padrão mais complexo e ambiva-
lente. Por um lado, os brasileiros associam Brasil com um lugar bom para viver”, que adora e
que é legal e ótimo; por outro, o Brasil também é considerado um lugar de “mendigo, pobreza,
miséria” e “precariedade. O mesmo estudo também indicou que mais de 80% dos participantes
se sentem, gostam de ser e têm orgulho em serem brasileiros. Scheve e colaboradores (2014) veri-
ficaram, também, que a identificão nacional de pessoas de diferentes países estava associada a
mbolos diferentes (bandeira, hino, cores nacionais, entre outros), características institucionais
e políticas (valores e posições políticas) e atitudes face à comunidade e solidariedade.
A identidade nacional é, portanto, um conceito rico e de relevância social, pelo que a men-
suração da intensidade da identificão no contexto de investigação pode ser muito útil. Especi-
ficamente no contexto brasileiro, a grande heterogeneidade nos significados atribuídos à identi-
dade nacional dá-se numa atualidade em que o Brasil tem notoriedade internacional sobretudo
pela corrupção, pelo preconceito, e pela desigualdade social (Graeff et al., 2019; Schallhorn,
2020). Neste panorama, um instrumento para mensurar a identificação nacional brasileira é um
ponto de partida para analisar algumas das principais problemáticas sociais da sociedade brasi-
leira. Por exemplo, poder-se-ia estudar o impacto dos recorrentes escândalos de corrupção para
a identidade nacional dos brasileiros e suas consequências para a coesão (ou fragmentação) da
sociedade e para a autoestima dos indivíduos.
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Existem, assim, diversas escalas criadas no sentido de medir a identificação social (podendo
estas serem adaptadas ao grupo alvo em questão, como a nação), variando principalmente na sua
dimensionalidade. Por exemplo, há estudos que medem a identificação nacional recorrendo a
um único item (e.g. “Identifico-me com o [grupo/país]”) (Postmes et al., 2013); contudo, esta opção
pode deixar de fora componentes importantes da identificão social, não sendo ainda possível
testar a sua consistência interna, exceto através de uma medida de teste-reteste, que pode ser
confundida com mudaas verdadeiras na intensidade do construto (Dibble et al., 2011). Além
disso, a validade preditiva de medidas de um único item é menor que em medidas com múltiplos
itens, devendo as primeiras ser usadas apenas em condições muito específicas (Diamantopoulos
et al., 2012).
Por outro lado, outros estudos adotam operacionalizações multidimensionais, embora não
haja consenso acerca do número de dimenes inerentes ao processo de identificação; existem
autores que defendem que este processo conm duas (Arocena et al., 2010; Guitart, 2010), três
(Ellemers et al., 1999; Cameron, 2004), quatro (Jackson & Smith, 1999; Lilli & Diehl, 1999), cinco
(Leach et al., 2008) ou mais dimensões (Ashmore et al., 2004). É de salientar que, para algumas
destas conceitualizações, não existe fundamentação empírica, enquanto que nas restantes, esta
fundamentação não exclui a possibilidade da existência de um fator geral explicativo da variân-
cia dos itens.
De fato, os modelos testados não preveem a exisncia de um fator de segunda ordem que
explique os fatores encontrados, mesmo que estes se encontrem correlacionados. Por esta razão,
estes modelos multidimensionais não permitem a avaliação da identificão nacional por meio
de um fator geral, sendo apenas possível avaliar as suas várias partes constituintes separada-
mente (Furr, 2011).
Neste sentido, segundo Reise e colaboradores (2013), encontrar um melhor ajustamento do
modelo multidimensional aos dados não é justificação suficiente para defender a superioridade
teórica de um modelo multidimensional. Os autores argumentam que estudos que propõem
estruturas multidimensionais defendem que, por um lado, não existe um fator geral, mas, por
outro lado, não verificam se é realmente impossível haver um fator único. Ademais, quando o
modelo é severamente multidimensional não faz sentido considerar a existência de um fator
único (Reise et al., 2013).
Ademais, é necessário verificar qual a quantidade de informação confiável que as sub-esca-
las fornecem para além do score total, isto é, em que medida as sub-escalas refletem construtos
únicos e diferentes do construto geral de ordem superior. Nenhum dos estudos que avaliam a
multidimensionalidade da identificão nacional verificou estes aspetos, pelo que a multidimen-
sionalidade da identificão social não deve ser aceite sem reservas (Reise et al., 2013). Por fim,
estas escalas são, em geral, bastante extensas, podendo tornar-se cansativas para os participan-
tes responderem, especialmente quando aplicadas em conjunto com outras escalas.
A grande maioria dos estudos, contudo, aborda este construto como sendo unifatorial (Came-
ron, 2004; Ellemers et al., 1999; Leach et al., 2008). De fato, a teoria permite considerar a iden-
tificação como um construto único e contínuo, havendo indivíduos mais identificados com o
seu grupo e indivíduos menos identificados. Embora alguns autores argumentem que diferentes
dimensões possuem correlatos externos diferentes, o mesmo se pode considerar de itens dife-
rentes, não sendo essa uma boa razão para se procurar essas relações e recusar a existência de
um fator único explicativo da variância desses itens (Reise et al., 2013). Ademais, existem linhas
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Constrão e evidências iniciais de validade de uma escala brasileira de identificação nacional
de investigação que necessitam ou pretendem investigar a identificação nacional como um todo,
pelo que a existência de escalas unidimensionais empiricamente validadas pode ser muito útil.
No Brasil, existe uma escassez de estudos e medidas sobre identificação nacional. Uma pes-
quisa na EBSCO com as palavras-chave “Brasile identificação nacional, em Março de 2021,
apresentou 4 resultados dos quais apenas um incorpora uma medida de identificação nacional.
