Issue 1 | 1st January – 30th June 2021
Fascículo 1 | 1 de janeiro – 30 de junho 2021
XVII
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
FREE | GRATUITO
Issue 1 | 1st January – 30th June 2021
Fascículo 1 | 1 de janeiro – 30 de junho 2021
XVII
VOLUME
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA
e-ISSN 2183-4806
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PSIQUE | Volume XVII | Issue 1 | 1st January – 30st June 2021
Semiannual Publication. Scientic Journal of the Centre for Research in Psychology – CIP – from the Universidade
Autónoma de Lisboa – Luís de Camões.
PSIQUE is a scientic journal in Psychology published by the Centre for Psychology of the Universidade
Autónoma de Lisboa.
Since 2005, PSIQUE has been publishing original papers in the scientic eld of Psychology, in its
several elds of specialization, in open access and free of charge.
From 2018, it is a semi-annual journal publication from 1st January to 30th June and from 1st July to
31st December.
Aims and Scope
It is particularly aimed at psychology researchers, lecturers and students but also at general readers
who are interested in this eld of science.
Psique publishes advances in basic or applied psychological research of relevance for understanding
and improving the human condition in the world. Contributions from all elds of psychology addressing
new developments with innovative approaches are encouraged. Articles that (a) integrate perspectives
from dierent areas within psychology; (b) study the roles of physical, social and cultural domains in
human psychological processes; or (c) include psychological perspectives from dierent regions in the
world are particularly welcomed.
The journal publishes papers in Portuguese, Spanish, French and English.
Directory: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Databases: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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PSIQUE | Volume XVII | Fascículo 1 | 1 de janeiro – 30 de junho 2021
Publicação semestral. Revista Cientíca do Centro de Investigação em Psicologia – CIP – da Universidade Autónoma
de Lisboa – Luís de Camões.
A Psique é uma revista cientíca em Psicologia, editada pelo Centro de Investigação em Psicologia da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Desde 2005 publica artigos originais e comunicações na área cientíca da Psicologia, nos seus vários
domínios de especialização, de acesso livre e gratuito.
É um periódico semestral, a partir de 2018, com data de publicação de 1 de janeiro a 30 de junho e de
1 de julho a 31 de dezembro.
Âmbito e Objetivos
Dirige-se particularmente a investigadores, docentes e estudantes em Psicologia, mas também aos lei-
tores em geral que se interessem pelo conhecimento desta ciência.
A Psique publica avanços na investigação cientíca básica ou aplicada, em Psicologia, com relevância
para compreender e melhorar a condição humana no mundo. A Psique encoraja a submissão de con-
tribuições de todos os campos da Psicologia, produzindo novos desenvolvimentos cientícos, através
de abordagens inovadoras. Particularmente bem-vindos são os artigos que: (a) integram perspetivas de
diferentes áreas da Psicologia; (b) estudam o papel dos domínios físico, social e cultural nos processos
psicológicos humanos; ou (c) integram perspetivas psicológicas de diferentes regiões do mundo.
A revista aceita artigos em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Diretórios: Repositório Cientíco de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Base de Dados: Repositório Institucional da Universidade Autónoma de Lisboa (Camões).
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DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT
e-ISSN: 2183-4806
Title tulo: Psique
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Format Suporte: Online
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Periodicity: Semiannual Periodicidade: Semestral
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Este trabalho é nanciado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia – no âmbito do
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TABLE OF CONTENTS ÍNDICE
Breve Nota Editorial
Rute Brites, Cristina Nunes 7
Nota Editorial
Cláudia Carmo, Antónia Ros 8
Validação de uma tarefa de indução de sensações internas de tipo “not just right”
Validation of a task to induce internal sensations ofthe“notjust right” type
Rosado, S., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A 10
O efeito de uma tarefa de indução de experiências “notjust right” em indivíduos não clínicos
The eect of a “not just right” experiences induction taskonnon-clinical individuals
Bôto, M., Carmo, C., & Jiménez-Ros, A. 30
Estudo da Relação entre a Incompletude e a Indução deExperiências “Not Just Right
Study of the Relationship between Incompleteness andtheInduction of Experiences Not Just Right
Ferrão, P., Ros, A, & Carmo, C. 52
Cognições perfecionistas no desempenho de uma tarefa de revisão de texto numa amostra
dejovens-adultos universitários
Perfect cognitions in the performance of a text review task in a sample of young adults
from the university
Coelho, J., Faísca, L., Ros, A., & Carmo, C. 74
Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação
suicidaemjovens-adultos
Perfectionism, depressive symptoms and negative life events insuicidal ideation in young adults
Jenifer Mata, Ana Isabel Reis, Marta Brás 96
Author Instructions
Instruções aos Autores 122
Reviewers instructions
Instruções aos Revisores 130
7
BREVE NOTA EDITORIAL
Este número da Psique, que temos o prazer de publicar, é o primeiro mero temático desta Publica-
ção. Após um processo de reflexão da equipa editorial sobre a necessidade de levar a Psique mais além,
enquanto publicação científica de rigor, a equipa editorial abriu a possibilidade de colegas investigadores
proporem a edição de números temáticos da sua responsabilidade. O número que agora apresentamos é
a primeira concretização desse passo.
Este mero é dedicado ao tema Variáveis transdiagnósticas: Sensações internas e perfecionismo.
Reúne investigações no âmbito do estudo do perfecionismo e das sensações internas de incompletude de
que algo não escompletamente correto (Not Just Right Experiencies), variáveis que são, atualmente, con-
sideradas mecanismos etiopatogénicos comuns a rias perturbações psicopatológicas, o que justifica o
seu foco ao nível da investigação.
Agradecemos às colegas investigadoras Cláudia Carmo e Antónia Ros, editoras responsáveis pelo mero,
a sua proposta e o empenho na concretização deste número temático.
Agradecemos também a toda a equipa que tem acompanhado, em continuidade, os trabalhos da Psique e
cujo esforço tem permitido a manutenção da qualidade e diversidade dos artigos publicados.
Rute Brites e Cristina Nunes
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 1 • 1st january janeiro-30th june junho 2021
8
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 1 • 1st january janeiro-30th june junho 2021
NOTA EDITORIAL
A presente edição Variáveis transdiagnósticas: Sensações internas e perfecionismo surge da intenção de
organizar um número temático da Psique que integrasse alguns dos estudos que temos vindo a desen-
volver nos últimos anos no âmbito da compreensão dos fatores etiológicos comuns nas perturbações
emocionais.
O crescimento da investigação acerca do perfecionismo permitiu um conhecimento mais aprofundado
deste conceito e um conhecimento sobre a influência deste traço de personalidade em diferentes quadros
clínicos e em diferentes contextos.
O perfecionismo é um traço de personalidade multidimensional que envolve a procura pela perfeição,
o estabelecimento de padrões de desempenho excessivamente elevados e uma autoavaliação crítica
perante a perceção de falha.
O perfecionismo incorpora um conjunto de características cognitivas e comportamentais que assumem o
papel de fator de vulnerabilidade comum arias perturbações psicológicas (e.g., depressão, ansiedade,
obsessão e compulsão e perturbações da alimentação e da ingestão), sugerindo a sua natureza transdiag-
nóstica. Níveis elevados de perfecionismo parecem estar relacionados à etiologia, manutenção e predi-
ção de resultado no tratamento de alguns sintomas clínicos e subclínicos.
No início do presente culo, surgiu o interesse pela investigação de novas variáveis fortemente asso-
ciadas ao perfecionismo: as sensações subjetivas internas de incompletude e as sensações de que algo não
está completamente correto (Not Just Right Experiencies, NJRE). A sensação de incompletude é uma cara-
terística disposicional estável (traço) e as NJREs a componente estado desta variável traço. As sensações
internas impulsionam o individuo à realização de comportamentos até alcaar um sentimento interno
e subjetivo de completude que lhes permita poder parar de realizar o comportamento (stop criteria). Por
exemplo, uma pessoa que sente que as mãos não estão o limpas como deveriam estar (not just right),
sente-se impulsionada a lavá-las até alcançar o critério interno limpeza, ou seja, até subjetivamente
sentir que estão como deveriam estar. Embora o estudo destas variáveis tenha surgido no âmbito da
compreensão dos mecanismos motivacionais das compulsões na Perturbação Obsessivo-compulsiva,
são, hoje em dia, consideradas mecanismos etiopatogénicos comuns a rias perturbações psicopatoló-
gicas.
Neste domínio, esta edição da Psique reúne investigações que integram o estudo do perfecionismo e das
sensações internas de incompletude e Not Just Right em diferentes contextos e com diferentes metodolo-
gias.
O primeiro e o segundo artigo apresentam a indução experimental de sensações internas de tipo “Not
Just Right”, através de uma tarefa sensorial de tipo táctil e outra de memória em amostras da comunidade.
Ainda neste âmbito, o terceiro artigo realiza um estudo detalhado da relação entre a sensação de incom-
pletude e a indução de experiências “Not Just Right”.
O quarto artigo aborda a pertinência e o contributo da componente cognitiva do perfecionismo no desem-
penho de uma tarefa de leitura e revisão de texto académico numa amostra de estudantes universitários.
9
Nota Editorial
Por último, o quinto artigo explora a importância do perfecionismo, da sintomatologia depressiva e dos
acontecimentos de vida negativos dos jovens adultos na compreensão do processo suicidário, nomeada-
mente na ideação suicida.
A concretização deste número temático foi agora possível porque os participantes colaboraram com
entusiasmo e dedicação nas tarefas e desafios propostos, porque os autores foram persistentes na con-
cretização dos manuscritos e, acima de tudo, a Direção da Psique acreditou que este número seria um
contributo para a comunidade científica. A todos, Obrigada!
Cláudia Carmo
Antónia Ros
PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 1 • 1st january janeiro-30th june junho 2021
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VALIDAÇÃO DE UMA TAREFA DE INDUÇÃO DE SENSAÇÕES
INTERNAS DE TIPO “NOT JUST RIGHT
VALIDATION OF A TASK TO INDUCE INTERNAL SENSATIONS
OFTHE“NOTJUST RIGHT” TYPE
Rosado, S.1, Carmo, C.2 & Jiménez-Ros, A3
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 1
1ST JANUARY JANEIRO  30TH JUNE JUNHO 2021 PP. 1029
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT.1
Submited on 22.03.21 Submetido a 22.3.21
Accept on 09.06.21 Aceite a 09.06.21
Resumo
Na literatura científica têm sido propostos três possíveis mecanismos motivacionais para a
realização das compulsões de lavagem e verificação, visíveis em alguns indiduos com Pertur-
bação Obsessivo-Compulsiva (POC). A necessidade de repetir determinados comportamentos,
até atingir um estado interno de satisfação ou de que algo já es como deveria estar (just right), é
um destes mecanismos. Estas sensações internas de insatisfação ou experiências sensoriais de “Not
Just Right” (NJRE’s) podem adotar diferentes modalidades sensoriais.
O principal objetivo deste estudo consistiu na validação de uma tarefa, de indução de sensa-
ções NJRE’s de modalidade sensorial táctil.
Os participantes (60 indivíduos da população não-clínica entre os 18 e os 60 anos) completa-
ram uma bateria de questionários com a finalidade de avaliar as experiências NJR, a POC, o Per-
feccionismo, a Depressão, a Ansiedade e o Stress, e participaram no fim numa tarefa laboratorial
para despoletar NJRE’s ao vivo.
A manipulação experimental realizada parece não ter conseguido induzir sensações inter-
nas de NJRE’s. No entanto, após a participação na tarefa, houve uma associação positiva entre
as sensações experimentadas pelos indivíduos durante a participação na mesma, e o resultado
do instrumento que avalia as NJREs assim como com alguns domínios do perfeccionismo. Estas
associações não se encontraram quando se analisaram os resultados obtidos pelos participantes
na condição de controlo. Discutem-se estes resultados e as suas implicações futuras.
1 Sara Rosado, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: sara_m_rosado@
hotmail.com
2 Cláudia Carmo (PhD, professor Auxiliar) – Centro de Investigação em Psicologia (CIP/UAL), Universidade do Algarve (Portu-
gal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: cgcarmo@ualg.pt
3 Antónia Ros (PhD, professor Auxiliar) – Centro de Investigação em Psicologia (CIP/UAL), Universidade do Algarve (Portugal);
Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: aros@ualg.pt
Autor para Correspondência: Sara Rosado, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal,
email: sara_m_rosado@hotmail.com
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PSIQUE • e-ISSN 2183-4806 • Volume XVII • Issue Fascículo 1 • 1st january janeiro-30th june junho 2021 pp. 10-29
Rosado, S., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A
Palavras-Chave: Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Sensações Internas, Experiências “Not Just
Right, Evitamento do Dano, Incompletude
Abstract
In the scientific literature three possible motivational mechanisms have been proposed for
performing the washing and checking compulsions, that some individuals with have Obsessive
Compulsive Disorder (POC). The need to repeat certain behaviors, until reaching an internal state
of satisfaction or that something is already as it should be (just right), is one of these mechanisms.
These inner feelings of dissatisfaction or sensory experiences of “Not Just Right” (NJRE’s) can
adopt different sensorial modalities.
The main objective of this study consisted in the validation of an task, induction of sensa-
tions NJRE’s of tactile sensorial modality.
Participants (60 individuals, nonclinical population, aged 18-60) completed a battery of ques-
tionnaires, with the purpose of evaluating NJR experiences, POC, Perfectionism, Depression,
Anxiety and Stress and participated at the end in a laboratory task to trigger NJREs experiences
live.
The experimental manipulation performed seems to have failed to induce internal sensations
of NJRE´s. However, after participating in the experimental task, there was a positive association
between the sensations experienced by the individuals during the participation in the task, and
the result of the instrument that evaluates the NJRE’s as well as some domains of perfectionism.
These associations were not found when the results obtained by participants in the control con-
dition were analyzed. These results and their future implications are discussed.
Keywords: obsessive-compulsive disorder, internal sensations, “not just right” experiences, avoidance
of harm, incompleteness
Introdução
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva carateriza-se pela presença de pensamentos, impul-
sos ou imagens recorrentes e persistentes, de carácter intrusivo e indesejado (obseses) e/ou
comportamentos repetitivos ou atos mentais, que surgem com o propósito de reduzir o estado de
Ansiedade ou o sofrimento perante um acontecimento temido (compules) (American Psycho-
logical Association, 2013).
Estima-se uma prevalência da POC na população em geral de 2 a 3% (Ruscio et al., 2010).
A incincia anual da POC a nível internacional situa-se entre os 1.1% e os 1.8% (APA, 2013).
Aproximadamente 65% dos casos de POC surge antes dos 25 anos de idade (Macedo & Pocinho,
2007). No entanto, verifica-se que a idade de início da manifestação da POC é mais precoce nos
indivíduos do sexo masculino (em média, aos 21.1 anos), do que nos indivíduos do sexo feminino
(em média, aos 24.3 anos) (Lensi et al., 2007). Na idade adulta, a prevalência parece ser ligeira-
mente superior nas mulheres do que nos homens. Na infância, pelo contrio, parece ser mais
prevalente no sexo masculino (APA, 2013). Quando existem antecedentes familiares com história
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Experiências Not Just Right: validação tarefa
clínica associada à POC, esta pode surgir mais precocemente (Pauls et al., 2007). Existem determi-
nados acontecimentos de vida negativos que tornam o indivíduo mais vulnerável ao surgimento
da POC. Os motivos mais frequentes estão associados a problemas sexuais e matrimoniais, luto
recente, seguidos de problemas laborais, gravidez e parto ou a uma mudaa que envolva um
aumento dos níveis de responsabilidade (Rachman, 2002).
Inicialmente descrita como um fenómeno unitário, a POC tem vindo progressivamente a ser
conceptualizada como um fenómeno heterogéneo e dimensional. Atualmente encontra-se cate-
gorizada dentro do espectro obsessivo-compulsivo no Manual Estatístico para as perturbações
mentais (DSM-5) (APA, 2013).
Os sintomas característicos da POC (obsessões e compulsões) podem manifestar-se através de
diversas formas e conteúdos. Com base no conteúdo das obseses, é possível categorizá-las em
diferentes tipos, como por exemplo, contaminação (das obseses mais frequentes e relacionadas
com as preocupações acerca da sujidade, dos “germes” e dos medos associados à contaminação),
dúvida patológica (permanente incerteza quanto à prática de um ato temido ou desagradável),
somáticas (medo excessivo de adoecer e de puder vir a ficar doente), simetria (desejo perma-
nente de que as coisas sigam uma determinada ordem que para si é a correta), impulsos agressi-
vos e sexuais (receio constante de não conseguir evitar e controlar todos os atos considerados por
si imorais e que causem repulsa) (Macedo & Pocinho, 2007; Torres & Smaira, 2001; Vallejo, 1992).
Para as compulsões m sido descritas diversas formas de manifestação: verificação (são as que
surgem com maior regularidade, necessidade de verificar as coisas repetidamente, para garan-
tir a segurança), lavagem e limpeza (executadas com a finalidade de eliminar bactérias e ger-
mes (prevenção do dano ou harm advoidance) ou de garantir a “perfeição, que proporciona uma
sensação interna de satisfação ou ainda por uma sensação de contaminão mental), contagem
(a maioria das vezes o mentais, os indivíduos realizam cálculos aritméticos desnecessários),
simetria (vontade de que as coisas sejam organizadas através de um padrão cuidadosamente
simétrico ou ordenado) e impulsos sexuais (desinibição sexual que leva a comportamentos que
comprometem as relações interpessoais) (Brosan et al., 2010; Fisher et al., 2010; Garcia-Soriano et
al., 2016; Macedo & Pocinho, 2007; Rosário et al., 2009; Summerfeldt, 2004; Torres & Smaira, 2001).
As obseses e as compules apesar de surgirem frequentemente de forma concomitante,
também podem surgir sem terem uma relação entre si. As compulsões são realizadas para neu-
tralizarem uma sensação incómoda que cause um mal-estar significativo ou um sentimento de
que algo se encontra incompleto (Torres, 2001).
De acordo com Pitman (1987), em 1903 o dico e psicólogo francês Pierre Janet através do seu
trabalho “Les Obsessions et la Psychasthénie, descreveu pela primeira vez os acontecimentos rela-
cionados com a perceção, em que as ações são alcançadas incompletamente ou quando a sensação
de satisfação não é alcaada, denominando-os por sentimentos de incompletude. No entanto,
no DSM-5 é que foram reconhecidas como Respostas Afetivas presentes na POC (APA, 2013). Em
1908, Janet caracterizou a incompletude como uma diversidade de experiências que englobam a
imperfeição de si mesmo, os pensamentos, as emoções, as ações e o ambiente (Taylor et al., 2013).
A incompletude é retomada na psicopatologia da POC em 1992 por Rasmussen e Eisen, tendo
sido a partir de então denominada de diferentes formas por diferentes autores, como por exem-
plo, Deficits na Sensação de Saber na POC (Rapoport, 1991), Experncias NJR (Leckman et al.,
1994; Coles et al., 2003), Fenómenos Sensoriais (Miguel et al., 2000) e Sensibilidade de Percepção
(Veale et al., 1996).
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Rosado, S., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A
Summerfeldt (2004) considera a incompletude como um défice associado à experiência emo-
cional e à resposta sensorial, com a finalidade de conduzir o comportamento. Pode ser conside-
rada como um indicador emocional que permite compreender quando é que um estado é comple-
tado de forma satisfatória (Ecker & Gonner, 2008; Szechtman & Woody, 2004; Summerfeldt et al.,
1999). Poderá também ser analisada como o extremo de uma quantidade de sintomas obsessivos
e/ou compulsivos, ou então, traços de personalidade patologicamente perfeccionistas (Coles et
al., 2008; Ecker et al., 2013).
Rasmussen e Eisen (1992) informam de que a maioria dos pacientes com POC, referem ter
uma sensação interna, que está interligada com a vontade de que as tarefas sejam realizadas
na perfeição, totalmente corretas e sob controlo, enquanto a ão não for realizada na perfei-
ção, os indivíduos sentem-se incomodados (NJREs), assemelhando-se ao perfeccionismo na POC
(Summerfeldt, 2004).
As experiências NJR podem ser entendidas como uma discrepância entre o estado real e o
estado pretendido pelo indivíduo (Coles et al., 2003). Na POC considera-se o estado pretendido
pelo indivíduo, como o desejo de perfeição e de certeza, contudo, inatingível (Rasmussen & Eisen,
1992; Grayson, 2010; Pitman, 1987). Os indivíduos de forma contínua vivenciam experiências
NJR e com a finalidade de alcaarem o estado pretendido, são motivados a comportarem-se de
modo compulsivo (Coles et al., 2003).
Estas experiências NJR são acontecimentos individuais e podem ser interpretadas como sen-
sações subjetivas, que orientam o sujeito agir de modo a conseguir terminar com elevados senti-
mentos de imperfeição, associados às ações, intenções e perceções, que foram atingidas de modo
incompleto ou quando o meio não se encontra como deveria estar (Coles et al., 2003; Leckman et
al., 1994). Existem vários exemplos destas experiências, mas as mais comuns são dobrar peças de
vestuário e achar que não ficaram dobradas da maneira certa, escrever um texto e julgar que as
palavras estão incorretas ou olhar para uma prateleira com livros e achar que não estão alinha-
dos com os restantes (Rachman, 2002).
As sensações de desconforto e de insatisfação perante determinada situação momentânea,
referem-se à componente afetiva, que se rege pela necessidade de eliminar o desconforto, atra-
vés de esforços orientados para o fim pretendido (Summerfeldt, 2004).
Summerfeldt et al. (1999) alegam que muitas vezes as compules têm como finalidade mini-
mizar o sofrimento, ao invés de impedir que as consequências temidas surjam. Quando as con-
sequências temidas não são percecionadas, o motivo poderá recair sobre as experiências NJR. As
experiências NJR podem funcionar como um elemento identificador de uma eventual vulnerabi-
lidade da POC, como por exemplo, quando estamos perante sintomatologia ansiosa, na perturba-
ção da ansiedade, a ansiedade vai funcionar como um indicador psicológico (Brown et al., 2003;
Rapee & Medoro, 1994; Schmidt et al., 1997).
Existem determinados sintomas obsessivos/compulsivos, a que as experiências NJR estão
associadas, nomeadamente, ordenação e organização, controlo, lavagem e obsessão (Taylor et al.,
2014). Ferrão et al. (2012) referem que as compulsões que acontecem com mais regularidade, são
as de simetria, ordenação e organização e quando antecedem as experiências NJR são avaliadas
como sendo mais graves.
Como foi anteriormente referido, as experiências de tipo NJR podem adotar diferentes moda-
lidades sensoriais, tendo sido propostas tarefas de modalidades diferentes para a avaliação das
mesmas. Por exemplo, para a visão pode-se solicitar aos sujeitos que observem a simetria dos
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objetos, para a audição pode ser solicitado aos sujeitos que escutem a mesma melodia, para o
paladar pode-se pedir aos sujeitos para experimentarem diferentes sabores, para o olfato poderá
ser pedido que tenham perceções olfativas diferentes e para o tato podem-se convidar os partici-
pantes para através do toque, sentirem diferentes texturas. Contudo, as experiências NJR podem
apresentar um carácter mais complexo no domínio da cognão, como por exemplo, quando não
conseguimos exprimir os nossos pensamentos da melhor forma através das palavras (Summer-
feldt, 2004).
Estes fenómenos sensoriais (incompletude e NJREs) têm sido avaliados através de medidas
de autorrelato e estudos laboratoriais. O Obsessive-Compulsive Core Dimensions Questionnaire
(OC-CDQ) (Summerfeldt et al., 2001) avalia duas dimensões: a incompletude e o evitamento do
dano (têm revelado uma forte consistência interna e uma boa validade convergente). O Not Just
Right Experiences – Questionnaire-Revised (NJRE-Q) (Coles et al., 2005) mede o número e a seve-
ridade das experiências NJR referentes ao mês anterior (apresenta uma boa convergência e uma
validade discriminante e os 10 primeiros itens do questionário exibem uma boa consistência
interna). Atualmente, existem estes dois instrumentos de autorrelato validados para estudar
este tipo de fenómenos sensoriais (Summers et al., 2014).
Summers et al. (2014) referem que os instrumentos de autorrelato que avaliam as sensações
internas NJR, apresentam algumas desvantagens como por exemplo, não possibilitarem que os
fenómenos sensoriais sejam manipulados experimentalmente e apesar de estarem implementa-
dos nas medidas, itens relacionados com as experiências sensoriais, não avaliam de forma indi-
vidual a gravidade das NJRE’s, com as diferentes modalidades sensoriais (visual, táctil e auditivo).
O nosso estudo pretende validar a tarefa táctil (casaco) de indução de experncias NJR
implementada por Summers et al. (2014). Tentaremos compensar algumas das limitações apre-
sentadas pelos autores. Uma destas limitações refere-se à importância de comparar duas tarefas
(uma tarefa de indução de NJRE’s e uma tarefa neutra de controlo) no efeito causado sobre os
sintomas obsessivos e compulsivos e o perfeccionismo e assim poder clarificar o papel da expe-
riência NJR na sintomatologia POC. Procuramos colmatar esta limitação, criando neste estudo
dois grupos, um de indução de NJREs e outro grupo de controlo. A escassa literatura encontrada
sobre esta temática, tornou-se num ponto negativo para a realização deste artigo.
A presente investigação pretende validar a tarefa táctil de indução de sensações internas
de NJR. Foi selecionada a tarefa de modalidade táctil por consideramos que é uma tarefa de
fácil implementação. Esta tarefa pode ser realizada em qualquer local com condições adequadas
(e.g., intimidade, boa luminosidade, ausência de barulho e de elementos distratores). O material
necessário (bata) é fornecido pelo investigador e por acharmos que será mais cil de replicar a
experiência optámos por utilizar uma bata em vez de um casaco. Consideramos que o facto de
pedir aos participantes que vistam uma bata que não lhes pertence e que pode ter sido vestida
por mais pessoas poderá provocar um aumento dos níveis de desconforto associados à tarefa.
Por este motivo, foram incluídas questões relacionadas com as sensações de limpeza e sujidade
experimentadas pelos participantes para poder assim controlar o possível efeito desta variável.
O principal objetivo desta investigação consistiu em validar uma tarefa de indução de sensa-
ções NJR de modalidade sensorial táctil. Como objetivos específicos propusemo-nos (1) mostrar a
eficácia de uma tarefa táctil, comparativamente com uma tarefa neutra, para produzir experiên-
cias sensoriais de NJR; (2) analisar a validade convergente e discriminante da tarefa de indução
de sensações tácteis de NJR, através da associação dos resultados obtidos com outras variáveis
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psicológicas (incompletude, evitamento do dano e perfeccionismo) e variáveis psicopatológicas
(ansiedade e depressão). Espera-se que a tarefa de indução de experiências NJR se associe a ins-
trumentos de incompletude e de experiências NJR e não ao evitamento do dano, que terá como
finalidade proporcionar evidências da validade convergente e discriminante da tarefa de NJRE.
Considerando os objetivos propostos, foram desenvolvidas as seguintes hipóteses de inves-
tigação:
Hipótese 1 – Como conseqncia da participação na tarefa, os indivíduos da condição expe-
rimental, experienciarão níveis mais elevados de tensão, desconforto e sensação de incomple-
tude, do que os participantes da condição de controlo.
Hipótese 2 – Após participação na tarefa, os indivíduos da condição experimental, experien-
ciarão uma maior urgência de neutralização, do que os da condição de controlo.
Hipótese 3 Como consequência da participação na tarefa, o se produzirão diferenças
entre o grupo experimental e de controlo, na sensação de limpeza associada ao facto de vestir
uma bata alheia experimentada pelos participantes.
Hipótese 4 Os resultados obtidos pelos participantes após a participação na tarefa, asso-
ciar-se-ão de forma positiva aos obtidos nos instrumentos de NJR, incompletude e perfeccio-
nismo, mas não aos resultados obtidos na escala de evitamento do dano.
Metodologia
Participantes
Participaram no estudo 60 indivíduos da populão não clínica residentes em Portugal. Com
idades compreendidas entre os 21 e os 60 anos (M = 41.12; DP = 11.85). Os participantes foram
emparelhados de acordo com as suas características sociodemográficas, sendo atribuídos a duas
condições: a experimental (CE) (n = 30; M = 41.10; DP = 11.95) e a de controlo (CC) (n = 30; M =
41.13; DP = 11.95), não se verificando diferenças estatisticamente significativas na idade em fun-
ção da condição a que foram atribuídos (t = -.011; p = .991).
Verificou-se nesta amostra uma participação mais elevada de elementos do sexo feminino
(66.7 %), do que de elementos do sexo masculino (33.3 %), para a condição de controlo e para a
condão experimental. Na condição experimental, a maioria era natural do Algarve (CE: 51.9 %;
CC: 53.6 %) e da região de Lisboa (25.9 %) e na condão de controlo, a maioria era de Angola (14.3
%), não existindo diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos (x2 = 13,654; p =
.091). Todos os inquiridos na condão experimental referiram ter nacionalidade Portuguesa (100
%) e apenas 6.9 % na condão de controlo tinha nacionalidade Estrangeira, mas não existiram
diferenças estatisticamente significativas (x2 = 2.071; p = .150).
No que diz respeito ao estado civil, observou-se uma percentagem superior de elementos
casados (CE: 50 %; CC: 56.7 %), seguindo-se de solteiros (CE: 40 %; CC: 33.3 %), divorciados (CE: 6.7
%; CC: 10 %) e viúvos (CE: 3.3 %; CC: 0 %), tenncia verificada tanto no grupo experimental como
no grupo de controlo, pelo que não se encontraram diferenças estatisticamente significativas
entre ambos os grupos (x2 = 1.507; p = .681).
Nenhum dos participantes nesta amostra (CE/CC) referiu ter-lhe sido diagnosticado uma
Doença Mental por um profissional de saúde, nem ter realizado qualquer tratamento psicológico/
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psiquiátrico. No entanto, 20 % (CE) e 16.7 % (CC) mencionou que tem ou teve um familiar a
quem já lhe foi diagnosticado uma Doença Mental.
Instrumentos
No presente estudo foram utilizados os seguintes instrumentos:
a) Questionário de Dados Sociodemográficos
Este questionário foi desenvolvido com a finalidade de recolher informações relacionadas
com os dados pessoais dos participantes. Compõe-se de 12 itens, incluindo questões relacionadas
com a idade, o género, a profissão, o nível de escolaridade, o estado civil e questões associadas
com a Saúde Mental dos inquiridos.
b) Not Just Right Experiences-Questionnaire-Revised (NJRE-Q-R) (Coles et al., 2005: tradução
portuguesa de Rosado, Carmo & Jiménez Ros, 2017)
O NJRE-Q-R é uma medida de autorrelato, composta por 19 itens que avalia a gravidade da
experiência NJR, relacionada com o mês anterior. Os primeiros 10 itens do questionário apresen-
tam um conjunto de experiências NJR para que os participantes indiquem se durante o último
s experimentaram, ou não algumas das situações retratadas. Nos dois itens seguintes os inqui-
ridos informam qual foi a experiência mais recente e quando foi que ocorreu pela última vez. Por
último, os participantes indicam a frequência, a intensidade, a angústia, a ruminação, a incom-
pletude e a responsabilidade, associadas à experiência numa escala ordinal de 7 pontos, que
varia de 1 (nenhum) a 7 (extremo).
A consistência obtida a partir da nossa amostra para este instrumento foi fraca (α = .56).
No presente estudo foi utilizada uma tradução e retroversão deste instrumento realizada
pelos autores do trabalho para a língua portuguesa.
c) Obsessive-Compulsive Trait Core Dimensions Questionnaire (OC-TCDQ) (Summerfeldt et al.,
2001: tradução portuguesa de Rosado, Carmo & Jiménez Ros, 2017)
O OC-TCDQ é composto por 20 itens, subdividido em duas dimensões da POC. Dez itens
avaliam a incompletude e os restantes avaliam o evitamento do dano. Os itens são classificados
numa escala de 5 pontos, de 1 (nunca) a 5 (sempre).
Os itens deste questionário têm evidenciado uma boa consistência interna tanto em popu-
lações clínicas (incompletude α = .92; evitamento do dano α = .91) como em populações não clí-
nicas (incompletude α = .88; evitamento do dano α = .89) (Summers et al., 2014). Obtivemos na
nossa amostra uma boa consistência interna total (α = .84) e razoável na incompletude (α = .70) e
no evitamento do dano (α = .71).
No presente estudo foi utilizada uma tradução e retroversão deste instrumento realizada
pelos autores do trabalho para a língua portuguesa.
d) Obsessive-Compulsive Inventory-Revised (OCI-R) (Foa et al., 2002: tradução portuguesa de
Rosado, Carmo & Jiménez Ros, 2017)
O OCI-R é uma medida de autorrelato, constituída por 18 itens que avalia a presença de
seis grupos de sintomas pririos, associados à POC, nomeadamente Verificação, Lavagem,
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Ordenação, Acumulação, Obsessão e Neutralização. Cada um dos grupos é formado por 3 itens
e a partir de uma escala de 4 pontos que varia de 1 (de maneira alguma) a 4 (extremamente), os
participantes indicam como lidaram com cada uma das experiências durante o mês anterior.
O OCI-R apresenta uma boa consistência interna (α = .83) e validade convergente e discrimi-
nante em amostras clínicas (Summers et al., 2014). Na nossa investigação o OCI-R revelou uma
boa consistência interna (α = .89).
No presente estudo foi utilizada uma tradução e retroversão deste instrumento realizada
pelos autores do trabalho para a língua portuguesa.
e) Multidimensional Perfectionism Scale (MPS) (Frost et al., 1990: versão portuguesa de Carmo
et al., 2017)
O MPS é composto por 35 itens e avalia as Crenças Perfeccionistas a partir de 6 dimensões
(preocupação com os erros, padrões pessoais, expectativas dos pais, críticas dos pais, dúvida
sobre ações e organização). Cada item é classificado pelos participantes numa escala de 5 pontos,
que oscila entre 1 (discordo completamente) a 5 (concordo completamente).
Esta escala apresenta uma excelente consistência interna (α = .90) e validade convergente,
estando relacionada com outras medidas de Perfeccionismo (Frost et al., 1990). Na nossa investi-
gação a consistência interna também se revelou excelente (α = .91).
f) Escalas de Ansiedade Depressão e Stress (EADS-21) (Lovibond & Lovibond, 1995: versão
portuguesa de Pais-Ribeiro et al., 2004)
A finalidade desta medida de autorrelato de 21 itens é avaliar os sintomas de Depressão, de
Ansiedade e de Stress, através de uma escala de 4 pontos, que varia de 0 (não se aplicou nada a
mim) a 3 (aplicou-se a mim a maior parte das vezes), em que os entrevistados terão de indicar a
frequência a que cada um dos itens se aplicou a eles durante a última semana.
A consistência interna da EADS-21 para a versão portuguesa, foi de .85 na subescala de
Depressão, .47 na subescala de Ansiedade e .81 na subescala de Stress (Pais-Ribeiro et al., 2004).
A EADS-21 obteve uma consistência interna excelente neste estudo (α = .94).
g) Pré-Teste e Pós-Teste
O Pré-Teste é composto por 4 questões (e.g., em que medida se sente neste momento descon-
fortável?”). A resposta era dada através de uma escala anagica visual, onde o valornimo era
0 (“Nada”) e o valor máximo era 100 (“Completamente”). Os participantes tinham de fazer uma
cruz sobre a linha, no lugar que melhor refletisse o que estavam a sentir, antes de participarem
na tarefa. O Pós-Teste é composto por 5 questões para a condição experimental (e.g., “como clas-
sifica a sua vontade de endireitar a bata?”) e 4 questões para a condição de controlo (e.g., em
que medida se sente neste momento tenso?”). Os participantes respondiam às questões após a
participação na tarefa, as respostas também eram dadas através da escala analógica visual.
h) Entrevista Final
A Entrevista Final foi desenvolvida com a finalidade de observar, como é que os participan-
tes se sentiram após terem participado nesta investigação. A Entrevista Final é composta por 8
queses, iguais para as duas condões experimentais (e.g., “enquanto estive com a bata vestida,
senti vontade de a despir”; depois de ter participado nesta investigação sinto-me mais atento aos
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meus comportamentos”). As respostas eram dadas através de uma escala analógica visual, onde
o valor nimo era 0 (“Nada”) e o valor ximo era 100 (“Completamente”). Os participantes
tinham de fazer uma cruz sobre a linha, no lugar que melhor refletisse o que estavam a sentir
antes de participarem na tarefa.
Procedimento de Recolha de Dados
Através da literatura é possível ter acesso às diferentes tarefas de indução de NJRE’s. Por
exemplo, Summers et al. (2014) através de uma amostra com população o-clínica, procu-
raram induzir experiências NJR através de diferentes modalidades sensoriais (visual, táctil
e auditiva), utilizando quatro tarefas in vivo. Os sujeitos completaram uma bateria de ques-
tionários e antes de participarem nas tarefas, tiveram de classificar o nível de desconforto
atual, numa escala de 0 a 100. Todas as tarefas foram desenvolvidas para medir as respostas
relacionadas com o desconforto e a vontade em contrariar o estímulo. Na tarefa táctil, foram
realizadas duas experiências: a primeira consistia em vestir um casaco de grandes dimensões
e abotoá-lo de forma assimétrica, tendo de enrolar uma das mangas até ao cotovelo e perma-
necer assim durante 10 segundos, sendo pedido a seguir que avaliassem, uma vez mais, o des-
conforto e a vontade de endireitar o casaco. Só depois de concluir a avaliação é que poderiam
despir o casaco. Na segunda experncia da tarefa ctil, os participantes receberam ordens
para permanecerem com uma mão limpa e a mão não dominante húmida (só numa das faces),
sendo pedido para colocarem a mão não dominante em cima da mesa (para evitar o efeito de
neutralização, ao esfregar uma mão na outra). Eram depois convidados a classificar o nível de
desconforto sentido nesse momento e a vontade de limparem as mãos, e só depois de fazerem
as avaliões é que poderiam limpar as mãos. Os resultados deste estudo sugerem que todas as
tarefas despoletaram níveis de desconforto e vontade para contrariar os estímulos, relacionan-
do-se exclusivamente com as experncias NJR, os sintomas obsessivos e compulsivos e alguns
domínios mal-adaptados do perfeccionismo.
A amostra deste estudo foi recolhida, por conveniência, entre a população geral. Após a
obtenção do consentimento informado, foram aplicados os instrumentos contrabalaados em
três versões para evitar os efeitos de ordem. Depois dos questionários estarem preenchidos, os
participantes foram atribuídos de forma aleatória a dois grupos (Grupo Experimental e Grupo de
Controlo). Foi solicitado em primeiro lugar a todos os participantes, que informassem através de
uma escala análogo visual de 10 cm, como se estavam a sentir naquele momento (desconfortável,
tenso, incompleto ou limpo). Seguidamente, foi solicitado aos participantes que vestissem uma
bata de laboratório de grandes dimensões. A partir desse momento, os participantes de ambos os
grupos receberam instruções diferentes, consoante a condição experimental a que pertenciam
(grupo experimental: vestir a bata de laboratório com dois botões desencontrados e enrolar uma
das mangas até ao cotovelo; grupo de controlo: vestir a bata de laborario, abotoando todos
os botões). Tanto no grupo experimental como no grupo de controlo, os participantes perma-
neceram com a bata vestida durante 10 segundos. Após esse tempo, continuaram com a bata
vestida, e foi-lhes pedido para classificarem o nível de desconforto que estavam a sentir naquele
momento, causado pela bata. Ao Grupo Experimental, foi pedido também para classificar a von-
tade de endireitar a mesma, e a ambos os grupos, que classificassem de novo o nível de descon-
forto, incompletude e limpeza que sentiam nesse momento. Após a conclusão desta avaliação, os
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participantes despiram a bata e a participação neste estudo terminou, com o preenchimento de
uma entrevista final.