No estudo de Espinosa e colaboradores (2016), os autores usaram apenas um item para medir a
identificação nacional dos participantes (“Qual é o seu grau de identificação com a categoria
nacional?”).
Entretanto, importa destacar a existência de três escalas brasileiras que avaliam a identi-
dade grupal. A primeira foi elaborada por Pimentel, Gouveia e Fonseca (2005), com uma amos-
tra de 548 estudantes paraibanos do ensino dio, que avalia a identificação dos jovens com
grupos alternativos (hippies, punks, skinheads, headbangers, skatistas, surfistas e funkeiros alfa
de Cronbach = .87). A segunda é uma escala composta por seis itens desenvolvida por Wachelke
(2012), com uma amostra de 1203 universitários de sete estados brasileiros, que avalia a força de
conexão dos indivíduos com um grupo ao qual pertence (α = .90). Por fim, há a Escala Trifatorial
da Identidade Social (ETIS), desenvolvida por Nascimento e Souza (2017) para o contexto profis-
sional de policiais do Distrito Federal, composta por 9 itens distribuindo em três fatores: centra-
lidade, afeto e laços. A confiabilidade, medida através do Rho de reskog, mostrou-se adequada
(α = .87, .87 e .91, respectivamente).
Sendo assim, a escala de Wachelke (2012) é a que mais se aproximaria de uma medida de
identificação nacional, uma vez que é adaptável a esse contexto. Contudo, a existência de uma
medida espefica de identificão nacional, empiricamente validada e adaptada ao contexto
brasileiro, seria uma importante contribuição para o estudo desse fenômeno, em estudos quanti-
tativos que procurem compreender a intensidade desta identificação.
O presente estudo visa descrever os procedimentos de construção de uma nova medida de
avaliação da identificação nacional, que i suprimir a falta de uma escala empiricamente vali-
dada para o contexto brasileiro. Para tal, foram realizados dois estudos em tempos e amostras
distintas. O Estudo 1 teve o objetivo de construir o instrumento e investigar evidências iniciais
de validade interna da medida. Já o Estudo 2 teve o objetivo de buscar novas evidências de vali-
dade interna e investigar evidências de validade com base nas relações com outros construtos
correlatos à identificação nacional (emoções e avaliações dos impactos dos Jogos Olímpicos Rio
2016, autoestima, otimismo e satisfação com a vida).
Estudo 1
Método
Construção do Instrumento
Com base na teoria sobre identidade social (Tajfel, 1878), teve-se como ideia construir e
desenvolver uma medida curta e parcimoniosa, optando por uma operacionalização unidimen-
sional da identificação nacional (por comparação às escalas multidimensionais), que meça este
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Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva
construto de forma holística, mas devidamente heterogênea (por comparação às escalas de um
único item, e.g., Postmes et al., 2013).
Para obter esta heterogeneidade, procurou-se que os itens refletissem os componentes da
identificação social conforme definido por Tajfel (1978), não por ser a conceitualização ini-
cial do construto da identificão, mas também pelo apoio continuado da mesma na literatura
(Brown et al., 1996; Ellemers et al., 1999; Feitosa et al., 2012). Foram, então, utilizados cinco itens:
um item relativo à dimensão cognitiva de pertença (“Me identifico com os(as) brasileiros(as) em
geral), dois itens relativos à dimensão afetiva da identificação nacional (“Me orgulho de ser bra-
sileiro(a)e Sinto satisfação em pensar que sou brasileiro(a)”), e dois itens relativos ao compo-
nente avaliativo (“Ser brasileiro(a) é importante para mim” e “Gosto de ser brasileiro(a)”).
Em relação ao tipo de escala de respostas, optou-se pela do tipo Likert de pontos, variando
conforme a concordância do participante em relação à afirmação (1 = discordo totalmente; 5 =
concordo totalmente).
Participantes
Participaram no estudo 1279 brasileiros (54.7% mulheres), com idade dia de 31.1 anos
(DP= 11.3, min = 18 e x = 77), de todos os estados do Brasil, sendo a maioria dos sujeitos do
estudo do estado do Rio de Janeiro (n = 293), Paraíba (n = 241), São Paulo (n = 165) e Rio Grande do
Sul (n= 112).
Procedimentos
A coleta de dados do Estudo 1 foi realizada de forma virtual, por meio de uma página na
internet desenvolvida para os objetivos da pesquisa, divulgada através de lista de e-mails, redes
sociais e aplicativos de mensagens. Todos os participantes foram informados do objetivo do
estudo, e foram assegurados do anonimato, do sigilo das respostas e da participação voluntária
na pesquisa. Os procedimentos atenderam às prerrogativas da Declaração de Helsinki e atendeu
aos requisitos propostos para pesquisas com humanos no Brasil (Resolução 466/2016). A recolha
de dados aconteceu durante o período de realização da Copa do Mundo FIFA 2014 (junho e julho
de 2014).
Para a análise dos dados, foi realizada uma análise fatorial exploratória (método: fatoração
pelo eixo principal), aos itens da escala proposta, no sentido de identificar a sua estrutura fatorial
e uma análise da sua consistência interna, através do alfa de Cronbach.
Resultados
De acordo com os índices de KMO (.87), e o Teste de Esfericidade de Barlett x2 (10, n = 1279) =
5065.08, p < .001, verificou-se que a matriz de correlação era fatorável. Desta análise, sem fixar
o mero de fatores a serem extraídos, emergiu uma estrutura unidimensional (Figura 1), com
eigenvalue superior a 1 (3.78), correspondendo a 75.67% da variância explicada, e cargas fatoriais
satisfatórias variando de .74 a .90 (Tabela 1). A consistência interna foi de .92, considerada exce-
lente segundo George e Mallery (2005).
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FIGURA1.
Scree plot da análise fatorial da Escala de Identificação Nacional
TABELA1.
Análise Fatorial Exploratória da Escala de Identificação Nacional
Item M (DP) Carga fatorial
5. Sinto satisfação em pensar que sou brasileiro(a) 3.30 (1.19) .92
4. Me orgulho de ser brasileiro(a) 3.36 (1.19) .91
2. Gosto de ser brasileiro(a) 3.80 (1.06) .90
1. Ser brasileiro(a) é importante para mim 3.50 (1.18) .86
3. Me identico com os(as) brasileiros(as) em geral 3.20 (1.21) .74
Estudo 2
Participantes
Participaram neste estudo 1208 brasileiros (63.4% mulheres) com média de idade de 36.6 anos
(DP = 14.5, min = 18, x = 92) de todos os estados do Brasil, sendo a maioria do Rio de Janeiro
(n= 753) e São Paulo (n = 103).
Instrumentos
Além da escala de identificação nacional, foram aplicadas as seguintes medidas:
Avaliação dos impactos dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Este instrumento foi adaptado da
escala de Lage et al. (2015), composto por dois fatores. O primeiro, composto por oito itens, avaliou
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os impactos positivos dos Jogos (e.g. Sediar os Jogos Olímpicos Rio 2016 melhorou a imagem do Rio
de Janeiro internacionalmente”) e apresentou índice de consistência interna α = .93. O segundo
fator, composto por cinco itens, investigou os impactos negativos dos Jogos (e.g. “Os Jogos Olím-
picos Rio 2016 aumentaram a taxa de criminalidade) e apresentou índice de consistência interna α
= .79. As respostas tipo Likert variavam entre 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente).
Emoções relativas aos Jogos Olímpicos Rio 2016. Trata-se de uma medida composta por
uma lista 10 emoções referentes aos Jogos Olímpicos Rio 2016, sendo 5 positivas (orgulho, entu-
siasmo, satisfação, admiração e alegria, α = .96) e 5 negativas (vergonha, raiva, tristeza, medo e
decepção, α = .87). O participante foi solicitado a indicar a intensidade (0 = nada; 5 = muito) de
cada uma das emoções associadas aos Jogos.
Satisfação com a vida. A satisfação com a vida foi avaliada mediante um único item: Eu
estou satisfeito com a minha vida” (1= discordo totalmente; 5 = concordo totalmente).
Autoestima. A medida de autoestima foi composta por cinco itens do Fator Alta Autoestima
(e.g. Em geral, eu estou satisfeito comigo”), do instrumento de Avanci e colaboradores (2007). As
respostas tipo Likert variavam de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente, α = .83).
Otimismo. As expectativas em relação a eventos futuros foram avaliadas por meio de ts
itens baseados no Teste de Orientação da Vida (TOV-R) (Bandeira et al., 2002) (e.g. Em geral, eu
espero que aconteçam mais coisas boas do que ruins), e cujas respostas poderiam variar de 1 (dis-
cordo totalmente) a 5 (concordo totalmente, α = .81).
Procedimentos
Os procedimentos de coleta de dados e os procedimentos éticos foram os mesmos adotados
no Estudo 1. No entanto, o período de divulgação da pesquisa e de recrutamento dos participan-
tes ocorreu durante os Jogos Olímpicos Rio 2016 (Agosto de 2016).
Quanto à análise dos dados, primeiramente foi conduzida uma análise fatorial confirma-
ria, realizada com software AMOS (versão 24 do programa SPSS Statistical Package for the
Social Sciences) utilizando o todo de extração da máxima verossimilhança. Também foram
verificados os pesos fatoriais dos itens (lambdas: λ), sendo recomendados valores superiores a .50
(Johnson & Stevens, 2001). A existência de outliers foi verificada por meio da distância quadrada
de Mahalanobis (D2), e a normalidade das variáveis foi verificada pelos coeficientes de assime-
tria (|Sk| < 3, p < .001) e curtose (|Ku| < 10, p < .001) (Maco, 2014). Por fim, para ajustar o modelo,
recorreu-se aos índices de modificação calculados pelo AMOS (IM > 45, p < .001).
Para avaliação da qualidade do ajustamento do modelo foram utilizados os seguintes indica-
dores: χ2, χ2/gl, CFI (Comparative Fit Index), GFI (Goodness of Fit Index), TLI (Tucker Lewis Index), e
RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation (cf. Marôco, 2014: GFI, CFI e TLI > .80; RMSEA
< .10). Por fim, para investigar a relação da identificação nacional com outros construtos teorica-
mente correlatos foram calculados coeficientes de correlação r de Pearson.
Resultados
A escala de identificão nacional apresentou bons índices de ajuste, χ2(4) = 32.8, p < .001, χ2
/gl = 8.21, GFI = .991, CFI = .996, TLI = .990, RMSEA = .063. A confiabilidade composta foi de .93,
a variância média extraída foi de .72, e todos os pesos fatoriais (lambdas, λ) foram estatistica-
mente significativos e diferentes de zero (p < .001), variando de .73 a .94. Para um melhor ajuste
do modelo, foram correlacionados os erros de medida do item 1 (Ser brasileiro(a) é importante
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para mim”) com o item 2 (“Gosto de ser brasileiro(a)”) (Figura 2). Esta correlação está teoricamente
sustentada, pelo fato de ambos os itens ilustrarem o componente avaliativo da identificação
nacional (Tajfel, 1978). A consistência interna, tal como no estudo anterior, foi excelente (α = .93),
segundo George e Mallery (2005).