Procedimento de Análise de Dados
Os resultados obtidos foram analisados com IBM SPSS Statistics (versão 21). Para realizar a
caracterização sociodemogfica da amostra recorreu-se à estatística descritiva (média, frequên-
cia, desvio-padrão, máximo e mínimo).
Utilizou-se o teste T-Student para as amostras independentes quando se tratava de variáveis
quantitativas, e com o propósito de verificar a existência de diferenças entre os participantes,
em função da condição experimental a que foram distribuídos nas variáveis sociodemográficas,
psicológicas e psicopatológicas (ansiedade, depressão, stress, perfeccionismo e sintomas obses-
sivos-compulsivos). Também se recorreu a este teste para observar possíveis diferenças entre
o grupo experimental e o grupo de controlo, no desconforto e na tensão, de forma a perceber
a vontade de ambos os grupos em despir a bata e avaliar a sensação de sujidade sentida pelos
participantes. O tamanho do efeito foi estimado através do cálculo do d de Cohen (d) e foram con-
sideradas magnitudes pequenas de efeito, os valores de .20 ≤ d < .50, magnitudes médias, quando
o valor foi de .50 ≤ d < .80, e magnitudes grandes, se d ≥ .80 (Cohen, 1988). O teste Qui-Quadrado
foi utilizado para as variáveis qualitativas.
Para a comparação das variáveis entre os momentos da experiência (antes e depois da mani-
pulação experimental) entre os dois grupos, e ainda o efeito da interação entre o momento e o
grupo, recorreu-se à Anova Fatorial Mista com Medidas Repetidas para analisar o desconforto, a
tensão e os sentimentos de incompletude. Também através do mesmo procedimento foi realizada
a análise da sensação de limpeza sentida pelos participantes. O valor da magnitude do efeito foi
calculado a partir do Partial Eta Square (). Foram consideradas magnitudes de efeito pequenas,
quando os valores foram .009, as magnitudes de efeito médio, estiveram compreendidas entre
.058 e .13, e as magnitudes de efeito elevado ≥ .14 (Cohen, 1973).
Para averiguar possíveis associões dos resultados obtidos na tarefa com os obtidos nos ins-
trumentos aplicados, utilizou-se o Teste Coeficiente de Correlação de Pearson. Considerou-se uma
correlação fraca, quando os valores estiveram situados entre -0.3 e -.1 ou .1 e .3, uma correlação
moderada, se os valores estivessem entre -.5 e -.3 ou .3 e .5, e uma correlação forte, quando os
valores variaram entre -1 e .5 ou 5 e 1 (Cohen, 1988).
Resultados
Neste capítulo serão analisados os resultados obtidos com o intuito de responder aos objeti-
vos e hipóteses propostas.
Análises Preliminares
Os participantes do grupo de controlo consideraram as instruções recebidas para a realiza-
ção da tarefa, como sendo significativamente mais claras (t(36.084) = -2.057; p = .047; d = -.53) do que
os participantes do grupo experimental.
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A tarefa de vestir a bata não parece ter influenciado a sensação de limpeza experimentada
pelos participantes (F (1) = .850; p = .360; = .014). Não se produziram diferenças significativas
entre o grupo de controlo e o grupo experimental quanto à sensação de limpeza experienciada
(F(1) = .006; p = .937; = .000), e a forma como a bata foi vestida não parece ter influenciado a sensa-
ção de limpeza experimentada pelos participantes (F (1) = .357; p = .553; = .006). Contudo, quando
os participantes foram questionados acerca da sensação de sujidade experienciada pelo facto
de terem vestido a bata, os participantes da condão experimental referiram ter experimen-
tado uma maior sensação de sujidade do que os da condão de controlo (Mexperimental=1.67;
Dpexperimental = 2.327; Mcontrolo = .58; Dpcontrolo = .762) (t(35.149) = 2.454; p = .019; d = .63).
Ofacto da bata não ser da própria pessoa, não parece ter causado diferenças no mal-estar expe-
rimentado pelos participantes em fuão da condição a que foram atribuídos (t(58) = .657; p =.514;
d=.17).
Após a participação na investigação, os indivíduos do grupo de controlo referiram, de modo
significativo, que ficaram mais atentos aos seus comportamentos, comparativamente com os
indivíduos do grupo experimental (t(57.541) = -2.101; p = .040; d = -.54) (Tabela 1).
Confirmou-se que a distribuição aleatória dos grupos foi eficaz, uma vez que não existiram
diferenças significativas entre as duas condições experimentais nas variáveis psicológicas e
psicopatológicas estudadas (sintomas obsessivo-compulsivos, experiências NJR, evitamento do
dano, incompletude, depressão, ansiedade, stress e perfeccionismo).
(Tabela 2).
TABELA1
Entrevista Final (Resultados do Teste T-Student)
CE CC
M (Dp) M (Dp) t p D
Instruçõesclaras 9.01 (1.548) 9.63 (.545) -2.057 (36.084) .047 -.53
Conforto 4.60 (2.775) 4.24 (3.640) .427 (58) .671 .11
Agitação 2.71 (2.203) 2.00 (2.667) 1.124 (58) .266 .29
Ansiedade 2.15 (2.179) 1.75 (2.239) .707 (58) .482 .18
Limpeza 1.67 (2.327) .58 (.762) 2.454 (35.149) .019 .63
Vontade de despir a bata 4.58 (3.665) 3.20 (3.532) 1.492 (58) .141 .38
Confusão e mal-estar causado pela bata 2.13 (2.148) 1.75 (2.329) .657 (58) .514 .17
Mais atento/a aos comportamentos 4.71 (2.199) 5.96 (2.405) -2.101 (57.541) .040 -.54
Nota. CE – Condão Experimental; CC – Condição de Controlo; M (DP) – Média (Desvio Padrão); D – d de Cohen; p ≤ .05.
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TABELA2
Variáveis Psicológicas e Psicopatológicas (Resultados do Teste T-Student)
CE CC
M (Dp) M (Dp) t (gl) p D
OCI-R .872 (.466) .794 (.598) .562 (58) .576 .15
NJRE-Q-R 2.367 (.421) 2.339 (.425) .252 (58) .802 .07
OC-TCDQ Evitamento do Dano 2.467 (.496) 2.302 (.670) 1.082 (58) .284 .28
OC-TCDQ Incompletude 2.777 (.508) 2.714 (.602) .438 (58) .663 0.11
EADS-21 Depressão .390 (.475) .357 (.515) .254 (58) .800 .05
EADS-21 Ansiedade .397 (.371) .400 (.480) -.029 (58) .977 -.01
EADS-21 Stress .886 (.563) .726 (.614) 1.048 (58) .299 .27
MPS-F Padrões Pessoais 3.124 (.742) 3.183 (.599) -.339 (58) .736 -.09
MPS-F Dúvidas sobre as Ações 2.275 (.432) 2.233 (.793) .253 (58) .801 .07
MPS-F Preocupação com os Erros 2.530 (.687) 2.342 (.771) .997 (58) .323 .26
MPS-F Expectativas Parentais 2.307 (.806) 2.440 (.776) -.652 (58) .517 -.17
MPS-F Críticas Parentais 2.133 (.700) 2.025 (.839) .543 (58) .589 .14
MPS-F Organização 3.917 (.612) 3.833 (.875) .427 (58) .671 .11
Nota. CE – Condição Experimental; CC – Condição de Controlo; M (DP) – Média (Desvio Padrão); D – d de Cohen; p ≤ .05; OCI-R – Obsessive-Compulsive
Inventory-Revised; Not Just Right Experiences-Questionnaire-Revised – NJRE-Q-R; Obsessive-Compulsive Trait Core Dimensions Questionnaire –
OC-TCDQ; EADS – Escalas de Ansiedade Depressão e Stress; MPS-F – Multidimensional Perfectionism Scale.
Sensações internas experimentadas pelos participantes como consequência da participação na
tarefa (desconforto, tensão e sensação de incompletude)
O efeito da manipulação experimental sobre as variáveis psicológicas foi analisado com
recurso à Anova Fatorial Mista com Medidas Repetidas (2x2). Considerou-se o momento (antes e
após a experiência) como variável intra-sujeitos e como variáveis entre-sujeitos (grupo de con-
trolo vs. grupo experimental), a condão experimental a que os sujeitos foram atribuídos. Foram
realizadas ANOVAS para as seguintes variáveis dependentes: desconforto, tensão e sensação de
incompletude experimentadas pelos participantes durante a experiência.
O desconforto experimentado pelos participantes aumentou significativamente (F (1) =
12.430; p = .001; = .176) do primeiro para o segundo momento. No entanto, este aumento não foi
diferente em fuão do grupo atribuído aos participantes (F (1) = 3.002; p = .088; = .049), nem pare-
ceu depender da manipulação realizada da variável independente (F (1) = .015; p = .902;=.000)
(Figura 1).
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Experiências Not Just Right: validação tarefa
FIGURA1
Desconforto (Resultados da Anova Fatorial Mista com Medidas Repetidas)
A sensação de desconforto foi ainda avaliada através do item vestir a bata fez-me sentir con-
fortável, colocado aos participantes após a participação na tarefa. Também não foram encon-
tradas diferenças significativas nas respostas dadas a esta questão em função do grupo atribuído
aos participantes (Tabela 1).
À semelhaa dos resultados obtidos para o desconforto, os níveis de tensão experimentados
pelos participantes aumentaram da fase de pré para a de pós-teste, tanto no grupo de controlo
como no grupo experimental (F (1) = 7.531; p = .008; = .115). No entanto, não se produziram dife-
renças entre os grupos de participantes (F (1) = 1.370; p = .245; = .023), e o aumento dos níveis
de tensão verificado não pareceu ter ficado a dever-se à manipulação experimental realizada
(F(1)= .564; p = .456; = .010) (Figura 2).
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FIGURA2
Tensão (Resultados da Anova Fatorial Mista com Medidas Repetidas)
A tarefa de vestir a bata parece não ter conduzido a um aumento das sensações de incomple-
tude experimentadas pelos participantes de forma geral (F (1) = 3.550; p = .065; = .058). Apesar da
condição experimental não ter tido o efeito esperado (F (1) = .050; p = .823; = .001), os participantes
deste grupo parecem ter sentido significativamente mais sensações de incompletude, do que os
da condão de controlo (F (1) = 4.586; p = .036; = .073) (Mcontrolo(pré-teste) = 1.40; Dpcontro-
lo(pré-teste) = 2.12; Mcontrolo(pós-teste) = 1.90; Dpcontrolo(pós-teste) = 2.46; Mexperimental(pré-
-teste) = 2.53; Dpexperimental(pré-teste) = 2.27; Mexperimental(pós-teste) = 3.16; Dpexperimen-
tal(pós-teste) = 2.87) (Figura 3).
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Experiências Not Just Right: validação tarefa
FIGURA3
Incompletude (Resultados da Anova Fatorial Mista com Medidas Repetidas)
Urgência de neutralização como consequência da participação na tarefa
Com a finalidade de analisar as possíveis diferenças na urncia para despir a bata e reparar
a situação experimentada pelos participantes, as médias de ambos os grupos foram comparadas
com recurso ao teste T-Student. Não se encontraram diferenças entre os participantes de ambos
os grupos na urncia em despir a bata. (t(58) = 1.492; p = .141; d = .38) (Tabela 3).
TABELA3
Resultados da Tarefa (Resultados do Teste T-Student)
CE CC
M (Dp) M (Dp) t (gl) p D
Conforto em vestir a bata 4.60 (2.775) 4.24 (3.640) .427 (58) .671 .11
Agitação por vestir a bata 2.71 (2.203) 2.00 (2.667) 1.124 (58) .266 .29
Ansiedade por vestir a bata 2.15 (2.179) 1.75 (2.239) .707 (58) .482 .18
Vontade de despir a bata 4.58 (3.665) 3.20 (3.532) 1.492 (58) .141 .38
Vestir a bata fez-me sentir sujo 1.67 (2.327) .58 (.762) 2.454 (35.149) .019 .63
Nota. CE – Condição Experimental; CC – Condição de Controlo; M (DP) – Média (Desvio Padrão); p ≤ .05; D – d de Cohen
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Análise da validade convergente da tarefa de indução de experiências NJR e de controlo
Para analisar a associação dos resultados obtidos na tarefa, com os obtidos nos instrumentos
aplicados (NJR, incompletude, evitamento do dano e perfeccionismo), utilizou-se o teste de Cor-
relação de Pearson. Foram analisados separadamente os resultados obtidos pelos participantes
da condição experimental e de controlo. Na Tabela 4 sintetizam-se os resultados obtidos para o
grupo experimental e na Tabela 5 os obtidos para o grupo de controlo.
Verificou-se que na condão experimental, o conforto em vestir a bata mostrou uma associa-
ção negativa e moderada com as experiências NJR (r = -.45; p = .012), com a preocupação com os
erros (r = -.41; p = .024), com as expectativas parentais (r = -.41; p = .023) e com as críticas parentais
(r = -.39; p = .033). A agitação por vestir a bata, associou-se de forma positiva e moderada, com a
preocupação com os erros (r = .40; p = .029) e com as cticas parentais (r = .40; p = .027). Para a
ansiedade por vestir a bata, observou-se uma associação positiva moderada, com os padrões pes-
soais (r = .45; p = .012), com a preocupação com os erros (r = .38; p = .037) e com as críticas paren-
tais (r = .46; p = .010). Em relação à sensação de sujidade por vestir a bata, não foram verificadas
nenhumas associações significativas com as variáveis psicológicas. A urgência para despir a bata,
mostrou uma associação positiva e forte com a preocupação com os erros (r = .53; p = .002), posi-
tiva e moderada com as experiências NJR (r = .38; p = .038), com os padrões pessoais (r = .38; p =
.041) e com as expectativas parentais (r = .37; p = .046). Relativamente ao mal-estar por a bata não
ser minha, não foram observadas nenhumas associações significativas. Por fim, quanto à atenção
aos comportamentos, verificou-se a exisncia de uma associação positiva moderada com as crí-
ticas parentais (r = .39; p = .034).
Na condição de controlo não se observou a exisncia de nenhuma associão entre as variá-
veis analisadas.
TABELA4
Resultados da tarefa e variáveis psicológicas associadas (Resultados do Teste Correlação de Pearson)
Resultados da Tarefa Variáveis Psicológicas
NJRE INC HA PP DA PE EP CP O
Conforto em vestir a bata -.45* -.31 -.25 -.32 -.19 -.41* -.41* -.39* -.09
Agitação por vestir a bata .28 .25 .29 .34 .16 .40* .32 .40* .07
Ansiedade por vestir a bata .25 .22 .33 .45* .20 .38* .34 .46** .02
Sujidade por vestir a bata .11 -.24 -.16 -.09 .12 -.04 .04 .22 -.33
Urgência para despir a bata .38* .34 .26 .38* .22 .53** .37* .28 .08
Mal-estar por a bata não ser minha .08 .09 .17 .16 .25 .26 .19 .34 -.08
Atenção aos comportamentos .04 -.10 .07 .08 .00 .04 .30 .39* -.03
Nota. NJRE – NJRE-Q-R; INC – OC-TCDQ – Incompletude; HA – OC-TCDQ – Evitamento do Dano; PPMPS-F Padrões Pessoais; DA – MPS-F Dúvidas sobre
as Ações; PE – MPS-F Preocupão com os Erros; EP – MPS-F Expectativas Parentais; CP – MPS-F Cticas Parentais; O – MPS-F Organizão; * p ≤ .05;
** p ≤ .01.
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Experiências Not Just Right: validação tarefa
TABELA5
Resultados da tarefa de controlo e variáveis psicológicas associadas (Resultados do Teste Correlação de
Pearson)
Resultados da Tarefa Variáveis Psicológicas
NJRE INC HA PP DA PE EP CP O
Conforto em vestir a bata -.26 .04 .03 -.14 .06 -.22 .01 -.21 .22
Agitação por vestir a bata -.03 .27 .31 .14 .11 .31 .42 .43 .24
Ansiedade por vestir a bata .14 .30 .33 .07 .24 .32 .52 .43 .21
Sujidade por vestir a bata -.16 .23 .10 -.18 .31 .17 .41 .32 .18
Urgência para despir a bata .04 .17 .15 .27 .13 .47 .28 .16 .01
Mal-estar por a bata não ser minha -.06 .07 .05 .04 .33 .30 .36 .19 .05
Atenção aos comportamentos .02 .28 -.11 .23 .25 .16 .23 -.01 .31
Nota. NJRE – NJRE-Q-R; INC – OC-TCDQ – Incompletude; HA – OC-TCDQ – Evitamento do Dano; PPMPS-F Padrões Pessoais; DA – MPS-F Dúvidas sobre
as Ações; PE – MPS-F Preocupão com os Erros; EP – MPS-F Expectativas Parentais; CP – MPS-F Cticas Parentais; O – MPS-F Organizão; * p ≤ .05;
** p ≤ .01.
Discussão
O principal objetivo desta investigação consistiu na validação de uma tarefa de indução de
sensações NJR de modalidade sensorial ctil, numa amostra não clínica da população portu-
guesa. Tal como foi referido, as experiências NJR encaminham o indivíduo a comportar-se de
forma a conseguir terminar com elevados sentimentos de imperfeição (Coles et al., 2003; Leckman
et al., 1994). Neste trabalho, propusemo-nos comparar a capacidade de uma tarefa laboratorial de
tipo sensorial táctil, utilizada por Summers et al. (2014), com uma tarefa neutra concebida para a
presente investigação, para despoletar sensações de NJRE’s. Os indivíduos foram aleatoriamente
atribuídos a uma destas duas tarefas (experimental e neutra).
Concluímos que os elementos que constituíram a nossa amostra e que foram divididos pelas
duas condições experimentais, demonstraram ser bastante similares.
No entanto, não foi possível validar a tarefa a que nos propusemos. Embora a tarefa táctil
realizada não tenha sido suficientemente eficaz, o desconforto, a tensão e a sensão de incom-
pletude, foram superiores no grupo que realizou a tarefa. Estes aumentos não foram devido à
manipulão experimental, mas a outros fatores que podem ter sido despoletados durante a par-
ticipação nesta investigação, como por exemplo, o receio do desconhecido por não saberem o que
iria acontecer a seguir.
O facto de não terem existido diferenças entre os grupos, na vontade de despir a bata, tam-
bém parece ter comprovado que a bata não produziu o efeito que desejaríamos.
Consideramos que é pertinente que investigações futuras continuem a examinar as expe-
riências NJR, incidindo o estudo nas diferentes modalidades sensoriais. Seria relevante que fos-
sem utilizadas novamente as duas condições experimentais para comparar as diferenças exis-
tentes entre os grupos e confirmar se a manipulação experimental da tarefa táctil produz o efeito
esperado.
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Em relação às limitações encontradas neste estudo podemos indicar o tamanho reduzido da
amostra (n= 60), uma vez que a maioria dos estudos similares presentes na literatura utilizaram
amostras superiores à nossa. O facto de os participantes terem sido principalmente do sexo femi-
nino, também se revelou numa limitação para esta investigação.
Talvez fosse interessante que futuros estudos controlassem ainda algumas variáveis que não
foram controladas neste estudo. Por exemplo, achamos importante que o termo incompleto
que é apresentado aos participantes seja revisto, por ter induzido algumas dúvidas, tendo sido
necessário esclarecê-los algumas vezes sobre o que se pretendia e, por isso, esta classificação
pode ter sido enviesada devido a uma compreensão. Julgamos que, ao avaliarmos apenas a
urgência sentida pelos participantes para despir a bata, pode ser considerada uma limitação por
não termos avaliado em nenhum momento a vontade de compor/ organizar a bata. Teria também
sido interessante fazê-lo, porque as experiências NJR provocam sensações de mal-estar que con-
duzem à realização de determinados comportamentos, de forma a reparar a situação avaliada
como sendo incómoda ao indivíduo.
No estudo conduzido por Summers et al. (2014) para a realização da tarefa ctil, utiliza-
ram um casaco de grandes dimensões com a finalidade de induzir sensações internas de NJR e
nesta investigação procuramos replicar a mesma tarefa. Contudo, as características físicas da
população portuguesa diferem das da população americana. Talvez fosse necessário solicitar aos
participantes que mantivessem a bata vestida durante um tempo superior e utilizar uma bata de
tamanho mais pequeno, visto que se na população americana uma bata de grandes dimensões
pode provocar sensações de NJR. Na população portuguesa, para obter resultados semelhantes,
teria sido mais indicado a utilização de uma bata de tamanho menor, que provavelmente reuniria
mais condições para que os participantes sentissem sensações NJR.
Para concluir, a validão desta tarefa pode contribuir para a prática da Psicologia, através
da melhoria do diagnóstico e do tratamento dos mecanismos motivacionais da POC, podendo
tornar-se, no futuro, num instrumento auxiliar de avaliação no futuro.
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O EFEITO DE UMA TAREFA DE INDUÇÃO DE EXPERIÊNCIAS
“NOTJUST RIGHT” EM INDIVÍDUOS NÃO CLÍNICOS
THE EFFECT OF A “NOT JUST RIGHT” EXPERIENCES INDUCTION
TASKONNONCLINICAL INDIVIDUALS
to, M.1, Carmo, C.2, & Jiménez-Ros, A.3
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 1
1ST JANUARY JANEIRO  30TH JUNE JUNHO 2021 PP. 3051
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT.4
Submited on 01.05.21 Submetido a 01.05.21
Accepter on 13.06.21 Aceite a 13.06.21
Resumo
Os sentimentos de incompletude têm sido estudados enquanto mecanismo motivacional da
perturbão obsessivo-compulsiva. São definidos como um traço nuclear que inclui um senti-
mento perturbador e abrangente de que as ações não estão como deveriam estar. Podem manifes-
tar-se através de fenómenos sensoriais subjetivos mais breves e específicos: as experiências “not
just right” (NJR). A presente investigação teve o objetivo de induzir experimentalmente experiên-
cias (NJR) através da realização de uma tarefa de memória de palavras. Participaram 100 indiví-
duos não clínicos da população geral portuguesa de ambos os sexos, com idades compreendidas
entre os 18 e os 50 anos e distribuídos aleatoriamente por duas condições experimentais (grupo
experimental: n=50; grupo de controlo: n=50). Os participantes do grupo experimental foram
impedidos de finalizar a tarefa devido a uma indicação de fim de tempo. Os participantes do
grupo de controlo tiveram todo o tempo necessário para concluí-la. Os resultados demonstraram
que a manipulação experimental induziu experiências NJR, provocou desconforto físico e impul-
sos de agir após a indicação de fim da tarefa. Não existiram alterações no humor, emoções nega-
tivas ou dificuldades de supressão de sensações desconfortáveis. Visto tratar-se de uma amostra
não clínica, a quantidade e severidade das sensações revelou-se baixa. A indução experimental,
o desconforto e o impulso de agir corroboram os resultados de estudos prévios, contrariamente à
ausência de afetividade negativa e esforços de supressão. A continuidade da investigação destes
marcadores transdiagsticos utilizando tarefas in vivo é crucial, para que um maior conheci-
mento sobre eles possa conduzir a intervenções psicoterapêuticas com resultados mais satisfa-
tórios.
1 Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: marilineboto@yahoo.com
2 Centro de Investigação em Psicologia, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal,
email: cgcarmo@ualg.pt
3 Centro de Investigação em Psicologia, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal,
email: aros@ualg.pt
Autor para Correspondência: Mariline Bôto, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Por-
tugal, email: marilineboto@yahoo.com
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to, M., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A.
Palavras-chave: incompletude, experiências “not just right, indução experimental, perturbação
obsessivo-compulsiva.
Abstract
Feelings of incompleteness have been studied as a motivational mechanism for obses-
sive-compulsive disorder. They are defined as a nuclear trait which includes a disturbing and
broad feeling that the actions are not as they should be. They can manifest themselves through
more brief and specific subjective sensory phenomena: not just right” (NJR) experiences. The
present investigation had the objective of inducing experimentally NJR experiences by perform-
ing a word memory task. 100 non-clinical individuals from the general portuguese population of
both sexes with ages between 18 and 50 years old participated, randomly assigned to two exper-
imental conditions (experimental group: n=50; control group: n=50). The experimental group
participants were prevented from completing the task due to an end of time indication. The con-
trol group participants had all the necessary time to complete it. The results showed that the
experimental manipulation induced NJR experiences, caused physical discomfort and impulses
to act after the end of the task. There were no changes in mood, negative emotions or difficul-
ties of suppression of uncomfortable sensations. Since this is a non-clinical sample, the amount
and severity of sensations was low. The experimental induction, discomfort and impulses to act
corroborate the results of previous studies, contrary to the absence of negative affectivity and
suppression efforts. The continuation of the investigation of these transdiagnostic markers, using
in vivo tasks, is crucial, so that a greater knowledge of them can lead to psychotherapeutic inter-
ventions with more satisfactory results.
Keywords: Incompleteness, “not just right” experiences, experimental induction, obsessive-compul-
sive disorder.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma perturbação psicológica caracterizada
por dois tipos de fenómenos frequentes: obseses e/ou compulsões. As obsessões definem-se
por pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos e persistentes, de caráter intrusivo e indese-
jado. As compulsões são comportamentos repetitivos (e.g. lavar as mãos) e/ou atos mentais (e.g.
contar mentalmente) que surgem para responder às obseses e prevenir as suas consequências,
ou em virtude do cumprimento de regras internas rigorosas. As obsessões e as compulsões con-
somem bastante tempo. Dão origem a sofrimento psicológico ou afetam de forma marcada o
funcionamento quotidiano dos indivíduos (American Psychiatric Association [APA], 2013), redu-
zindo os seus índices de qualidade de vida em diversas áreas de funcionamento (familiar, social,
emocional e ocupacional; Coluccia et al., 2016). Angelakis e colaboradores (2015) acrescentam
que existe também uma elevada suicidalidade associada a esta perturbação psicológica.
Segundo rios estudos epidemiológicos, a prevalência da POC na população geral é de 1%
a 3% (Kessler et al., 2012; Ruscio et al., 2010). De acordo com o primeiro Estudo Epidemiológico de
Saúde Mental (Almeida & Xavier, 2013), Portugal apresenta uma prevalência substancialmente
superior: 4,4%.
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
Existe uma elevada presença de comorbilidades psiquiátricas nos indivíduos com POC. A
sua maioria tem pelo menos uma outra perturbação psicológica (Torres et al., 2006, 2016; Torre-
san et al., 2012), sendo as perturbações mais comuns as perturbações depressivas e de ansiedade
(Hofmeijer-Sevink et al., 2013; Rasmussen, 1994; Torres et al., 2016).
A POC é uma condição heterogénea relativamente ao seu fenótipo clínico, etiologia, severi-
dade e resposta ao tratamento. Para melhor compreender a sua heterogeneidade, tem sido pro-
posta uma classificação desta perturbação mediante grupos de sintomas. Dessa forma, muitos
estudos têm usado métodos estatísticos como a análise fatorial e a análise de clusters para agru-
pá-los de modo mais uniforme. No geral, as dimenes sintomatológicas identificadas por esses
estudos têm sido as seguintes: (a) simetria e ordem; (b) contaminação e limpeza; (c) dano e/ou
dúvidas; e (d) verificão. Contudo através da análise de clusters, alguns estudos encontraram
adicionalmente perfis sintomatológicos mistos (Calamari et al., 1999, 2004; Cameron, Streiner et
al., 2019).
Várias abordagens teóricas tentam explicar a génese da POC. Uma delas é a abordagem cog-
nitivo-comportamental, que considera que as crenças disfuncionais e consequentes interpreta-
ções erróneas dos pensamentos intrusivos estão na base dos seus sintomas (Obsessive Compul-
sive Cognitions Working Group, 2005).
Mais recentemente surgiu um maior interesse na investigação de mecanismos comuns par-
tilhados pelos distintos sintomas da POC. Como as observações clínicas mostravam que não
haveria uma relação exclusiva entre um determinado sintoma e um mecanismo motivacional,
o modelo cognitivo-comportamental propôs um mecanismo motivacional relacionado com as
crenças disfuncionais: o evitamento do dano (Frost & Steketee, 2002).
O evitamento do dano caracteriza-se por uma apreensão e ansiedade prematura perante
uma eventual ameaça. Gera uma resposta excessiva ou evitamento dos estímulos percecionados
como ameaçadores, para prevenir o possível dano consequente (Summerfeldt et al., 2014). Por
exemplo, um indivíduo pode limpar a maçaneta de uma porta de forma excessiva, até eliminar
qualquer vestígio de sujidade, de modo a não ter contato com germes e eliminar a probabilidade
de contrair uma doença grave. O evitamento do dano pode constituir um momento particular
(estado; Summerfeldt et al, 2014) ou uma tenncia genética para esse tipo de padrão de resposta
(traço de personalidade; Cloninger, 1987).
Outros mecanismos motivacionais foram identificados por alguns investigadores, como
o nojo (McKay, 2006; Sookman & Steketee, 2010) e a culpa (Shafran et al., 1996). Não obstante,
alguns sintomas obsessivo-compulsivos permaneciam sem explicação. Nas últimas duas déca-
das, a investigação de outro mecanismo motivacional ganhou maior importância: os sentimentos
de incompletude.
Sentimentos de Incompletude e Experncias “Not Just Right
O termo “sentimentos de incompletude (“sentiments dincomplétude”) foi descrito pela pri-
meira vez no início do século passado na obra “Les obsessions et la psychasténiedo médico e
psicólogo francês Pierre Janet. Os sentimentos de incompletude caracterizavam-se por sensa-
ções internas e perturbadoras de imperfeição, derivadas de operações mentais, emoções, ações
e perceções subjetivas de que uma ação não tinha sido efetuada sem erros ou de modo total, ou
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não tinha causado a satisfação pretendida. Incluíam-se na primeira fase do desenvolvimento da
POC: o estado psicasténico (Janet, 1907).
Posteriormente foi concebido um outro modelo explicativo da POC, com base nessa definão
dos sentimentos de incompletude: o Modelo Cibernético (Pitman, 1987). Este autor aludiu a uma
metáfora do termostato para se referir a um mecanismo interno que faria a comparação entre
sinais referenciais e percetuais. Perante a identificão de uma discrepância entre esses sinais,
dar-se-ia um sinal de erro e seria fundamental anular essa discrepância. Na POC o termostato
estaria avariado, levando a uma permanência de sinais de erro, que por sua vez provocaria sen-
timentos de incompletude. O indivíduo tentaria eliminá-los e aproximar os sinais referenciais e
percetuais para regressar a um equilíbrio interno.
Summerfeldt e colaboradores (2014) conceberam um modelo dimensional. O evitamento do
dano e incompletude passaram a ser dimenes nucleares ortogonais contínuas. Podem existir
diferentes graus de severidade numa mesma dimensão e também manifestações de ambas as
dimensões, gerando diferenças individuais ao nível das características, vulnerabilidades e cau-
sas dos sintomas obsessivo-compulsivos. Estes autores corroboraram que a incompletude teria
uma maior relação com alguns sintomas da POC do que com outros, embora não de forma única,
tal como com a idade prematura de aparecimento das obsessões e compulsões, traços de perso-
nalidade como o perfecionismo e indecisão, e com uma maior comorbilidade com outras pertur-
bações fora do espectro da ansiedade como a perturbação de tiques e perturbão de escoriação
(Summerfeldt, 2004).
As distinções entre o evitamento do dano e a incompletude são várias. O evitamento do
dano tem um cariz cognitivo, provoca ansiedade e nervosismo. A incompletude tem um cariz
sensório-afetivo, provoca tensão e desconforto (Pietrefesa & Coles, 2009; Summerfeldt, 2004;
Summerfeldt et al., 2014). O evitamento do dano está mais associado a crenças de sobrevalori-
zação de ameaça e de responsabilidade pessoal excessiva, e a incompletude ao perfecionismo
e intolerância à incerteza (Bragdon & Coles, 2017). O evitamento do dano elucida acerca da fre-
quência das compules e a incompletude acerca da duração das compulsões e problemas na
sua eliminação (Cougle & Lee, 2014). Há uma maior relação do evitamento do dano com défices
na memória epidica e da incompletude com problemas nas funções executivas (Cameron,
Summerfeldt et al., 2019).
A incompletude caracteriza-se por um desequilíbrio interno profundo e abrangente de natu-
reza afetiva e sensorial que envolve uma sensão interna e perturbadora de desconforto ou de
insatisfação perante o estado atual. Gera um impulso para agir, satisfazendo uma necessidade
de adaptação a critérios internos de exatidão para voltar a um estado de satisfação (Pietrefesa
& Coles, 2009; Summerfeldt, 2004; Summerfeldt et al., 2014). Por exemplo, mesmo quando já não
existem vestígios de sujidade, uma pessoa pode ter a sensação de que a sua limpeza ainda não
está como deveria. Assim, continua a lavar-se até alcançar uma sensação interna de satisfação
por ter obtido um estado de limpeza que para ela é perfeito. A incompletude é, assim, constituída
por uma componente sensorial e uma componente comportamental (Boisseau et al., 2018).
A incompletude está presente na maioria das pessoas que apresentam sintomas obsessivo-
-compulsivos (Ferrão et al., 2012; Leckman et al., 1994). De acordo com estudos experimentais,
existe uma associação da incompletude com as compulsões de ordem/simetria (Cougle et al.,
2013; Summers et al., 2014), verificação (Cougle et al., 2013; Summers et al., 2014) e lavagem (Sum-
mers et al., 2014), de modo exclusivo (Summers et al., 2014). Está também associada a uma maior
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
severidade dos sintomas obsessivo-compulsivos (Ferrão et al., 2012) e a resultados mais modestos
de tratamento (Foa et al., 1999).
Na literatura científica tem surgido um outro termo para designar os sentimentos de incom-
pletude: experiências “not just right” (NJR). No entanto são conceitos distintos. O sentimento de
incompletude é um traço de personalidade associado a um padrão global de funcionamento,
estável temporalmente. As experiências NJR são fenómenos subjetivos desencadeados pelo
ambiente. Correspondem a um estado de incompletude visto refletirem uma reação mais ime-
diata e específica ao ambiente (Summerfeldt et al., 2014).
As experiências NJR revelam uma discrepância entre o estado atual e o estado pretendido
de certeza e perfeição. Há um desconforto e tensão devido à perceção de que o ambiente não se
encontra como deveria. Por isso, o indivíduo sente-se impelido a realizar ações até obter o estado
pretendido. Esse estado é mantido somente de forma temporária, o que vai levar a que volte a
vivenciar experiências NJR e a consolidar um padrão repetitivo de realização de compulsões
para regressar ao estado desejado (Coles et al., 2003, 2005). Estes fenómenos podem ser de qual-
quer categoria sensorial, como a categoria visual, auditiva, tátil e propriocetiva, ou até de natu-
reza cognitiva (Summerfeldt, 2004). São universais e situam-se num continuum relativamente à
sua gravidade e prejuízo no funcionamento dos indivíduos (Ghisi et al., 2010).
Vários estudos identificam que a incompletude e experiências NJR estão presentes noutras
perturbações psicogicas para além da POC. É o caso da perturbação dismórfica corporal (Sum-
mers & Cougle, 2017; Summers et al., 2017; Veale et al., 1996), tricotilomania (Ferrão et al., 2012;
Rasmussen & Eisen, 1992; Sica et al., 2015), perturbação de escoriação (Fero et al., 2012), oni-
cofagia (Rasmussen & Eisen, 1992), perturbações do comportamento alimentar (Sica et al., 2015),
perturbação de tiques (Miguel et al., 2000), perturbação de jogo patológico (Sica et al., 2015), per-
turbação do espetro do autismo (Kloosterman et al., 2013), e traços de personalidade obsessivo-
-compulsiva (Ecker et al., 2014).
Concluindo, o sentimento de incompletude é um mecanismo motivacional de caráter dis-
posicional ligado a um sentimento perturbador que é abrangente e profundo, ao passo que as
experiências NJR são fenómenos sensoriais mais particulares, circunscritos temporalmente e
desencadeados por estímulos externos. Ambos geram desconforto e necessidade de agir, com a
finalidade de regressar a um estado de equilíbrio.
Na sua maioria, a investigação da presença destes fenómenos em indivíduos clínicos e não
clínicos tem sido efetuada através de estudos correlacionais, com o recurso a medidas de autor-
relato. Para colmatar as limitações desse tipo de estudos, têm sido conduzidos alguns estudos
experimentais com o objetivo de investigar os fenómenos de modo direto, perceber relações cau-
sais entre variáveis e controlar as variáveis parasitas (Shaughnessy et al., 2012). Os estudos expe-
rimentais de maior pertinência acerca da incompletude e experiências NJR foram realizados por
Coles e colaboradores (2005), Cougle e colaboradores (2011, 2013), Pietrefesa e Coles (2009) e Sum-
mers e colaboradores (2014) e utilizaram amostras não clínicas (estudantes universitários). Foram
usadas tarefas in vivo num ambiente laboratorial controlado para induzir as experiências NJR nas
diversas modalidades sensoriais. Demonstraram que a indução de incompletude e experiências
NJR através da realização das tarefas experimentais provocaram desconforto (Coles et al., 2005;
Cougle et al., 2011, 2013; Pietrefesa & Coles, 2009; Summers et al.,2014) e a necessidade de realizar
compulsões de lavagem (Cougle, 2011; Pietrefesa & Coles, 2009; Summers et al., 2014), de verifica-
ção (Cougle, 2013; Summers et al, 2014) e de ordem/simetria (Coles et al., 2005), Pietrefesa & Coles,
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to, M., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A.
2009; Summers et al, 2014). No entanto, as amostras universitárias não representam a população
geral e levam a uma menor magnitude das diferenças e a uma menor força das associações entre
as variáveis estudadas (Peterson, 2001).
Fornés-Romero e Belloch (2017) realizaram uma investigação com indivíduos clínicos e não
clínicos (estudantes universitários). Os participantes foram informados que o objetivo era estu-
dar os processos de memória e visualizaram uma apresentação powerpoint, na qual estavam 18
palavras relacionadas com um ambiente de um escritório e que tinham de memorizar e escrever
numa folha de papel, num limite de tempo suficiente. A investigadora impossibilitava a conclusão
da tarefa por parte dos participantes do grupo experimental, referindo que o tempo tinha termi-
nado. os participantes do grupo de controlo tinham todo o tempo necessário para concluí-la,
sendo informados do final do tempo quando a tinham finalizado. Os resultados demonstra-
ram que a indução de incompletude e experiências NJR teve sucesso e também consequências:
desconforto físico, impulso ou necessidade de realizar uma ação de forma repetida durante a
realização da tarefa (e.g. verificar as palavras já escritas) e após a indicação de fim da tarefa (e.g.
impulso para continuar a tarefa), emoções negativas, esfoos de neutralização e alteração no
humor. Estes resultados corroboram que a incompletude e as experiências NJR são fenómenos
que contribuem para a severidade dos sintomas obsessivo-compulsivos, provocando igualmente
alterações emocionais e comportamentais.