FIGURA2
Modelo estrutural da escala de Identificação Nacional
No que se refere às análises de correlação com variáveis externas (Tabela 2), verificou-se que
quanto mais os participantes se identificavam como brasileiros, mais positivamente avaliavam
os impactos positivos, r = .43; p < .001, e menos negativamente avaliavam os impactos negativos
dos Jogos Rio 2016, r = -.25; p < .001, bem como sentiam mais emoções positivas, r = .51; p < .001,
e menos emoções negativas relacionadas aos Jogos Rio 2016, r = - .34; p < .001. Estes resultados
vão ao encontro do esperado e corroboram o estudo realizado por Lins e Borsa (2014) no que diz
respeito à relação entre a identificação nacional e avaliação dos impactos e das emoções viven-
ciadas relacionados a megaeventos esportivos.
Adicionalmente, a identificão com os brasileiros também se correlacionou positivamente
com a satisfação com a vida, r = .27; p < .001, com a autoestima r = .23; p < .001, e com o otimismo
r = .26; p < .001, confirmando a importância da identificão nacional para o bem-estar psico-
gico dos indivíduos (e.g., Kecmanovic, 1996; Tyrrell, 1996). No seu conjunto, estes resultados
apontam evidências de validade convergente da Escala de Identificão Nacional.
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TABELA2.
Correlações das Variáveis em Estudo
M (DP) 1 2 3 4 5 6 7
1. Identicação com os brasileiros 3.76
(1.10)
2. Avaliação impactos positivos Rio 2016 3.13
(1.13) .43*
3. Avaliação impactos negativos Rio 2016 3.07
(0.94) -.25* -.53*
4. Emoções positivas Rio 2016 3.21
(1.38) .51* .85* -.50*
5. Emoções negativas Rio 2016 2.39
(1.15) -.34* -.69* .53* -.66*
6. Satisfação com a vida 3.87
(0.97) .27* .15* -.10* .17* -.15*
7. Autoestima 4.26
(0.64) .23* .18* -.10* .18* -.15* .54*
8. Otimismo 4.09
(0.81) .26* .20* -.07 .24* -.19* .40* .61*
Nota: * p < .001
Discussão
Diante de um tema o atual como a nacionalidade, o presente estudo teve como objetivo
construir e validar um instrumento para mensurar a identificão nacional brasileira. Com base
na Teoria da Identidade Social de Tajfel e Turner (1979), foi construída uma escala concisa, mas
suficientemente heterogênea para captar a riqueza do construto de identificação nacional nos
seus diversos componentes (cf. Tajfel, 1978).
Os resultados de ambos os estudos indicaram evidências iniciais de validade da escala de
identificação nacional. Especificamente, o Estudo 1 apresentou evidências iniciais de validade
baseadas na estrutura interna do instrumento, por meio de uma análise fatorial exploratória,
cujos resultados revelam cargas fatoriais superiores a 0.74 e ao índice de consistência interna
igual a 0.92. Já, no Estudo 2, uma análise fatorial confirmatória revelou que os dados apresen-
taram um bom ajuste ao modelo unidimensional testado. Contudo, dois dos itens apresentaram
erros de medida correlacionados o que, embora esteja teoricamente sustentado pelo fato de per-
tencerem à mesma dimensão, pode indicar uma sobreposição de conteúdo (Brown, 2015); assim,
a reformulão de um deles poderia ser benéfica em futuros estudos. A consistência interna da
escala neste estudo também demonstrou ser elevada.
Encontraram-se, ainda, correlações fracas e moderadas entre a escala de identificação nacio-
nal e medidas psicológicas de bem-estar e de aprecião de eventos nacionais, que a literatura
aponta como sendo correlatas da identificação nacional (e.g., Haslam et al., 2009; Lins & Borsa,
2014; Luhtanen & Croker, 1992; Smokowski et al., 2014; Stets & Burke, 2014; Teixeira & Lins, 2018).
Foram encontradas, portanto, evidências de validade convergente. No entanto, outras evidên-
cias de validade ainda são necessárias para atestar a qualidade da escala de identificão nacio-
nal e sua adequação para uso no contexto brasileiro. Assim, será necessário complementar os
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Constrão e evidências iniciais de validade de uma escala brasileira de identificação nacional
resultados da validade convergente com uma avaliação da forma como esta escala se distingue
de outras escalas de identificação grupal, e, ainda, avaliar a sua validade discriminante, isto é,
garantir que esta escala não se relaciona com outras que a literatura apresenta como teorica-
mente não relacionadas.
Considera-se importante esta contribuão pela inexistência de uma escala de identificão
nacional validada para o contexto brasileiro, o que foi feito, no presente estudo, através de uma
amostra de todos os estados do Brasil. A aplicação desta escala pode ser útil para futuros estudos
que busquem avaliar, por exemplo, o impacto dos escândalos de corrupção na sociedade brasi-
leira (e.g., na coesão social), e nos pprios brasileiros (e.g., autoestima, otimismo, satisfação com
a vida).
Além disso, a confirmação da estrutura unidimensional desta escala por meio de dois méto-
dos de alise fatorial distintos e complementares, nomeadamente a alise fatorial exploratória
e a análise fatorial confirmatória, mostra que é possível conceber o construto da identificação
nacional como sendo um contínuo, podendo estar mais ou menos identificados com o seu país.
Aliás, mesmo havendo uma explícita tentativa de inclusão de itens heterogêneos e representati-
vos das três dimensões que Tajfel (1978) indica estarem subjacentes ao processo de identificação
social, os itens agregaram-se num único fator no primeiro estudo, tendo esse fator único sido con-
firmado numa amostra diferente. Idealmente, esta conclusão seria reforçada pela comparação de
uma estrutura unidimensional com uma estrutura multidimensional (neste caso, de três dimen-
es). Contudo, esta alise não pôde ser realizada, pois cada fator seria constituído apenas por
um ou dois itens, o que não permite a estimação do modelo, por não haver graus de liberdade
suficientes (Brown, 2015).
Não pondo em causa a utilidade de escalas multidimensionais, que poderão ser apropria-
das quando estas dimensões mais específicas são o objeto de estudo, apresentamos uma escala
empiricamente validada que mede o construto de identificação nacional não só de forma curta e
parcimoniosa, mas também de forma unidimensional. Esta estrutura apresenta, ainda, uma van-
tagem face a outros instrumentos que, apesar de mais detalhados e multidimensionais, são mais
longos (e.g., Lillie & Diehl, 1999); ou, por serem demasiado concisos, perdem em operacionalizar
de forma muito restrita a identificação nacional (e.g., Postmes et al., 2013). Estudos futuros pode-
rão implementar este instrumento de forma a intercalar variáveis de nível societal e psicossocial
de análise, com uma escala curta e menos suscetível a efeitos de interpretação ou exaustão nos
participantes.
Dada a saliência da identidade nacional durante a realizão de megaeventos esportivos
como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos (Lins, 2020), é possível que todas as dimensões
constituintes da identificação nacional tenham ficado muito acentuadas e, desta forma, forte-
mente correlacionadas entre si. Assim, para trazer mais evidências que confirme a unidimen-
sionalidade da escala, pesquisas futuras deverão complementar os resultados encontrados neste
estudo, coletando dados em ocasiões em que a identidade nacional não esteja tão saliente. Por
fim, embora a escala tenha sido criada com o objetivo de suprimir a falta de escalas de identifi-
cação nacional para o contexto brasileiro, esta poderá ser a base para a construção de escalas de
identificação nacional de outros países.
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63
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
AUTHOR INSTRUCTIONS
Elaboration and submission of articles
The preparation and submission of papers for the Psique journal abides to international scientic standards,
contingent upon the fulllment of several requirements listed below:
1. Papers submitted for publication must be original. The authors sign a declaration (Apendix 1) where they
warrant that:
A) are in fact the authors and are fully responsible for the content of their paper;
B) that their work abides to the international ethical and methodological standards within the eld
of Psychology proposed by the American Psychological Association APA) and by the European
Science Foudation (European Code of Conduct for Integrity of Research);
C) and that, they have not simultaneously submitted the paper for publication elsewhere.
D) The journal will use all means to guarantee the above criteria, namely, to request proof of
documents and through the use of plagiarism soware (Urkund). Authors will be informed in case of
indicators of plagiarism, and can comment on these indicators before the rejection of the manuscript.
2. Copyright of the publication is vested in Psique, while the copyright of texts rests with the individual
author(s); in case of later republication elsewhere, reference to the Psique publication should be indicated. The
journal does not carry out any embargo on the articles. The author(s) may disclose the article in auto archive
systems or in institutional repositories.
3. Submitted papers may be sent as an attached le to the Editorial Coordination of the journal Psique: João
Hipólito (jhipolito@autonoma.pt; psique@autonoma.pt).
4. The rst page of the paper must contain the author(s)’ identication, institution, city and country, as well as
a contact e-mail address of all the authors of the paper.
5. Texts may be presented in Portuguese, Castilian, French or English.
6. Proposed papers will be subjected to blind peer review carried out by at least two specialists (PhD in
Psychology) from the journal’s Editorial Council, the majority of whom are external referees to Universidade
Autónoma de Lisboa.
7. These are the steps involved in the process of manuscript submission and acceptance:
Manuscripts are received by the journal’s editor and sent to reviewers, specialists in Psychology. Our
is a double-blind peer-review system: both reviewers’ and author’s anonymity is preserved;
Reviewers will assess manuscripts and express their opinion on their quality and pertinence for
the journal’s aim and scope and may should suggest specic improvements. In case both reviewers
disagree on their assessment, the editor may assess the manuscript and decide about its publication
or request the opinion of a third reviewer;
Authors will be informed of the editorial decision, which may be:
a) Accepted (the manuscript is accepted for publication as it is);
b) Conditionally accepted (requires minor revisions), in this case the paper may be accepted by
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the editor once the author introduces minor revisions;
c) Invited to re-submit aer major revisions (the theme is of interest, yet the manuscript needs
major revisions). In this case, authors are advised to rewrite the manuscript in accordance to
reviewers’ suggestions and re-submit it. Re-submitted manuscripts are sent to reviewers for re-
assessment;
d) Rejected (when the manuscript does not meet the criteria for publication).
8. The common indicator for sending the original les is “.doc”.
9. There is a 30 pages limit to the size of papers, excluding the reference list, tables and illustrations.
10. The images, (diagrams, maps, tables and graphs) should be indicated and identied in accordance with the
last edition of the Publication Manual of America Psychological Association (APA).
11. The structure of the paper should follow the guidelines set forth in the last edition of the Publication
Manual of APA. The title, the summary, and the keywords, should be presented in the original language of the
paper and in English. The summary should not exceed 200 words and the keywords should not be more than
ve.
12. Text quotations and bibliography references shall be in accordance with the guidelines of the last edition
of the Publication Manual of APA, for example:
A. Scientic Journal Papers: Herbst-Damm, K. L., & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support, marital
status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229. https://doi.
org/10.1037/0278-6133.24.2.225
B. Books: Mitchell, T. R., & Larson, J. R., Jr. (1987). People in organizations: An introduction to
organizational behavior (3rd ed.). McGraw-Hill.
C. Book Chapters: Bjork, R. A. (1989). Retrieval inhibition as an adaptive mechanism in human
memory. In H. L. Roediger III & F. I. M. Craik (Eds.), Varieties of memory & consciousness (pp. 309–
330). Erlbaum.
13. Whenever necessary, and without any interference to its inclusion in the“.doc” document, the original les
of tables and gures may be sent separately, in JPEG, TIFF or XLS format.
14. Footnotes should be in accordance with the guidelines of the last edition of the Publication Manual of APA.
15. Psique publishes ve types of papers:
A) Empirical papers that present reports of original research.
B) Literature reviews papers that develop research synthesis, meta-analyses, and critical evaluations
of material that has already been published.