No entanto, pode assim verificar-se que a literatura científica sobre a incompletude e expe-
riências NJR, designadamente enquanto mecanismos motivacionais de alguns sintomas obses-
sivo-compulsivos, é recente. Parece-nos igualmente ser ainda escassa, especialmente no que
concerne a estudos experimentais. Um conhecimento mais aprofundado sobre esses fenómenos
pode levar a uma maior eficácia das intervenções psicológicas, numa perturbação psicológica
que se pode tornar crónica se não for tratada. Por essa razão, a presente investigação propôs-
-se induzir experimentalmente experiências NJR, inspirando-se no estudo de Fors-Romero e
Belloch (2017) realizado com uma amostra não clínica. Pretendemos determinar se os resultados
da experiência desse estudo seriam fidedignos e passíveis de generalização a outros indivíduos,
condições e situações.
Efetuámos algumas alterações face à metodologia do estudo de Fors-Romero e Belloch
(2017). A modalidade da nossa investigação foi virtual. Substituímos o subteste Memória de Dígi-
tos da Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos Quarta Edição (WAIS-IV) pelo Teste dos
Cubos de Corsi, de modo a avaliar a memória de trabalho, mas de natureza visuoespacial. Repe-
timos a aplicação da PANAS após a tarefa, para determinar como a realização da tarefa experi-
mental influenciou as respostas emocionais dos participantes. Aplicámos uma terceira Escala de
Faces (EF) de humor, para avaliar se houve alguma alteração no humor entre o momento após a
tarefa e o final da participação no estudo. A tarefa experimental de memória de palavras sofreu
também algumas modificações.
Objetivos e Hipóteses de Investigação
A presente investigação consistiu na indução experimental de experiências NJR em indivíduos
não clínicos por intermédio da realização de uma tarefa de memória de palavras, inspirada na
tarefa experimental do estudo de Fornés-Romero e Belloch (2017).
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
Os nossos objetivos específicos relacionados foram: (1) induzir experimentalmente a incom-
pletude e experiências NJR para analisar a sua frequência e severidade; (2) determinar se esses
fenómenos provocam uma forte necessidade ou impulsos de agir para eliminar as sensações
internas desagradáveis; e (3) analisar as respostas emocionais imediatas e esforços de neutrali-
zação provocados pela incompletude e experiências NJR.
De acordo com os objetivos expostos, as nossas hipóteses de investigação foram as seguin-
tes: (1) a manipulão experimental da tarefa de memória de palavras induzi a incompletude/
experiências NJR; (2) os participantes da condão experimental experimentarão maiores níveis
de desconforto físico e de impulsos/necessidade de agir repetidamente após a indicação de fim
da tarefa experimental do que os participantes da condão de controlo; (3) os participantes da
condição experimental apresentarão níveis mais elevados de emoções negativas e dificuldades
de supressão derivados da realização da tarefa experimental do que os participantes da condi-
ção de controlo; e (4) comparativamente com os participantes da condição de controlo, os partici-
pantes da condição experimental registarão significativamente um humor mais negativo no fim
da tarefa experimental do que no seu início.
Método
Participantes
Neste estudo participaram 100 indivíduos não clínicos, da população geral portuguesa, maio-
ritariamente do sexo masculino (52%), com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos (M =
32.89; DP = 7.55; Mínimo = 19; Máximo = 49) e que preencheram os seguintes critérios de inclu-
são: (a) capacidade intacta de compreensão das instruções, de preenchimento dos instrumentos
e da tarefa experimental; (b) memória de trabalho preservada (no mínimo ter completado as
primeiras cinco sequências [47 pontos] do Teste dos Cubos de Corsi); (c) ausência de perturbação
psicopatológica nos últimos seis meses; (d) não estar em tratamento psicológico ou psiquiátrico; e
(e) acertos na totalidade das palavras da tarefa experimental.
Os participantes foram distribuídos de forma aleatória por duas condições: experimental
e de controlo. Não se verificaram diferenças significativas entre os sujeitos atribuídos às con-
dições em função do sexo (x² = .641; p = .423), da idade (t = -1.235; p = .595), do estado civil (x² =
2.731; p = .435, da naturalidade (x² = 14.006; p = .173), do local de residência (x² = 7.938; p = .160),
das habilitações literárias (x² = 4.249; p = .373), da profissão (x² = 10.871; p = .696) e da situação
profissional (x² = .706; p = .951). A maioria dos participantes era do sexo masculino (52%), natural
do Algarve (48%), residente no Barlavento Algarvio (53%), solteiro (59%), tinha o ensino secun-
dário completo (37%), uma profiso relacionada com o corcio (61%) e estava a trabalhar por
conta de outrem (30%).
Instrumentos e Materiais
Através de um formurio online (Google Forms), os participantes preencheram o consenti-
mento informado e os questionários. Nesse formulário encontravam-se os links para a realização
em separado do Teste dos Cubos de Corsi e da tarefa experimental.
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to, M., Carmo, C. & Jiménez-Ros, A.
O primeiro questionário foi o Questionário de Dados Sociodemográficos e Clínicos. A sua fina-
lidade foi recolher informações acerca dos participantes através de 12 itens: nove itens relativos
aos dados pessoais (idade, género, naturalidade, local de residência, nacionalidade, estado civil,
habilitações literárias, profissão e situação profissional) e três relativos aos dados clínicos (per-
turbação psicológica atual ou nos últimos seis meses, tratamento psicológico/psiquiátrico atual e
existência de algum familiar com perturbação de tiques ou outra relacionada).
O Teste dos Cubos de Corsi (Kessels et al., 2000) avalia a memória de trabalho visuoespacial.
A versão original apresenta nove cubos de madeira colocados num tabuleiro. Depois da apresen-
tação de uma sequência específica, os indivíduos devem tocar nos cubos na mesma ordem que
visualizou nessa apresentação. A quantidade de cubos apresentados sobe à medida que o teste
prossegue, começando com uma sequência de dois cubos e finalizando com uma sequência de
nove cubos, totalizando 16 sequências. Depois de dois erros cometidos na mesma sequência, o
teste cessa. Criou-se uma versão online deste instrumento para esta investigação por intermédio
do software Visual Studio Code (versão 1.30 para Windows).
As Escalas de Ansiedade, Depressão e Stresse: Versão de 21 Itens (DASS-21; Lovibond & Lovi-
bond, 1995; versão portuguesa de Vasconcelos-Raposo et al., 2013) constituem uma versão resu-
mida das Escalas de Ansiedade, Depressão e Stresse, com 21 itens que avaliam os sintomas de
depressão, ansiedade e stresse. Os participantes devem responder em que medida cada item se
aplicou a eles na última semana, numa escala de 3 pontos, entre 0 (“nunca”) e 3 (“quase sempre”).
Na presente investigação foram usadas as subescalas de Ansiedade e Depressão. Os resultados
obtidos a partir da amostra utilizada na presente investigação apresentaram uma boa consistên-
cia interna para o total da DASS-21 (α = .87), o que também se verificou em relação às subescalas
de Ansiedade (α = .76) e Depressão (α = .85).
O Questiorio de Experiências Not Just Right – Revisto (NJREQ-R; Coles et al., 2003, 2005; ver-
são portuguesa Rosado, 2017) é composto por 19 itens que avaliam a severidade das experiências
NJR no mês anterior. Os primeiros 10 itens referem-se a situações específicas e é pedido aos sujei-
tos que refiram se alguma vez as experienciaram. Na segunda parte, pede-se que identifiquem
a experiência NJR mais recente e a sua ocorrência. Na terceira parte, avalia-se a frequência, a
intensidade, a angústia, a ruminação, a necessidade de responder e a responsabilidade respei-
tantes às experiências NJR mais recentes, numa escala de likert de 7 pontos, variando entre 1
(“nenhum”) e 7 (“extremo”). A soma da pontuação desses sete itens resulta na severidade das
experiências NJR. A pontuação total do NJREQ-R evidenciou uma consistência interna adequada
para a amostra utilizada na presente investigação (α = .76).
O Inventário de Obsessões e Compulsões de Vancouver (VOCI; Thoardson et al., 2004; versão
portuguesa Calisto, 2013) avalia características associadas à POC. Possui seis subescalas: con-
taminão, verificação, obsessões, acumulação, just right e indecisão. Neste estudo foi apenas
usada a subescala Just Right, constituída por 12 itens nos quais os participantes devem responder
numa escala de 5 pontos sobre a gravidade dos sintomas experimentados. No presente estudo,
esta subescala apresentou uma consistência interna adequada (α = .85).
O Inventário Obsessivo-Compulsivo Revisto (OCI-R; Foa et al., 2002; versão portuguesa Car-
doso, 2015) tem 18 itens que avaliam a existência de sintomas primários da POC por meio das
subescalas de lavagem, verificão, ordenação, obsessão, acumulação e neutralizão. Cada
uma possui três itens. É pedido aos indivíduos que indiquem numa escala de 4 pontos, entre 1
(“de maneira alguma”) a 4 (“extremamente”) como lidou com as experiências no mês anterior. A
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
pontuação total deste instrumento no presente estudo mostrou uma consistência interna ade-
quada (α = .86), bem como a maioria das subescalas que o compõem (verificão [α = .74]; neutra-
lizão [α = .75]; obsessão [α = .84] e ordenação [α = .87]), com exceção da subescala de acumula-
ção e lavagem (ambas α = .60).
O Questionário de Dimenes Nucleares do Traço Obsessivo-Compulsivo (OCTCDQ; Summer-
feldt et al., 2001; versão portuguesa Rosado, 2017) é composto por 20 itens distribuídos por duas
subescalas, visando a avaliação da dimensão do evitamento de dano e da incompletude. Os itens
de resposta o classificados numa escala de 5 pontos, variando entre 1 (“nunca se aplica a mim.”)
e 5 (“aplica-se sempre a mim.”). Na presente investigação, este instrumento apresentou uma exce-
lente consistência interna na pontuação total (α = .94), bem como nas subescalas de evitamento
do dano e de incompletude (ambas com α = .90).
A Escala de Faces (EF; Wong & Baker, 1988) é uma escala unidimensional que no presente
estudo visa avaliar o humor. Os participantes devem indicar o humor do momento através da
escolha de uma das seis faces apresentadas. As faces classificam-se desde 0 (“muito alegre”) a 5
(“muito triste”).
A Escala de Afeto Positivo e Negativo (PANAS; Watson et al., 1988; versão portuguesa Galinha
& Ribeiro, 2005) faz a avaliação da componente afetiva do bem-estar subjetivo. Tem 20 itens, 10
relativos à dimensão de afeto positivo (e.g. entusiasmado/a) e os restantes 10 à dimensão de afeto
negativo (e.g. assustado/a). A resposta dos indivíduos revela o grau em que experimentaram cada
uma das emoções nas últimas semanas, numa escala de 5 pontos, que varia de 1 (nada”) a 5
(“muitíssimo”). Nesta investigação, apenas foi aplicada a subescala Afeto Negativo. Na presente
investigação, a subescala Afeto Negativo da PANAS mostrou uma boa consistência interna (pri-
meira aplicão: α = .86; segunda aplicação: α = .87).
A Tarefa Experimental foi inspirada na tarefa experimental do estudo de Fornés-Romero e
Belloch (2017) e criada através do software Visual Studio Code (versão 1.30 para Windows). Com
vista a detetar a necessidade de eventuais modificações na tarefa experimental, realizámos um
estudo piloto com 20 estudantes universitários da licenciatura de Psicologia da Universidade do
Algarve. A versão final da tarefa experimental englobou seis diapositivos e envolveu algumas
alterações.
Os três primeiros diapositivos incluíram as instruções necessárias para realizar a tarefa de
meria. O diapositivo seguinte apresentou uma situação imaginária associada a um ambiente
de escritório. O quinto diapositivo continha 12 palavras associadas a esse mesmo ambiente, dis-
tribuídas de forma equivalente em três categorias: mobilrio (“estante”, cadeiras”, “cabide” e
secretária”), material (“agrafador, clipes, esferográficase folhas”) e outros objetos (“calen-
dário, caixote do lixo, cortinase fotografias”). Ocorridos 1 minuto e 33 segundos, esse dia-
positivo desaparecia. No diapositivo seguinte era pedido aos participantes que digitassem as
palavras listadas no diapositivo anterior nos respetivos campos em branco. Os participantes do
grupo experimental eram interrompidos quando estavam a iniciar a digitação da 1 palavra:
recebiam uma mensagem que deviam parar porque o tempo tinha terminado. os participan-
tes do grupo de controlo não eram interrompidos durante a digitão das palavras: recebia essa
mesma mensagem, mas quando já tinham concluído a tarefa.
Por fim, o Questionário Pós-Tarefa foi aplicado após a tarefa experimental. A primeira parte
inclui 12 itens para avaliar a incompletude, experiências NJR, sensações físicas desagradáveis,
impulsos ou necessidade de agir de forma repetida durante a tarefa e após a indicação de fim
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da tarefa, e dificuldades de supressão da sensação mais desagradável e da mais intensa. Metade
desses itens relacionam-se com o momento da realização da tarefa e os restantes à sua finaliza-
ção.
Os itens 1, 4, 5, 8, 9 e 12 avaliam os impulsos/necessidade de agir devido a uma possível
sensação de incompletude, experiências NJR ou desconforto físico. Os itens 2, 3, 6 e 7 avaliam o
desconforto interno e sensações sicas desconfortáveis. Os itens 10 e 11 avaliam a incompletude/
experiências NJR. A escala de resposta é de tipo Likert de 6 pontos, que varia de 0 (“de modo
nenhum”) a 6 (“extremo”).
Os 14 itens da segunda parte referem-se à seleção da sensação mais desagradável e a mais
intensa das sensações da primeira parte do questionário, as emoções negativas por elas causadas
e a sua dificuldade de supressão. Os ts últimos itens aludem à dificuldade da tarefa, perceção
de autoeficácia quanto ao desempenho na tarefa e a avaliação desse desempenho caso fosse dis-
ponibilizado mais tempo para realizá-la.
Procedimento de Recolha de Dados
Foi realizado um estudo piloto com o objetivo de identificar a necessidade de possíveis alte-
rações na tarefa experimental face à avaliação da sua facilidade de execução. Este estudo piloto
incluiu 20 estudantes universitários da licenciatura de Psicologia da Universidade do Algarve
que não integraram a amostra da versão definitiva da presente investigação.
O estudo na sua versão definitiva teve 100 participanteso clínicos da populão geral por-
tuguesa. Os participantes receberam por e-mail os dois links para as duas sessões, que tiveram
de realizar com um intervaloximo de uma semana. Após o preenchimento do consentimento
informado, a investigação foi composta por 3 fases: baseline, fase de experiência e fase pós-ex-
periência.
Na fase de baseline, os participantes preencheram o questionário de dados sociodemográ-
ficos e clínicos e os instrumentos de autorrelato. A ordem de aplicação dos instrumentos foi
balanceada para evitar efeitos de ordem, com exceção dos instrumentos para avaliar o humor,
que quisemos aplicá-los no momento prévio à tarefa experimental. Apenas os participantes que
preencheram os critérios de inclusão na experiência passaram para a fase seguinte.
Na fase de experiência, os participantes foram distribuídos aleatoriamente por duas con-
dições experimentais (grupo experimental e grupo de controlo) através da plataforma Random
(https://www.random.org). Foram informados que a tarefa experimental visava a avalião dos
seus processos de memória num limite de tempo suficiente e procederam à sua realização.
Na fase pós-experiência, os participantes preencheram novamente uma EF de humor e a
subescala Afeto Negativo da PANAS. Seguidamente, responderam ao questionário pós-tarefa
para avaliarmos o sucesso da indução da incompletude e experiências NJR, as suas característi-
cas e respetivas consequências emocionais e comportamentais. Por último, responderam a uma
última EF de humor.
Depois de finalizar a recolha dos dados, realizou-se um debriefing, com o intuito de expli-
car o propósito da investigação e agradecer a participação dos indivíduos que integraram a sua
amostra.
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
Tratamento de dados
A análise dos dados foi efetuada através do programa Statistics Package of Social Sciences
(SPSS, versão 25.0 para Windows).
Para fazer a caracterização sociodemográfica da amostra, realizou-se uma análise de tabelas
de frequências com o mero e percentagem de casos, bem como estatísticas de tendência cen-
tral como a média (M) e de dispersão como o desvio-padrão (DP).
Com vista a comparar as médias das variáveis quantitativas nas duas condições experimen-
tais, utilizou-se o teste t de amostras independentes. O nível de significância foi de .05.
Criaram-se variáveis dependentes derivadas da realização da tarefa experimental através
dos itens do Questionário Pós-Tarefa: incompletude e experiências NJR (item 10 e 11), desconforto
físico durante a tarefa (item 2 e 6), desconforto físico após a indicação de fim da tarefa (item 3 e
7), impulsos/necessidade de agir repetidamente durante a tarefa (item 4, 8 e 12), impulsos/neces-
sidade de agir repetidamente as a indicação de fim da tarefa (item 1, 5 e 9), emoções negativas
associadas à sensação mais desagradável (item 17 ao 20), emoções negativas associadas à sensa-
ção mais intensa (item 22 ao 25), dificuldade de supressão da sensação mais desagradável (item
21) e dificuldade de supressão da sensação mais intensa (item 26).
De modo a avaliar o êxito da indução experimental de incompletude e experiências NJR,
calculámos dois itens de pontuação composta para cada grupo, partindo da média do somario
dos valores referentes à incompletude/experiências NJR, desconforto físico (interno e sensações
sicas desconfortáveis) e impulsos/necessidade de agir repetidamente, em dois momentos dis-
tintos: após a indicação de fim da tarefa e durante a sua realização. Estabelecemos o êxito da
indução experimental por meio do cumprimento de dois critérios: (a) existência de diferenças
significativas entre os grupos nos itens compostos após a indicação de fim da tarefa; e (b) ausên-
cia de diferenças entre os grupos nos itens compostos durante a realização da tarefa.
Com o propósito de verificar o efeito da manipulação experimental no afeto negativo e
humor dos participantes, recorremos à análise de variância (ANOVA) fatorial mista de medidas
repetidas.
Resultados
Análises Preliminares
Para verificar se existiam diferenças prévias entre os participantes condição de experimen-
tal e de controlo nas variáveis psicológicas e psicopatológicas medidas pelos instrumentos de
autorrelato na fase de baseline (ansiedade, depressão, sintomas obsessivo-compulsivos, evita-
mento do dano, incompletude, experiências NJR, afeto negativo e estado de humor), utilimos o
teste t de amostras independentes.
Foi possível constatar a ausência de diferenças entre os participantes nessas variáveis
mediante a condição experimental a que foram atribuídos (Tabela 1).
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TABELA1
Diferenças nas Variáveis Psicológicas e Psicopatológicas em função da Condição Experimental dos
Participantes
GE
(n = 50)
GC
(n = 50)
M (DP) M (DP)T p d
DASS-21: Ansiedade 2.32 (2.494) 2.56 (2.991) -.436 .664 .087
DASS-21: Depressão 2.52 (2.252) 2.66 (3.075) -.260 .796 .052
VOCI: Just Right 11.08 (6.892) 10.76 (7.602) .220 .826 .044
OCI-R 14.12 (9.009) 12.76 (9.428) .737 .463 .147
OCTCDQ: Evitamento do Dano 11.94 (7.566) 10.50 (7.424) .961 .339 .192
OCTCDQ: Incompletude 14.92 (8.410) 12.76 (8.045) 1.312 .192 .262
NJREQ-R: Número 3.02 (1.974) 2.46 (1.798) 1.483 .141 .297
NJREQ-R: Severidade 8.78 (5.266) 7.86 (4.603) .930 .355 .186
PANAS: Afeto Negativo Pré-teste 12.76 (3.589) 12.36 (4.557) .488 .627 .100
EF: Humor Pré-teste
Cubos de Corsi – Sequências
Cubos de Corsi – Pontos
1.62 (.753)
8.06 (1.812)
43.80 (18.118)
1.48 (.735)
8.26 (2.165)
47.02 (22.835)
.941
-.501
-.781
.349
.617
.437
.190
.100
.205
Nota. GE – Grupo experimental; GC – Grupo de controlo; M (DP) – Média (Desvio-Padrão); dd de Cohen; p < .05; DASS-21 – Escala de Ansiedade,
Depressão e Stresse – Versão de 21 Itens; VOCI – Inventário de Obsessões e Compulsões de Vancouver; OCI-R – Inventário Obsessivo-Compulsivo
– Revisto; OCTCDQ – Questiorio de Dimensões Nucleares do Traço Obsessivo-Compulsivo; NJREQ-R – Questiorio de Experiências Not Just Right –
Revisto; PANAS – Escala de Afeto Positivo e Negativo; EF – Escala de Faces.
A quantidade de sensações que a realização da tarefa de indução de experiências NJR pro-
vocou nos participantes foi baixa (M = 4.76; DP = 3.517), não se verificando diferenças entre os
grupos, embora com uma magnitude do efeito média (t(98) = 2.264; p = .135; d = .45). Quanto à
severidade dessas mesmas sensações, foi igualmente baixa (M = .39; DP = .303) e sem diferenças
entre os grupos, com uma magnitude do efeito média (t(98) = 2.392; p = .181; d = .47).
A totalidade dos participantes mencionou ter experienciado pelo menos uma das 12 sensa-
ções. As sensações mais experienciadas foram a sensação nº 1 (“Impulso para continuar a tarefa
quando leu a frase “O tempo acabou.”) e sensação nº 2 (“Desconforto físico interno enquanto
tentava recordar as palavras.”), ambas identificadas por 58% dos participantes. A sensação mais
reportada pelos participantes do grupo experimental foi a sensação nº 1 (82%). No grupo de con-
trolo foi maioritariamente selecionada a sensação nº 2 e a sensação nº 12 (“Durante a tarefa de
recordação, sentiu necessidade de verificar ou de se certificar repetidamente que estava a fa-
-la bem?”), ambas reportadas por 56% dos participantes (Tabela 2).
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
TABELA2
Número e Percentagem de Participantes que experienciaram cada Sensação resultante da Tarefa de
Indução de Experiências NJR
GE
(n = 50)
GC
(n = 50)
Amostra
total
(N = 100)
1. Impulso para continuar a tarefa quando leu a frase “O tempo acabou”. 41 (82) 17 (34) 58 (58)
2. Desconforto físico interno enquanto tentava recordar as palavras. 30 (60) 28 (56) 58 (58)
3. Desconforto físico interno quando leu “O tempo acabou”. 31 (62) 13 (26) 44 (44)
4. Desconforto físico durante a tarefa; ao ponto de precisar de fazer algo repetidamente
para se sentir melhor.
17 (34) 18 (36) 35 (35)
5. Desconforto físico quando leu “O tempo acabou”, ao ponto de precisar de fazer algo
repetidamente para se sentir melhor.
19 (28) 13 (26) 32 (32)
6. Sensação física desagradável enquanto tentava recordar as palavras. 13 (26) 9 (18) 22 (22)
7. Sensação física desagradável quando leu “O tempo acabou”. 14 (28) 6 (12) 20 (20)
8. Necessidade de fazer ou dizer algo repetidamente ao tentar lembrar as palavras. 17 (34) 12 (24) 29 (29)
9. Necessidade de fazer ou dizer algo repetidamente quando leu “O tempo acabou”. 8 (16) 4 (8) 12 (12)
10. Sensação de que algo que estava a fazer não parecia estar da forma como deveria
durante a tarefa de recordação.
25 (50) 23 (46) 48 (48)
11. Sensação de que algo que acabou de fazer não pareceu estar da forma como queria
quando leu “O tempo acabou”.
31 (62) 18 (36) 49 (49)
12. Necessidade de vericar e de se reassegurar repetidamente que estava a fazer bem
a tarefa enquanto tentava recordar as palavras.
28 (56) 28 (56) 56 (56)
Nota. GE – Grupo experimental; GC – Grupo de controlo.
Respeitante à sensão considerada como a mais desagradável e à sensação mais intensa,
69% dos participantes optou pela mesma. A sensação mais escolhida como a mais desagradável
e também como a mais intensa pelo grupo experimental foi a mesma: a n.º 1 (28%). O mesmo
sucedeu com o grupo de controlo, mas tendo sido escolhida a sensação n.º 10 (“Sensação de que
algo que estava a fazer não parecia estar da forma como deveria durante a tarefa de recordação”)
como sendo a mais desagradável (28%) e a mais intensa (24%; Tabela 3). Não se produziram dife-
renças entre os grupos, com uma magnitude do efeito reduzida (t(98) = -.214; p = .670; d = .04).
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TABELA3
Número e Percentagem de Participantes que escolheram cada Sensação resultante da Tarefa de Indução de
Experiências NJR como a Mais Desagradável e a Mais Intensa
GE
(n = 50)
GC
(n = 50)
Amostra total
(N = 100)
SMD SMI SMD SMI SMD SMI
1 14 (28) 19 (38) 3 (6) 6 (12) 17 (17) 25 (25)
2 6 (12) 5 (10) 6 (12) 6 (12) 12 (12) 11 (11)
3 2 (4) 4 (8) 0 (0) 2 (4) 2 (2) 6 (6)
4 0 (0) 0 (0) 3 (6) 2 (2) 3 (3) 2 (2)
5 2 (4) 2 (4) 2 (4) 3 (6) 4 (4) 5 (5)
6 1 (2) 2 (4) 2 (4) 1 (2) 3 (3) 3 (3)
7 3 (6) 1 (2) 0 (0) 0 (0) 3 (3) 1 (1)
8 1 (2) 2 (4) 4 (8) 2 (4) 5 (5) 4 (4)
9 1 (2) 1 (2) 0 (0) 0 (0) 1 (1) 1 (1)
10 7 (14) 3 (6) 14 (28) 12 (24) 21 (21) 15 (15)
11 6 (12) 5 (10) 7 (14) 8 (16) 13 (13) 13 (13)
12 7 (14) 6 (12 9 (18) 8 (16) 16 (16) 14 (14)
Nota. GE – Grupo experimental; GC – Grupo de controlo; SMD – Sensão mais desagravel; SMI – Sensação mais intensa.
Em termos globais, os participantes acharam que a tarefa experimental foi pouco difícil (t(98)
= -.083; p = .934; d = .02) e que a realizaram moderadamente bem, não havendo diferenças em
função da condição à qual foram atribuídos (t(98) = -.584; p = .560; d = .12).
Observaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os grupos quanto à perceção
do seu desempenho na tarefa se lhes tivesse sido dado mais tempo (t(98) = 4.858; p < .001; d =
.97): os participantes do grupo experimental consideraram que com mais tempo tê-la-iam reali-
zado moderadamente melhor (M = 2.66; DP = 2.404) e os participantes do grupo de controlo algo
melhor (M = .80; DP = 1.245; Tabela 4).
TABELA4
Variáveis relacionadas com a Dificuldade e Desempenho na Tarefa de Indução de Experiências NJR:
Diferenças entre os Participantes das Condições Experimentais
GE
(n = 50)
GC
(n = 50)
M (DP) M (DP)t p d
Diculdade da tarefa 1.22 (1.1234) 1.24 (1.170) -.083 .934 .02
Desempenho na tarefa 3.04 (1.309) 3.22 (1.741) -.584 .560 .12
Melhor desempenho com mais tempo 2.66 (2.404) .80 (1.245) 4.858 .000 .97
Nota. GE – Grupo experimental; GC – Grupo de controlo; M (DP) – Média (Desvio-Padrão); dd de Cohen; p < .05
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
Indução Experimental de Experncias NJR e Respostas Comportamentais e Emocionais
A Tabela 5 sumariza as diferenças entre as condições experimentais nas variáveis avaliadas
durante e após a realização da tarefa experimental.
O sucesso da indução experimental de experiências NJR foi estabelecido pela presença de
diferenças significativas entre os grupos nos itens compostos (média do somatório dos valores
relativos à incompletude/experiências NJR, desconforto sico [interno e sensações físicas des-
confortáveis]) após a indicação de fim da tarefa (t(98) = 4.289; p < .001; d = .86) e pelos seus valores
médios superiores aos apresentados pelos participantes do grupo experimental (Grupo expe-
rimental: M = 7.18; DP = 6.657; Grupo de controlo: M = 2.64; DP = 3.421). Acresce a ausência de
diferenças entre os grupos respeitante à pontuação nos itens compostos durante a realização da
tarefa (t(98) = 1.592; p = .115; d = .32).
Mais resultados corroboram esse mesmo sucesso.
Os participantes do grupo experimental registaram valores médios mais elevados do que os
participantes do grupo de controlo (Grupo experimental: M = 2.04; DP = 2.466; Grupo de con-
trolo: M = .58; DP = 1.180) no desconforto físico após a indicação de fim da tarefa evidenciando
uma magnitude de efeito média (t(98) = 3.777; p < .001; d = .76), e também nos impulsos/neces-
sidade de agir repetidamente após a indicação de fim da tarefa com uma magnitude de efeito
elevada (Grupo experimental: M = 3.70; DP = 3.430, Grupo de controlo: M = 1.35; DP = 1.934; t(98)
= 4.238; p < .001; d = .85).
Em suma, a presença de diferenças nos itens compostos após a indicação de fim da tarefa, no
desconforto físico e nos impulsos/necessidade de agir repetidamente nesse mesmo momento, e a
ausência de diferenças nos itens compostos durante a realização da tarefa parecem apontar para
o êxito da indução experimental de incompletude/experiências NJR.
o se observaram diferenças entre os grupos nas emoções negativas associadas à sensação
mais desagradável (t(98) = 1.317; p = .191; d = .26) e à sensação mais intensa (t(98) = 1.517; p = .133;
d = .30), apresentando uma magnitude de efeito reduzida.
A emoção negativa mais escolhida pelos participantes dos dois grupos como estando asso-
ciada à sensação mais desagradável (Grupo experimental: M = 1.28; DP = 1.750; Grupo de con-
trolo: M = .88; DP = 1.154) e à sensação mais intensa (Grupo experimental: M = 1.16; DP = 1.646;
Grupo de controlo: M = .80; DP = 1.088) foi a frustração.
Não existiram diferenças significativas relativamente às dificuldades de supressão da sensa-
ção mais desagradável (t(98) = -.474; p = .636; d = .09) e da sensação mais intensa (t(98) = .365; p =
.716; d = .07), com uma magnitude de efeito insignificante.
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TABELA5
Variáveis relacionadas com a Tarefa de Indução de Experiências NJR: Diferenças entre os Participantes das
Condições Experimentais
GE
(n = 50)
GC
(n = 50)
M (DP) M (DP)t p d
Itens compostos durante a tarefa
Itens compostos após indicação de m
Incompletude/Experiências NJR
6.20 (7.160)
7.18 (6.657)
2.40 (2.748)
4.20 (5.261)
2.64 (3.421)
1.58 (2.322)
1.592
4.289
1.612
.115
.000
.110
.32
.86
.32
Desconforto físico durante a tarefa 2.06 (2.402) 1.36 (1.827) 1.640 .104 .33
Desconforto físico após indicação de m
Impulsos durante a tarefa
Impulsos após indicação de m
2.04 (2.466)
3.18 (4.275)
3.70 (3.430)
.58 (1.180)
1.98 (2.630)
1.35 (1.934)
3.777
1.691
4.238
.000
.094
.000
.76
.33
.85
Emoções negativas associadas à SMD
Mal-estar
Irritação/zanga
Frustração
Nervosismo/ansiedade
Diculdade de eliminá-la/controlá-la
Emoções negativas associadas à SMI
Mal-estar
Irritação/zanga
Frustração
Nervosismo/ansiedade
Diculdade de eliminá-la/controlá-la
Diculdade de supressão da SMD
Diculdade de supressão da SMI
4.60 (5.668)
.58 (.992)
.98 (1.558)
1.28 (1.750)
1.08 (1.59)
.68 (1.203)
4.60 (5.96)
.66 (1.171)
.90 (1.502)
1.16 (1.646)
1.12 (1.507)
.84 (1.419)
.68 (1.203)
.84 (1.419)
3.26 (4.430)
.62 (.987)
.46 (.908)
.88 (1.154)
.80 (1.161)
. 80 (1.325)
3.02 (4.33)
.44 (.812)
.50 (.995)
.80 (1.088)
.73 (1.204)
.74 (1.322)
.80 (1.325)
.74 (1.322)
1.317
-.202
2.039
1.349
1.006
-.474
1.517
1.091
1.570
1.290
1.404
.365
-.474
.365
.191
.840
.044
.180
.317
.636
.133
.278
.120
.200
.164
.716
.636
.716
.26
.04
.41
.27
.20
.09
.30
.22
.31
.26
.29
.07
.09
.07
Nota. GE – Grupo experimental; GC – Grupo de controlo; M (DP) – Média (Desvio-Padrão); dd de Cohen; p < .05; SMD – Sensação mais desagradável,
SMI – Sensação mais intensa.
Influência da Tarefa de Indução de Experiências NJR no Humor dos Participantes
Para apurar se houve um efeito da realização da tarefa de indução de experiências NJR no
estado de humor dos participantes, realizámos duas ANOVAs fatoriais mistas de medidas repe-
tidas.
A variável dependente da primeira ANOVA foi o afeto negativo avaliado pela PANAS. A
variável intra-sujeitos foi o momento (pré e pós-teste) e a variável inter-sujeitos foi a condão
experimental a que os participantes foram atribuídos (grupo experimental e grupo de controlo).
A variável dependente da segunda ANOVA foi o estado de humor no momento (desde “muito
alegre” até “muito triste”) avaliado pela EF, a variável intra-sujeitos foi o momento (fase pré-teste,
fase pós-teste e final da investigação) e a variável inter-sujeitos foi a condição experimental a que
os participantes foram atribuídos (grupo experimental e grupo de controlo).
Os resultados apontaram para a ausência de alteração no estado de humor dos participantes
entre os diferentes momentos (afeto negativo: F(1) = 2.120 ; p = .149, ηp2 = .021; estado de humor:
F(2) = .359 ; p = .699, ηp2 = .004).
Também não se constataram diferenças entre os participantes em função das condições expe-
rimentais a que pertenciam (afeto negativo: F(1) = .003 ; p = .959, ηp2 = .000; estado de humor: F(1)
= .275 ; p = .601, ηp2 = .003).
A tarefa experimental não parece ter tido efeito no humor dos participantes (afeto negativo:
F(1) = 3.053 ; p = .084, ηp2 = .030; estado de humor: (F(1) = .522; p = .472, ηp2 = .005).
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
Discussão
Esta investigação visou a indução experimental de experiências NJR numa amostra não clí-
nica através da realização de uma tarefa de memória de palavras, partindo de um estudo reali-
zado por Fornés-Romero e Belloch (2017).
Os participantes foram distribuídos de modo aleatório por duas condições experimentais: o
grupo experimental, cujos participantes foram impedidos de completar a tarefa devido a uma
indicão de que o tempo teria acabado; e o grupo de controlo, cujos participantes puderam com-
pletá-la com todo o tempo necessário.
Era nossa expetativa conseguir induzir sentimentos de incompletude e experiências NJR
através da manipulação da tarefa experimental. Para estabelecermos esse êxito, obrigatoria-
mente dois pametros teriam de ser cumpridos: a existência de diferenças na pontuação dos
itens compostos após a indicação de fim da tarefa e a ausência de diferenças na pontuação dos
itens compostos durante a tarefa, entre as condições experimentais.
Pretendemos também analisar a frequência e intensidade desses fenómenos, bem como as
suas consequências em termos de comportamentos e emoções.
Primeiramente, verificámos a equivalência das condições experimentais no que concerne
às variáveis sociodemográficas, psicológicas e psicopatológicas analisadas na fase de baseline
(memória de trabalho, depressão, ansiedade, sintomas obsessivo-compulsivos, evitamento do
dano, incompletude, experncias NJR, afeto negativo e estado de humor).
Os resultados obtidos pela nossa investigação demonstraram que a indução experimental de
experiências NJR foi concretizada: as diferenças constatadas entre as condições experimentais
parecem dever-se à manipulação experimental, à semelhaa do que se verificou em estudos
anteriores com indivíduos não clínicos (Coles et al., 2005; Cougle et al., 2011, 2013; Fornés-Romero
& Belloch, 2017; Pietrefesa & Coles, 2009; Summers et al., 2014). Por conseguinte, os participantes
do grupo experimental experienciaram níveis superiores de desconforto sico, de impulsos e
necessidade de realizar uma ação repetidamente depois da indicação de fim da tarefa face aos
indivíduos do grupo de controlo. Estas consequências da indução experimental estão igualmente
em concordância com os resultados desses mesmos estudos prévios.
De notar também que os participantes do grupo experimental escolheram o impulso para
continuar a tarefa após a indicação do seu fim como a sensação mais desagradável e a mais
intensa (contrariamente aos participantes do grupo de controlo, que escolheram a incompletude/
experiências NJR durante a realização da tarefa), ainda que a sua severidade tenha sido redu-
zida visto tratar-se de uma amostra o clínica. Por essa mesma razão, a quantidade de sen-
sações reportadas pelos participantes foi igualmente baixa. O impulso para continuar a tarefa
após a indicação do seu fim foi também a sensação mais reportada pelos participantes do grupo
experimental. Estes resultados reforçam o sucesso da indução experimental de incompletude e
experiências NJR, já que estas provocam nos indivíduos uma forte necessidade ou impulso para
a ação, de modo a reduzir o seu desconforto e atingir um estado desejado de satisfação e de equi-
líbrio (Pietrefesa & Coles, 2009; Summerfeldt, 2004; Summerfeldt et al., 2014). Outro resultado
que confirma esse mesmo sucesso foi a perceção de melhor desempenho por parte dos partici-
pantes do grupo experimental se lhes tivesse sido dado mais tempo. Essa diferença na perceção
do desempenho, e num grau superior em comparação com os participantes do grupo de controlo,
parece assim dever-se à manipulação experimental.
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Por outro lado, outras hipóteses foram refutadas. A realização da tarefa experimental não
provocou alteração no humor e no afeto negativo dos participantes em função da condição expe-
rimental a que pertenciam e do momento da sua avaliação. As sensações desconfortáveis e as
emoções negativas delas derivadas parecem não ter chegado para impactar o estado de humor.
Estes resultados divergem dos resultados encontrados por outros estudos experimentais (Fornés-
-Romero & Belloch, 2017). Similarmente, não se constataram diferenças entre os grupos quanto às
emoções negativas associadas à sensação mais desagradável e à sensação mais intensa, e quanto
à dificuldade de supressão dessas mesmas sensações. Estes resultados relativos ao humor, emo-
ções negativas e dificuldade de supressão diferem dos resultados encontrados por Fornés-Ro-
mero e Belloch (2017). Parece-nos que o formato virtual do nosso estudo poderá ter levado a um
envolvimento e sentido de presença mais reduzidos por parte dos participantes e, por conse-
guinte, não ter tido uma influência significativa no seu humor, emoções e esfoos de supressão
face à sensação mais desagradável e à sensação mais intensa. Um outro fator que poderá ter con-
tribuído para estas diferenças nos resultados na nossa investigação foi a substituição do subteste
Memória de Dígitos pelo Teste dos Cubos de Corsi na avaliação da memória de trabalho para a
seleção dos participantes a integrar a nossa amostra.