C) Theoretical papers in which the author develops advances in theory based on previous published
literature.
D) Methodological papers that present new methodological approaches, modications of existing
methods or discussions of quantitative and qualitative data analytic approaches to scientic research.
E) Case studies, reports of case material obtained while working with an individual, a group, a
community or an organization.
16. The journal Psique has a limit of one paper by the same author in each issue.
17. The editorial board of Psique, responsible for the evaluation of the manuscripts to be published, is
constituted by, at least, 75% members from academic institutions outside the hosting institution of Psique.
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18. The publication of Psique is semi-annual, from the year of 2018, with publication date from January 1st to
June 30th and from July 1st to December 31st.
19. Psyche subscribes to the codes of ethics and good editorial practices, namely:
The Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for Journal Editors, from the Committee on
Publication Ethics: Committee on Publication Ethics (2011). Code of Conduct and Best-Practice
Guidelines for Journal Editors. Retrieved from http://publicationethics.org/les/Code_of_conduct_
for_journal_editors_Mar11.pdf
The White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications, Council of Science
Editors Scott-Lichter, D. & Editorial Policy Committee, Council of Science Editors (2012). CSE’s
White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications. Retrieved from https://www.
councilscienceeditors.org/wp-content/uploads/entire_whitepaper.pdf
In case of publication they permit the use of their work under a CC-BY license [http://creativecommons.org/
licenses/by/3.0/], which allows others to copy, distribute and transmit the work as well as to adapt the work
and to make commercial use of it.
For more details on the ethical obligations of authors, reviewers and editorial coordination, consult the
Publication Ethics and Best- Practice Guidelines tab.
21. The editorial process is totally free of costs for the authors. Psyche is a non-prot scientic publication.
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APPENDIX 1
Lisbon, xx xx 20xx
Dear authors
The editorial coordination of Psique asks the authors of the manuscript titled “xxx”, to be published in 
volume xxx, to sign below in agreement to granting Psique the Copyright for the publication of the paper 
in printed and online forms. The granting of the copyright to Psique is only legitimate if all authors sign 
this
agreement.
By signing this document, the authors guarantee that the article submitted for publication is original, 
exclusively  of  their  authorship  and  that  it  respected  the  international  ethical  and  methodological 
standards in the scientic eld of Psychology, namely the ones proposed by the American Psychological 
Association  (APA)  and  the  European  Science  Foundation  (European  Code  of  Conduct  for  Integrity  of 
Research). Authors are fully responsible for what is written in the articles and ensure that they do not 
submit the work simultaneously to another journal for publication.
Psyche holds the copyright of the entire publication. However, each author has the copyright of his 
own text. If authors decide to later republish it elsewhere, they are asked to refer to the publication in 
Psique. The journal publishes in open access, does not carry out any embargo on the articles and authors 
can share the article in auto le systems or in institutional repositories.
Below are the full names of the authors for signature:
Xxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
João Hipólito
Editor in Chief of Psique
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Elaboração e submissão de artigos
A elaboração e submissão de artigos para a revista Psique subordina-se aos padrões cientícos internacionais,
de acordo com as seguintes condições:
1. Os artigos submetidos para publicação têm de ser originais e inéditos. Os autores assinam uma declaração
(Anexo 1) onde garantem:
A) Que realizaram o trabalho que apresentam e que são integralmente responsáveis pelo que está
escrito nos artigos;
B) Que respeitaram os padrões éticos e metodológicos internacionais vigentes na área cientíca
da Psicologia, propostos pela American Psychological Association (APA) e pela European Science
Foundation (European Code of Conduct for Integrity of Research);
C) E que não submeteram o trabalho simultaneamente a outra revista para publicação;
D) A revista usará de todos os meios para garantir os anteriores critérios, designadamente, podendo
pedir prova de documentos e através do uso de um soware de plágio (Urkund). Os autores
serão informados no caso de existirem indicadores de plágio, podendo pronunciar-se sobre esses
indicadores antes da rejeição do artigo.
2. A Psique detém os direitos de autor sobre a publicação, no entanto, cada autor tem o copyright do seu
próprio texto; no caso de o republicar mais tarde noutro local, pede-se a referência à publicação na Psique. A
revista não procede a qualquer embargo dos artigos. O(s) autor(s) pode divulgar o artigo em sistemas de auto
arquivo ou em repositórios institucionais.
3. Os artigos enviados para submissão devem ser remetidos em suporte eletrónico à Coordenação Editorial:
João Hipólito (jhipolito@autonoma.pt;psique@autonoma.pt).
4. Na primeira página do artigo deve constar a nome completo do(s) autor(es), sem siglas, a respetiva liação,
local e país, bem como o(s) e-mail(s) de contacto de todos os autores do artigo.
5. Os textos podem ser apresentados em português, castelhano, francês e inglês.
6. Os artigos propostos são submetidos a um processo de arbitragem cientíca, de revisão cega por pares (blind
peer review) feita por, pelo menos, dois especialistas (Doutorados em Psicologia) que fazem parte do Conselho
Editorial da revista, e cuja maioria é externa à Universidade Autónoma de Lisboa.
7. O processo de submissão e avaliação dos manuscritos submetidos seguirá os seguintes passos:
Os artigos são recebidos pelo Editor da revista e enviados para dois revisores. Os artigos serão
enviados sem o nome dos autores para os revisores. Todo o processo de avaliação dos artigos é feito
sob o anonimato dos autores para garantir uma “revisão cega por pares”. No processo de avaliação,
os revisores também serão mantidos anónimos para os autores;
Os revisores avaliarão os artigos e expressarão a sua opinião sobre a qualidade do artigo, sobre a
pertinência da sua publicação na revista e poderão indicar sugestões de melhoria tão especícas
quanto possível para a reformulação do artigo. No caso das opiniões dos revisores serem discordantes,
o Editor poderá decidir sobre a publicação, após a sua própria análise ao artigo, ou pode pedir um
outro parecer a um terceiro revisor;
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
Os autores serão informados da decisão editorial, num período médio de três meses, que pode
consistir em:
A) Aceite (o manuscrito foi aceite para publicação na sua forma atual);
B) Aceite condicionalmente, mediante pequenas reformulações, neste caso, após as alterações
introduzidas, o artigo reformulado pode ser aceite pelo editor;
C) Convidado a re-submeter após reformulações substanciais (o tema interessa à revista, porém,
o artigo necessita de uma reformulação profunda). Nestes casos, os autores são convidados a
reformular o artigo de acordo com as sugestões dos revisores e a re-submeter à revista. Após
a reformulação dos artigos, estes serão enviados novamente aos revisores para uma segunda
avaliação;
D) Rejeitado (quando foi considerado que o manuscrito não cumpriu os critérios para
publicação na revista).
8. A linguagem de base para o envio dos cheiros originais é “.doc”.
9. A dimensão dos artigos tem um limite de 30 páginas, excluindo a lista de referências bibliográcas, tabelas
e guras.
10. As imagens (esquemas, mapas, tabelas e grácos) deverão ser referidos e identicados em obediência à
última edição do Publication Manual of the American Psychological Association (APA).
11. A estrutura dos artigos deve obedecer às regras da última edição do Manual de Publicações da APA. O
título e o resumo devem ser escritos na língua original do artigo e em inglês, bem como as palavras-chave do
artigo. O resumo tem uma dimensão limite até 200 palavras e seguem-se-lhe as palavras-chave, no máximo
de cinco.
12. As citações e referências bibliográcas são feitas de acordo com as normas da última edição do Manual de
Publicações da APA, por exemplo:
A) Artigos de Revista Cientíca: Herbst-Damm, K. L., & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support,
marital status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229.
https://doi.org/10.1037/0278-6133.24.2.225
B) Livros de Autor: Mitchell, T. R., & Larson, J. R., Jr. (1987). People in organizations: An introduction to
organizational behavior (3rd ed.). McGraw-Hill;
C) Capítulos de Livros: Bjork, R. A. (1989). Retrieval inhibition as an adaptive mechanism in
humanmemory. In H. L. Roediger III & F. I. M. Craik (Eds.), Varieties of memory & consciousness
(pp.309 -330). Erlbaum.
13. Sempre que se justique, sem prejuízo da sua inclusão no documento em “.doc”, os cheiros originais dos
quadros e guras podem ser enviados em separado, em formato JPEG, TIFF ou XLS.
14. As notas de rodapé são feitas de acordo com as normas da última edição do Manual de Publicações da APA.
15. A Psique publica cinco tipos de artigos:
A) Artigos empíricos que apresentam relatórios de investigações cientícas originais.
B) Artigos de revisão de literatura que desenvolvem análises críticas de material anteriormente
publicado.
C) Artigos teóricos em que o autor desenvolve avanços sobre teorias inovadoras ou anteriormente
publicadas.
D) Artigos metodológicos que apresentam novas abordagens metodológicas, modicação de
métodos existentes ou discussões sobre as abordagens quantitativas ou qualitativas na investigação
cientíca.
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E) Estudos de caso que reportam material de casos obtidos ao longo do trabalho com indivíduos,
grupos, uma comunidade ou uma organização.
16. A revista Psique tem um limite máximo de publicação de um artigo de um mesmo autor em cada volume.
17. O conselho editorial da Psique, responsável pela avaliação dos artigos publicados, é constituído em, pelo
menos, 75% por membros de instituições académicas externas à instituição de acolhimento da Psique.
18. A publicação é semestral, com data de publicação de 1 de janeiro a 31 de junho e de 1 de julho a 31 de
dezembro.
19. A Psique subescreve os códigos de ética e boas práticas editoriais, designadamente:
O Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for Journal Editors, do Committee on Publication
Ethics Committee on Publication Ethics (2011). Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for
Journal Editors. Retrieved from http://publicationethics.org/les/Code_of_conduct_for_journal_
editors_Mar11.pdf
O White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications, da Council of Science
Editors Scott-Lichter, D. & Editorial Policy Committee, Council of Science Editors (2012). CSE’s
White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications. Retrieved from https://www.
councilscienceeditors.org/wp-content/uploads/entire_whitepaper.pdf
Para mais detalhes sobre obrigações éticas dos autores, revisores e coordenação editorial, consultar
o separador Ética Editorial e Boas Práticas.
20. Em nenhuma etapa do processo editorial se estabelecem custos para os autores. A Psique é uma publicação
cientíca sem ns lucrativos.
21. Em caso de publicação, os autores permitem o uso do seu trabalho através da utilização da licença
creative commons, CC-BY [https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/], que permite a cópia, distribuição
e transmissão do conteúdo, assim como a sua adaptação para uso comercial.
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APÊNDICE 1
Lisboa, x de x de 20xx
A Revista Psique solicita que os autores do manuscrito intitulado “xxx”, a ser publicado no volume xxx, 
concedam os direitos autorais do manuscrito para publicação na forma impressa e eletrónica. Informa-
mos que a concessão dos direitos autorais só será legítima, se todos os autores assinarem a presente carta.
Ao assinar o presente documento os autores garantem que o artigo submetido para publicação é ori-
ginal, é exclusivamente da sua autoria e que respeitou os padrões éticos e metodológicos internacionais 
vigentes na área cientíca da Psicologia, propostos pela American Psychological Association (APA) e pela 
European Science Foundation (European Code of Conduct for Integrity of Research). Os autores são in-
tegralmente responsáveis pelo que está escrito nos artigos e garantem que não submeteram o trabalho 
simultaneamente a outra revista para publicação.