Respeitante às limitações da nossa investigação, apontamos o seu formato online. Em con-
traste com o formato presencial, não permite que haja um controlo do investigador ao longo de
todas as fases do procedimento. A ausência do investigador pode levar a uma diminuição da
ateão e da concentração dos participantes, tal como uma participação mais pausada.o for-
nece informações não-verbais cuja análise poderia ser interessante e também prejudica o escla-
recimento de questões e feedback dos indivíduos quanto à sua participão. Teria sido mais van-
tajoso aplicar um instrumento que avaliasse a memória de trabalho ao nível visual e também
semântico, ao invés do uso do Teste dos Cubos de Corsi, de forma a se aproximar mais da natureza
dos estímulos apresentados na tarefa de indução (listas de palavras). O uso de medidas de autor-
relato o adaptadas para a população portuguesa pode ter tido alguma influência nos resulta-
dos encontrados.
Na nossa perspetiva, estudos futuros devem recorrer a medidas comportamentais para ana-
lisar o êxito da indução experimental de experiências NJR e também para explorar as suas carac-
terísticas e consequências emocionais e comportamentais. Sugerimos a análise da quantidade
e duração dos comportamentos realizados pelos participantes na realização da tarefa, com a
finalidade de reduzir o desconforto produzido pela incompletude/experiências NJR. Parece-nos
ser possível fazê-lo através da observação direta ou de meio tecnológico. Outra forma de avalia-
ção do sucesso da indução experimental sem o recurso ao autorrelato poderá ser a utilização de
técnicas de imagiologia cerebral (e.g.: ressonância magnética funcional) para medir a atividade
cerebral dos participantes durante a tarefa de indução. Existem mecanismos neurais que distin-
guem a incompletude do evitamento do dano, o que se reflete nas diferenças existentes entre
estes dois fatores motivacionais no desempenho de tarefas neuropsicológicas (Cameron, Sum-
merfeldt et al., 2019).
A investigação destes mecanismos motivacionais possui uma grande importância, visto
serem mecanismos ainda recentes na literatura científica e estarem associados ao desenvolvi-
mento de perturbações psicológicas que causam bastante sofrimento e afetam a qualidade de
vida das pessoas. Deve haver uma continuidade do estudo sobre estes fenómenos através de tare-
fas in vivo. Um maior conhecimento sobre estes mecanismos transdiagnósticos pode conduzir a
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Indução Experimental De Experiências “Not Just Right
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ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE A INCOMPLETUDE E A INDUÇÃO
DEEXPERIÊNCIAS “NOT JUST RIGHT
STUDY OF THE RELATIONSHIP BETWEEN INCOMPLETENESS
ANDTHEINDUCTION OF EXPERIENCES NOT JUST RIGHT
Ferrão, P.1, Ros, A2, & Carmo, C.3
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 1
1ST JANUARY JANEIRO  30TH JUNE JUNHO 2021 PP. 5273
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT.2
Submited on 18.04.21 Submetido a 18.04.21
Accept on 12.06.21 Aceite a 12.06.21
Resumo
Esta investigação teve como objetivo principal estudar a relação entre os sentimentos de
incompletude (INC) e a indução de experiências Not Just Right (NJR) numa amostra não-clínica
(N = 74). Os participantes preencheram um protocolo para avaliar sintomas Obsessivo-Compul-
sivos e experiências NJR, sintomas Depressivos. de Ansiedade e de Stresse, de modo a excluir
indivíduos com psicopatologia. Foram avaliados os níveis de Perfeccionismo com o propósito de
averiguar se este traço de personalidade influencia as experiências NJR. Seguidamente, foi apli-
cado um pré-teste, onde classificavam o nível de desconforto, tensão/mal-estar e sentimentos de
INC sentidos antes da experiência. Posteriormente, foram expostos a uma tarefa tátil onde era
induzida uma experiência NJR. Finalmente completavam um pós-teste classificando as variáveis
medidas no pré-teste após a experiência.
Verificou-se uma associação positiva significativa, embora fraca, entre os sintomas Obses-
sivo-Compulsivos, o Perfecionismo, os sentimentos de INC e as sensações NJR e valores médios
mais elevados nas subescalas de Perfecionismo Padrões Pessoais (PP) e Organização (O). Na
escala de sintomas traço Obsessivos-Compulsivos (OC-TCDQ), a dimensão INC foi a que apresen-
tou valores médios mais elevados.
Observou-se um aumento do Desconforto, da Tensão e da INC após a tarefa. Verificou-se que
as sensações NJR são frequentes na população não-clínica e que podem ser induzidas experi-
mentalmente.
Em suma, os resultados sugerem que o sentimento de INC é um traço subjacente às sensações
NJR. Parece pertinente alargar o estudo do INC e do NJR a outro tipo de tarefas sensoriais.
1 Universidade do Algarve. Faro, Portugal. Email: patricianogueiraferrao@gmail.com
2 Centro de Investigação em Psicologia (CIP-UAL), Universidade do Algarve. Faro, Portugal. Email: aros@ualg.pt
3 Centro de Investigação em Psicologia (CIP-UAL), Universidade do Algarve. Faro, Portugal. Email: cgcarmo@ualg.pt
Autor para Correspondência: Patrícia Nogueira Ferrão, Universidade do Algarve (Portugal); Campus de Gambelas, 8005-139
Faro, Portugal, email: patricianogueiraferrao@gmail.com
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
Palavras-chave: perturbação obsessivo-compulsiva, incompletude, experiências notjustright; tarefas
in vivo, experiências sensoriais
Abstract
This investigation aimed to study the relationship between feelings of incompleteness (INC)
and the induction of Not Just Right (NJR) experiences in a non-clinical sample (N = 74). A protocol
was applied to the participants to assess Obsessive-Compulsive symptoms and NJR experiences,
Depressive Anxiety and Stress symptoms, in order to rule out clinical psychopathology. Per-
fectionism was also assessed in order to explore whether this trait influences NJR experiences.
Then, a pre-test was applied, where they classified the level of discomfort, tension / malaise
and feelings of INC felt before the experience. Subsequently, they were exposed to a tactile task
where an NJR experience was induced. Finally, they completed a post-test by classifying the
experience as variables measured in the pre-test.
There was a decreased positive association, although weak, between Obsessive-Compulsive
symptoms, Perfectionism, feelings of INC and NJR sensations and higher mean values in the Per-
sonal Standards (PP) and Organization (O) subscales. On the Obsessive-Compulsive trait symp-
tom scale (OC-TCDQ), an INC dimension was the one with the highest mean values.
Watch for an increase in Discomfort, Tension and INC after the task. It was found that NJR
sensations are frequent in the non-clinical population and that they can be induced experimen-
tally.
In short, the results obtained that the feeling of INC is an underlying trait to the NJR sensa-
tions. It seems pertinent to the study of the INC and NJR to the other types of sensory tasks.
Keywords: obsessive-compulsive disorder, incompleteness, not just right experiments, in vivo tasks,
sensory experiences
Introdução
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) atinge atualmente um grande número de pes-
soas. A última versão do Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5) (Associação
Americana de Psiquiatria [APA], 2013), indicou uma prevalência da POC na população mundial
entre o 1,1 a 1,8% no período de 12 meses. A POC foi classificada pela Organização Mundial da
Saúde (2000) em segundo lugar, como causa de suicídios, na lista Perturbações de Ansiedade
(Marques, 2015).Em Portugal é a terceira perturbação psiquiátrica mais frequente representando
cerca de 4,4% da população analisada no Estudo Epidemiológico realizado pela Faculdade de
Ciências Médicas de Lisboa (Cardoso, 2013).
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5; APA,
2013) esta perturbação caracteriza-se pela presença de obseses, definidas como pensamen-
tos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, que são experimentadas de forma intrusiva
e indesejada. Na maioria dos indivíduos pode causar um acentuado nível de ansiedade ou de
sofrimento. Os indivíduos tentam ignorar ou suprimir estes pensamentos, impulsos ou imagens
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ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões definem-se por com-
portamentos ou atos mentais que surgem de modo repetitivo (e.g., lavagem de mãos, verificação,
limpeza, ou atos mentais como rezar, contar, repetir palavras em silêncio) e podem interferir,
significativamente, com as atividades diárias de uma pessoa e as suas interações sociais. Perante
estas obseses, os indivíduos desenvolvem variadas compules com a finalidade de prevenir
ou reduzir a ansiedade e o sofrimento ou evitar um evento ou situação temida, sendo realizadas
de forma excessiva (APA, 2013).
Indivíduos com POC parecem manifestar uma menor qualidade de vida física, psicológica
e social (Vasudev et al., 2015), apresentando frequentemente comorbilidade com sintomatologia
depressiva, ansiogénica e stresse (Hou et al., 2010). Num estudo mais recente de Bellocq et al.,
(2016), observaram que existem associações entre as experiências NJR e traços perfeccionistas
quer numa amostra não clínica quer numa amostra clínica de doentes com POC.
Existem vários modelos explicativos que procuram estudar a POC. O Modelo Cibernético da
POC proposto por Pitman (1987) descreve o indivíduo como portador de um termostato, no qual
são comparados internamente sinais percetuais e referenciais. Segundo esta teoria, os pacientes
com POC apresentariam uma falha neste termostato, manifestando constantemente sinais de
erro, sensações que o indivíduo tenta acalmar com os comportamentos ritualizados (Avila, 2008).
A abordagem cognitiva sugere que indivíduos com POC tendem a avaliar os seus pensamen-
tos de acordo com um sentido acrescido de responsabilidade pessoal (Salkovskis et al., 2000).Por
exemplo, ter um pensamento indesejado para prejudicar o outro pode ser avaliado como o resul-
tado de um desejo ou uma responsabilidade pessoal para corrigir este problema ou evitar a situa-
ção temida.
Os modelos Cognitivo-Comportamentais de POC, propõem que as crenças, independente-
mente da ameaça percebida, dão origem a compulsões destinadas à redução ou prevenção de
dano (Pietrefesa & Coles, 2009; Salkovskis, 1999;Salkovskis et al., 2000). Outras perspetivas com-
portamentais propõem a aprendizagem e o condicionamento como bases da POC (Sica et al.,
2012) ou como explicado por Rachman (2014), que as obsessões são recorrentes nos indivíduos
pela interpretação errada do significado das intrusões, fazendo que seja perpetuado o desenvol-
vimento e manutenção da perturbação Obsessivo-compulsiva. Clark e Inozu (2014), referem a
existência de um contínuo entre as intrusões indesejadas de tipo obsessivo e as obsessões clíni-
cas, que caraterizam a perturbação obsessivo-compulsiva.
Vários investigadores consideram existir a possibilidade da POC se tratar de uma doença
heterogénea, uma vez que apresenta diferentes manifestações com diversas etiologias (Miguel
et al., 2008). Em relação à etiologia, alguns autores consideram os sentimentos de fuga, o evita-
mento do nojo e a culpa como sendo impulsionadores da POC (Cougle et.al., 2007;Ecker, 2008;
McKay,2006; 2007; Olatunji et al.,2007; Shafran et al., 1996). Existem autores que relacionam a
POC com sentimentos de contaminação, nomeadamente, cognões de nojo e imoralidade (Cau-
ghtery et al., 2012; Ecker & Gonner 2008; Reuven et al., 2013). Aqueles autores acreditam, também
que a POC tem uma base motivacional, que promove comportamentos de simetria e de ordena-
ção, preditores de sentimentos de INC.
Na necessidade de encontrar a etiologia subjacente para algumas manifestações da POC
autores que consideram a dimensão Evitamento de dano (ED) relevante para explicar os sintomas
POC. Esta dimensão foi definida por Ecker e Gonner (2008), Summerfeldt (2004) e Summerfeldt et
al., (2004) como sendo uma apreensão ansiosa e um evitamento exagerado de um possível dano.
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
Taylor et al., (2013) definem o ED como uma dimensão que inclui crenças disfuncionais de ameaça
como por exemplo, pensamentos de ameaça intrusivos e indesejados, intolerância à incerteza e
responsabilidade exagerada por antecipação e prevenção de danos. A importância do ED como
fator motivacional para os sintomas POC é descrita no DSM-5 (APA, 2013). No entanto, não é
suficiente para explicar estes sintomas, que elevados níveis de ED estão associados a muitas
perturbações clínicas (incluindo perturbações de ansiedade e de humor e traços de perturbações
personalidade borderline). Como o ED es associado a muitas perturbações cnicas, torna-se,
por isso, insuficiente para explicar o porquê de as pessoas desenvolverem sintomas POC em vez
de outra perturbação.
Porém se o ED por si não explica o desenvolvimento de sintomas POC, alguns autores con-
sideram que o ED em combinação com a INC, podem estar presentes na maioria das manifesta-
ções da POC e ambas são consideradas dimensões fundamentais motivacionais da POC (Belloqc
et al., 2016; Ecker, 2008; Pietrafesa & Coles 2009; Summerfeldt et al., 2004; Taylor et al., 2013). O
conceito de INC foi considerado como uma dimensão subjacente da POC, que surgiu pela pri-
meira vez em 1903. Pierre Janet descreveu o constructo de INC no seu livro Lesobsessionset la
psychasthénie” definindo-o como uma sensação alargada de INC que engloba uma variedade de
experiências, que incluem a consciência de si próprio, pensamentos, emoções, ações e experiên-
cias relacionadas com o ambiente (Pitman, 1984). Alguns autores (Miguel et al., 2000) referem que
os sentimentos de INC são reflexo da necessidade que o indivíduo sente que as coisas estejam
certas”. Summerfeldt et al., (2001), consideraram a INC como uma desregulação sensório-afetiva
sica, subjacente ao fenómeno obsessivo compulsivo tanto clínico como não clínico. Summer-
feldt et al., (2004) sustentam que a INC é uma sensação perturbadora e irremediável de que as
ões ou experiências não são “corretas. Mais recentemente, Taylor et al., (2013), definem a INC
como a sensação ou sentimento de que as ações, intenções ou experiências não foram devida-
mente alcaadas.
Summerfeldt et al., (2004) distinguiram duas variantes em relação aos sentimentos de INC,
um sentimento mais alargado de INC e outro mais restrito, denominado por sensações ou expe-
riências NJR, ou fenómenos sensoriais. Um novo conceito surge assim para os investigadores, as
experiências NJR, definidas como sensações corporais, desejos mentais e sensações de tensão
interna.
Coles et al., (2005) diferenciam os conceitos de INC e experiências NJR.Os autores consideram
a INC como uma disposição relativamente estável, como um traço, que prediz diferenças indivi-
duais e as experiências NJR como um estado desencadeado por momentos pontuais, na forma de
fenómenos sensoriais.Ferrão et al., (2011) observaram que as experiências NJR são um fenómeno
comum em pacientes POC, que 65% da amostra clínica estudada relatou ter tido experiências
NJR e também um número substancial de compulsões que não eram precedidas por obsessões,
mas sim por estas experiências subjetivas NJR. Cougle et al. (2011), descrevem as experiências
NJR como sendo preditoras das compulsões que são realizadas para reduzir sentimentos de INC.
As experiências NJR têm sido avaliadas através de medidas de autorrelato (Leckman et al.,
1994). Alguns autores consideraram necessário a realização de estudos comportamentais para
induzir as experiências NJR, de forma a compreender melhor esta dimensão. Neste âmbito, os
fenómenos sensoriais NJR são avaliados através de tarefas in vivo, em ambientes controlados
(Coleset al., 2005; Cougle et al., 2011;Fitch & Cougle,2013; Summers et al., 2014).
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Summers et al., (2014), induziram as experiências NJR in vivo em quatro experiências sen-
soriais: (a) mesa desordenada (NJR visual); (b) vestir assimetricamente um casaco (NJR tátil); (c)
limpar uma parte da mão não dominante com a mão limpa (NJR tátil); (d) ouvir um excerto de
música fora de sintonia (NJR auditiva). Os autores, observaram uma relação entre as experiências
NJR, o desconforto gerado e a necessidade de contrariar os estímulos. Corroborando resultados
anteriores, Lee et al., (2009) e Summerfeldt (2004) concluíram que as experiências NJR surgem na
sintomatologia da POC como fenómenos sensoriais.
O presente estudo é baseado na linha de investigação de Summers et al., (2014). Pretende-se
compreender, através de uma tarefa tátil, de que forma a indução de experiências NJR se rela-
ciona com sentimentos de INC e de que forma se refletem nos comportamentos dos sujeitos.
A literatura sustenta a hipótese de que as experiências NJR atuam como sintoma de um traço
de INC mais alargado. Contudo, os estudos nesta área são escassos e contradirios. Neste âmbito,
pretendeu-se, no presente estudo, avaliar a relação entre a INC e as experiências NJR, de modo a
contribuir para um melhor conhecimento desta temática. Procurou-se induzir uma experiência
NJR, em indivíduos saudáveis, de forma a conseguir esclarecer como se relacionam as experiên-
cias sensoriais NJR e os sentimentos de INC.
Objetivos
Esta investigação teve como principal objetivo estudar a relação entre sentimentos de INC e
sensações NJR numa amostra não clínica.
Como objetivos específicos propusemo-nos (1) Induzir experiências NJR através de uma tarefa
tátil; (2) Avaliar os níveis de desconforto associados à indução de experiências NJR; (3) Avaliar
os níveis de tensão/mal-estar associados à indução de experiências NJR; (4) Analisar a relação
entre sentimentos de INC e as sensações NJR; (5) Averiguar se os sentimentos de INC predizem as
experiências NJR; (6) Explorar a existência de um efeito mediador da INC na relação entre o Per-
fecionismo, Depressão, Ansiedade, Stress, traços Obsessivo-Compulsivos e as experncias NJR.
Método
Participantes
A amostra inicial foi composta por 80 participantes. Tratou-se de uma amostra por conve-
niência da população geral, não clinica, com compreensão e domínio da língua portuguesa.
Da amostra inicial, 92.5% dos participantes declarou nunca ter sido diagnosticado com
doença mental por um profissional de saúde, 7.5% declarou que sim, mencionando, Depressão
(5%) e Perturbação Obsessiva Compulsiva (2.5%).
A grande maioria dos sujeitos referiu nunca ter realizado tratamento psicológico/psiquiá-
trico (82.5%), e apenas (12.5%) assinalou ter realizado tratamento há menos de cinco anos.
A presença de uma doença mental diagnosticada e a realização de tratamento psicológico/
psiqutrico menos de cinco anos foi considerado um fator de exclusão, assim, a amostra final
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
foi composta por 74 indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos (M = 37.74; DP
= 12.38), sendo a maioria do sexo feminino (66.2 %).
A maioria dos participantes era natural do Algarve (47.3%), 14.9%, era natural de Lisboa e
apenas 5.4% era natural do distrito de Coimbra e da região centro do país.
A grande maioria dos participantes era de nacionalidade portuguesa (90.5%).
No que concerne às habilitações literárias, 54.1% dos participantes completou o ensino supe-
rior, 32.9% terminaram o ensino secundário, 10.8%, concluíram o ensino básico e 1.4% tinham
terminado um curso tecnológico/profissional.
Quanto ao estado civil, verifica-se que 52.7% dos indivíduos são casados ou vivem em união
de facto, 37.8 % dos indivíduos são solteiros, 8.1% são divorciados e 1.4% são viúvos.
Na situação profissional a amostra compôs-se de 54% de trabalhadores, 12% de estudantes e
5% de desempregados.
Instrumentos
No âmbito deste trabalho foi utilizada, uma tradução e retroversão para a língua portuguesa
dos instrumentos que não possuem versões adaptadas para a nossa população. Fez-se primeiro
a tradução do documento para o idioma portugs e posteriormente a retroversão da versão tra-
duzida para o idioma original a fim de detetar incorreções interpretativas do idioma que even-
tualmente pudessem surgir.
Foram utilizados os seguintes instrumentos de medida:
Questionário de Dados Sociodemográficos
Os participantes responderam, num primeiro momento, a um questionário com informação
sociodemográfica e clínica, de modo a caracterizar demograficamente o grupo de participantes
(idade, sexo e escolaridade), e a recolher informação clínica como, por exemplo, Diagnóstico de
Saúde Mental, Tratamento Psicológico/Psiquiátrico ou Diagnóstico Familiar de Doença Mental.
Questionário Revisto de Experiências Not Just Right (NJRE-Q-R; Coles et al., 2003)
Foi utilizada uma tradução e retroversão deste instrumento para a língua portuguesa.
ONJRE-Q-R é uma medida de 19 itens que avalia experiências NJR no período de tempo corres-
pondente ao mês anterior (e.g. “Ao colocar um quadro na parede, tive a sensação que não ficava
completamente bem).
De forma a medir a gravidade, foi solicitado aos participantes para relatarem a frequência,
a intensidade, a angústia, a ruminação, os sentimentos de INC e a responsabilidade associada à
experiência, numa escala de sete pontos, de 1 (nenhum) a 7 (extremo).
Os primeiros 10 itens que medem as sensações Not Just Right da amostra demostraram boa
consistência interna (α = .79); e para a totalidade dos 19 itens a escala tem demostrado boa con-
vergência e uma validade discriminante, correlações mais fortes com os sintomas da POC do que
com outros constructos da Ansiedade (e.g., Ansiedade-Traço, Ansiedade Social, Preocupação) ou
sintomas depressivos (Coles, Frost, Heimberg & Rhéaume, 2003; Coles et al., 2005).
No presente estudo, para os 10 primeiros itens, a escala apresentou uma boa consistência
interna (alfa de Cronbach) α = .80.
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Ferrão, P., Ros, A., & Carmo, C.
Questionário de Dimensões Núcleo Traço Obsessivo Compulsivo (OC-TCDQ; Summerfeldt et
al., 2001)
Para este estudo, foi utilizada uma tradução e retroversão para a língua portuguesa. O OC-T-
CDQ é um questiorio de 20 itens que avalia sentimentos de INC e o Evitamento de dano (ED).
A subescala inclui itens sobre sentimentos de INCcomo: “Se não faço as coisas de uma determi-
nada forma não me sinto bem” Asubescala Evitamento de dano inclui perguntascomo: “Embora
seja muito improvável que me aconteça algo que possa provocar danos, sinto necessidade de
preveni-lo a qualquer custo.
Cada item é classificado numa escala de cinco pontos, de 1 (nunca se aplica a mim) a 5 (apli-
ca-se sempre a mim). Os fatores OC-CDQ demonstraram boa consistência interna. Ambos com
populações clínicas (INCα= 0.92; Evitamento de danoα= .91) e não-clínicas (INC α= .88;Evita-
mento de danoα= .89), (Summers et al.,2014).
A análise da fidelidade da escala, para este estudo, demonstrou uma excelente consistência
interna (coeficiente de alfa de Cronbach Escala Total α = .90; INCα = .82; Evitamento de dano
α=.84).
Invenrio Obsessivo Compulsivo – Revisto (OCI-R; Foa et al., 2002)
Foi feita para este estudo, uma tradução e retroversão deste instrumento, para a língua por-
tuguesa. O OCI-R é constituído por 18 itens que avaliam a presença de seis grupos de sintomas
primários de POC (e.g., verificação, lavagem, ordenação, acumulação, obsessão, neutralização).
Cada grupo é composto por três itens (e.g. de ordem:“Fico chateado/a se os objetos não estão
dispostos corretamente” ou verificação: “Verifico as coisas com mais frequência do que o neces-
sário”); e os entrevistados são solicitados a indicar numa escala de quatro pontos, 1 (nada) a 4
(extremadamente), quanto ao que cada experiência os angustiou no mês passado.
O OCI-R demonstrou boa consistência interna numa amostra clínica (α = .83), convergente e
uma validade discriminante (Summers et al., 2014).
Para o nosso estudo o OCIR-R demostrou uma boa consistência interna (alfa de Cronbach,
α=.88).
Escala Multidimensional de Perfecionismo Frost (MPS-F; Frost et al., 1990)
A Escala Multidimensional de Perfecionismo, é uma versão portuguesa de Carmo, Brás,
Batista e Faísca, (2017). Cada item é classificado numa escala de cinco pontos, que varia de 1 (dis-
cordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Os 35 itens agrupam-se em seis subescalas: Padrões
Pessoais (PP), (e.g., “É muito importante para mim ser muito competente em tudo o que faço”);
Dúvidas sobre as Ações (DA), (e.g., “Habitualmente tenho vidas acerca das coisas simples que
faço no dia-a-dia”); Preocupação com os Erros (PE), (e.g., “Se falhar no meu trabalho/escola, falho
enquanto pessoa”); Expetativas Parentais (EP), (e.g., “Os meus pais estabeleceram padrões muito
elevados para mim); Críticas Parentais (CP), (e.g., “Quando era criança era punido quando não
fazia as coisas de forma perfeita”); e por último, a dimensão Organização (O), (e.g., “A organiza-
ção é muito importante para mim”).
No estudo original, a pontuação total da escala, assim como as diferentes subescalas demons-
traram uma adequada consistência interna: pontuão total de α = .90. Sendo a pontuação para
as diferentes subescalas de (PP) α = .83; (PE) α = .88; (DA) α = .77; (EP) α = .84; (CP) α = .84 e (O) α
= .93. (Frost et al., 1990).
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
Para este estudo a pontuação total da escala, tal como as subescalas demonstraram uma boa
consistência interna, MPF-F total de α = .90. Sendo a pontuação para as diferentes subescalas de
(PP) α = .80; (PE) α = .81; (DA) α = .56; (EP) α = .77; (CP) α = .71 e (O) α = .90.
Escala de Depressão, Ansiedade e Stresse – Versão 21 Itens – (DASS-21; Henry & Crawford,
2005)
O DASS-21 versão portuguesa Pais-Ribeiro et al., (2004) é uma versão resumida do original
de 42-itens de DASS (Lovibond & Lovibond, 1995). Os participantes avaliam quanto cada um
dos itens se aplicou a eles durante a última semana, numa escala de três pontos, que varia de 0
(nunca) a 3 (quase sempre), sendo que a maior pontuação em cada subescala corresponde a maior
frequência de cada um dos sintomas.
Os itens agrupam-se em três subescalas, com sete itens cada: depressão, (e.g., “Não consegui
sentir nenhum sentimento positivo”); stresse, (e.g., “Dei por mim a ficar agitado”); e ansiedade,
(e.g., “Senti dificuldades em respirar”).
O DASS-21 tem demonstrado boa consistência interna nas subescalas para a Depressão (α
= .85) e para o Stresse (α = .81) e uma consistência inaceitável para a Ansiedade (α = .47) (Pais-
-Ribeiro et al., 2004). Na validação da escala feita por Vasconcelos-Raposo et al., (2013) para a
população portuguesa a escala demostrou excelente consistência interna para as três subescalas,
Depressão (α = .84), Ansiedade (α = .80) e Stresse (α = .83).
A análise da fidelidade da DASS-21 permitiu ainda averiguar que os valores de consistên-
cia interna (alfa de Cronbach) são elevados e semelhantes ao estudo da adaptação portuguesa,
nomeadamente, DASS-21 total (18 itens, α = .94), Depressão (7 itens, α = .90), Ansiedade (7 itens, α
= .81), Stresse (7 itens, α = .87).
Questionário Pré e Pós-Teste
Numa escala de intervalo de 0 a 100, procuraram-se medir as variáveis Desconforto; Tensão;
sentimentos de INC e sensação de Limpeza, antes e depois da manipulação experimental, (e.g.
“Em que medida se sente em este momento desconfortável/tenso/incompleto?, “Em que medida
se sente limpo neste momento?) sendo que no Pós-teste adicionou-se uma pergunta para medir
a variável Endireitar (a bata) (e.g. “Como classifica a sua vontade de Endireitar a bata?”).
Entrevista Final
Na entrevista final, utilizou-se uma escala intervalar de 0 a 100 para medir as variáveis, Cla-
reza das Instruções (e.g. As instruções que me foram dadas foram claras”). Também procurou-se
obter um feedback em relação as variáveis Desconforto; Agitão; Ansiedade; Sujidade (e.g. “Ves-
tir a bata fez-me sentir desconfortável/agitado/ansioso/sujo”); Vontade de despir (e.g.Enquanto
estive com a bata vestida senti vontade da despir”); Mal-estar (e.g. O facto da bata não ser minha,
fez-me confusão e causou-me mal-estar) e Atenção aos comportamentos futuros (e.g. Depois de
ter participado nesta investigação sinto-me mais atento aos meus comportamentos”).
Procedimento de Recolha de Dados
Foi entregue a cada participante um consentimento informado e um protocolo que inclui um
questionário de caracterizão sociodemográfica e psicopatológica. Posteriormente à recolha
destas informações seguiu-se um conjunto de provas com o objetivo de caracterizar a amostra
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Ferrão, P., Ros, A., & Carmo, C.
quando a sintomas psicopatológicos. Antes de realizar a tarefa tátil, foi pedido aos participantes
que preenchessem um questionário Pré-teste para avaliar o estado emocional prévio à realização
da tarefa.
Foi escolhida uma tarefatil (vestir uma bata de forma assimétrica e arregar uma manga
até ao cotovelo) considerando que: (1) é uma tarefa fácil de ser implementada em termos de logís-
tica (a bata é fácil de adquirir e de transportar); (2) a indução através da tarefa tátil geraria expe-
riências de desconforto mais evidentes e objetivas de serem identificadas (promove uma sensa-
ção física no indivíduo), ao contrio da modalidade visual ou auditiva, onde provavelmente os
resultados seriam mais subjetivos, e por fim; (3) a bata sendo um elemento de vestuário que está
em contacto direto com o corpo considerou-se que poderia despoletar maiores níveis de descon-
forto.
Posteriormente à realização da tarefa, foi-lhes solicitado que respondessem a um questioná-
rio Pós-teste e a uma Entrevista Final acerca das emoções experimentadas e dos seus comporta-
mentos durante a experiência.
A recolha de dados foi realizada em rios momentos que serão apresentados de forma
esquemática na Tabela 1.
TABELA1
Representação gráfica do procedimento de recolha de dados
Grupo Experimental
(N = 74)
Consentimento
Informado
Aplicação do
Protocolo de
Resposta:
Questionário de
dados
sociodemográcos,
NJRE-Q-R;
DASS-21; MPS-F; OC-
TCDQ; OCIR
Questionário Pré-teste
Manipulação
Experimental:
Indução de sensações
NJR Tarefa tátil (vestir
uma bata de forma
assimétrica e arregaçar
uma manga até o
cotovelo. Ficar 10
segundos com a bata e
retirá-la).
Questionário Pós-teste
Entrevista
Final
Nota. N = Número de participantes; NJRE-Q-R = Not Just Right Experiences-Questionnaire-Revised; EADS = Depression Anxiety Stress Scales-21;
MPS-F = Frost Multidimensional Perfectionism Scale ; OC-TCDQ = Obsessive-Compulsive Core Dimensions Questionnaire; OCIR = Obsessive-Compul-
sive Inventory-Revised; NJR=Not Just Right.
No consentimento informado, os indivíduos foram informados de que a sua participação é
totalmente voluntária, as suas respostas são confidenciais e que não existem respostas corretas
ou erradas.
Posteriormente foi solicitado o preenchimento do protocolo de resposta. Foram elaboradas
três versões do protocolo de resposta com o objetivo de reduzir efeitos de ordem.
O protocolo estava constituído por uma ficha de dados sociodemográficos e diferentes ins-
trumentos para avaliar a sintomatologia clínica. O preenchimento foi realizado na presença dos
entrevistadores. Segundo a disponibilidade de cada participante, foi aplicado individualmente
ou em grupo, num espaço disponibilizado para tal efeito. O tempo médio do preenchimento do
protocolo na sua totalidade oscilou entre os 30 e os 45 minutos.
A etapa da manipulação experimental foi realizada sempre de forma individual. Os entrevis-
tadores deram aos participantes a seguinte instrução:
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
“O passo que se segue será a realização de uma experiência e, em primeiro lugar, quero
que imagine uma escala de 0 a 100, onde o 0 equivale a nenhume 100 extremada-
mentee diga-me se neste momento está a sentir-se desconfortável, tenso ou incompleto”.
Os participantes foram induzidos em experiências NJR para provocar sentimentos de des-
conforto na modalidade sensorial tátil onde foi aplicada uma escala de 0 a 100 para classificar o
nível de desconforto antes (Pré-teste) e depois (Pós-teste) da experiência.
Os participantes vestiram uma bata de dimensões adequadas ao seu tamanho e tiveram de
a apertar de forma assimétrica. Foi pedido para que enrolassem uma manga até ao cotovelo e
ficarem com a bata vestida por 10 segundos. Após esse tempo (10s), os participantes mantiveram
a bata vestida e foi pedido para classificarem o desconforto atual e a vontade de a endireitar.
Depois dos participantes completarem as avaliações pós-teste, foram autorizados a retirar a bata
(que foi colocada fora do alcance da vista).
Seguidamente à manipulação experimental, foi aplicado um questionário Pós-teste:
“Novamente numa escala de 0 a 100 onde o 0 equivale a nenhume 100 extremada-
mentee diga-me como classifica a sua vontade de endireitar a bata e se está a sentir-se
desconfortável, tenso ou incompleto”.
Por fim, procedeu-se à aplicação da entrevista final.
Procedimento de Análise de Dados
Os resultados foram analisados através do programa Statistical Package for the Social Scien-
ces, (SPSS), versão 22.0 para Windows.
Para a caracterização sociodemogfica da amostra procedeu-se à alise de tabelas de fre-
quências com mero de casos (n) e percentagens relativas a esses casos (%), Média (M) e Des-
vio Padrão (DP). Relativamente à estatística inferencial, utilizou-se a correlação de Pearson para
verificar relações lineares entre as variáveis, considerando-se os seguintes valores de referên-
cia: correlação fraca quando os valores se situam entre -0.3 e -0.1 ou 0.1 e 0.3; moderada para
valores entre -0.5 e -0.3 ou 0.3 e 0.5; e forte quando os valores estão entre -1.0 e 0.5 ou 0.5 e 1.0
(Cohen,1992).
A comparão entre grupos foi realizada com recurso ao teste não paramétrico Mann Whit-
ney, uma vez que um dos grupos, o masculino, não cumpria um dos critérios para assumir a nor-
malidade da amostra (n > 30). Para comparar os dois momentos de teste foi utilizado o testeo
paramétrico de Wilcoxon para testar grupos com menos de 30 sujeitos e o Teste t para amostras
emparelhadas para os grupos com mais de 30 sujeitos.
Foi ponderado um nível de significância de .05 (Stigler, 2008). Para além da significância, nos
testes de hipóteses, realizou-se o d de Cohen para avaliar o tamanho do efeito. Considerou-se o
tamanho do efeito insignificante quando < .19, pequeno para valores entre .2 e .49, médio para
valores entre .5 e .79 e grande para valores superiores a .8 (Cohen, 1992).
Para analisar o valor preditivo das variáveis utilizou-se uma Regressão Linear Múltipla.
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Resultados
Análises descritivas das variáveis em estudo
Na Tabela 2, encontramos análise das diferenças de médias e magnitude de efeito, nas Dimen-
sões de sintomas Depressivos, Ansiedade e Stresse.
É possível observar, na amostra total, um valor médio mais baixo na dimensão Ansiedade
(M= 0.38; DP= 0.44) e um valor médio mais elevado na dimensão Stresse (M= 0.84; DP= 0.60)
numa escala que varia entre 0 e 3 pontos.
TABELA2
Média, Desvio-padrão e Diferença entre sexos nas Dimensões de sintomas Depressivos, Ansiedade e Stresse
Amostra Total
(N = 74)
Sexo Masculino
(N = 25)
Sexo Feminino
(N = 49)
Média (DP)d de Cohen U p
DASS-21
Depressão 0.44 (0.53) 0.37 (0.35) 0.48(0.61) -0.22 603 .917
Ansiedade 0.38 (0.44) 0.41 (0.39) 0.37(0.46) 0.09 546 .439
Stresse 0.84 (0.60) 0.86 (0.63) 0.82(0.59) 0.07 589 .787
DASS-21 Total 0.55 (0.52) 0.55 (0.38) 0.56 (0.50) -0.02 571 .639
Nota. M = Média; DP = Desvio-padrão; d = d de Cohen; U= Teste de Mann Whitney; DASS-21 = Depression Anxiety Stress Scales-21 Item Version.
* p < .05
Utilizou-se o Teste Mann Whitney para avaliar diferenças entre neros, sendo que não se
registaram diferenças significativas nos níveis de Stresse, Ansiedade e Depressão (Tabela 2).
Na Tabela 3 encontramos a análise das diferenças de médias entre sexos e magnitude de
efeito, da variável Perfecionismo.
TABELA3
Média, Desvio-padrão e Diferenças entre Sexos nas Dimensões do Perfecionismo
Amostra Total
(N = 74)
Sexo Masculino
(N = 25)
Sexo Feminino
(N = 49)
Subescalas Média (DP)d de Cohen U p
MPS-F
Padrões Pessoais (PP) 2.98 (0.72) 3.00 (0.70) 2.97 (0.74) 0.04 589 .788
Dúvidas sobre as Ações (DA) 2.24 (0.60) 2.21 (0.63) 2.26 (0.59) -0.08 577 .680
Preocupação com Erros (PE) 2.38 (0.65) 2.51 (0.65) 2.31 (0.64) 0.31 472 .107
Expectativas Parentais (EP) 2.33 (0.78) 2.38 (0.89) 2.30 (0.72) 0.10 587 .774
Críticas Parentais (CP) 2.08 (0.73) 2.01 (0.67) 2.12 (0.77) -0.15 558 .533
Organização (O) 3.65 (0.77) 3.57 (0.85) 3.70 (0.73) -0.16 538 .392
MPS-F Total: 2.44 (0.52) 2.49 (0.54) 2.42 (0.52) 0.13 579 .702
Nota. M = Média; DP = Desvio-padrão; U= Teste de Mann Whitney; MPS-F = Escala Multidimensional de Perfecionismo de Frost et. al.,(1990); PP =
Padrões Pessoais; DA = Dúvidas sobre as Ações; PE= Preocupação com os Erros; EP = Expectativas Parentais; CP = Críticas Parentais; O = Organizão.
* p < .05
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
Em relação ao total da amostra, as dimensões de Perfecionismo que apresentaram valores
médios mais elevados foram: Padrões Pessoais (PP) (M = 2.98; DP = 0.72) e Organização (O), (M =
3.65; DP = 0.77) numa escala que varia entre 1 e 6 pontos.
Utilizou-se o Teste Mann Whitney para avaliar diferenças entre sexos, a análise mostrou que
não se registam diferenças significativas para nenhumas das dimensões do Perfecionismo.
Na Tabela 4 observamos a análise das diferenças de médias e magnitude de efeito, dos sinto-
mas Obsessivo-compulsivos; sentimentos de INC e Evitamento de dano (ED).
TABELA4
Média, Desvio-padrão e Diferença entre sexos nas dimensões dos sintomas Obsessivo-compulsivos
Amostra Total
(N= 74)
Sexo Masculino
(N = 25)
Sexo Feminino
(N = 49)
Média (DP)d de Cohen U p
OCIR-R
POC 0.83 (0.56) 0.83 (0.53) 0.83 (0.58) 0 600 .891
OC-TCDQ
INC 2.70 (0.74) 2.67 (0.60) 2.71 (0.80) -0.06 610 .982
ED 2.38 (0.74) 2.32 (0.65) 2.40 (0.79) -0.11 561 .556
OC-TCDQ Total 2.54 (0.70) 2.50 (0.58) 2.56 (0.76) -0.09 568 .611
NJRE-Q-R 2.35 (0.42) 2.41 (0.40) 2.32 (0.42) 0.22 544 .433
Nota. N = 74, M = M éd ia ; DP = De sv i o- pa dr ã o; U = Te s te de Mann Whitney ; O CIR- R = Obsessive-Compulsive Inventory-Revised; POC= Perturbação Obsessiva
Compulsiva; OC-TCDQ = Obsessive-Compulsive Trait Core Dimensions Questionnaire; NJRE-Q-R = Not Just Right Experiences-Questionnaire-Revised.
* p < .05
Podemos observar valores médios tendencialmente mais baixos na escala OCI-R que mede
os sintomas Obsessivos-Compulsivos (M = 0.83; DP = 0.56) numa escala que varia entre 0 e 3 pon-
tos. Também foram observados valores mais baixos na escala NJRE-Q-R que mede as sensações
NJR (M = 2.35; DP = 0.42), cujo score máximo são dez pontos.
Em relação ao total da amostra, na escala de sintomas traço Obsessivos-Compulsivos (OC-T-
CDQ), a dimensão INC é a que apresenta valores médios mais elevados (M = 2.70, DP = 0.74) e a
dimensão Evitação de dano a que apresenta valores médios mais baixos (M = 2.38, DP = 0.74),
ambas com um máximo possível de cinco pontos.
Para testar diferenças entre neros, utilizou-se o Teste Mann Whitney, sendo que não se
registaram diferenças significativas para nenhumas das variáveis.
Análise das diferenças entre Desconforto, Tensão, Incompletude e Limpeza, antes e depois da
manipulação experimental
Os indivíduos do grupo experimental consideraram as instruções dadas pelos investigado-
res, claras. Numa escala de 1 a 10 apresentaram um valor médio de 9.18 (DP = 1.221).
Foi realizada a análise referente às variáveis Desconforto, Tensão, INC e Limpeza, através do
Teste t de Student para amostras emparelhadas, antes e depois da experiência.
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TABELA5
Diferenças entre variáveis antes e depois da experiência Not Just Right
M antes (DP) M depois (DP)d de Cohen t p
Desconforto 2.48(2.86) 4.33(3.41) -0.58 -4.224 .000*
Tensão 2.30(2.61) 2.95(2.56) -0.25 -2.762 .007*
Incompletude 2.62(2.50) 3.31(2.81) -0.25 -2.247 .028*
Limpeza 5.85(3.50) 5.81(3.19) 0.01 0.130 .897
Nota. N = 74 M = Média; DP = Desvio-padrão; t = Teste t de Student para amostras emparelhadas.
* p < .05
Na Tabela 5 é possível observar diferenças significativas entre os dois momentos de avalia-
ção nas seguintes variáveis: Desconforto (t(73)= 4.224, p = .000), Tensão (t(73) = -2.762, p = .007) e
INC (t(73) = -2.247, p = .028). O Desconforto, a Tensão e os sentimentos de INC aumentam após a
experiência. De salientar a reduzida magnitude para as variáveis Tensão (d de Cohen = -0.251) e
INC (d de Cohen = -0.259) e magnitude média para o Desconforto (d de Cohen = -0.58). Os valores
da variável sensação de Limpeza não apresentaram diferenças significativas no momento antes
e depois da manipulação experimental. Verificou-se ainda que existem diferenças significativas
em algumas das variáveis (Desconforto, Tensão e INC) entre sexos antes e depois da experiência
exceto na variável Limpeza. As mulheres apresentam uma menor sensação de Limpeza depois
da experiência.
Em relação às diferenças de médias obtidas para cada um dos neros pré e pós-teste, no
caso dos homens, diferenças estatisticamente significativas no Desconforto (p = .001) e na INC
(p = .028). Sendo estas diferenças de uma magnitude forte (d de Cohen = -1.03) no caso do Des-
conforto e moderada no caso da INC (d de Cohen = -0.58). No caso das mulheres verificaram-se
diferenças estatisticamente significativas nas variáveis Desconforto (p = .013) e Tensão, tratan-
do-se no entanto, de uma magnitude moderada (d de Cohen = -0.43) e fraca respetivamente (d de
Cohen = -0.27).
De forma a verificar se as diferenças antes e depois eram constantes para sujeitos do género
feminino e masculino, realizou-se uma ANOVA de medidas repetidas, tendo em conta cada uma
das variáveis, Desconforto, Tensão, INC e Limpeza. Ao nível do Desconforto as diferenças antes
e depois são constantes entre géneros (p = .145), registando-se um aumento para ambos. Na Lim-
peza, homens e mulheres não diferem significativamente na ausência de diferenças nas medidas
obtidas pré e pós teste (p = .897). No que diz respeito à Tensão e a INC detetam-se diferenças sig-
nificativas no antes e depois entre géneros, uma vez que a tensão aumentou nas mulheres e não
nos homens (p = .007), e a INC nos homens e não nas mulheres (p = .028).
Análise da relação entre Desconforto, Tensão, Incompletude e Limpeza e Vontade de endireitar
a bata
A Tabela 6 mostra os valores da correlação de Pearson entre Desconforto, Tensão, INC, Lim-
peza e Vontade de endireitar a bata na condição pós-manipulação.
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
TABELA6
Relação entre a Endireitar e o Desconforto a Tensão; a Incompletude e a Limpeza no Pós-teste
Endireitar
r p
Desconforto .70 .000*
Tensão .50 .000*
Incompletude .43 .000*
Limpeza .26 .000*
Nota. r = Correlação de Pearson.
* p < .05
Observa-se uma relação positiva estatisticamente significativa da variável Endireitar com
todas as variáveis (Desconforto, Tensão, INC e Limpeza), sendo que o Desconforto apresenta uma
relação forte (r = .70; p = .000) enquanto as restantes uma relação moderada, nomeadamente
a Tensão (r = .50; p = .000) e a INC (r = .43; p = .000), e fraca no que respeita à Limpeza (r = .26;
p=.000).
Relação entre as variáveis traço (Obsessivo-Compulsivas, Perfecionismo, Depressão, Ansie-
dade e Stresse) e as sensações Not Just Right (NJR).
Na Tabela 7 são apresentados os valores de correlação entre as variáveis traço Obsessivo-
-Compulsivo e sensações NJR.
TABELA7
Relação entre variáveis traço Obsessivo-Compulsivas e sensações NJR
Sensações NJR
r p
OCI-R
POC .29 .011*
OC-TCDQ
Incompletude .27 .022*
Evitamento de dano .26 .023*
OC-TCDQ Total .24 .011*
Nota. r = Correlão de Pearson.
* p < .05
Observou-se uma relação significativa na dimensão Obsessivo-Compulsiva, mas com uma
relação fraca (r= .29; p = .011). Relativamente à escala OC-TCDQ, foi encontrada uma relação sig-
nificativa na escala total (r = .24; p = .011) e nas subescalas INC (r = .27; p = .022), e Evitamento de
dano (r = .26; p = .023).
Quanto as restantes variáveis foi possível verificar uma correlação positiva fraca embora
significativa, na escala total de Perfecionismo (r = .25; p = .035) e na dimensão Dúvida sobre as
Ações (r = .25; p = .034). Observou-se ainda uma relação positiva fraca e significativa nos sinto-
mas depressivos (r = .24; p = .041).
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Efeito da Incompletude e das variáveis traço (Obsessivo-Compulsivas; Perfecionismo;
Depressão, Ansiedade e Stresse) nas sensações NJR
Para averiguar se os sentimentos de INC consegue predizer as experiências NJR, foi realizada
uma regressão linear simples. Foi também efetuada uma regressão linear simples para investigar
a influência das variáveis traço (Obsessivo-Compulsivas; Perfecionismo; Depressão, Ansiedade
e Stresse) nas sensações NJR.
TABELA8
Contributo diferencial da Incompletude e das variáveis Obsessivo-Compulsivas; Perfecionismo; Depressão,
Ansiedade e Stresse nas sensações NJR
Sensações NJR(VD)
Preditor (VI)
Ajustado
F p Beta t p
OC-TCDQ
Incompletude .071 .058 5.501 .022* .266 2.345 .022*
Evitamento do Dano
.070 .057 5.406 .023* .264 2.325 .023*
OC-TCDQ Total .078 .066 6.117 .016* .280 2.473 .016*
OCI-R
POC .086 .073 6.755 .011 .293 2.599 .198
DASS-21
Depressão
Ansiedade
Stresse
.044
.038
.050
.030
.025
.037
3.286
2.856
3.766
.074
.095
.056
.209
.195
.223
1.813
1.690
1.941
.074
.095
.056
DASS-21 Total .057 .043 4.312 .041* .238 2.076 .041*
MPS-F
PP
DA
PE
EP
CP
O
.039
.061
.038
.016
.047
.002
.025
.048
.024
.002
.034
-.012
2.906
4.670
2.810
1.179
3.579
0.132
.093
.034*
.098
.281
.063
.717
.197
.247
.194
.127
.218
-.043
1.705
2.161
1.676
1.086
1.892
-.364
.093
.034*
.098
.281
.063
.717
MPS-F Total .060 .047 4.599 .035* .245 2.144 .035*
Nota. b = Co ef ic ie nt e d e re gr e ss ã o p ad ro ni z ad o; R2
= Co ef ic ie nt e d e de te r min ã o; VI= Variável independente; VD= Variável dependente; R²= R quadrado;
PP = P adr õe s Pe ss oa is ; DA = Dú vi das s ob re a s Açõ es ; PE= Pr eo cup ão c om o s Err o s; EP = E x pe ct a ti vas P ar en ta is; C P = Cr ít ic as P are nt ai s; O = O rga niz a çã o.
* p < .05
Na Tabela 8, a análise mostrou valores estatisticamente significativos nas variáveis INC, tra-
ços Obsessivo-Compulsivos, nomeadamente no Evitamento de dano (ED) e na escala total OC-T-
CDQ. O Perfecionismo apresentou-se significativo, especificamente na Dúvida sobre as Ações
(DA) e na escala Total MPS-F repetindo-se esta significância na escala total de Depressão, Ansie-
dade e Stresse em relação às sensações NJR.
A INC explica em 7.1 % a variância das experiências NJR, encontramos também que o ED
explica em 7 % a variância das experiências NJR.
Observaram-se diferenças estatisticamente significativas na escala total de Depressão,
Ansiedade e Stresse concluindo que os sintomas depressivos explicariam em 5.7% as sensações
NJR.
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
Também foram encontradas significâncias estatísticas na escala total de Perfecionismo e na
dimensão DA, explicando cada uma delas 5.3% e 6.1%, respetivamente, a variância das experiên-
cias NJR.
Influência das sensações NJR no Pré e Pós-teste
Foi feita uma regressão linear simples para verificar se as sensações NJR conseguem influen-
ciar o indivíduo antes (Pré-teste) e/ou depois (Pós-teste) da experiência. Não foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas entre os resultados.
Análise do efeito mediador da Incompletude na relação entre o Perfecionismo, Depressão,
Ansiedade e Stresse, traços Obsessivo-Compulsivos e as experiências NJR
Realizamos uma análise de mediação para averiguar se a relação entre os traços dePerfecio-
nismo,traçosObsessivo-Compulsivos, sintomas Depressivos, sintomas de Ansiedade eStressee
as sensações NJR eram mediadas pelos sentimentos de INC.
FIGURA1
Esquema Genérico do Modelo de Mediação da Incompletude entre o Perfeccionismo e as experiências NJR
FIGURA2
Esquema Genérico do Modelo de Mediação da Incompletude entre os traços Obsessivos-Compulsivos e as
experiências NJR
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As análises de mediação foram realizadas na amostra total. Os resultados podem observar-se
na Tabela 9.
TABELA9
Efeito do Perfeccionismo nas sensações NJR: Análise do Estatuto Mediador da Incompletude (N = 74)
Efeito em estudo Efeito total Efeito direto Efeito indiret Observações
MPS-DA ® NJR
(Incompletude) 0.247* 0.160 0.087 Não existe mediação (Teste Sobel
=1.45;
p= 0.146)
OCI-R ® NJR
(Incompletude) 0.293* 0.210 0.083 Não existe mediação (Teste Sobel
=1.12;
p= 0.262)
Depressão ® NJR
(Incompletude) *** *** ***
Ansiedade ® NJR
(Incompletude) *** *** ***
Stresse ® NJR
(Incompletude) *** *** ***
Nota. MPS-F = Escala Multidimensional de Perfecionismo de Frost et al.,(1990); DA = Dúvida sobre as Ações, etc, OCIR-R = Obsessive-Compul-
sive Inventory-Revised; NJR = Not Just Right.
* p < .05; *** Não apresenta relão
Podemos observar que a dimensão de perfeccionismoDúvidas sobre as Ações (DA) foi a
única que apresentou uma relação significativa com as sensações NJR. Concluímos que existe
uma relação direta entre os traços Perfeccionistas, na dimensão Dúvidas sobre as ões, e as
sensações NJR, uma vez que na análise de mediação (TesteSobel= 1.45;p= 0.146) verificamos que
não existe mediação dos sentimentos de INC, entre estas duas variáveis.
Foi ainda possível observar que,apesarde existir uma associaçãosignificativaentreos tra-
ços Obsessivos compulsivos, e as sensações NJR. Na análise de mediação, observou-se que não
existe interfencia da INC entre estas duas variáveis (TesteSobel= 1.12;p =0.262) .
Discussão
Os estudos sobre sentimentos de INC e experiências NJR têm sido objeto de investigação con-
tribuindo para uma melhor compreensão da sintomatologia da Perturbão Obsessiva-compul-
siva (POC). A heterogeneidade da POC leva-nos a pensar que os sentimentos de INC tem uma base
motivacional que por sua vez, desencadeia experiências NJR. As experiências NJR podem ser um
estado provocado por momentos pontuais, na forma de fenómenos sensoriais. O nosso estudo
pretendeu proporcionar evidências emricas acerca do papel dos sentimentos de INC e as expe-
riências NJR no dia-a-dia de indivíduos da população em geral. Assim, a presente investigação
teve como objetivo principal estudar a relação entre os sentimentos de INC e as experiências NJR
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Experiências “Not Just Right”: Estudo da Relão com a Incompletude
numa amostra não-clínica através de uma tarefa tátil onde os sujeitos classificavam o nível de
desconforto, tensão/mal-estar sentido antes (pré-teste) e depois (pós-teste) da indução de uma
experiência NJR.
Os autores quiseram aferir se as instruções dadas aos participantes tinham sido claras, de
forma a evitar o enviesamento pela falta de claridade na interpretão. Não foram verificadas
diferenças significativas na clareza das instruções dadas aos participantes para realizar a tarefa,
o que revela que o grupo percebeu o que lhes tinha sido solicitado.
Foi possível observar que os resultados confirmam que as experiências NJR são frequentes
na população não-clínica, tal como observado por outros autores em estudo semelhantes (Bellocq
et al., 2016; Coles et al., 2003;Ghisi et al., 2010; Sica et al., 2012).
Verificamos que as sensações NJR podem ser induzidas experimentalmente. Os participan-
tes após a condição experimental, tiveram um aumento de sensações NJR, tal como em estudos
prévios onde os autores utilizaram, experiências de laboratório, nas quais eram induzidas sensa-
ções NJR, para verificar as suas hipóteses de trabalho (Coleset al., 2005; Cougle et al, 2011;Fitch
& Cougle,2013; Summers et al., 2014) o que confirma o nosso primeiro objetivo.
As variáveis Desconforto, Tensão e INC que nos permitem medir as sensações NJR foram
analisadas antes e depois da experiência. Tal como esperado observou-se um aumento do Des-
conforto, da Tensão e da INC. A vontade de contrariar estímulos, neste caso a vontade de Endi-
reitar a bata, também foi verificada, sendo que observamos uma forte relação entre a vontade de
Endireitar e Desconforto, assim como, uma relação moderada entre a vontade de Endireitar a bata
e a INC, validando assim o segundo e terceiro objetivo. Este resultado coincide com o descrito por
Summers et al.,(2014).
Relativamente ao quarto objetivo, analisar a relação entre sentimentos de INC e as sensações
NJR, foi possível observar uma associação positiva significativa entre estas duas variáveis o que
nos permite concluir que a INC é um traço subjacente às sensações NJR. Verificou-se ainda, uma
relação positiva significativa embora fraca, entre variáveis traço Obsessivo Compulsivas, o Evi-
tamento de dano (ED) e as sensações NJR, permitindo-nos concluir que estes sintomas poderiam
influenciar os indivíduos que experienciam as sensações NJR, apoiando as conclues de ante-
riores investigações (Bellocq et al., 2016 Ecker, 2008; Pietrafesa & Coles 2009; Summerfeldt et al.,
2004; Taylor et al., 2013).
Uma vez que foi verificado um aumento do sentimento de INC após a indução da experiência
NJR precisámos de saber em que medida esta dimensão conseguia predizer as sensações NJR,
como formulado no nosso quinto objetivo de investigação. Observamos que o sentimento de INC
explica uma percentagem reduzida (7.1%) das experiências NJR. Este resultado é contrário a nossa
experiência, uma vez que o sentimento de INC aumenta após a realizão da tarefa experimen-
tal. Isto sugere que outras variáveis podem estar a interferir neste aumento das sensações NJR,
se bem a literatura anterior sugere que o sentimento de INC se apresenta subjacente às sensações
NJR sentida em modalidades sensoriais e que as experiências NJR poderiam ser preditoras das
compulsões que são realizadas para reduzir o sentimento de INC (Coles et al., 2005; Cougle et al.,
2011; Sumerfeldt, 2004).
Foi possível ainda verificar que as sensações NJR não conseguiam influir o indivíduo antes
(pré-teste) e/ou depois (pós-teste) da experiência. Isto confirma a ideia proposta por Summerfeldt
et al.,(2014) que disseram que as sensações seriam respostas sensoriais pontuais a um sentimento
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subjacente de INC, e como respostas pontuais, não teriam a capacidade preditora, como poderia
ter um sentimento ou estado mais complexo.
Verificamos que as variáveis traço Obsessivo-Compulsivas, o Perfecionismo, especifica-
mente na Dúvida sobre as Ações (DA) e sintomas Depressivos conseguiam predizer as sensações
NJR.
Foi também necessário apurar a existência de um efeito mediador da INC na relação entre
o Perfecionismo, nomeadamente na dimensão Duvida sobre as Ações (DA), os traços Obsessivo-
-Compulsivos e as experiências NJR, como proposto no nosso sexto objetivo. Observamos que
não existe um efeito mediador da INC entre o Perfeccionismo (DA) e as sensações NJR, existindo
uma relação direta entre ambas variáveis. Verificamos ainda, que não existe mediação da INC
entre os traços Obsessivo-Compulsivos e as experiências NJR, existindo também uma relação
direta entre as duas variáveis.
Finalmente, é importante considerar as limitações do nosso estudo.O reduzido tamanho da
amostra e a heterogeneidade nas variáveis sexo (o grupo do sexo masculino foi menor que o
grupo do sexo feminino) e idade poderá impedir a generalização dos resultados.
É de imporncia sublinhar que, ao longo das entrevistas, os participantes manifestaram
alguma dificuldade na compreensão do significado da palavraIncompletude”, que repetidas
vezes fomos questionados acerca do mesmo. Isto poderia ser uma limitação do nosso estudo, uma
vez que o conceito de Incompletude” é uma tradução do termo inglês Incompleteness, e talvez
não seja o mais adequado para o idioma português.
São necessários mais estudos com outras palavras para descobrir qual seria a adequada à
população portuguesa. Podem ser testadas outras palavras, como por exemplo “Inquietação” ou
poderia fazer-se um debriefing, onde os participantes associaram à palavra Incompletude outra
palavra em português mais adequada.
Na continuidade deste estudo, seria relevante aprofundar alguns resultados menos claros,
nomeadamente, a relação entre os sentimentos de INC e as sensações de Limpeza.
Inclusivé, testar a influência de outros traços como por exemplo, a autoestima, a segurança,
a autoconfiança e perceber como estes podem influir nas sensações NJR.
Seria importante ampliar o estudo para outras modalidades sensoriais, por exemplo, olfati-
vas e do paladar, onde possa ser verificado se também induzem sentimentos de contaminação.
Podem ter surgido neste trabalho, algumas variáveis parasitas como por exemplo que alguns
instrumentos eram traduções do original e não instrumentos validados para a população portu-
guesa.
A investigação acerca da relação entre o sentimento de INC e as experiências NJR ainda é
muito escassa. Tratando-se de um tema novo e com pouco suporte empírico parece importante
continuar a investigação relativamente à influência que o sentimento de INC tem nos vários tipos
de experiências NJR, alargando a outro tipo de tarefas sensoriais.
71
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74
COGNIÇÕES PERFECIONISTAS NO DESEMPENHO DE UMA TAREFA
DE REVISÃO DE TEXTO NUMA AMOSTRA DE JOVENSADULTOS
UNIVERSITÁRIOS
PERFECT COGNITIONS IN THE PERFORMANCE OF A TEXT REVIEW TASK IN
A SAMPLE OF YOUNG ADULTS FROM THE UNIVERSITY
Coelho, J.1, Faísca, L.2, Ros, A.3, & Carmo, C.4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 1
1ST JANUARY JANEIRO  30TH JUNE JUNHO 2021 PP. 7495
DOI: ttps://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT.3
Submited on 09.03.21 Submetido a 09.03.21
Accept on 14.05.21 Aceite a 14.05.21
Resumo
O conceito de perfecionismo tem originado cada vez mais interesse por parte de muitos
investigadores e clínicos, sendo consensual a necessidade de compreender melhor o papel
das cognições perfecionistas no desempenho de determinada tarefa. Assim, o principal obje-
tivo deste estudo, com design quasi-experimental, foi compreender de que forma as cognições
perfecionistas influenciam o desempenho de jovens universitários, com diferentes níveis de
perfecionismo, numa tarefa de revisão de texto. Num primeiro momento, foram avaliados os
níveis de perfecionismo de 258 estudantes com a versão reduzida da Escala Quase Perfeita
(SAPS). Num segundo momento, foram selecionados os participantes com níveis mais elevados
(n = 12) e mais baixos de perfecionismo (n = 20). Os estudantes preencheram a Escala Quase
Perfeita (APS), o Inventário de Cognições Perfecionistas (PCI), a Escala Multidimensional de
Perfecionismo (HMPS) e realizaram uma tarefa de revisão de texto. Os resultados mostraram
que, no geral, os perfecionistas demoraram mais tempo na conclusão da tarefa e que partici-
pantes com níveis mais elevados de perfecionismo apresentavam uma eficácia reduzida na
deteção de erros na tarefa, demonstrando a imporncia de considerar o tempo investido, os
erros e o viés de resposta ao investigar a relação perfecionismo-desempenho. Concluiu-se que
1 Universidade do Algarve (Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Departa-
mento de Psicologia e Ciências da Educação, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: a50563@ualg.pt
2 Centro de Investigação em Biomedicina, Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Departamento
de Psicologia e Ciências da Educação, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: lfaisca@ualg.pt
3 Centro de Investigação em Psicologia (CIP-UAL), Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Depar-
tamento de Psicologia e Ciências da Educação, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: aros@ualg.pt
4 Centro de Investigação em Psicologia (CIP-UAL), Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Depar-
tamento de Psicologia e Ciências da Educação, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal, email: cgcarmo@ualg.pt
Autor para Correspondência: Joana Coelho – Universidade do Algarve (Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde), Faculdade
de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Psicologia e Ciências da Educação, Campus de Gambelas, 8005-139 Faro,
Portugal, email: a50563@ualg.pt
75
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
os níveis de perfecionismo demonstram ser inversamente proporcionais à eficiência, corrobo-
rando estudos anteriores.
Palavras-Chave: Perfecionismo; Cognições perfecionistas; Desempenho; Estudantes universitários.
Abstract
The concept of perfectionism has generated growing interest on the part of many researchers
and clinicians, and there is a consensus on the need to better understand the role of perfectionist
cognitions in the performance of a given task. Thus, the main objective of this study with quasi-
experimental design was to understand how perfectionist cognitions influence the performance
of young university students, with different levels of perfectionism, in a text review task. Initially,
the perfectionism levels of 258 students with the reduced version of the Near Perfect Scale (SAPS)
were evaluated. In a second stage, participants with higher levels (n = 12) and lower levels of
perfectionism (n = 20) were selected. The students completed the Almost Perfect Scale (APS),
the Perfectionist Cognition Inventory (PCI), the Multidimensional Perfectionism Scale (HMPS)
and performed a text review task. The results showed that, in general, perfectionists take longer
to complete the task and that participants with higher levels of perfectionism had a reduced
effectiveness in detecting errors in the task, demonstrating the importance of considering the
time invested, errors and the response bias when investigating the perfectionism-performance
relationship. It was concluded that the levels of perfectionism were inversely proportional to
efficiency, corroborating previous studies.
Keywords: Perfecionism, Perfectionist Cognitions, Performance, University students.
Introdução
O perfecionismo é definido como um traço de personalidade multidimensional (Gaudreau &
Thompson, 2010; Stoeber & Otto, 2006) que representa tanto a tenncia de lutar pela perfeição
como a de avaliar o Eu de uma forma crítica (Gaudreau & Thompson, 2010). Descrito como uma
caraterística complexa e que apresenta várias dimenes, aparecendo sob diferentes formas e
aspetos alguns podem ser funcionais e adaptativos, enquanto outros disfuncionais e desadap-
tativos (Enns & Cox, 2002; Stoeber & Otto, 2006).
Os sujeitos perfecionistas caraterizam-se pela preocupação constante em atingir metas
excessivamente elevadas e irrealistas, tendendo a realizar avaliações autocríticas. As experiên-
cias de insucesso são normalmente sobregeneralizadas, prestando uma atenção especial aos fra-
cassos em detrimento dos sucessos (Ram, 2005).
Atualmente a investigação na área do perfecionismo é extensa, particularmente acerca da
sua imporncia no desenvolvimento e na manutenção de sintomas psicopatológicos (e.g., Egan
et al., 2012). Contudo, o estudo sobre o papel do perfecionismo no desempenho de tarefas é ainda
reduzido e inconclusivo. Surge assim a pertinência da presente investigação.
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Perfecionismo: Definição e natureza
O conceito de perfecionismo tornou-se objeto de interesse e de atenção por parte de clínicos
e investigadores no âmbito da psicologia a partir da última metade do século XX (e.g., Hamachek,
1978; Hollender, 1965). O aumento da investigação neste domínio permitiu um conhecimento
mais aprofundado do conceito e da influência deste traço em vários quadros clínicos, nomeada-
mente perturbações depressivas (e.g., Hewitt & Flett, 1991; Sherry et al., 2003), perturbações da
alimentação e da ingestão (e.g., Egan et al., 2011; Shafran et al., 2002) e perturbação obsessiva-
-compulsiva (e.g., Antony et al., 1998; Wu & Cortesi, 2009).
Perfecionismo é geralmente considerado como uma disposição de personalidade que envolve
a procura pela perfeição, o estabelecimento de padrões de desempenho excessivamente eleva-
dos e a avaliação crítica de si mesmo relativamente a falhas percebidas (Stoeber, 2018). Contudo,
ao longo do tempo a definição e a natureza do construto foi alvo de controvérsias, dando origem
a diferentes perspetivas e abordagens teóricas (Shafran & Mansell, 2001).
As primeiras definições de perfecionismo salientavam unicamente os aspetos clínicos deste
conceito. Horney (1945) considerou o perfecionismo como uma disposição de personalidade
altamente neurótica, sem quaisquer aspetos positivos. Ainda numa leitura psicodinâmica, Adler
(1956) argumentou que a procura pela perfeição era considerada um aspeto natural e inato do
desenvolvimento humano, no sentido de maximizar o talento ou o potencial dos sujeitos. Segundo
o autor, os perfecionistas adaptativos procuravam alcançar objetivos reais, enquanto os perfecio-
nistas desadaptativos poderiam tornar-se obsessivos relativamente aos objetivos delineados e
tendiam a ter medo da crítica.
De acordo com Hollender (1965, 1978), o perfecionismo definia-se como a prática de exigir a
si próprio ou ao outro um melhor desempenho do que o realmente requerido pela situação. Na
mesma perspetiva, Burns (1980) descreveu o perfecionismo como uma rede de cogniçõesque
incluem expetativas, interpretações e avaliações sobre o próprio e os outros. Segundo este autor,
os sujeitos perfecionistas estabelecem padrões e/ou objetivos irrealistas por serem demasiado
elevados e rígidos, definindo o seu valor pessoal de forma contingente à concretização desses
padrões e objetivos.
Apesar dasrias definões no âmbito de uma concão unidimensional do perfecionismo,
que sublinham a natureza patológica e clínica deste traço de personalidade, parece existir con-
senso quanto à principal característica dos sujeitos perfecionistas: os padrões pessoais de desem-
penho excessivamente elevados.
Hamacheck (1978) sugeria que o perfecionismo compreendia aspetos adaptativos e aspe-
tos desadaptativos. De acordo com a autora, a principal distinção entre perfecionismo normal
e neurótico remetia para a capacidade de os perfecionistas normais conseguirem permitir
pequenas falhas no seu desempenho, aceitando-o como bem-sucedido. Por outro lado, os perfe-
cionistas neuróticos eram caraterizados por serem excessivamente preocupados com os erros,
apresentando uma preocupação constante relativamente ao medo de falhar. Segundo a autora,
a preocupação excessiva relativamente aos erros levaria os sujeitos perfecionistas a lutarem por
alcançar os objetivos delineados por medo do fracasso e não por uma necessidade de realização
(Hamachek, 1978).
No início da década de 90, a abordagem multidimensional, que demonstrava os aspetos desa-
daptativos e os aspetos adaptativos do perfecionismo, ganhou uma maior relevância com o con-
tributo de Frost et al. (1990) e Hewitt e Flett (1991). A conceção unidimensional, que se focava
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
apenas nos aspetos intrapessoais, deixou de ser exclusiva e as abordagens multidimensionais
centradas também na componente interpessoal passaram a assumir um papel de relevo.
Neste contexto foram desenvolvidos instrumentos de avaliação dos vários componentes do
perfecionismo, como foi o caso da Escala Multidimensional de Perfecionismo (MPS; Frost et al.,
1990; Hewitt & Flett, 1991).
Frost et al. (1990) desenvolveram uma escala denominada de Escala Multidimensional de Per-
fecionismo (Frost Multidimensional Perfectionism Scale, FMPS), onde diferenciaram as dimen-
sões do construto: Padrões Pessoais (PP), Preocupação com os Erros (PE), Dúvidas sobre as Ações
(DA), Expetativas Parentais (EP), Críticas Parentais (CP) e Organização (O). Destes, quatro dizem
respeito a aspetos do perfecionismo direcionados para o próprio (PP, PE, DA e O) e os restantes
refletem a perceção de exigências impostas por terceiros (EP e CP).
Com a mesma designação, Hewitt e Flett (1991) desenvolveram a Escala Multidimensional de
Perfecionismo (Multidimensional Perfectionism Scale of Hewitt and Flett, HMPS), onde distin-
guiram três dimensões: Perfecionismo Auto-Orientado (PAO), Perfecionismo Socialmente Pres-
crito (PSP) e Perfecionismo Orientado para os Outros (POO). A principal diferença entre as três
dimensões diz respeito ao objeto a quem o comportamento perfecionista é dirigido (e.g., Perfe-
cionismo Auto-Orientado vs. Perfecionismo Orientado para os Outros) ou a quem é exigido o
comportamento perfecionista (e.g., Perfecionismo Socialmente Prescrito).
Sucintamente, o PAO refere-se à tendência do sujeito em estabelecer para si pades de
desempenho elevados, excessivos e irrealistas (dimensão intra-individual). O PSP remete para a
crença das expetativas irrealistas dos outros para com o sujeito (dimensão interpessoal) (OCon-
nor et al., 2009). E, por último, o POO (dimensão interpessoal) relaciona-se com às expetativas
elevadas e irrealistas que o sujeito apresenta relativamente aos outros (Flett et al., 2002).
Ainda segundo uma conceção multidimensional foi desenvolvida uma outra medida, a Escala
Quase Perfeita (Almost Perfect Scale-Revised, APS-R; Slaney et al., 2001) que é frequentemente
usada para categorizar os sujeitos em perfecionistas adaptativos e desadaptativos. O APS-R con-
m três subescalas: Padrões Elevados (P), Ordem (O) e Perceção da Discrepância (D). A subescala
P mede os altos padrões pessoais de desempenho e de realização; a subescala D mede a perceção
dos sujeitos de si mesmos como falha ao atender os seus padrões pessoais de desempenho; e, por
último, a subescala O mede a preferência por limpeza e organização. Ambos tendem a apresentar
valores altos na subescala P e na O e apenas os perfecionistas desadaptativos apresentam valores
altos na subescala D (Slaney et al., 2001).
Deste modo, é possível compreender que embora o perfecionismo apresente aspetos positi-
vos (adaptativos) e aspetos negativos (desadaptativos), são estes últimos que fortalecem a relão
entre o construto e os problemas psicológicosevidenciadarias décadas em descrições de
casos clínicos (e.g., perturbação depressiva, perturbação de ansiedade, perturbação da alimen-
tação e da ingestão) (Macedo et al., 2007).
A evidência empírica de que o perfecionismo é um traço de personalidade presente em
rios quadros cnicos permite considerá-lo, segundo Shafran et al. (2002), como um conceito
transdiagnóstico caracterizado por uma dependência excessiva de autoavaliações exigentes
relativamente a determinados padrões pessoais, em pelo menos um domínio.
Numa análise clínica, o perfecionismo pode ser avaliado do ponto de vista comportamental
(e.g., verificação, comportamentos repetitivos) ou do ponto de vista cognitivo (e.g., pensamentos
repetitivos negativos, ruminação, preocupação).
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Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva
Flett et al. (2015), na tentativa de melhor compreender os aspetos cognitivos deste traço de
personalidade, desenvolvem a Teoria da Cognão do Perfecionismo. Trata-se de um modelo teó-
rico que propõe uma estrutura concetual para explorar e explicar os mecanismos, os processos e
os resultados cognitivos que enfatizam o perfecionismo.
A Teoria da Cognição do Perfecionismo postula que: o perfecionismo é associado a um iní-
cio rápido, frequente e prolongado de ruminação; o sujeito perfecionista encontra-se propenso
a experienciar uma variedade de tipos de pensamento e de perseverança cognitiva; a excessiva
ativação cognitiva desencadeia o desenvolvimento de memórias de erros, falhas e experiências
stressantes. Esta atividade cognitiva é acompanhada por uma hipervigilância e por uma ten-
ncia cognitiva de acreditar na possibilidade de existirem erros, falhas ou avaliações sociais
negativas (Flett et al., 2015).
Assim, com base na revisão de literatura efetuada no âmbito da presente investigação, pode-
-se sublinhar a natureza multidimensional (adaptativa e desadaptativa) e transdiagnóstica do
perfecionismo que remete para a exisncia de duas componentes de avaliação e de análise do
construto em estudo: a componente comportamental e a componente cognitiva.
Considerando esta última, surgiu a pertinência de compreender de que forma o perfecio-
nismo pode influenciar o desempenho, i.e., averiguar se os níveis de perfecionismo podem estar
positivamente ou negativamente relacionados com a eficiência do desempenho numa determi-
nada tarefa.
Perfecionismo no desempenho
Considerando a conceptualização do perfecionismo e a importância que os perfecionistas
colocam nos elevados pades de desempenho, a presença de níveis elevados de perfecionismo
e o desempenho dos sujeitos tem sido estudada em diversos contextos, nomeadamente, no con-
texto do desempenho académico (e.g., Bong et al., 2014), da performance desportiva (e.g., Dunn et
al., 2006) e na realização de pequenas tarefas de leitura e/ou deteção de erros (e.g., Ishida, 2005).
Ishida (2005), num estudo sobre o desempenho absoluto e a eficiência de sujeitos perfecionis-
tas e não perfecionistas, procurou compreender a relação entre o perfecionismo e o desempenho
na resolução de problemas. Os participantes realizaram uma tarefa de resolução de problemas,
sendo instruídos a procurar as informações pertinentes para resolver a tarefa.
Foram entregues arquivos a todos os participantes, contendo informações relevantes (i.e.,
as informações necessárias para resolver o problema presente na tarefa) e informações irrele-
vantes. Com base numa avaliação prévia das cognições perfecionistas dos participantes, foram
constituídos dois grupos: Perfecionistas e Não Perfecionistas. Os perfecionistas apresentaram
pontuações mais baixas na tarefa de resolução de problemas e investiram mais tempo nas infor-
mações irrelevantes, permitindo concluir que o perfecionismo se encontra associado a uma efi-
ciência reduzida.
A descoberta de uma relação inversa entre o perfecionismo e a eficiência levou Stoeber e
Eysenck (2008) a replicarem o estudo de Ishida (2005), explorando as relações entre o perfecio-
nismo, o desempenho e a eficiência ao analisar como as duas dimensões do perfecionismo (P e
D) previam o desempenho, o esfoo e a eficiência numa tarefa de prova de leitura que exigia aos
participantes detetar os Erros de Ortografia, de Gramática e de Formato de Texto. O tempo de
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
realização da tarefa foi definido previamente pelos autores, tendo os participantes de assinalar
quando a concluíssem.
Os resultados mostraram que existia uma relação positiva entre os P e os Falsos Alarmes
(erros detetados incorretamente), sugerindo que quanto mais elevados fossem os padrões maior
a tendência para encontrar falhas o que significava uma menor eficiência. Por outro lado, era
evidente uma relão negativa entre D e os Acertos (erros detetados corretamente), mostrando
que os sujeitos que se percecionavam como incapazes de cumprir os seus padrões tendiam a ser
mais cautelosos e conservadores, i.e., a não quererem encontrar falhas mesmo quando estas exis-
tiam (Stoeber & Eysenck, 2008).
Posteriormente, Stoeber (2011) replicou o seu estudo anterior com o objetivo de expandir as
descobertas alcançadas sobre o perfecionismo, a Eficiência e o Viés de Resposta no desempenho
de uma prova de leitura utilizando uma amostra maior, diferentes medidas de perfecionismo e
um texto diferente. Os resultados refletiram a imporncia de considerar o perfecionismo como
uma caraterística de personalidade multidimensional e diferenciar duas dimenes principais:
Esforços Perfecionistas e Preocupações Perfecionistas.