A Psique detém os direitos de autor sobre o conjunto da publicação, no entanto, cada autor tem os direi-
tos de autor do copyright do seu próprio texto. No caso de o republicar mais tarde, noutro local, pede-se 
a referência à publicação na Psique. A revista publica em acesso aberto, não procede a qualquer embargo 
dos artigos e os autores podem divulgar o artigo em sistemas de auto arquivo ou em repositórios institu-
cionais.
Seguem abaixo os nomes completos dos autores por extenso para assinatura:
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João Hipólito
Editor Diretor Psique
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
REVIEWERS INSTRUCTIONS
Article Review
The articles submitted to be published in Psique will be evaluated by two experts in the scientic domain of
the paper, Ph.D in Psychology.
These are the steps involved in the process of manuscript submission and acceptance/rejection:
1. Manuscripts are received by the journal’s editor in chief and aer a preliminary analysis will be
sent to two reviewers, in a double-blind peer-review system. Both reviewers’ and author’s anonymity
is preserved;
2. Reviewers will assess the manuscripts and express their opinion on the quality and pertinence for
the journal’s aims and scope and should suggest specic reformulations to improve the quality of the
manuscript.
3. In case both reviewers disagree on their assessment, the editor in chief may assess the manuscript
and decide about its publication or request the opinion of a third reviewer.
Each reviewer should carefully read the manuscript and issue a justied and reasoned report on the
appropriateness of manuscript for publication in Psique. The dimensions to consider in the evaluation process
are the following:
1. Relevance and up to date of the theme of the manuscript for the scientic eld of Psychology;
2. Coverage, adequacy and up to date of the analyzed scientic literature;
3. Appropriateness of the methodological procedures in relation to the objectives of the study;
4. Clarity of writing and correction of the article structure, according to the APA structure criteria;
5. Validity of the results obtained in relation to the objectives and the methodological procedures
developed;
6. Scope, articulation and in depth of the discussion of the results obtained;
7. Formal correction of bibliographical references, formulas and tables; according to the APA formal
criteria.
For guidelines on the ethical criteria in the editorial process please read the Publication Ethics and Best-
Practice Guidelines.
Authors will be informed of the editorial decision, usually during the period of three months, which may be:
a) Accepted (the manuscript is accepted for publication as it is);
b) Conditionally accepted (requires minor reformulations), in this case the paper may be accepted by
the editor once the author introduces the minor reformulations;
c) Invited to re-submit aer major revisions (the theme is of interest, yet the manuscript needs major
revisions). In this case, authors are advised to rewrite the manuscript in accordance to reviewers’
suggestions and re-submit it. Re-submitted manuscripts are sent to reviewers for re-assessment;
d) Rejected (when the manuscript does not meet the criteria for publication).
On the link below you will nd the evaluation format for the evaluation of manuscripts submitted to Psique
Manuscript Evaluation Sheet.
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVI • Issue Fascículo 2 • 1st july julho-31st december dezembro 2020
INSTRUÇÕES AOS REVISORES
Revisão de artigos
Os artigos submetidos para serem publicados em Psique serão avaliados por dois especialistas no domínio
cientíco do estudo, doutorados em Psicologia.
As etapas envolvidas no processo de submissão e aceitação / rejeição dos manuscritos são as seguintes:
1. Os manuscritos são recebidos pelo editor da revista e, após uma análise preliminar, serão enviados
para o parecer de dois revisores, sob um sistema de revisão de pares anónimo duplo. É preservado o
anonimato tanto dos autores, como dos revisores.
2. Os revisores avaliarão os manuscritos e emitirão o seu parecer sobre a qualidade e pertinência dos
manuscritos, face aos objetivos e âmbito da revista e devem sugerir reformulações especícas para
melhorar a qualidade dos manuscritos.
3. Caso os dois revisores não estejam de acordo sobre a avaliação de um manuscrito, o editor pode
avaliar o manuscrito e decidir sobre sua publicação ou solicitar a opinião de um terceiro revisor.
Cada revisor deve ler cuidadosamente o manuscrito e emitir um relatório justicado e fundamentado sobre
a adequação do manuscrito para publicação na Psique. As dimensões a considerar no processo de avaliação
são as seguintes:
1. Pertinência e atualidade do tema para o campo cientíco da Psicologia;
2. Cobertura, adequação e atualidade da literatura cientíca analisada;
3. Adequação dos procedimentos metodológicos face aos objetivos do estudo;
4. Clareza da escrita e correção da estrutura do artigo, de acordo com os critérios APA;
5. Validade dos resultados obtidos face aos objetivos e aos procedimentos metodológicos
desenvolvidos;
6. Abrangência, articulação e profundidade na discussão dos resultados obtidos;
7. Correção formal das referências bibliográcas, fórmulas e tabelas, de acordo com os critérios
formais APA.
Para instruções sobre os critérios éticos no processo editorial, por favor, leia o separador Ética Editorial e Boas
Práticas de Publicação.
Os autores serão informados da decisão editorial, geralmente durante o período de três meses, que pode ser:
a) Aceite (o manuscrito foi aceite para publicação na sua forma atual);
b) Aceite condicionalmente, mediante pequenas reformulações. Neste caso, após as alterações
introduzidas, o artigo reformulado pode ser aceite pelo editor;
c) Convidado a re-submeter após reformulações substanciais (o tema interessa à revista, porém, o
artigo necessita de uma reformulação profunda). Nestes casos, os autores são convidados a reformular
o artigo de acordo com as sugestões dos revisores e a re-submeter à revista. Após a reformulação dos
artigos, estes serão enviados novamente aos revisores para uma segunda avaliação;
d) Rejeitado (quando foi considerado que o manuscrito não cumpriu os critérios para publicação na
revista).
Em seguida para download, encontra a cha de avaliação de manuscritos para publicação na Psique
Ficha de Avaliação de Manuscritos
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