De acordo com os dados obtidos, sujeitos com altos níveis de Esforços Perfecionistas mos-
traram menor Eficiência no desempenho da prova, corroborando os anteriores resultados deste
autor em 2008. Além disso, demonstraram uma relação positiva com os Falsos Alarmes e uma
relação negativa com o Viés de Resposta, indicando que esses sujeitos tendiam a relatar erros
mesmo quando estes não existiam. Neste sentido, investiam mais esfoo e demonstravam uma
relação positiva com o tempo investido para completar a tarefa de revisão de texto.
Também foi possível verificar que as Preocupações Perfecionistas apresentaram uma relação
parcial negativa com o número de Acertos e uma relação parcial positiva com o Viés de Resposta,
quando a influência dos Esforços Perfecionistas não foi considerada. Contudo, como a tarefa uti-
lizada não foi a mesma do estudo anterior, não é claro se os resultados são específicos para o
desempenho da prova de leitura.
Neste sentido, o autor ressalta a importância de considerar não apenas o desempenho abso-
luto e as respostas corretas (Acertos), mas também o desempenho relativo (ou Eficiência) e as
respostas incorretas ao investigar a relação perfecionismo-desempenho (Stoeber, 2011). Assim,
pode-se ter em consideração o esforço investido para atingir o nível de desempenho (Eysenck &
Calvo, 1992).
Apesar da existência de algumas de investigações (e.g., Bong et al., 2014; Dunn et al., 2006)
que apresentam interesse em analisar a componente cognitiva do perfecionismo, usam maiori-
tariamente medidas de autorrelato e não medidas de tarefas de execução. Deste modo, torna-se
pertinente desenvolver mais estudos utilizando esta metodologia e por esse motivo, com base
no estudo pioneiro de Stober e Eysenck (2008), desenvolvemos a presente investigação com o
objetivo de analisar de que forma as cognições perfecionistas podem influenciar o desempenho
numa tarefa de revisão de texto.
De modo a alcançar o objetivo geral, delinearam-se os seguintes objetivos específicos: (1)
Explorar se existem diferenças nas várias dimensões de perfecionismo em sujeitos com altos
e baixos níveis de perfecionismo; (2) Avaliar as relações entre as várias dimensões do perfe-
cionismo; (3) Verificar se existem diferenças no desempenho da Tarefa de Revisão de Texto em
sujeitos com altos e baixos níveis de perfecionismo; (4) Analisar as relações entre os níveis de
perfecionismo e a eficiência na resolução da revisão de texto; (5) Explorar as relações entre as
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Samuel Lins, Juliane Borsa, Sara G. Alves, Rúben Silva
cognições perfecionistas e a eficiência na realização da tarefa; (6) Compreender de que forma o
perfecionismo influencia a eficiência na resolução da tarefa, nas diferentes modalidades de erro.
Espera-se, de acordo com os objetivos delineados anteriormente, encontrar: diferenças entre
os sujeitos com altos níveis de perfecionismo e os sujeitos com baixos níveis de perfecionismo
nas diversas dimensões de perfecionismo em estudo (1); níveis elevados de perfecionismo asso-
ciados a maior frequência das cognições perfecionistas e a maior perfecionismo no global (2);
sujeitos com altos níveis de perfecionismo obtenham menor desempenho na resolução da tarefa
relativamente aos sujeitos com baixos níveis de perfecionismo (3); sujeitos com altos níveis de
perfecionismo demonstrem ser menos eficientes na resolução da tarefa (4); sujeitos com cogni-
ções perfecionistas frequentes sejam menos eficientes na resolução da tarefa face a sujeitos que
apresentem baixas cognições perfecionistas (5); sujeitos com níveis elevados de perfecionismo
apresentem menor eficiência na resolução da tarefa nas diversas modalidades de erro.
Método
Participantes
A amostra total (n = 258) foi composta por sujeitos com nacionalidade portuguesa de ambos
os neros, sendo 178 do género feminino (69%) e 80 do género masculino (31%), com idades com-
preendidas entre os 17 e os 40 anos (M = 21.02; DP = 2.98). Descrevendo os participantes de um
modo geral, a sua maioria eram solteiros (97.70%), estudantes universitários que frequentavam a
licenciatura (99.20%), maioritariamente o curso de Psicologia (20.20%) e com rendimento escolar
médio suficiente (10 a 13 valores) (50%). Grande parte dos participantes (97.70%) não realizavam
tratamento psicológico e/ou psiquiátrico nem se encontravam como trabalhadores-estudantes
(86%).
Ao analisar os níveis extremos do perfecionismo da amostra total, esta foi dividida em dois
grupos distintos: os participantes que apresentavam altos níveis de perfecionismo (n = 50) e bai-
xos níveis de perfecionismo (n = 70). Considerando as variáveis sociodemográficas em estudo,
comparou-se os dois grupos com recurso ao Teste t de Student para amostras independentes
(variáveis escalares) e ao Teste do Qui-quadrado (variáveis nominais) e percecionou-se que não
existiram diferenças estatisticamente significativas.
A amostra final foi composta por 32 sujeitos (12 sujeitos Perfecionistas e 20 sujeitos o Perfe-
cionistas), que aceitaram dar continuidade ao estudo. Caraterizando a amostra, 25 participantes
eram do género feminino (78.10%) e 7 do género masculino (21.90%), com idades compreendidas
entre os 18 e os 31 anos (M = 21.34; DP = 3.01). A maioria dos sujeitos eram solteiros (93.80%), fre-
quentavam a licenciatura (96.90%) do curso de Psicologia (56.30%) com um escolar médio bom (14
a 16 valores) (53.10%). Nenhum dos participantes se encontrava a realizar tratamento psicológico
e/ou psiquiátrico e uma baixa percentagem afirmou ser trabalhador-estudante (12.50%).
A comparação entre a amostra total (n = 258) e a amostra final (n = 32), relativamente às variá-
veis sociodemográficas, permitiu verificar que não existiram diferenças significativas entre si.
Deste modo, podemos concluir que a amostra final é representativa da amostra total.
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
Tipo de estudo
Para a realização do estudo foi utilizado um paradigma de investigação quantitativa, do tipo
quasi-experimental (Sousa et al., 2007).
O desenho da presente investigação é considerado transversal. Apesar de terem existido dois
momentos de recolha de dados, no primeiro momento pretendeu-se apenas selecionar sujeitos
com valores extremos de perfecionismo (altos/baixos). Posteriormente a essa seleção, os partici-
pantes foram avaliados num único momento.
Medidas
De forma a recolher informações sociodemográficas pertinentes relativamente à amostra, foi
aplicado um breve questionário desenvolvido no âmbito deste estudo que permitiu caracterizar
os participantes quanto ao género, à idade, à nacionalidade, ao estado civil, ao nível de ensino,
ao curso, ao rendimento escolar, à profissão e à existência ou não de tratamento psicológico e/ou
psiquiátrico.
A Escala Quase Perfeita (APS) avalia o perfecionismo em três subescalas: Padrões eleva-
dos (P), Ordem (O) e perceção da Discrepância (D) (Slaney et al., 1995, 2001). As duas primeiras
subescalas representam os aspetos positivos do perfecionismo, enquanto a última remete para
os aspetos negativos desse traço de personalidade (Slaney et al., 2000, 2001) – contribuindo para
discriminar os sujeitos perfecionistas adaptativos e desadaptativos. O instrumento é composto
por 23 itens que se distribuem numa escala de 7 pontos, na qual 1 se refere a Discordo Fortemente
e o 7 refere-se a Concordo Fortemente. Os coeficientes de estrutura das três dimensões da escala
oscilam entre .42 e .88. Os coeficientes de alfa de Cronbach foram .85 para a subescala Padrões,
.82 para a subescala Ordem e .91 para a subescala Discrepância, indicando que a versão original
da escala apresenta valores adequados de consistência interna (Slaney et al., 2001).
A Escala Quase Perfeita, versão reduzida (SAPS), composta por 8 itens, avalia o traço de
perfecionismo em apenas duas subescalas: Padrão (P) e Discrepância (D). Rice, Richardson e
Tueller (2014), com base no trabalho de Stoeber e Otto (2006), retiraram a subescala Ordem por
esta não ter emergido como uma dimensão central do perfecionismo. No âmbito deste estudo,
foi traduzida para português e encontra-se em adaptação para a populão portuguesa. Ao
realizar a análise de fidelidade da SAPS, foi possível verificar que os valores obtidos para a
subescala Padrão e para a subescala Discrepância foram ambos de α = .70. O valor obtido para
o total da escala foi de .63, permitindo concluir que a aplicabilidade do instrumento apresenta
uma consistência interna aceitável. Kline (1999) refere que, quando se estuda construtos psico-
lógicos, os valores abaixo de .70 podem ser esperados devido à diversidade de construtos que
estão a ser medidos.
O Inventário de Cognões Perfecionistas (PCI) é formado por uma lista de pensamentos
perfecionistas que tem como intuito avaliar a frequência das cognições associadas ao perfecio-
nismo. Constituído por 25 itens, contém três dimenes: preocupação com os erros, padrões pes-
soais e procura da perfeição. As respostas são dadas numa escala de 5 pontos, na qual 1 corres-
ponde a Nunca e 5 corresponde a Sempre. O instrumento foi traduzido e adaptado à população
portuguesa por Carmo et al. (2018), apresentando propriedades psicométricas adequadas. Neste
estudo, o valor de alfa de Cronbach encontrado foi de .90 para o total da escala. Neste sentido,
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apresentando um valor de consistência interna elevado, a aplicabilidade do Inventário das Cog-
nições Perfecionistas (PCI) demonstra ser confiável.
A Escala Multidimensional de Perfecionismo (Hewitt & Flett, 1991) é composta por 45 itens
de resposta fechada, distribuídos por três subescalas que medem as três dimensões do perfecio-
nismo: Perfecionismo Auto-Orientado (PAO), Perfecionismo Socialmente Prescrito (PSP) e Perfe-
cionismo Orientado para os Outros (POO). As respostas dos sujeitos são assinaladas numa escala
de 7 níveis de concordância, correspondendo 1 a Discordo Completamente e 7 a Concordo Com-
pletamente, embora 19 itens sejam cotados em sentido inverso.
Apresentando uma boa consistência interna, foi traduzida e adaptada para a população
portuguesa por Soares et al. (2003), exibindo adequadas qualidades psicométricas. No presente
estudo, as subescalas PAO, PSP e POO obtiveram valores elevados de consistência interna, α =
.90; α = .90; α = .80, respetivamente. O alfa de Cronbach de .90 identificado para o total da escala
demonstra um bom indicador de fidelidade relativamente ao presente instrumento, apresen-
tando uma consistência interna aceitável.
A tarefa de revisão de texto foi baseada na tarefa do estudo original de Stoeber e Eysenck
(2008), nomeadamente a inserção de ts tipos de erros (Erros de Ortografia, de Gramática e de
Formato de Texto) no texto e o tempo de realização da prova (35 minutos), tendo como objetivo
medir o desempenho dos participantes.
O texto foi adaptado de um excerto de um artigo científico publicado em língua portuguesa.
Foram introduzidas alterações de forma a inserir 39 erros: 12 de Ortografia (e.g., Questões rela-
tivas aos ábitos alimentares, de higiene e sono), 15 de Gramática (e.g., É necessário estabelecendo
prioridades na educação e saúde) e 12 de Formato de Texto (e.g., Camacho et al., 2016).
No final de cada linha do texto encontravam-se três caixas. Cada uma correspondia a um
tipo de erro, onde o sujeito deveria assinalar os que encontrasse. No caso de ausência de erro
numa linha do texto, o sujeito não deveria assinalar nada. Por outro lado, poderia existir mais do
que um tipo de erro numa linha e, nesse caso, deveria assinalar os erros nas caixas correspon-
dentes ao tipo de erro encontrado.
No início da realização da tarefa de revisão, as regras foram apresentadas oralmente e em
formato papel, num cartão que podia ser consultado no decorrer da prova. A tarefa deveria ser
realizada num período máximo de 35 minutos, sendo cronometrado o tempo de realização de
cada participante.
Procedimentos
Anteriormente ao presente estudo, foi feito um estudo piloto com 21 estudantes universi-
rios portugueses. Os instrumentos de medida utilizados foram o Questionário de Carateriza-
ção Sociodemogfica, a Escala Quase Perfeita (APS) e o Inventário das Cognões Perfecionis-
tas (PCI). Como os participantes não reportaram dúvidas no preenchimento do protocolo piloto,
optou-se por incluir os dados do estudo piloto no estudo final. Neste último foram feitos alguns
ajustes, nomeadamente adicionada a Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS).
Relativamente à investigação que apresentamos, esta foi dividida em dois momentos. No
primeiro momento foi realizada a recolha de dados, onde foram aplicados o Questionário de
Caraterização Sociodemográfica e a Escala Quase Perfeita, versão reduzida (The Short Form of
the Revised Almost Perfect Scale, SAPS; Rice et al., 2014), de modo a selecionar os participantes
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
com altos e baixos níveis de perfecionismo. Foi também facultado um consentimento informado,
comprovando a participação voluntária e a confidencialidade de todos os dados recolhidos.
Recorrendo ao programa de tratamento de dados estatísticos Statistical Package for the Social
Sciences (IBM SPSS Statistics – Versão 25.0), foi realizado um ponto de corte para o limite superior
e outro para o limite inferior. Através da função visual binning do software, foram definidos os
pontos de corte a partir da variável Total da Escala Quase Perfeita, versão reduzida (SAPS) com o
intuito de identificar os participantes com níveis altos e baixos de perfecionismo.
Deste modo, foram selecionados e contactados os participantes que apresentavam níveis
extremos de perfecionismo. Aos sujeitos que aceitaram colaborar na segunda fase da investi-
gação, foram aplicados a Escala Quase Perfeita (Almost Perfect Scale, APS; Slaney et al., 1995);
Inventário de Cognições Perfecionistas (Perfectionism Cognitions Inventory, PCI; Flett et al.,
1998), adaptado por Carmo et al. (2018); Escala Multidimensional de Perfecionismo (Multidimen-
sional Scale of Perfectionism, HMPS; Hewitt & Flett, 1991), adaptada por Soares et al. (2003); e a
Tarefa de Revisão de Texto, adaptada do estudo de Stoeber e Eysenck (2008).
Para uma melhor compreensão do procedimento realizado nos dois momentos do presente
estudo, foi desenvolvido com o apoio da Figura 1, um resumo de ambos os momentos com os
valores das respetivas amostras e instrumentos de medida utilizados.
FIGURA1
Procedimento de recolha de dados (dois momentos)
1º Momento 2º Momento
Amostra inicial (N = 258) Sub amostra selecionada (N = 32)
Perfecionistas (n = 50) Perfecionistas (n = 12)
Neutro (n = 138)
Não Perfecionistas (n = 70) Não Perfecionistas (n = 20)
Escala Quase Perfeita (APS)
Avaliação Sociodemográca (QSD) Inventário das Cognições Perfecionistas (PCI)
Escala Quase Perfeita, v. reduzida (SAPS) Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS)
Tarefa de Revisão de Texto
Posteriormente à recolha dos dados, estes foram organizados e transformados para uma base
de dados em suporte informático. Todas as análises de dados foram realizadas recorrendo ao
programa de tratamento de dados estatísticos mencionado anteriormente (IBM SPSS Statistics
Versão 25.0), para o sistema operativo Windows.
Resultados
Análise dos níveis de perfecionismo
A versão reduzida da Escala Quase Perfeita (SAPS) foi aplicada com o intuito de compreender
a existência de diferenças relativas ao nível de perfecionismo entre o grupo Não Perfecionistas e
o grupo Perfecionismo. Iremos analisar se as diferenças foram significativas na tabela seguinte.
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TABELA1
Média, Desvio-Padrão e Diferenças entre o grupo Não Perfecionistas (N = 70) e o grupo Perfecionistas (N =
50) na Escala Quase Perfeita, vero reduzida (SAPS)
SAPS Não Perfecionistas
(N = 70) Perfecionistas (N = 50)
Subescalas M DP M DP d de Cohen t p
Padrão 18.07 3.31 23.88 1.92 -2.24 -12.11 .00***
Discrepância 11.16 3.57 21.50 2.38 -3.52 -19.01 .00***
Total 29.23 2.63 45.38 2.51 -6.27 -33.84 .00***
Nota. M = Média; DP = Desvio-Padrão; t = Teste t de Student para amostras independentes; d de Cohen; Escala Quase Perfeita, vero
reduzida (SAPS) de Rice et al. (2014)
* p < .05. ** p < .01. *** p < .00
Os resultados obtidos foram ao encontro do esperado, permitindo verificar diferenças esta-
tisticamente significativas entre os dois grupos nas diferentes subescalas e no valor Total da
Escala Quase Perfeita, versão reduzida (SAPS). O grupo Perfecionistas apresentou sempre valo-
res médios superiores.
Ao calcular a magnitude do efeito, esta mostrou ser significativamente diferente entre a
subescala Padrão (d = -2.24), a subescala Discrepância (d = -3.52) e a variável Total (d = -6.27). Com
base nestes valores pode-se verificar a existência de um efeito “grande” (|d| > 0.80).
Considerando os objetivos do presente estudo, as análises foram realizadas com a amostra
final (N = 32) o grupo o Perfecionistas é composto por 20 sujeitos e o grupo Perfecionistas
pelos restantes 12 sujeitos.
Análise intergrupal das várias componentes do perfecionismo
Recorrendo ao Teste de Mann-Whitney para amostras independentes, pretendeu-se compa-
rar os valores médios da Escala Quase Perfeita (APS), versão completa, do Inventário das Cog-
nições Perfecionistas (PCI) (Tabela 2) e da Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS)
(Tabela 3) em cada um dos grupos.
TABELA2
Média, desvio-padrão e diferenças entre o grupo Não Perfecionistas (N = 20) e o grupo Perfecionistas (N =
12) na Escala Quase Perfeita (APS) e no Inventário das Cognições Perfecionistas (PCI)
Medida Subescalas
Não Perfecionistas
(N = 20)
Perfecionistas
(N = 12)
M DP M DP r de
Cohen Up
APS
Padrão 35.55 6.58 41.42 3.99 -.44 56.50 .01*
Ordem 21.25 4.76 24.17 2.33 -.28 80.00 .12
Discrepância 38.25 11.46 55.75 10.59 -.61 31.00 .00**
Total 95.05 10.59 121.33 10.74 -.75 11.50 .00***
PCI Total 54.70 15.17 76.75 12.93 -.63 29.00 .00***
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
Nota. M = Média; DP = Desvio-Padrão; r de Cohen; U = Teste de Mann-Whitney para duas amostras independentes; Escala Quase Per-
feita (APS) de Slaney et al. (1995); Inventário das Cognições Perfecionistas (PCI) de Flett et al. (1998)
* p < .05. ** p < .01. *** p < .00.
Em todas as dimenes analisadas existiram diferenças estatisticamente significativas entre
os dois grupos, exceto na subescala Ordem (U = 80.00; p = .12).
No que diz respeito ao tamanho do efeito, através da fórmula de Cohen, pôde-se observar um
efeito considerado dio na subescala Padrão (r = -.44), um efeito pequeno na subescala Ordem
(r = -.28), um efeito grande na subescala Discrepância (r = -.61), um efeito consideravelmente ele-
vado nas variáveis Total, tanto da medida APS (r = -.75) como da medida PCI (r = -.63).
TABELA3
Média, desvio-padrão e diferenças entre o grupo Não Perfecionistas (N = 12) e o grupo Perfecionistas (N =
9) na Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS)
Medida Subescalas
Não Perfecionistas
(N = 12)
Perfecionistas
(N = 9)
M DP M DP r de
Cohen Up
HMPS
PAO 61.33 15.58 96.33 7.53 -.65 2.50 .00***
PSP 38.75 12.34 48.11 12.47 -.29 31. .10
POO 40.67 10.02 45.56 6.75 -.21 37. .23
Total 154.17 30.30 206.11 17.16 -.58 8. .00**
Nota. M = Média; DP = Desvio-Padrão; r de Cohen; U = Teste de Mann-Whitney para duas amostras independentes; Escala Multidimensio-
nal de Perfecionismo (HMPS) de Hewitt e Flett (1991). PAO = Perfecionismo Auto-Orientado; PSP = Perfecionismo Socialmente Prescrito;
POO = Perfecionismo Orientado para os Outros
* p < .05. ** p < .01. *** p < .00.
Os dados demonstram que, embora os valores dios se apresentem superiores no grupo
Perfecionistas em todas as dimenes, não se verificaram diferenças significativas entre os gru-
pos em todas as dimensões desta medida de perfecionismo. Na subescala Perfecionismo Auto-
-Orientado (PAO) (U = 2.5; p = .00) e na variável total da escala (U = 8.0; p = .00) foram encontradas
diferenças significativas entre os dois grupos em estudo.
No que respeita ao tamanho do efeito, obteve-se um efeito grande na subescala PAO (r = -.65)
e na variável Total (r = -.58). Relativamente à subescala PSP (r = -.29) e à subescala POO (r = -.21)
verificou-se a presença de um efeito pequeno.
Relão entre medidas de perfecionismo
De seguida, foi explorada a correlação entre as medidas de perfecionismo com o intuito de
observar as relações entre as várias dimensões de perfecionismo.
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TABELA4
Correlação entre as Dimensões da Escala Quase Perfeita (APS) e as Dimensões do Inventário das Cognições
Perfecionistas (PCI) (N = 32)
APS PCI
Subescalas Total
Padrão .33
Ordem .37*
Discrepância .55**
Total .69**
Nota. N = 32. Escala Quase Perfeita (APS) de Slaney et al. (1995); Inventário das Cognões Perfecionistas (PCI) de Flett et al. (1998). Assina-
lam-se as correlões moderadas e estatisticamente significativas
* p < .05; ** p < .01; *** p < .00.
Ao analisar os coeficientes de correlação entre os dois instrumentos de medida do perfecio-
nismo, foi evidente a presença de duas relações estatisticamente significativas. Deste modo, a
subescala Discrepância (APS) apresentou uma relação positiva e moderada com o valor Total do
Inventário das Cognões Perfecionistas (PCI) (rs = .55; p = .00). E, por fim, a relação entre o valor
Total das duas também demonstrou ser significativa, positiva e forte (rs = .69; p = .00).
Foram igualmente realizadas as alises dos coeficientes de correlão de Pearson entre as
restantes medidas em estudo. Contudo, por nenhum dos valores se revelar estatisticamente sig-
nificativo, optou-se por não incluir a sua exposição.
Tarefa de Revisão de Texto
Para cada uma das variáveis (Erro Ortográfico, Gramatical e Formato de Texto) foram cal-
culados cinco indicadores: Acerto (percentagem de deteção de erro quando existe erro); Falso
Alarme (percentagem de deteção de erro quando não existe erro); Precisão (medida da capaci-
dade de discriminação de situações com erro de situações sem erro); Viés de Resposta (tendência
para ser conservador, isto é, tenncia geral não referir que existe erro); e Eficiência da precisão
(medida de eficiência baseada na precisão e no tempo).
Foi ainda adicionada uma quarta variável, denominada Item (medida global de desempenho),
para a qual também foram calculados todos os indicadores acima referidos. A variável Tempo
(duração da realização da tarefa) foi inserida no estudo, de forma a poder calcular a eficiência de
cada participante.
Com base no artigo original, as medidas foram calculadas da seguinte forma: %Acerto =
(acertos + 0.5)/(linhas do texto com erros + 1); %Falso alarme = (falsos alarmes + 0.5)/(linhas do
texto sem erros + 1); Precisão = IDF.NORMAL (%Acerto, 0, 1) IDF.NORMAL (%Falso alarme, 0, 1);
Viés de resposta = – 0.5 x (IDF.NORMAL (%Acerto, 0, 1) + IDF.NORMAL (%Falso alarme, 0, 1); Efi-
ciência de precisão = (IDF.NORMAL (%Acerto, 0, 1) – IDF.NORMAL (%Falso alarme, 0, 1)/Tempo.
O IDF.NORMAL (prob, mean, stddev) é uma função do software utilizado que retorna o valor da
distribuição normal, com média (mean) e desvio padrão (stddev), para os quais a probabilidade
cumulativa é prob.
As tarefas realizadas pelos participantes foram analisadas de modo a comparar o desempe-
nho absoluto e o desempenho relativo (eficiência) entre os dois grupos, em relação à prova.
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
Análise intergrupal dos indicadores de desempenho
Com recurso ao Teste de Mann-Whitney para amostras independentes, pretendeu-se com-
parar os valores médios da variável Tempo e dos indicadores das variáveis Erro Ortográfico (O),
Erro Gramatical (G), Erro de Formato de Texto (T) e da variável Item (medida global de desempe-
nho) para cada um dos grupos.
TABELA5
Média, Desvio-Padrão e Diferenças entre o grupo Não Perfecionistas (N = 20) e o grupo Perfecionistas (N
= 12) na variável Tempo e nos indicadores das variáveis Erro Ortográfico (O), Erro de Gramática (G), Erro de
Formato de Texto (T) e Item
Variável Indicadores
Não Perfecionistas
(N = 20)
Perfecionistas
(N = 12)
M DP M DP r de Cohen U p
Tempo 1080.78 337.56 1138.75 341.60 -.10 105.00 .56
Erro O
Acerto 0.51 0.23 0.60 0.12 -.17 95.50 .34
FAlarme 0.03 0.02 0.04 0.04 -.11 103.50 .52
Precisão 2.02 0.64 2.14 0.38 -.13 101.00 .46
VResposta 0.99 0.38 0.80 0.35 -.24 85.00 .17
EPrecisão 1.48 1.14 1.29 0.37 -.06 111.00 .73
Erro G
Acerto 0.46 0.19 0.38 0.12 -.26 82.00 .14
FAlarme 0.03 0.03 0.02 0.02 -.20 91.50 .26
Precisão 1.82 0.63 1.74 0.37 -.06 111.00 .73
VResposta 1.05 0.34 1.20 0.29 -.23 86.00 .19
EPrecisão 1.40 0.84 1.12 0.31 -.06 112.00 .76
Erro T
Acerto 0.82 0.21 0.79 0.20 -.17 95.00 .32
FAlarme 0.03 0.04 0.04 0.06 .00 120.00 1.00
Precisão 3.21 1.03 2.98 0.87 -.21 90.00 .24
VResposta 0.48 0.36 0.48 0.48 .00 120.00 1.00
EPrecisão 1.75 0.75 1.55 0.63 -.16 97.00 .37
Item
Acerto 0.68 0.14 0.67 0.11 -.07 110.50 .71
FAlarme 0.06 0.06 0.07 0.07 -.09 107.00 .61
Precisão 2.24 0.67 2.07 0.55 -.21 89.50 .24
VResposta 0.63 0.27 0.59 0.31 -.05 112.50 .77
EPrecisão 1.80 1.03 1.49 0.53 -.12 103.00 .51
Nota. M = Média; DP = Desvio-Padrão; r de Cohen; U = Teste de Mann-Whitney para duas amostras independentes; Tempo = tempo (em segun-
dos) que demorou a concluir a Tarefa de Revisão de Texto; Erro O = erro ortográfico presente na tarefa de revisão de texto; Erro G = erro gra-
tica presente na tarefa de revisão de texto; Erro T = erro de formato de texto presente na tarefa de revisão de texto; Item = medida global de
desempenho; Acerto = percentagem de detão de erro quando existe erro; FAlarme = percentagem de deteção de erro quando não existe
erro; Precio = medida da capacidade de discriminão de situões com erro de situões sem erro; VResposta (Vs de Resposta) = ten-
ncia para ser conservador, i.e., referir que não existe erro; EPrecisão (Eficncia de precisão) = medida de eficiência baseada na precio
* p < .05. ** p < .01. *** p < .00.
Ao analisar as diferenças entre o grupo Não Perfecionistas e o grupo Perfecionistas, estas
não demonstraram ser estatisticamente significativas em nenhuma das variáveis em estudo.
Considerando o tamanho do efeito da variável Tempo, pôde-se constatar a presença de um
efeito consideravelmente pequeno (r = -.10). No que respeita ao tamanho do efeito da variável
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Erro O, também se obteve um efeito pequeno em todos os seus indicadores, como por exemplo no
indicador Falso Alarme (r = -.11) e no indicador Eficiência da Precisão (r = -.06).
Relativamente ao tamanho do efeito da variável Erro G, obteve-se um efeito pequeno em
todos os seus indicadores, como por exemplo no indicador Precisão (r = -.06) ou no indicador
Viés de Resposta (r = -.23). Do mesmo modo, também a variável Erro T demonstrou ter um efeito
pequeno em todos os indicadores, como por exemplo no indicador Acerto (r = -.17) e no indicador
Precisão (r = -.21).
Por último, verificou-se um efeito pequeno em todos os indicadores da variável Item, como
por exemplo nos indicadores Acerto (r = -.07) e Viés de Resposta (r = -.05).
Relão entre os indicadores de desempenho e as medidas de perfecionismo
De seguida, encontraram-se descritos os coeficientes de correlação de Pearson entre a variá-
vel Tempo, os cinco indicadores das variáveis Erro Ortográfico (O), Erro Gramatical (G), Erro de
Formato de Texto (T), variável Item (medida global de desempenho) e as medidas de perfecio-
nismo em análise.
Variável Tempo
TABELA6
Correlação entre a variável Tempo e a Escala Quase Perfeita (APS), o Inventário das Cognições
Perfecionistas (PCI) e a Escala Multidimensional do Perfecionismo (HMPS)
APS PCI HMPS
P O D Total Total PAO PSP POO Total
Tempo .26 .04 .08 .17 .13 .48* .18 .31 .45*
Nota. N = 32. Tempo = tempo (em segundos) que demorou a concluir a Tarefa de Revio de Texto. Escala Quase Perfeita (APS) de Slaney et al.
(1995); P = Padrão; O = Ordem; D = Discrepância; Total APS = Valor total de perfeccionismo avaliado pela APS. Inventário das Cognições Perfecio-
nistas (PCI) de Flett et al. (1998); Total PCI = Valor total de perfecionismo avaliado pelo PCI. Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS) de
Hewitt e Flett (1991); PAO = Perfecionismo Auto-Orientado; PSP = Perfecionismo Socialmente Prescrito; POO = Perfecionismo Orientado para os
Outros; Total HMPS = Valor total de perfecionismo avaliado pela HMPS. Assinalam-se as correlões moderadas e estatisticamente significativas
* p < .05; ** p < .01; *** p < .00.
Ao analisar os coeficientes de correlação entre a variável Tempo e as rias subescalas das
medidas de perfecionismo, é possível compreender a existência de uma relação positiva, mode-
rada e estatisticamente significativa entre o Tempo e a subescala PAO (rs = .48; p = .03) e com o
valor Total da escala (rs = .45; p = .04).
No entanto, nenhuma das outras relações entre a variável Tempo e as restantes subescalas
das medidas de perfecionismo se mostraram significativas.
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Variável Erro Ortográfico (O)
TABELA7
Correlação entre a variável Erro Ortográfico (O) e a Escala Quase Perfeita (APS), o Inventário das Cognições
Perfecionistas (PCI) e a Escala Multidimensional do Perfecionismo (HMPS)
APS PCI HMPS
Erro O P O D Total Total PAO PSP POO Total
Acerto .32o .28 .16 .33o .08 .16 .31 -.02 .20
FAlarme .20 .26 .22 .33o .44* .44* .33 .33 .48*
Precisão .16 .09 .07 .14 -.24 -.18 .04 -.25 -.17
VResposta -.34o -.34o -.17 -.35* -.27 -.37 -.41o -.17 -.42o
EPrecisão -.07 .01 -.06 -.07 -.38* -.45* -.07 -.36 -.41o
Nota. N = 32. Erro O = erro ortográfico presente na tarefa de revisão de texto. Acerto = percentagem de deteção de erro quando existe erro.
FAlarme (Falso Alarme) = percentagem de detão de erro quando não existe erro. Precisão = medida da capacidade de discriminão de situa-
ções com erro de situações sem erro. VResposta (Vs de Resposta) = tendência para ser conservador, i.e., referir que não existe erro. EPre-
cisão (Eficiência de precisão) = medida de eficncia baseada na precisão. Escala Quase Perfeita (APS) de Slaney et al. (1995); P = Padrão; O =
Ordem; D = Discrepância; Total APS = Valor total de perfeccionismo avaliado pela APS. Inventário das Cognições Perfecionistas (PCI) de Flett
et al. (1998); Total PCI = Valor total de perfecionismo avaliado pelo PCI. Escala Multidimensional de Perfecionismo (HMPS) de Hewitt e Flett
(1991); PAO = Perfecionismo Auto-Orientado; PSP = Perfecionismo Socialmente Prescrito; POO = Perfecionismo Orientado para os Outros;
Total HMPS = Valor total de perfecionismo avaliado pela HMPS. Assinalam-se as correlações moderadas e estatisticamente significativas
* p < .05; ** p < .01; *** p < .00.
o p < 0.10.
Com base nos dados obtidos, foram observados coeficientes de correlação estatisticamente
significativos entre o indicador Viés de Resposta e a variável Total do APS (rs = -.35; p = .05) que
demonstrou ser uma relação negativa e fraca.
Também se verificou a existência de relações significativas entre o indicador Falso Alarme e
a variável Total do PCI (rs = .44; p = .01), que demonstrou ser positiva e moderada, e entre o indica-
dor Eficiência da Precisão e a variável Total do PCI (rs = -.38; p = .04) que, pelo contrio, mostrou
ser negativa e fraca.
A relação entre os indicadores da variável Erro O e o HMPS mostrou ser positiva, moderada e
significativa entre o indicador Falso Alarme e a subescala PAO (rs = .44; p = .05) e a variável Total
(rs = .48; p = .03). O indicador Eficiência da Precisão mostrou ter uma relação negativa, moderada
e significativa com a subescala PAO (rs = -.45; p = .04).
Variável Erro Gramatical (G)
Posteriormente, foram analisadas as relações entre os indicadores da variável Erro Gramati-
cal (G) e as medidas de perfecionismo.
De acordo com os coeficientes de correlação alcaados, não foram observáveis relações
estatisticamente significativas entre os indicadores da variável Erro G e o APS assim como entre
os indicadores da variável Erro G e o PCI.
Por outro lado, os coeficientes de correlação entre os indicadores da variável Erro G e o HMPS
demostraram a presença de algumas relações significativas. O indicador Eficiência da Precisão
apresentou uma relação negativa, moderada e significativa com a subescala PAO (rs = -.45; p = .04)
e com a variável Total (rs = -.45; p = .04).
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Variável Erro de Formato de Texto (T)
De seguida, as relações entre os indicadores da variável Erro de Formato de Texto (T) e as
medidas de perfecionismo foram analisadas.
Ao observar os coeficientes de correlação referidos, foi possível concluir que não existi-
ram relações estatisticamente significativas entre os indicadores da variável Erro T e qualquer
medida do perfecionismo.
Variável Item
Ao analisar a relação entre os indicadores da variável Item e as medidas de perfecionismo
apenas se encontrou uma correlação estatisticamente significativa, entre o indicador Viés de
Resposta e a subescala P (rs = -.38; p = .03), que demonstrou ser fraca e negativa. Embora marginal-
mente significativa, o indicador Eficiência da Precisão apresentou uma relação com a subescala
PAO (rs = -.41; p = .07), sendo esta negativa e moderada.
Discussão
A análise das caraterísticas sociodemográficas do grupo Não Perfecionistas e do grupo Per-
fecionistas não revelou diferenças estatisticamente significativas, demonstrando que as amos-
tras são homogéneas. Eventuais diferenças entre os grupos encontrar-se-ão relacionadas com
outros fatores.
No primeiro momento da investigação pretendeu-se discriminar os sujeitos com altos e bai-
xos níveis de perfecionismo e procedeu-se à divisão da amostra através da medida de perfecio-
nismo utilizada (SAPS).
Com o intuito de melhor compreender e caracterizar a componente cognitiva do conceito,
procedeu-se à realização e análise do segundo momento.
Ao observar os Níveis de Perfecionismo (APS), constatou-se que os sujeitos Perfecionis-
tas apresentaram níveis superiores como se esperava. Este grupo exibiu Padrões Pessoais de
desempenho superiores e maior perceção da Discrepância entre os seus padrões pessoais e a sua
capacidade de os alcaar relativamente ao grupo dos sujeitos Não Perfecionistas. Relativamente
ao Perfecionismo Geral (HMPS), o grupo Perfecionistas também apresentou valores superiores.
Os sujeitos Perfecionistas demonstraram uma tendência para estabelecer mais normas e padrões
de desempenho elevados e rigorosos em relação a si mesmos, como seria de esperar.
Ao investigar a frequência das Cognições Perfecionistas (PCI), observou-se que os valores
foram superiores nos sujeitos Perfecionistas. Este facto mostra que este foi um instrumento dis-
criminatório entre os grupos, o que corrobora o estudo de Ishida (2005) onde esta medida de
perfecionismo permitiu dividir a amostra em dois grupos – Perfecionistas e Não Perfecionistas.
Os dados anteriores denotam que os sujeitos Perfecionistas que aceitaram dar continuidade
ao estudo apresentaram características de perfecionismo diferentes dos sujeitos Não Perfecio-
nistas. Deste modo, pode-se caraterizar os sujeitos Perfecionistas por apresentarem Níveis de
Perfecionismo elevados (APS); Padrões Pessoais de desempenho mais elevados; maior perceção
da Discrepância; maior frequência de Cognições Perfecionistas (PCI); e por serem mais exigen-
tes consigo próprios. Respondendo a um dos objetivos delineados para a presente investigação,
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houve diferenças nas várias dimensões de perfecionismo em sujeitos com altos e baixos níveis
de perfecionismo.
Seguidamente, ao analisar as relações entre as várias dimensões de perfecionismo foi possí-
vel verificar (apesar de muito circunscritas) algumas relações significativas entre as dimensões.
Observou-se que os sujeitos Perfecionistas que apresentaram uma maior preferência pela orga-
nização, Ordem e limpeza e uma perceção de si mesmos como incapazes de alcançar os seus
padrões de desempenho, tenderam a apresentar mais Cognões Perfecionistas (PCI). Este facto
mostra que a componente comportamental se relaciona com a componente cognitiva, uma vez
que elevados Níveis de Perfecionismo (APS) correspondem a maior frequência de Cognições Per-
fecionistas (PCI).
O objetivo principal da tarefa de revisão de texto consistiu em avaliar se existiam diferenças
no desempenho na realização da prova em sujeitos com altos e baixos níveis de perfecionismo.
Embora no artigo original desenvolvido por Stoeber e Eysenck (2008) as modalidades de erro não
sejam discriminadas (i.e., referem-se aos erros no global), no presente trabalho os diferentes tipos
de erro encontram-se devidamente diferenciados.
Apesar da maioria das relações não serem significativas na análise intergrupal, percecionou-
-se que os sujeitos Perfecionistas tenderem a demorar mais tempo a concluir a tarefa. No estudo
de Ishida (2005) os sujeitos Perfecionistas investiram mais tempo nas informações irrelevantes,
apresentando uma eficiência reduzida comparativamente aos sujeitos Não Perfecionistas. Assim,
os dados alcançados no presente estudo vão de encontro ao esperado.
No que diz respeito aos indicadores das variáveis Erro Ortográfico, Erro Gramatical, Erro For-
mato de Texto e da variável Item não se observaram diferenças entre os dois grupos em estudo,
sugerindo a ambiguidade de deteção de erros. O facto de não haver qualquer tipo de discrimina-
ção de Erro pode estar relacionado com o tamanho da amostra, que não permitiu uma expressão
significativa dos resultados; e com algumas caraterísticas do texto selecionado, nomeadamente
em palavras de dupla grafia.
Os sujeitos que mostraram ser mais perfecionistas no global (HMPS) tenderam a demorar
mais tempo a concluir a tarefa, especialmente os que tenderam a ser mais exigentes consigo mes-
mos. No estudo original, os participantes que demoraram mais tempo tiveram um maior inves-
timento para encontrar os erros, apresentando maior precisão mas menor eficiência (Stoeber &
Eysenck, 2008).
Ao investigar a variável Erro Ortográfico, foi possível verificar que os sujeitos com mais Cog-
nições Perfecionistas (PCI) e mais exigentes consigo mesmos tenderam a detetar/assinalar mais
erros quando na verdade não se tratava de um erro (Falsos Alarmes). De acordo com Shafran et
al. (2002), os Perfecionistas sentem uma pressão constante para alcançar a perfeição o que poten-
cia o insucesso, por estabelecerem objetivos irrealistas, levando à diminuição do desempenho e
da produtividade.
Também foi possível verificar que quanto maiores os Níveis de Perfecionismo (APS) menor
o Viés de Resposta, i.e., menor a tendência para ser conservador. Este dado parece mostrar que
quanto mais elevados foram os níveis de perfecionismo, maior foi a tendência de referir que exis-
tia erro. Assim, esta relação mostrou que os sujeitos Perfecionistas referiram mais Erros Orto-
gráficos no texto do que os sujeitos Não Perfecionistas. Um dos motivos pelos quais isto acontece
pode ser por este tipo de erros serem aqueles que os participantes estavam mais seguros, uma
vez que todos eram nativos de língua portuguesa. Outro motivo pode ser o facto de os Erros
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Ortogficos serem os menos ambíguos comparativamente aos de Gramática ou mesmo de For-
matação, que implicavam ler as regras descritas nas instrões.
Outro objetivo da presente investigação consistia em explorar a relação entre as Cognições
Perfecionistas (PCI) e a eficiência na resolução da tarefa. Através dos dados alcaados, consta-
tou-se que os sujeitos que apresentaram mais Cognões Perfecionistas (PCI) foram menos efi-
cientes quanto ao Erro Ortográfico. Também os sujeitos Perfecionistas com tendência para ser
exigentes consigo mesmos demonstraram ser menos eficientes.
Analisar a relação entre os Níveis de Perfecionismo (APS) e a eficiência na resolução da tarefa
também foi um objetivo delineado. No presente estudo não foi possível encontrar qualquer rela-
ção significativa. Ainda assim sublinhamos que, apesar de não ser uma relação significativa, a
eficiência se relacionou negativamente com os Padrões Pessoais de desempenho – i.e., os sujeitos
com Padrões Pessoais elevados tenderam a ser menos eficientes, o que corrobora os resultados do
estudo de Stoeber e Eysenck (2008).
Os sujeitos Perfecionistas que apresentavam Padrões Pessoais de desempenho elevados ten-
deram a detetar (Acertar) os Erros de Ortografia e sujeitos Perfecionistas no global (HMPS), apre-
sentaram um elevado número de Falsos Alarmes. Não é possível contrastar estes resultados com
os estudos anteriores na área porque as modalidades de erros foram sempre agrupadas.
Sujeitos Perfecionistas com Padrões Pessoais de desempenho elevados, com tendência para
a organização e Ordem e com expetativas sociais face a si mesmos tenderam a apresentar um
menor vs de resposta (referiram que existia Erro Ortogfico). Deste modo, depreende-se que
os sujeitos perfecionistas tenderam a ser menos conservadores nas suas respostas, face ao Erro
Ortogfico.
Seguidamente, ao analisar a medida global de desempenho (Item), constatou-se que os sujei-
tos com Padrões Pessoais de desempenho elevados tenderam a ser menos conservadores (i.e.,
referiram mais vezes que existia erro). Também foi possível observar que, no presente estudo,
os sujeitos com perfecionismo direcionado para o próprio tenderam a ser menos eficientes na
resolução da Tarefa.
Assim, tal como seria de esperar, pode-se concluir que quanto maiores os veis de Perfe-
cionismo menor o desempenho relativo (ou eficiência) dos participantes. Os sujeitos Perfecionis-
tas tenderam a ser menos eficientes no seu desempenho, corroborando assim os resultados do
estudo de Stoeber e Eysenck (2008). Deste modo, tanto os resultados do estudo original como do
presente estudo fornecem apoio empírico para o facto de que o perfecionismo se encontra inver-
samente relacionado com a eficiência (Ishida, 2005).
Considerações finais
O presente estudo apresentou como principal finalidade analisar a influência das Cognições
Perfecionistas no desempenho de uma tarefa de revisão de texto. Neste sentido, procurou-se ave-
riguar se a qualidade do desempenho dos sujeitos dependia dos seus Níveis de Perfecionismo.
Ao analisar as diferenças intergrupais, percecionou-se que os sujeitos Perfecionistas demo-
raram mais tempo a realizar a prova – especialmente os que mostravam ser exigentes em relação
a si próprios e investiram mais a encontrar erros. Embora apresentem um maior número de
Acertos, também apresentam um maior número de Falsos Alarmes.
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Cognições Perfecionistas e Desempenho numa Tarefa de Revisão de Texto numa amostra de jovens-adultos universitários
Os resultados alcançados neste estudo apresentam implicações importantes para as investi-
gações sobre o perfecionismo e o desempenho. Como esperado, o perfecionismo es negativa-
mente relacionado com a eficiência. Sem considerar a eficiência e as respostas corretas versus
incorretas, pode-se concluir que não houve diferenças estatisticamente significativas no desem-
penho na prova em função dos Níveis de Perfecionismo.
A presente investigação apresenta algumas limitações. Primeiro, aponta-se o facto de a amos-
tra ter sido reduzida. Segundo, o texto selecionado para a tarefa de revisão de texto pode ser
considerado como uma limitação por ser ambíguo, suscitando dúvidas e dificultando a deteção
correta dos erros. E terceiro, existem poucos estudos que tenham investigado o perfecionismo
e a eficiência utilizando o tempo para determinar o esforço, o que dificulta a compreensão e a
interpretação dos resultados alcaados.
Estudos futuros podem incluir na investigação outros indicadores de esfoo, como por
exemplo o esforço subjetivo, o grau de atenção e os indicadores fisiológicos (Eysenck et al., 2007)
de modo a averiguar se os presentes resultados são generalizáveis. Outras sugestões de estudos
futuros podem ser a realização da investigação em apenas um momento, de forma a não se per-
derem participantes, e a seleção de um texto de fácil leitura, mais reduzido e aprimorado.
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PERFECCIONISMO, SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA
EACONTECIMENTOS DE VIDA NEGATIVOS NA IDEAÇÃO
SUICIDAEMJOVENSADULTOS1
PERFECTIONISM, DEPRESSIVE SYMPTOMS AND NEGATIVE LIFE EVENTS
INSUICIDAL IDEATION IN YOUNG ADULTS
Jenifer Mata2, Ana Isabel Reis3, Marta Brás4
PSIQUE • EISSN 21834806 • VOLUME XVII • ISSUE FASCÍCULO 1
1ST JANUARY JANEIRO  30TH JUNE JUNHO 2021 PP. 96121
DOI: https://doi.org/10.26619/2183-4806.XVII.NT.5
Submited on 11.10.20 Submetido a 11.10.20
Accept on 22.12.20 Aceite a 22.12.20
Resumo
O suicídio resulta de um processo complexo, que normalmente se inicia com a ideação sui-
cida. É uma das principais causas de mortes nos jovens-adultos, sendo um problema atual preo-
cupante. O comportamento suicidário é influenciado por diversos fatores de risco, dos quais se
salientam os acontecimentos de vida negativos, o perfeccionismo e a sintomatologia depressiva.
Contudo, a relação que se estabelece entre estes fatores na explicação da ideação suicida é pouco
estudada.
O presente estudo teve como principal objetivo analisar a influência dos acontecimentos
de vida negativos, do perfeccionismo e da sintomatologia depressiva na ideação suicida, numa
amostra de jovens-adultos de nacionalidade portuguesa.
A amostra foi composta por 224 jovens-adultos, com idades compreendidas entre os 18 e os
35 anos. Os participantes preencheram instrumentos que avaliavam: ideação suicida, aconteci-
mentos de vida negativos, perfeccionismo e sintomatologia depressiva.
Os resultados indicam que a relação entre os acontecimentos de vida negativos e a ideação
suicida é mediada parcialmente pela sintomatologia depressiva e que o perfeccionismo social-
mente prescrito modera a relação entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida.
Conclui-se que, os jovens-adultos que experienciam mais acontecimentos de vida negativos
poderão apresentar um risco acrescido de ideação suicida, que poderá ser intensificado pela sin-
tomatologia depressiva. Quanto à relação entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida,
esta é mais robusta nos jovens-adultos que possuem níveis mais elevados de perfeccionismo.
1 Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do
projeto CIP - Refª UIDB/PSI/04345/2020
2 Jenifer Daniela de Nóbrega da Mata, a57507@ualg.pt, Departamento de Psicologia e Ciências da Educação, Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Faro, Portugal
3 Ana Isabel Oliveira dos Reis, a57495@ualg.pt, Departamento de Psicologia e Ciências da Educação, Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Faro, Portugal
4 Autor de correspondência: Marta Sofia Ventosa Brás, mbras@ualg.pt, Centro de Investigação em Psicologia (CIP) / Departa-
mento de Psicologia e Ciências da Educação, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve Faro, Portugal
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Jenifer Mata, Ana Isabel Reis, Marta Brás
Torna-se, assim, relevante a avaliação destes fatores de risco, de modo a prevenir os comporta-
mentos suicidários e desenvolver uma intervenção mais adequada.
Palavras-chave: acontecimentos de vida negativos, depressão, ideação suicida, jovens-adultos, per-
feccionismo
Abstract
Suicide is the result of a complex process, which usually begins with suicidal ideation. It
is one of the main causes of death in young adults and is a current worrying problem. Suicidal
behavior is influenced by several risk factors, among which negative life events, perfectionism
and depressive symptomatology stand out. However, the relationship established between these
factors in explaining suicidal ideation is poorly studied.
The main objective of this study was to analyze the influence of negative life events,
perfectionism and depressive symptomatology on suicidal ideation, in a sample of young adults
of portuguese nationality.
The sample consisted of 224 young-adults, aged between 18 and 35 years. Participants
filled out instruments that assessed: suicidal ideation, negative life events, perfectionism and
depressive symptomatology.
The results indicate that the relationship between negative life events and suicidal ideation
is partially mediated by depressive symptomatology and that socially prescribed perfectionism
moderates the relationship between depressive symptomatology and suicidal ideation.
It is concluded that young adults who experience more negative life events may present an
increased risk of suicidal ideation, which may be intensified by depressive symptomatology. As
for the relationship between depressive symptomatology and suicidal ideation, this is more robust
in young adults who have higher levels of perfectionism. It is, therefore, relevant to assess these
risk factors, in order to prevent suicidal behavior and carry out a more appropriate intervention.
Keywords: depression, negative life events, perfectionism, suicidal ideation, young adults
1. Introdução
O suicídio é um fenómeno complexo, para o qual contribuem diversos fatores: biológicos,
antropológicos, filosóficos, sociais e psicológicos (Direção-Geral da Saúde [DGS], 2013). No
âmbito da área científica da psicologia, o estudo do comportamento suicidário é um tema atual
e pertinente, tanto do ponto de vista empírico, como do ponto de vista social e da prática clí-
nica. Assim, o objetivo geral do presente estudo consiste em analisar a influência dos aconte-
cimentos de vida negativos, das dimenes do perfeccionismo e da sintomatologia depressiva
na ideação suicida.
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
1.1 Suicídio
Os atos suicidas constituem um grave problema de saúde pública a nível mundial. A Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 700mil pessoas morrem por suicídio por ano,
o que corresponde a uma pessoa a cada 40 segundos. Em 2019, o suicídio foi responsável por 1.3%
das mortes auto-provocadas, tornando-se a 17.ª causa de morte. Ainda, mundialmente, a popula-
ção jovem-adulta evidencia resultados alarmantes, sendo o suicídio a quarta principal causa de
morte para as idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos (OMS, 2021).
No ano 2019, o continente europeu apresentou uma taxa de suicídio (10.5 por 100 mil habi-
tantes) superior à da média global (9.0 por 100mil habitantes), representando o segundo conti-
nente com maior incidência de comportamentos suicidários (OMS, 2021).
Em Portugal, desde que existem registos oficiais de taxas de suicídio, verifica-se uma maior
prevalência na região sul. Os resultados apontam também o suicídio como uma das principais
causas de morte em jovens portugueses, com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos
(DGS, 2013).
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a nível nacional, no ano 2019, a taxa
de mortalidade por lees auto-provocadas intencionalmente (suicídio) foi de 9.5% por 100 mil
habitantes, apresentando o sexo feminino valores inferiores (4.4%) ao sexo masculino (15.2%)
(INE, 2021). Embora a taxa de mortalidade por suicídio seja superior no sexo masculino, sabe-se
que a ideação suicida e as tentativas de suicídio são mais prevalentes no sexo feminino, assim
como outros indicadores de menor qualidade de saúde mental (elevados níveis de psicopatologia,
especificamente de stresse, ansiedade e depressão) (Fonte et al., 2017).
1.2 Processo suicidário
O processo suicidário pode evoluir ao longo de quatro fenómenos essenciais: a ideação sui-
cida, os comportamentos autolesivos, a tentativa de suicídio e o suicídio consumado, sendo que
os dois últimos integram os atos suicidas (DGS, 2013).
A ideação suicida remete para os pensamentos e cognições sobre pôr fim à própria vida,
podendo apresentar-se na forma de desejos e/ou plano para cometer o suicídio. Adicionalmente,
é pertinente reaar que a ideação suicida é normalmente o marco primário do processo, prece-
dendo os comportamentos autolesivos e os atos suicidas e, por conseguinte, é um forte preditor
para a ocorrência de comportamentos suicidários, o que significa que, quanto maior for a idea-
ção suicida, maior será o risco de o indivíduo cometer um comportamento suicida (DGS, 2013).
Botega et al. (2005) revelam que a presença de pensamentos suicidas representa um elevado risco
para a concretização de uma tentativa de suicídio, existindo empiricamente uma forte relão
entre as duas variáveis.
Os comportamentos autolesivos são comportamentos sem intencionalidade suicida, no
entanto, envolvem atos propositados, realizados contra o próprio indivíduo. A título de exemplo,
cortar-se ou saltar de um local relativamente elevado; ingerir fármacos em doses superiores ao
prescrito (DGS, 2013).
Relativamente aos atos suicidas, a tentativa de suicídio é o ato provocado por um indivíduo
que tenciona pôr fim à sua vida, porém, por motivos alheios à sua vontade, acaba por não ser
fatal. O suicídio consumado consiste no ato de morte auto-provocada, cujo indivíduo continha a
intencionalidade de pôr termo à sua vida (DGS, 2013).
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Jenifer Mata, Ana Isabel Reis, Marta Brás
Tendo em consideração o anteriormente aludido, torna-se fundamental estudar o início
do processo suicidário (ideação suicida), de maneira a prevenir potenciais atos suicidas, como
também, adquirir conhecimento acerca dos principais fatores de risco que podem desencadear
algum grau de vulnerabilidade para a ideação suicida.
1.3 Fatores de risco
A identificação dos fatores de risco é fundamental para a prevenção do suicídio, proporcio-
nando a compreensão do fenómeno e o desenvolvimento de intervenções adequadas (DGS, 2013).
O perfeccionismo é um dos fatores de risco que tem sido consistentemente relacionado ao
comportamento suicidário (e.g., Hewitt & Flett, 1991; O’Connor, 2007; Roxboroug et al., 2012;
Shahnaz et al., 2018; Smith et al., 2017). O perfeccionismo é um traço de personalidade mul-
tidimensional (características intrapessoais e interpessoais), definido pelo estabelecimento de
padrões de desempenho excessivamente elevados, acompanhado de uma autoavaliação extre-
mamente autocrítica (Frost et al., 1990).
Os acontecimentos de vida negativos também têm vindo a ser mencionados como um fator
influente no processo suicidário (e.g., Liu & Miller, 2014; Low et al., 2017; Serafini et al., 2015;
Ystgaard et al., 2004). Os acontecimentos de vida negativos são definidos como eventos que ocor-
rem antes dos 18 anos de idade e que são suscetíveis de possuir um impacto negativo na vida do
indivíduo. Estes acontecimentos consistem no historial psicopatológico da família, na ocorrên-
cia de maus-tratos na infância, na instabilidade familiar, na presença de um ambiente familiar
empobrecido e no desenvolvimento de relações insatisfarias com os pares (Yang & Clum, 1996).
A perturbação mental constitui-se também um fator de risco significativo, atendendo que
existem estudos que demonstram que cerca de 90% das pessoas que se suicidaram sofriam de
uma perturbação mental (DGS, 2013). A literatura apresenta a sintomatologia depressiva como
um fator de risco para o comportamento suicida (e.g., Garlow et al., 2008; May & Klonsk, 2016).
A depressão é definida como uma perturbação mental caracterizada pela presença de humor
triste, vazio ou irritável, juntamente com alterações somáticas e cognitivas que afetam consi-
deravelmente a capacidade do funcionamento do indivíduo (American Psychiatric Association
[APA], 2014).
Enfatiza-se que na presença de um aglomerado de fatores negativos, existe uma maior pro-
babilidade de ocorrência de comportamentos autolesivos e atos suicidas. Porém, não é um único
fator de risco que determina o ato suicida. Nem todos os fatores são significativos no que diz res-
peito à prevenção, sendo pertinente que sejam analisados em conjunto (DGS, 2013).
1.4 Modelos explicativos
1.4.1 Modelo Etiológico do Comportamento Suicida (Yang & Clum, 1996)
Na década de 90, surgem os primeiros modelos psicológicos explicativos dos comportamen-
tos suicidários. O Modelo Etiológico do Comportamento Suicida desenvolvido por Yang e Clum
(1996) postula que os acontecimentos de vida negativos, sobretudo maus-tratos experienciados
na infância e adolescência, podem conduzir a um ato suicidário, estando mediados por fato-
res cognitivos, tais como, a desesperança, o locus de controlo, os sentimentos de dependência,
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
a autoestima e a capacidade de resolução de problemas. Os autores salientam ainda que, um
ambiente familiar instável, aumenta a probabilidade de desenvolver este tipo de comportamento.
Os acontecimentos de vida negativos podem influenciar de forma direta e indireta os com-
portamentos suicidas. Diretamente, como um evento stressante e, indiretamente, afetando os
fatores cognitivos que, por sua vez, conduzem ao ato suicida (Yang & Clum, 1996).
1.4.2 Modelo Cognitivo do Suicídio (Wenzel & Beck, 2008)
Alguns anos mais tarde, Wenzel e Beck (2008) desenvolveram o Modelo Cognitivo do Suicí-
dio que integra ts construtos que sustentam os comportamentos suicidários, nomeadamente,
fatores de vulnerabilidade disposicional, processos cognitivos associados às perturbações psi-
quiátricas e processos cognitivos relacionados com o comportamento suicidário.
O modelo inclui o perfeccionismo como um traço de personalidade de risco para a ocor-
rência de um ato suicidário, sendo considerado um fator de vulnerabilidade. Wenzel e Beck (2008)
defendem ainda que tais fatores, associados a acontecimentos de vida negativos, podem tornar
o sujeito mais vulnerável a esquemas cognitivos disfuncionais, característicos de perturbações
psicológicas, como é o caso da perturbação depressiva. Deste modo, a depressão pode remeter
para processos cognitivos alusivos à ideação suicida e, consequentemente, despoletar a consu-
mação do ato suicida.
1.4.3 Modelo de Desconexão Social do Perfeccionismo (PSDM) (Hewitt et al., 2006; Hewitt
etal.,2017)
O Modelo de Desconexão Social do Perfeccionismo (PSDM) pretende averiguar a relação
entre o perfeccionismo e a psicopatologia e foi desenvolvido por Hewitt et al. (Hewitt et al., 2006;
Hewitt et al., 2017).
O Modelo de Desconexão Social do Perfeccionismo sugere que o perfeccionismo socialmente
prescrito5 desencadeia problemas interpessoais, resultantes em maiores níveis de hostilidade e
sensibilidade excessiva à crítica e rejeição. Estes problemas, por sua vez, emergem em sentimen-
tos de distanciamento dos outros (desconexão social subjetiva), dificuldades nos relacionamen-
tos interpessoais (desconexão social objetiva) e, consequentemente, isolamento social (Hewitt
etal., 2006).
O modelo teoriza que o perfeccionismo socialmente prescrito conduz à ideação suicida, por
meio de problemas interpessoais e desconexão social. O que significa que são as consequências
interpessoais do perfeccionismo, como o isolamento, a solidão e o sentimento de falta de per-
tença, que podem contribuir para o ato suicida (Hewitt et al., 2006).
Hewitt et al. (2017) estenderam o Modelo da Desconexão Social do Perfeccionismo ante-
riormente referido, passando a incutir a variável acontecimentos de vida negativos. Os autores
defendem que as adversidades ou maus-tratos na infância são um importante fator de vulnera-
bilidade para o desenvolvimento de traços e comportamentos perfeccionistas. O perfeccionismo
passa, assim, a desenvolver-se parcialmente como consequência dos comportamentos parentais
adversos e experiências traumáticas na inncia. Enaltece-se que os acontecimentos de vida
5 O perfeccionismo socialmente prescrito (PSP) é uma dimensão interpessoal do perfeccionismo que envolve a crença de que os
outros possuem pades e expetativas irrealistas para si próprio (Hewitt & Flett, 1991).
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Jenifer Mata, Ana Isabel Reis, Marta Brás
negativos vivenciados pelos indivíduos com perfeccionismo colocam-nos vulneráveis a desen-
volver ideação suicida.
Considerando os modelos supramencionados, identifica-se como principais fatores de risco
o perfeccionismo, os acontecimentos de vida negativos e a depressão.
1.5 O contributo do perfeccionismo para a ideação suicida
Hewitt e Flett (1991) conceituaram o perfeccionismo em três dimensões, mais concretamente,
Perfeccionismo Auto-Orientado (PAO), Perfeccionismo Socialmente Prescrito (PSP) e Perfeccio-
nismo Orientado para os Outros (POO). O PAO refere-se à tendência para estabelecer padrões
de desempenho excessivamente elevados, para si próprio, e praticamente inexequíveis. O PSP
envolve a crença de que os outros possuem padrões e expetativas irrealistas para si próprio e
acredita que se não corresponder a tais expetativas, poderá não ser aceite. E, por último, o POO
abrange crenças e expetativas sobre as capacidades dos outros, como colocar padrões irrealistas
de que os outros são perfeitos. Para além disso, os autores sustentam que a excessiva necessidade
de ser perfeito perante os outros, pode gerar desconexão social, alienação e solidão, culminando
na ideação suicida e tentativas de suicídio.
Do ponto de vista empírico, as dimenes que têm demonstrado melhor evidência, quando
associadas aos comportamentos suicidários, são o perfeccionismo auto-orientado e o perfec-
cionismo socialmente prescrito. O perfeccionismo socialmente prescrito parece favorecer o
aumento da ideação suicida e das tentativas de suicídio, enquanto o perfeccionismo auto-orien-
tado associa-se apenas à ideação suicida (Smith et al., 2017). Os autores defendem ainda que os
indivíduos que apresentam traços perfeccionistas podem possuir pensamentos e comportamen-
tos com consequências suicidárias. Robinson et al. (2021) acrescentam que as três dimensões do
perfeccionismo foram associadas positivamente à ideação suicida. Adicionalmente, o perfeccio-
nismo socialmente prescrito e o perfeccionismo auto-orientado podem estar associados aos com-
portamentos suicidários nos jovens (Roxboroug et al., 2012).
Os indivíduos perfeccionistas tendem a definir pades irrealistas para si próprios, que por
vezes, o incapazes de atingir. O fracasso resultante dessas expetativas pode originar senti-
mentos de ineficácia ou incompetência, levando a que o individuo se percecione como um fardo
para os outros. Assim, Ramussem et al. (2012) evidenciam que a perceção de ser um fardo para os
outros e o perfeccionismo patológico encontram-se associados à ideação suicida.
Shahnaz et al. (2018) salientam que o perfeccionismo pode ser um fator de risco para a idea-
ção suicida, como também, defendem que a relação existente entre o perfeccionismo e a tenta-
tiva de suicídio pode ser influenciada pela ideação suicida.
Mais recentemente, Jonge-Heesen et al. (2021) também vão ao encontro com os estudos prece-
dentes, defendendo que elevados níveis de perfeccionismo, estão relacionados com um aumento
de tendência suicida. Brennan-Wydra et al. (2021) enaltecem que existe uma associação positiva
e significativa entre o perfeccionismo desadaptativo e a ideação suicida.
A revisão da literatura aponta assim para o perfeccionismo como um fator relevante na
explicão do suicídio, sendo este um traço que tem sido relacionado de modo consistente ao
comportamento suicidário em populações clínicas e não-clínicas (O’Connor, 2007).
Dentro da mesma perspetiva, Johnson et al. (2011) efetuaram uma meta-análise com 77 estu-
dos, com a finalidade de investigar a existência de moderadores psicológicos de risco suicidário.
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
Os resultados apontam que os níveis elevados de perfeccionismo contribuem para amplificar
outros fatores de risco que estão associados aos comportamentos suicidários. Sommerfeld e
Malek (2019) concluíram que existe um papel moderador das dimenes do perfeccionismo, mais
precisamente, do perfeccionismo auto-orientado e do perfeccionismo socialmente prescrito na
relação entre os fatores de desconexão social e a ideação suicida. Ainda assim, apesar de estar
clarificado na literatura que o perfeccionismo é um fator de vulnerabilidade para a ideação sui-
cida, ainda existe pouca investigação sobre quais são os moderadores pelos quais as variáveis se
encontram interligadas (Bender, 2020; Zeifman et al., 2020).
1.6 A vivência de acontecimentos de vida negativos por indivíduos perfeccionistas e as suas
consequências na ideação suicida
A vivência de acontecimentos de vida negativos parece ser uma variável comum à maioria
dos indivíduos que comete atos suicidas (Ystgaard et al., 2004). Liu e Miller (2014), através de uma
revisão sistemática com 95 estudos, reforçam que existe uma associação entre os acontecimentos
de vida negativos e os diferentes comportamentos suicidários.
Um ano mais tarde, Serafini et al. (2015), mediante uma revisão sistemática com 28 estudos,
chegam à mesma conclusão, admitindo que a maioria dos estudos relata uma associação robusta
entre os acontecimentos de vida negativos e os processos suicidários, sobretudo, com a idea-
ção suicida e as tentativas de suicídio. Os autores acrescentam ainda que o número e o tipo de
adversidades vivenciadas são relevantes para o desenvolvimento do comportamento suicida nos
jovens.
Low et al. (2017) indicam que a ocorrência de abuso físico na inncia se encontra significati-
vamente associada a uma maior ideação suicida nos jovens universitários.
Liu et al. (2017), através de uma meta-análise, frisam que os maus-tratos na infância aumen-
tam o risco de comportamento suicida, contudo, ao contrio do que foi exposto anteriormente,
revelam que os acontecimentos de vida negativos não influenciam a ideação suicida, apenas as
tentativas de suicídio.
Considerando as diferentes componentes traumáticas que estão subjacentes aos aconteci-
mentos de vida negativos, nomeadamente o abuso emocional, a negligência emocional, o abuso
sexual, o abuso físico e a negligência física (Dias et al., 2013), destaca-se que a negligência e o
abuso emocional encontram-se significativamente associados ao risco suicidário (Falgares et al.,
2018). Wang et al. (2019) postularam que a exposição de uma criança a situações de isolamento/
rejeição dos pares, negligência emocional e baixo nível socioeconómico aumentam significativa-
mente o risco de ideação suicida. Os autores destacam também que quanto maior a vivência de
acontecimentos de vida negativos, maior é a tendência para pensamentos suicidas.
Os abusos infantis, quer sejam físicos, emocionais ou sexuais, são preditores do perfeccio-
nismo auto-orientado e do perfeccionismo socialmente prescrito (Chen et al., 2019). O que vai
ao encontro com o Modelo da Desconexão Social do Perfeccionismo (Hewitt et al., 2017) ante-
riormente referido, uma vez que a ocorrência de acontecimentos de vida negativos é um fator
de vulnerabilidade para o desenvolvimento de traços perfeccionistas. O modelo evidencia ainda
que os indivíduos perfeccionistas com vivências de adversidades ou maus-tratos na infância são
mais vulneráveis a desenvolver ideação suicida.
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1.7 O papel da depressão na relação entre os acontecimentos de vida negativos, perfeccio-
nismo e ideação suicida
A sintomatologia depressiva detém uma associação proeminente com a ideação suicida, o que
explica a ideação suicida nos jovens-adultos que apresentam sintomas depressivos graves. Em
contrapartida, os indivíduos que não apresentam ideação suicida manifestam sintomas depres-
sivos significativamente mais baixos (Garlow et al., 2008). May e Klonsky (2016) concluíram que
a depressão é mais frequente em indivíduos que tentam o suicídio do que naqueles que possuem
apenas ideação suicida. Apesar disso, os autores corroboram com o estudo anterior, afirmando
que os diagnósticos depressivos são mais frequentes em indivíduos com ideação suicida, quando
comparados com indivíduos sem qualquer fenómeno do processo suicidário, sugerindo que os
sintomas depressivos tornam os indivíduos mais vulneráveis ao comportamento suicidário.
Considerando que os acontecimentos de vida negativos e a depressão associam-se significa-
tivamente com a ideação suicida, torna-se fundamental investigar se existe uma relação entre
estes dois fatores de risco, de forma a percecionar se ambos podem influenciar-se e, consequen-
temente, desencadear pensamentos e cognições suicidas.
Num estudo com 225 mulheres portuguesas, Pinto et al. (2015) realçaram que a exposição
a experiências adversas na infância está associada, e é preditora de sintomatologia depressiva
e de tentativas de suicídio. Adicionalmente, a existência de acontecimentos de vida negativos
aumenta significativamente o surgimento de sintomatologia depressiva e comportamentos suici-
das (Chang et al., 2016).
De acordo com o exposto na literatura, os acontecimentos de vida negativos são preditores
da sintomatologia depressiva (Pinto et al., 2015). Portanto, reaa-se, a pertinência de estudar o
modo como os acontecimentos de vida negativos interagem com a sintomatologia depressiva no
desenvolvimento da ideação suicida.
Em 2016, Sobrinho e Campos estudaram a relação que existe entre os acontecimentos de vida
negativos e o risco de suicídio e a maneira como esta é influenciada pela depressão. Os resulta-
dos obtidos evidenciam que a sintomatologia depressiva medeia a relação entre a frequência e
a intensidade de acontecimentos de vida negativos e o risco de suicídio, o que explica que um
jovem que vivencie acontecimentos de vida negativos se encontre mais vulnerável a desenvolver
sintomatologia depressiva. Por conseguinte, a depressão acaba por provocar maior sofrimento
psicológico, aumentando o risco de o jovem desenvolver um comportamento suicida.
Embora haja evidência do efeito da depressão na relação entre os acontecimentos de vida
negativos e o risco de suicídio, ainda existe uma lacuna quanto ao papel mediador da sintomato-
logia depressiva na relação entre os acontecimentos de vida negativos e a ideação suicida.
Além dos acontecimentos de vida negativos, é também relevante averiguar a relação entre o
perfeccionismo e a depressão. Besser et al. (2010) enfatizam que os indivíduos com altos níveis de
perfeccionismo socialmente prescrito e perfeccionismo auto-orientado são propensos a desen-
volver sintomatologia depressiva. Alguns anos mais tarde, Kiani e Khodabakhsh (2014) voltam a
frisar a importância do perfeccionismo na predição da sintomatologia depressiva. O perfeccio-
nismo socialmente prescrito confere vulnerabilidade aos indivíduos para desenvolverem sinto-
matologia depressiva (Smith et al., 2018).
Hewitt et al. (2014) num estudo sobre as dimensões do perfeccionismo, stresse, desesperança
e ideação suicida, com uma amostra de 55 pacientes psiquiátricos adolescentes diagnosticados
com depressão, realçam que o perfeccionismo socialmente prescrito está associado ao risco
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
global de suicídio, como também, se correlaciona significativamente aos acontecimentos de vida
negativos e à depressão. Por sua vez, os resultados do estudo indicam que a ideação suicida foi
significativamente relacionada com o stresse, a depressão e a desesperança. Adicionalmente,
o perfeccionismo socialmente prescrito parece ser particularmente relevante na previsão do
potencial suicida em adolescentes deprimidos.
Considerando a revisão da literatura exposta, constata-se que os fatores de risco em estudo,
mais precisamente, o perfeccionismo, os acontecimentos de vida negativos e a depressão pos-
suem uma robusta associação com a ideação suicida. Contudo, é importante a realização de um
estudo que contemple todas estas variáveis e que demonstre de que maneira estas podem ou não
estar envolvidas na génese do suicídio. Pretende-se, assim, investigar se os acontecimentos de
vida negativos, perfeccionismo, depressão e ideação suicida, revelam associações significativas
entre si e se influenciam o desenvolvimento de ideação suicida de forma direta ou mediada.
Desta forma, será possível contribuir para uma melhor compreensão dos fatores de risco do pro-
cesso suicidário nos jovens-adultos.
2. Objetivos
O objetivo geral do presente estudo consiste em analisar a influência dos acontecimentos
de vida negativos, das dimensões do perfeccionismo e da sintomatologia depressiva na ideação
suicida, numa amostra de jovens-adultos de nacionalidade portuguesa. De modo a concretizar o
objetivo geral, foram delineados os seguintes objetivos específicos:
Explorar os níveis de perfeccionismo, sintomatologia depressiva, ideação suicida e a vivên-
cia de acontecimentos negativos nos jovens-adultos estudados;
Analisar o valor preditor dos fatores de risco na explicação da ideação suicida;
Explorar o efeito mediador da sintomatologia depressiva na relação entre os acontecimentos
de vida negativos e a ideação suicida;
Averiguar o papel moderador das dimensões do perfeccionismo na relão entre a sintoma-
tologia depressiva e a ideação suicida.
3.todo
3.1 Desenho do estudo
O estudo apresenta um design descritivo, correlacional e transversal.
3.2 Amostra
A amostra do presente estudo é composta por 224 jovens-adultos de nacionalidade portu-
guesa, dos quais 166 são do sexo feminino (74.1%) e 58 do sexo masculino (25.9%), com idades
compreendidas entre os 18 e os 35 anos (M = 22.71; DP = 3.43). A maioria dos participantes são
solteiros (92.9%), estudantes (62.9%), com habilitações literárias ao vel do ensino superior (62.9%)
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e maioritariamente residem em Portugal Continental, sendo que 7.1% habita na Região Autónoma
da Madeira.
A nível do historial psicopatológico, 85 (37.9%) jovens-adultos revelaram que foram
acompanhados por um profissional de saúde mental e 42 (18.8%) referem ter tido pelo menos
um problema psicológico diagnosticado. Verificou-se que praticamente metade da amostra
(46.4%) já sentiu que não valia a pena viver, sendo que 28 (12.5%) participantes já cometeram atos
autolesivos (e.g., cortes) e 15 (6.7%) tentaram pôr fim à sua própria vida.
3.3 Instrumentos
3.3.1 Questionário Sociodemográfico e Clínico
O Questionário Sociodemogfico e Clínico foi desenvolvido para a investigação em causa,
permitindo recolher a informação acerca das variáveis sociodemográficas, tais como a idade, o
género, a nacionalidade, o distrito de residência, o estado civil e as habilitações literárias. Ade-
mais, possibilitou conhecer o historial clínico e psicopatogico do indivíduo.
3.3.2 Escala Multidimensional de Perfeccionismo (HMPS)
A Escala Multidimensional de Perfeccionismo, originalmente designada de Multidimensional
Perfectionism Scale (Hewitt & Flett, 1991), foi adaptada para a versão portuguesa por Soares et al.
(2003). Detém como principal finalidade analisar as três dimensões do perfeccionismo: PAO, PSP
e POO.
A HMPS é constituída por 45 itens, avaliados numa escala de Likert de 7 pontos, de 1 (Dis-
cordo completamente) a 7 (Concordo completamente). Os itens distribuem-se por três subescalas:
perfeccionismo auto-orientado (18 itens) (e.g., Preocupo-me em ter um resultado perfeito em
tudo”), perfeccionismo socialmente prescrito (14 itens) (e.g., “Sinto que as outras pessoas exigem
demais de mim) e perfeccionismo orientado para os outros (8 itens) (e.g., “É-me indiferente que
um bom amigo não tente fazer o seu melhor”) (Soares et al., 2003).
Relativamente à pontuação, cada item é cotado numa escala de 1 a 7, porém, 19 itens o
cotados em sentido inverso. A pontuão total é alcaada através da soma das pontuações de
cada item. Quanto mais elevada for a pontuação, mais elevados são os níveis de perfeccionismo
(Soares et al., 2003).
A versão original da escala demonstra qualidades psicométricas satisfatórias, assim como,
a versão portuguesa que evidencia uma consistência interna adequada, tanto na escala total
(=.89), como nas subescalas que a constituem: PAO ( = .89), PSP ( = .83) e PAO ( = .69) (Soares et
al., 2003).
No presente estudo foram utilizadas apenas duas das três subescalas, nomeadamente as que
avaliam o perfeccionismo auto-orientado e o perfeccionismo socialmente prescrito. Optou-se
por esta restrão, devido as dimenes selecionadas apresentarem maior evidência empírica,
quando relacionadas com os comportamentos suicidários. Deste modo, é pertinente salientar
o que cada uma averigua, o PAO avalia o estabelecimento de padrões excessivamente elevados
para o pprio indivíduo e o PSP mede a perceção de que os outros definem e impõem padrões e
expetativas irrealistas dirigidas ao próprio indivíduo (Hewitt & Flett, 1991).
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
Relativamente à fiabilidade, as subescalas utilizadas no presente estudo revelaram uma boa
consistência interna: PAO ( = .91); PSP ( = .87).
3.3.3 Inventário de Ideação Suicida Positiva e Negativa (PANSI)
O Inventário de Ideação Suicida Positiva e Negativa (Positive and Negative Suicide Ideation
Inventory), desenvolvido por Osman et al. (1998) e está em adaptação para a população portu-
guesa por Brás et al. e tem como objetivo avaliar os pensamentos positivos e negativos relaciona-
dos com a ideação suicida nas duas últimas semanas.
O PANSI é um instrumento de autorresposta, composto por 14 itens, expostos numa escala de
Likert de cinco pontos, mais precisamente, de 1 (Nunca) a 5 (Muito frequentemente). Divide-se em
dois fatores: ideação negativa (e.g., Sentiu desesperaa face ao futuro e ponderou terminar com
a sua ppria vida?) e ideação positiva (e.g., “Sentiu-se confiante na sua capacidade de lidar com
a maioria dos problemas da sua vida?”), sendo o primeiro composto por oito itens e, o segundo
por seis itens (Osman et al., 1998).
No que diz respeito à pontuação, o PANSI não permite o cálculo de um score único total. Ainda
assim, é possível obter o score de cada fator através da média aritmética dos itens (Muehlenkamp
et al., 2005). Uma pontuação elevada de ideação negativa sugere uma maior frequência de idea-
ção suicida, enquanto uma classificação elevada na ideação positiva remete para uma menor
frequência de ideação suicida (Osman et al., 1998).
No que concerne à consistência interna, verifica-se que, no estudo original, foram obtidos
valores satisfatórios, tanto na subescala ideação negativa ( = .91), como na ideação positiva ( = .80)
(Osman et al., 1998).
Neste estudo utilizou-se a versão em processo de adaptação à população portuguesa, tendo
sido obtido valores adequados de consistência interna em ambas as subescalas: ideação negativa
( = .96) e ideação positiva ( = .80).
3.3.4 Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse (EADS-21)
A Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse é a versão portuguesa da Depression Anxiety
Stress Scale de Lovibond e Lovibond (1995). Foi adaptada para português por Pais-Ribeiro et al.
(2004). Tem como principal objetivo avaliar a sintomatologia associada aos estados de ansiedade,
depressão e stresse.
O instrumento é composto por 21 itens, agrupados em três subescalas: ansiedade (e.g., “Senti
dificuldades em respirar”), depressão (e.g., “Senti que não tinha muito valor como pessoa”) e
stresse (e.g., Senti que estava a utilizar muita energia nervosa”). Cada subescala é constituída
por 7 itens, com 4 hipóteses de resposta: de 0 (Não se aplicou nada a mim) a 3 (Aplicou-se a mim a
maior parte das vezes). Os itens remetem para sintomas afetivos negativos, onde os sujeitos ava-
liam a extensão em que experimentaram cada sintoma durante a última semana (Pais-Ribeiro et
al., 2004).
A escala proporciona três pontuações, uma para cada dimensão, que são estipuladas pela
soma dos resultados dos 7 itens correspondentes, podendo variar entre um mínimo de 0 e um
máximo de 21 pontos. As classificações mais elevadas de cada subescala correspondem a esta-
dos afetivos mais negativos (Pais-Ribeiro et al., 2004).
Considerando os objetivos do presente estudo, apenas será analisada a subescala da depres-
são. Esta inclui itens direcionados à disforia (e.g., “Senti-me desanimado e melancólico”), desânimo
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Jenifer Mata, Ana Isabel Reis, Marta Brás
(e.g., “Senti que não tinha nada a esperar do futuro”), desvalorização da vida (e.g., “Senti que a
vida não tinha sentido”), autodepreciação (e.g., “Senti que não tinha muito valor como pessoa”),
falta de interesse ou de envolvimento (e.g., “Não fui capaz de ter entusiasmo por nada”), anedo-
nia (e.g., “Não consegui sentir nenhum sentimento positivo”) e inércia (e.g., “Tive dificuldade em
tomar iniciativa para fazer coisas”) (Pais-Ribeiro et al., 2004).
Relativamente à fiabilidade, o instrumento revela valores satisfatórios de consistência interna
nas suas subescalas: ansiedade ( = .74), depressão ( = .85) e stresse ( = .81) (Pais-Ribeiro et al., 2004).
Na presente investigação obteve-se uma consistência interna muito boa, mais especifica-
mente, na escala total ( = .96) e na subescala depressão ( = .93).
4.3.5 Questionário de Trauma de Inncia – Versão Breve (CTQ-SF)
O Questionário de Trauma de Infância Versão Breve é a versão portuguesa (Dias et al., 2013)
do Childhood Trauma Questionnaire Short Form (Bernstein et al., 2003). É um instrumento de
autorresposta que permite avaliar a existência de eventos traumáticos na infância.
O questionário é composto por 28 itens, apresentados numa escala de Likert de 1 (Nunca)
a 5 (Sempre). Analisa cinco componentes traumáticas, nomeadamente, o abuso emocional (e.g.,
“Pessoas da minha infância diziam coisas que me magoaram ou ofenderam”), o abuso físico (“Na
minha infância batiam-me tanto que me deixavam pisado ou com nódoas negras no corpo”), o
abuso sexual (e.g., Tentaram forçar-me a fazer ou a assistir a algo sexual”), a negligência emo-
cional (e.g., “As pessoas da minha família cuidavam uma das outras”) e a negligência física (e.g.,
“Tinha que usar roupas sujas”). Cada subescala é constituída por 5 itens (Dias et al., 2013).
Quanto à cotação, os itens são pontuados de 1 a 5, de acordo com a frequência em que ocor-
reram, à exceção dos itens que descrevem uma infância agradável (2, 5, 7, 13, 19, 26 e 28), que são
cotados de modo inverso. A classificação final é obtida através da soma das cotações de cada
uma das questões, sendo que valores mais elevados indicam uma maior e mais grave exposição
a traumas na infância (Dias et al., 2013).
A nível de fiabilidade, a versão portuguesa apresenta resultados adequados na escala total
(=.84) e nas suas subescalas: abuso emocional ( = .71), abuso físico ( = .77), abuso sexual (=.71)
e negligência emocional ( = .79), à exceção da subescala negligência física ( = .47) que apresenta
uma consistência interna baixa (Dias et al., 2013).
No presente estudo, os valores da consistência interna mostraram-se satisfatórios, tanto para
a escala total ( = .82), como para as respetivas subescalas, abuso emocional ( = .87), negligência
emocional ( = .89), abuso sexual ( = .92) e abusosico ( = .81). Por outro lado, a subescala negligên-
cia física ( = .58) apresenta uma consistência interna baixa, à semelhaa dos valores obtidos no
estudo da versão portuguesa do instrumento.
3.4 Procedimentos
3.4.1 Procedimento de recolha de dados
A aplicão do protocolo realizou-se online, com recurso à plataforma digital Google Forms.
Previamente ao preenchimento do formulário, os participantes tiveram que dar o seu consen-
timento informado, que os clarificava acerca do propósito da investigação e assegurava o cum-
primento de questões éticas à investigação científica. Todos os participantes foram informados,
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por escrito, de que a sua participação era voluntária e anónima, existindo a possibilidade de
desistência, se assim o desejassem. Constou também que os dados recolhidos eram completa-
mente confidenciais e utilizados apenas para fins da presente investigação. O link para aceder ao
formulário foi divulgado através das redes sociais e de contactos informais no primeiro semestre
de 2021.
3.4.2 Procedimento de análise de dados
Os dados recolhidos foram analisados detalhadamente com recurso ao software Statis-
tical Package for the Social Sciences SPSS (versão 26.0) para Windows. Recorreu-se também à
calculadora interativa de Preacher e Leonardelli (2001) para o lculo do teste de Sobel e ao pro-
grama ModGraph-I (José, 2013) para a construção dos gráficos de moderação.
Numa primeira instância, efetuou-se a análise descritiva dos dados obtidos, através das
medidas de tendência central e de dispersão, mais precisamente, a média e o desvio-padrão.
Posteriormente, recorreu-se à análise de correlações (Coeficiente de Correlação de Pearson) entre
as variáveis em estudo, com o intuído de analisar as associações entre os construtos. Realizou-se
regressões lineares para estudar o valor preditivo das variáveis na ideação suicida. E, por último,
efetuou-se análises de mediação e de moderação, recorrendo ao modelo de Baron e Kenny (1986),
com o propósito de aprofundar o valor que as variáveis possuem nas relações existentes.
Para avaliar o efeito da mediação seguiram-se os seguintes procedimentos: (a) verificar a
existência de correlão entre a variável independente e a variável dependente; (b) verificar se a
variável independente es correlacionada significativamente a variável mediadora; (c) verificar
se a variável mediadora afeta a relão existente entre a variável independente e dependente;
(d) analisar se o efeito indireto da mediação é significativo; e (e) verificar se a mediação é total
(a relação entre a variável independente e dependente deixa de ser significativa, na presença
de uma terceira variável) ou parcial (a intensidade da relação entre a variável independente e
dependente é atenuada, na presença de uma terceira variável mediadora).
Em relação à moderação: (a) centrar o preditor e o moderador; (b) criar uma nova variável
representando a interação entre as duas variáveis (preditor e moderador); (c) realizar uma regres-
são múltipla por blocos, em que entram em primeiro lugar os preditores isolados e em segundo a
nova variável, caso o contributo específico do 2º bloco for significativo, então existe moderação;
e (d) como deu significativo, calcular os declives e representar graficamente.
5. Resultados
5.1 Análise Descritiva
Apresentam-se, de seguida, as estatísticas descritivas média e desvio-padrão das variá-
veis estudadas (Tabela 1).
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TABELA1
Estatísticas Descritivas da Ideação Suicida, Perfeccionismo, Depressão e Acontecimentos de Vida Negativos
M DP
IN (PANSI) 1.53 0.98
IP (PANSI) 3.67 0.72
PAO (HMPS) 82.65 18.74
PSP (HMPS) 45.87 13.91
EADS-21 25.13 16.57
D (EADS-21) 7.65 6.20
CTQ-SF 47.59 10.42
AE (CTQ-SF) 9.00 4.58
NE (CTQ-SF) 9.92 4.52
AS (CTQ-SF) 5.93 2.86
AF (CTQ-SF) 5.66 1.94
NF (CTQ-SF) 6.39 2.17
Nota. M = Média; DP = Desvio-Padrão; IN (PANSI) = Ideação Negativa; IP (PANSI) = Ideão Positiva; PAO (HMPS) = Perfeccionismo Auto-Orientado;
PSP (HMPS) = Perfeccionismo Socialmente Prescrito; EADS-21 = Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse; D (EADS-21) = Depressão; CTQ-SF =
Questiorio de Trauma de Infância – Versão Breve; AE (CTQ-SF) = Abuso Emocional; NE (CTQ-SF) = Negligência Emocional; AS (CTQ-SF) = Abuso
Sexual; AF (CTQ-SF) = Abuso Físico; NF (CTQ-SF) = Negligência Física.
No que diz respeito à pontuação da amostra total na ideação negativa (amplitude de 1-5),
pode-se observar valores abaixo do valor médio central da escala (M = 1.53; DP = 0.98). Contra-
riamente, a ideação positiva encontra-se acima da pontuação central. Deste modo, é possível
destacar que a ideação suicida nestes jovens-adultos, não é, globalmente, elevada.
Quanto às dimenes do perfeccionismo, o perfeccionismo auto-orientado evidencia um
valor dio total relativamente elevado (amplitude de 18-126), enquanto que o perfeccionismo
socialmente prescrito obteve um valor médio ligeiramente abaixo da pontuação central, tendo
em consideração a amplitude de respostas possíveis (14-98 pontos). A depressão mostra um valor
médio total relativamente baixo (amplitude de 0-21).
Em relação ao estudo dos acontecimentos de vida negativos, constatou-se que o valor médio
é relativamente baixo, considerando a amplitude de cada escala total (entre 28 e 140) e de cada
subescala (entre 5 e 25 pontos).
5.2 Relação entre perfeccionismo, sintomatologia depressiva e acontecimentos de vida
negativos
De modo a compreender a relão entre os fatores de risco em estudo, nomeadamente entre
as dimensões do perfeccionismo, a sintomatologia depressiva e os acontecimentos de vida nega-
tivos, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Pearson (Tabela 2).
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
TABELA2
Correlações de Pearson (r) entre os Fatores de Risco
PAO (HMPS) PSP (HMPS) D (EADS-21)
PSP (HMPS) .35*** -
D (EADS-21) .06 .48*** -
CTQ-SF .14* .44*** .41***
Nota. PAO (HMPS) = Perfeccionismo Auto-Orientado; PSP (HMPS) = Perfeccionismo Socialmente Prescrito; D (EADS-21) = Depressão; CTQ-SF =
Questiorio de Trauma de Infância – Versão Breve.
* p < .05; ** p < .01; *** p < .001
O perfeccionismo auto-orientado apresenta uma correlação positiva, com significância esta-
tística, mas negligenciável com os acontecimentos de vida negativos (p = .031) e não se associa de
forma significativa com a sintomatologia depressiva (p = .416).
O perfeccionismo socialmente prescrito correlaciona-se de positiva, moderada e significati-
vamente com a depressão (p < .001) e com os acontecimentos de vida negativos (p < .001).
De referir, ainda, que a depressão e os acontecimentos de vida negativos se encontram cor-
relacionados de forma positiva, moderada e muito significativa (p < .001), indicando que tendem
a evoluir no mesmo sentido.
Torna-se possível verificar que, na globalidade, os fatores de risco correlacionam-se de forma
positiva entre si.
Prosseguindo com a análise das associações entre as variáveis, procurou-se, desta vez,
conhecer a relação entre os fatores de risco considerados e a ideação suicida positiva e negativa
(Tabela 3).
TABELA3
Correlações de Pearson (r) entre os Fatores de Risco e a Ideação Suicida
IN (PANSI) IP (PANSI)
PAO (HMPS) .04 .05
PSP (HMPS) .41*** -.47***
EADS-21 .60*** -.52***
D (EADS-21) .67*** -.62***
CTQ-SF .44*** -.29***
AE (CTQ-SF) .35*** -.32***
NE (CTQ-SF) .46*** -.40***
AS (CTQ-SF) .38*** -.22***
AF (CTQ-SF) .14* .00
NF (CTQ-SF) .34*** -.16*
Nota. IN (PANSI) = Ideação Negativa; IP (PANSI) = Ideão Positiva; PAO (HMPS) = Perfeccionismo Auto-Orientado; PSP (HMPS) = Per-
feccionismo Socialmente Prescrito; EADS-21 = Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse; D (EADS-21) = Depressão; CTQ-SF = Ques-
tionário de Trauma de Inncia – Versão Breve; AE (CTQ-SF) = Abuso Emocional; NE (CTQ-SF) = Neglincia Emocional; AS (CTQ-SF)
= Abuso Sexual; AF (CTQ-SF) = Abuso Físico; NF (CTQ-SF) = Negligência Física.
* p < .05; ** p < .01; *** p < .001
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Os resultados da Tabela 3 mostram, tal como seria de esperar, que os fatores de risco se asso-
ciaram de forma positiva com a ideação negativa.
Obteve-se uma correlação não significativa entre o perfeccionismo auto-orientado e ideação
negativa (p = .546). Relativamente ao perfeccionismo socialmente prescrito e a ideação negativa,
verificou-se uma associão significativa, positiva e moderada (p < .001). Estes resultados apon-
tam que quanto maior os níveis de perfeccionismo socialmente prescrito, maior a tendência do
jovem-adulto para pensamentos acerca de condutas suicidas.
A respeito da depressão apurou-se uma correlação significativa, positiva e forte com a idea-
ção negativa (p < .001). Tais resultados sugerem que, quanto maiores os níveis de sintomatologia
depressiva experienciados pelo jovem-adulto, maior será a sua propensão para a ideação suicida.
No que se refere aos acontecimentos de vida negativos (CTQ-SF) e a ideação negativa, cons-
tatou-se uma associação significativa e positiva ao nível da escala total (r = .44, p < .001) e das
subescalas abuso emocional, abuso sexual, negligência física e negligência emocional. Os resul-
tados obtidos apontam para que, quanto mais frequentes e quanto maior o impacto dos aconteci-
mentos de vida negativos, maior será a tendência para pensamentos suicidas.
Os coeficientes de correlão de Pearson são globalmente negativos entre os fatores de risco
e a ideação positiva.
O perfeccionismo auto-orientado e a subescala de abuso físico não se associam significati-
vamente com a ideação positiva. As restantes variáveis apresentam uma correlação negativa e
significativa e moderada com a ideação positiva.
De modo a estimar o contributo diferencial dos fatores de risco na explicação da ideação
suicida, recorreu-se à técnica de regressão linear. Considerou-se, nesse âmbito, o perfeccionismo
socialmente prescrito, a depressão e os acontecimentos de vida negativos como variáveis predi-
toras e a ideação negativa como variável dependente (Tabela 4).
TABELA4
Contributo das Variáveis na Explicação da Ideação Suicida (IN - PANSI)
Ideação Suicida Negativa (IN - PANSI)
PSP (HMPS) b = .055
= .48***D (EADS-21) b = .563***
CTQ-SF b = .185***
Nota. * = Valor significativo; = Coeficiente de Determinação; b = Coeficiente de regressão padronizado; PAO (HMPS) = Perfeccionismo
Auto-Orientado; PSP (HMPS) = Perfeccionismo Socialmente Prescrito; D (EADS-21) = Depreso; CTQ-SF = Questionário de Trauma de
Inncia Versão Breve.
* p < .05; ** p < .01; *** p < .001
A análise dos resultados da Tabela 4 mostra que os fatores de risco expostos explicam 48%
dos níveis de ideação suicida, sendo o contributo da depressão (p < .001) e dos acontecimentos de
vida negativos (p = .001) bastante significativos. O perfeccionismo socialmente prescrito (p=.344)
não contribuiu de forma significativa para o modelo de regressão. A sintomatologia depressiva
apresentou o maior contributo constituindo-se como o melhor preditor da ideação suicida.
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5.3. Relação entre os acontecimentos de vida negativos e a ideação suicida: o papel media-
dor da sintomatologia depressiva
No prosseguimento dos objetivos explorou-se se a relão entre os acontecimentos de vida
negativos e a ideação suicida é apenas direta ou se mediada pela sintomatologia depressiva.
Assim, consideraram-se os acontecimentos de vida negativos como variável independente; a
ideação negativa como variável dependente e o eventual papel mediador da depressão (Figura 1).
Numa primeira instância, analisou-se a correlação entre a variável independente e a variá-
vel dependente, ou seja, se existe uma associação significativa entre os acontecimentos de vida
negativos e a ideação suicida. Os resultados revelam um valor significativo (b = .439, p < .001).
De seguida, averiguou-se se existia uma relação linear entre os acontecimentos de vida nega-
tivos e a depressão, onde foi possível confirmar a exisncia de um efeito significativo (b = .408,
p < .001).
De modo a verificar se a sintomatologia depressiva afeta a relação entre os acontecimentos
de vida negativos e a ideação suicida, realizou-se uma regressão múltipla, obtendo-se que o con-
tributo da sintomatologia depressiva quando inclui também os acontecimentos de vida negativos
para explicar a ideação suicida é significativo (b = .583, p < .001). Esta regressão mostrou ainda
que, apesar de o valor baixar (de b = .439 para b = .201), a associação entre os acontecimentos de
vida negativos e a ideação suicida mantém-se significativa na presença do mediador (b = .201,
p<.001), resultando numa mediação parcial.
Posteriormente, recorreu-se ao Teste de Sobel, com a finalidade de analisar a significância do
efeito mediador, isto é, se a sintomatologia depressiva desempenha um papel mediador na rela-
ção entre os acontecimentos de vida negativos e a ideação suicida. Os resultados obtidos indicam
que o efeito mediador (indireto) é significativo (Teste de Sobel = 5.82, p < .001).
Por último, avaliou-se a percentagem da mediação parcial.
FIGURA1
Modelo de Mediação relativamente ao efeito da depressão na relação entre os acontecimentos de viga
negativos e a ideação suicida
Acontecimentos de vida
negativos Ideação suicida
Depressão
b = .201
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TABELA5
Análise de Mediação: Acontecimentos de Vida Negativos – Depressão – Ideação Suicida (IN – PANSI)
Efeito em estudo Efeito total Efeito direto Efeito indireto Observações
AVN IN
(D) 0.44*** 0.20*** 0.24*** Mediação Parcial
(54.21%)
Nota. * = Valor significativo; AVN = Acontecimentos de Vida Negativos; IN = Ideação Suicida Negativa; D = Depressão.
* p < .05; ** p < .01; *** p < .001
A relação entre os acontecimentos de vida negativos e a ideação suicida (Tabela 5), não foi
totalmente explicada pela variável independente, existindo o efeito de mediação parcial (54,21%)
da depressão.
5.4 Relação entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida: o papel moderador das
dimensões do perfeccionismo
De acordo com a literatura, considerou-se relevante, analisar o papel moderador das dimen-
es do perfeccionismo na relão entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida. Cons-
tatou-se que o perfeccionismo auto-orientado não modera a relação entre a sintomatologia
depressiva e a ideação suicida ( = .002, p = .383). Contudo, o perfeccionismo socialmente prescrito
modera ( = .033, p < .001), sugerindo que a relação entre as variáveis é mais intensa em sujeitos
com níveis mais elevados de perfeccionismo socialmente prescrito (Figura 2).
FIGURA2
Gráfico do efeito da moderação da depressão na relação entre perfeccionismo socialmente prescrito e
ideação suicida
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6. Discussão
A presente investigação teve como principal objetivo analisar a influência dos acontecimen-
tos de vida negativos, das dimensões do perfeccionismo e da sintomatologia depressiva na idea-
ção suicida, numa amostra de jovens-adultos de nacionalidade portuguesa. Acrescenta-se que,
estudou-se a relação entre as variáveis, o papel das diferentes variáveis na explicação da ideação
suicida e o modo como estas interagem com a ideação suicida.
É pertinente salientar que, ao longo do estudo, assumiu-se a ideação suicida (pensamentos e
cognições sobre pôr fim à própria vida) como variável dependente, uma vez que é considerada o
marco primário do processo suicidário. Representa um forte preditor para a ocorrência de com-
portamentos suicidários, o que significa que, quanto maior for os níveis de ideação suicida, maior
será o risco para que o indivíduo cometa um comportamento suicida (DGS, 2013). Através dos
resultados, foi possível verificar que quase metade dos jovens-adultos sentiram que não valia
apena viver (46.4%). Deste modo, enaltece-se a necessidade de atribuir uma especial atenção a
esta população, realçando que de facto é um resultado preocupante.
Tendo em consideração que o risco de suicídio não é apenas determinado pela ideação sui-
cida, pretendeu-se explorar os níveis dos seguintes fatores de risco: perfeccionismo, aconteci-
mentos de vida negativos e sintomatologia depressiva.
A análise dos valores médios das variáveis em estudo evidenciou que os jovens-adultos pon-
tuaram tendencialmente baixo nas variáveis consideradas de risco para os atos suicidas, nomea-
damente no perfeccionismo socialmente prescrito, na depressão, nos acontecimentos de vida
negativos e na ideação suicida. O que vai ao encontro com o que seria esperado, considerando
que se trata de uma amostra não-clínica. No mesmo sentido, estudos que têm comparado o risco
de suicídio entre jovens da população não-clínica e jovens da população clínica com hisria de
atos suicidas tendem a registar no primeiro grupo, valores de risco mais baixos (O’Connor, 2007).
Na alise correlacional entre os fatores de risco em estudo, os resultados evidenciaram que
estes correlacionam-se de forma positiva e significativa.
Os acontecimentos de vida negativos apresentam uma associação significativa com ambas
as dimensões do perfeccionismo (perfeccionismo auto-orientado e perfeccionismo socialmente
prescrito), o que vai ao encontro do estudo de Chen et al. (2019) que revela que os abusos infan-
tis são preditores do perfeccionismo auto-orientado e do perfeccionismo socialmente prescrito.
Deduz-se, portanto, que jovens que registaram maior ocorrência de acontecimentos de vida
negativos, tendem a apresentar também níveis mais elevados de perfeccionismo.
Os acontecimentos de vida negativos também se associaram significativamente à depressão.
Pinto et al. (2015) enaltecem que a exposição a experiências adversas na infância é um preditor
da sintomatologia depressiva. Chang et al. (2016) enfatizam ainda que a ocorrência de aconteci-
mentos de vida negativos aumenta significativamente o surgimento de sintomatologia depressiva
e comportamentos suicidas. Em conformidade com os resultados, destaca-se que quanto maior
a vivência de acontecimentos de vida negativos, maior será a propensão para desenvolver sinto-
matologia depressiva.
Relativamente à relação entre a depressão e as duas dimensões do perfeccionismo, a sin-
tomatologia depressiva apenas se associa ao perfeccionismo socialmente prescrito. Este resul-
tado corrobora o estudo de Smith et al. (2018) que evidencia que o perfeccionismo socialmente
prescrito confere vulnerabilidade aos indivíduos para desenvolverem sintomatologia depressiva.
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Contudo, acaba por refutar o estudo de Besser et al. (2010), visto que admitia que indivíduos com
altos níveis de perfeccionismo auto-orientado também são propensos a desenvolver sintomatolo-
gia depressiva.o obstante, Kiani e Khodabakhsh (2014) ressaltam a importância do perfeccio-
nismo na predição da sintomatologia depressiva. Os resultados sugerem, desta forma, que quanto
maior os níveis de perfeccionismo socialmente prescrito, maior será a tendência do jovem-adulto
para desenvolver sintomatologia depressiva.
No prosseguimento da alise de resultados constatou-se que o perfeccionismo socialmente
prescrito, os acontecimentos de vida negativos e a depressão se associam de forma positiva com
a ideação suicida. Estes resultados corroboram estudos anteriores (e.g., Garlow et al., 2008; Liu &
Miller, 2014; May & Klonsky, 2016; Roxboroug et al., 2012; Serafini et al., 2015; Smith et al., 2017;
Ystgaard et al., 2004), sugerindo que tanto o perfeccionismo socialmente prescrito, os aconte-
cimentos de vida negativos e a depressão poderão aumentar a vulnerabilidade para a ideação
suicida.
Por outro lado, o perfeccionismo auto-orientado não se correlacionou com a ideação suicida,
o que contraria o que se encontra exposto na literatura, que ambas as variáveis se encontram
associadas (Robinson et al., 2021; Smith et al., 2017).
Procurou-se compreender o efeito das variáveis como potenciais fatores de risco nos níveis
de ideação suicida enquanto variável dependente, à exceção do perfeccionismo auto-orientado,
pois não apresentou uma correlação significativa com a ideação suicida. Quando se analisou
ocontributo diferencial destes fatores constatou-se que, em conjunto, explicam quase metade
(= .48) dos níveis de ideação suicida, sendo o contributo positivo e significativo. Embora se pers-
petive teoricamente que o perfeccionismo socialmente prescrito se associa positiva e significa-
tivamente com a ideação suicida, o seu contributo não foi significativo na presença dos outros já
referidos.
Apurou-se, ainda, que a depressão é a variável com o maior valor preditor. Este resultado é
altamente corroborado pela literatura, sendo que os indivíduos que apresentam ideação suicida
manifestam sintomas depressivos significativamente mais graves (Garlow et al., 2008).
Dado o contributo dos acontecimentos de vida negativos e o seu estatuto de variável inde-
pendente, pela sua própria natureza, procurou-se, compreender se o papel deste sobre a ideação
suicida era, exclusivamente, direto ou mediado pela depressão.
Primeiramente, constatou-se que existe uma associação significativa entre os acontecimen-
tos de vida negativos e os níveis de ideação suicida. Isto é, a ocorrência de acontecimentos de
vida negativos, aumenta a vulnerabilidade do jovem-adulto para desenvolver pensamentos sui-
cidas. Serafini et al. (2015) evidenciam que uma relação robusta entre os acontecimentos de
vida negativos e a ideação suicida.
Em seguida, averiguou-se se havia uma associação entre os acontecimentos de vida negati-
vos e a sintomatologia depressiva, obtendo-se um valor significativo e positivo, concluindo que
ambas tendem a evoluir no mesmo sentido. Chang et al. (2016) enfatizam que a existência de
acontecimentos de vida negativos aumenta significativamente o surgimento de sintomatologia
depressiva.
Por fim, obteve-se que existe uma mediação parcial da depressão, na relação entre os aconte-
cimentos de vida negativos e a ideação suicida, corroborando com o estudo de Sobrinho e Cam-
pos (2016), que destaca o papel mediador da sintomatologia depressiva entre os acontecimentos
de vida negativos e o risco de suicídio. É possível concluir que a presença de sintomatologia
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Perfeccionismo, sintomatologia depressiva eacontecimentos de vida negativos na ideação suicidaemjovens-adultos
depressiva, juntamente com a exposição a acontecimentos de vida negativos, acentua os níveis
de ideação suicida apresentados pelos jovens-adultos. Embora o contributo dos acontecimentos
de vida negativos para a ideação suicida diminuía na presença da sintomatologia depressiva,
continua a ser estatisticamente diferente de zero, o que significa que, além da relação mediada
existe uma relação direta com a mesma.
Este resultado dá suporte ao Modelo Etiológico do Comportamento Suicida, desenvolvido por
Yang e Clum, em 1996, uma vez que os autores postularam que existe uma associação entre os
acontecimentos de vida negativos, os fatores cognitivos e o comportamento suicida. Segundo o
modelo em questão, os acontecimentos de vida negativos podem conduzir ao desenvolvimento
do comportamento suicida direta ou indiretamente.
Numa última instância, investigou-se o papel moderador das dimensões do perfeccionismo
na relação entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida. Johnson et al. (2011) revelam
que elevados níveis de perfeccionismo contribuem para amplificar outros fatores de risco que se
encontram subjacentes ao comportamento suicidário.
Obteve-se que o perfeccionismo socialmente prescrito modera a relação entre a sintomato-
logia depressiva e a ideação suicida. Hewitt et al. (2014) enfatizam que o perfeccionismo social-
mente prescrito é relevante na previsão do potencial suicida em adolescentes deprimidos. Fina-
liza-se que a relação entre a depressão e a ideação suicida é mais intensa em jovens-adultos com
mais níveis de perfeccionismo socialmente prescrito.
Os jovens-adultos com perfeccionismo desadaptativo tendem a estabelecer expetativas
muito elevadas, objetivando metas irrealistas, que por vezes, são incapazes de alcançar. Por
consequente, pode ocorrer uma maior probabilidade de falhar, possibilitando a perceção de se
sentirem um fracasso mais frequentemente, o que pode conduzir à ideação suicida. O perfec-
cionismo socialmente prescrito pode ainda aumentar a ideação suicida na presença de indiví-
duos que apresentem sintomatologia depressiva. Além do mais, os jovens-adultos que detêm esta
dimensão do perfeccionismo poderão apresentar maior vulnerabilidade para o desenvolvimento
de sintomatologia depressiva (Smith et al., 2018).
Na globalidade, os resultados foram ao encontro com o que estava estipulado na literatura,
enaltecendo que o perfeccionismo, os acontecimentos de vida negativos e a sintomatologia
depressiva são variáveis que conferem risco para o comportamento suicidário, sobretudo, para
a ideação suicida.
7. Conclusão
O presente estudo possibilitou investigar as relações entre os diferentes fatores de risco para
o comportamento suicidário, potencializando a compreensão de quais demonstram maior con-
tributo para a ideação suicida e o modo como interagem. Ressalta-se que os elevados níveis de
perfeccionismo, a vivência de acontecimentos de vida negativos e a presença de sintomatologia
depressiva são fatores essenciais para a identificação e prevenção do comportamento suicida,
devido a despoletarem elevados níveis de ideação suicida. No que concerne à relão entre os
acontecimentos de vida negativos a ideação suicida, conclui-se que o efeito entre as variáveis é
parcialmente mediado pela sintomatologia depressiva. Adicionalmente, a relação entre a sinto-
matologia depressiva e a ideação suicida é moderada pelo perfeccionismo socialmente prescrito.
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Apesar de se terem alcançados os objetivos delineados, podemos enunciar algumas limi-
tações na presente investigação. A primeira limitação remete para a dimensão do protocolo de
recolha de dados, devido à sua extensão, visto que incluiu diversos instrumentos, o que poderá
ter contribuído para uma diminuão dos níveis de atenção, concentração e motivação por parte
dos participantes, influenciando, de certo modo, a qualidade das suas respostas. A segunda limi-
tação relaciona-se com o facto de a recolha de dados ter sido elaborada online, o que por si só,
pode acarretar fatores externos mais difíceis de controlar. A terceira limitação fundamenta-se
no facto de não ter sido possível recolher uma amostra clínica, condicionando o conhecimento
aprofundado acerca da temática. A quarta limitação aponta para a grande discrepância entre
sexos, sendo que o mero de participantes do sexo feminino é evidentemente superior ao do
sexo masculino.
Não obstante, verifica-se que o estudo permitiu: caracterizar os níveis de ideação suicida na
amostra de jovens-adultos e o grau de prevalência das outras variáveis; validar o estatuto dos
fatores de risco para a ideação suicida; ter explorado o potencial preditor dos fatores de risco,
permitindo destacar aqueles que apresentam mais proeminência; destacar o papel que a sinto-
matologia depressiva assume enquanto variável mediadora na relação entre os acontecimen-
tos de vida negativos e, por último; salientar o efeito moderador do perfeccionismo socialmente
prescrito na relação entre a sintomatologia depressiva e a ideação suicida.
A nível das implicações clínicas/práticas do estudo, considera-se de extrema imporncia
que o jovens-adultos que sejam vítimas de acontecimentos de vida negativos, apresentem ele-
vados níveis de perfeccionismo socialmente prescrito e que revelem sintomatologia depressiva,
beneficiem de apoio e acompanhamento psicológico o mais precocemente possível, de modo a
evitar que os fatores em questão desencadeiem elevados níveis de ideação suicida e, consequen-
temente, aumentar o risco do jovem-adulto cometer algum ato suicida. Neste sentido, em termos
de intervenção psicológica, é necesrio intervir em jovens que tenham sido expostos a aconte-
cimentos de vida negativos, potenciando a diminuição da sintomatologia depressiva, uma vez
que afeta parcialmente a relação entre as experiências adversas e os níveis de ideação suicida.
Intervir também em jovens que apresentam traços e comportamentos perfeccionistas, sobre-
tudo, se for a crença que os outros possuem pades e expetativas irrealistas para si próprio, pois
o perfeccionismo socialmente prescrito modera a relação entre a sintomatologia depressiva e a
ideação suicida.
Quanto a sugestões para estudos futuros, sugere-se a continuação do estudo dos mesmos
fatores e a inclusão de novos fatores, de modo a compreender os fatores que explicam os níveis
de ideação suicida; investigar noutros potenciais papéis mediadores e moderadores; incluir uma
amostra clínica, considerando a relevância da psicopatologia para a ideação suicida e para veri-
ficar se a interação entre as variáveis se mantém significativa; e, poderá ser pertinente recorrer
a amostras equilibradas em relação ao número de participantes do sexo masculino e feminino,
com a finalidade que seja possível generalizar os resultados.
Em suma, é de extrema imporncia continuar a investigar os fatores preditores associados
ao processo suicidário, de modo a aumentar a prevenção do suicídio, diminuindo assim, a inci-
dência do suicídio nesta faixa etária em Portugal. É relevante proporcionar acompanhamento
psicológico especializado a jovens que tenham sido identificados com elevado nível de ideação
suicida, de modo a reduzir a sintomatologia apresentada, com vista à redução do risco do jovem
para cometer suicídio.
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C) Theoretical papers in which the author develops advances in theory based on previous published
literature.
D) Methodological papers that present new methodological approaches, modications of existing
methods or discussions of quantitative and qualitative data analytic approaches to scientic research.
E) Case studies, reports of case material obtained while working with an individual, a group, a
community or an organization.
16. The journal Psique has a limit of one paper by the same author in each issue.
17. The editorial board of Psique, responsible for the evaluation of the manuscripts to be published, is
constituted by, at least, 75% members from academic institutions outside the hosting institution of Psique.
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18. The publication of Psique is semi-annual, from the year of 2018, with publication date from January 1st to
June 30th and from July 1st to December 31st.
19. Psyche subscribes to the codes of ethics and good editorial practices, namely:
The Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for Journal Editors, from the Committee on
Publication Ethics: Committee on Publication Ethics (2011). Code of Conduct and Best-Practice
Guidelines for Journal Editors. Retrieved from http://publicationethics.org/les/Code_of_conduct_
for_journal_editors_Mar11.pdf
The White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications, Council of Science
Editors Scott-Lichter, D. & Editorial Policy Committee, Council of Science Editors (2012). CSE’s
White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications. Retrieved from https://www.
councilscienceeditors.org/wp-content/uploads/entire_whitepaper.pdf
In case of publication they permit the use of their work under a CC-BY license [http://creativecommons.org/
licenses/by/3.0/], which allows others to copy, distribute and transmit the work as well as to adapt the work
and to make commercial use of it.
For more details on the ethical obligations of authors, reviewers and editorial coordination, consult the
Publication Ethics and Best- Practice Guidelines tab.
21. The editorial process is totally free of costs for the authors. Psyche is a non-prot scientic publication.
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APPENDIX 1
Lisbon, xx xx 20xx
Dear authors
The editorial coordination of Psique asks the authors of the manuscript titled “xxx”, to be published in
volume xxx, to sign below in agreement to granting Psique the Copyright for the publication of the paper
in printed and online forms. The granting of the copyright to Psique is only legitimate if all authors sign
this
agreement.
By signing this document, the authors guarantee that the article submitted for publication is original,
exclusively of their authorship and that it respected the international ethical and methodological
standards in the scientic eld of Psychology, namely the ones proposed by the American Psychological
Association (APA) and the European Science Foundation (European Code of Conduct for Integrity of
Research). Authors are fully responsible for what is written in the articles and ensure that they do not
submit the work simultaneously to another journal for publication.
Psyche holds the copyright of the entire publication. However, each author has the copyright of his
own text. If authors decide to later republish it elsewhere, they are asked to refer to the publication in
Psique. The journal publishes in open access, does not carry out any embargo on the articles and authors
can share the article in auto le systems or in institutional repositories.
Below are the full names of the authors for signature:
Xxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
Odete Nunes
Editor in Chief of Psique
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Elaboração e submissão de artigos
A elaboração e submissão de artigos para a revista Psique subordina-se aos padrões cientícos internacionais,
de acordo com as seguintes condições:
1. Os artigos submetidos para publicação têm de ser originais e inéditos. Os autores assinam uma declaração
(Anexo 1) onde garantem:
A) Que realizaram o trabalho que apresentam e que são integralmente responsáveis pelo que está
escrito nos artigos;
B) Que respeitaram os padrões éticos e metodológicos internacionais vigentes na área cientíca
da Psicologia, propostos pela American Psychological Association (APA) e pela European Science
Foundation (European Code of Conduct for Integrity of Research);
C) E que não submeteram o trabalho simultaneamente a outra revista para publicação;
D) A revista usará de todos os meios para garantir os anteriores critérios, designadamente, podendo
pedir prova de documentos e através do uso de um soware de plágio (Urkund). Os autores
serão informados no caso de existirem indicadores de plágio, podendo pronunciar-se sobre esses
indicadores antes da rejeição do artigo.
2. A Psique detém os direitos de autor sobre a publicação, no entanto, cada autor tem o copyright do seu
próprio texto; no caso de o republicar mais tarde noutro local, pede-se a referência à publicação na Psique. A
revista não procede a qualquer embargo dos artigos. O(s) autor(s) pode divulgar o artigo em sistemas de auto
arquivo ou em repositórios institucionais.
3. Os artigos enviados para submissão devem ser remetidos em suporte eletrónico à Coordenação Editorial:
João Hipólito (jhipolito@autonoma.pt;psique@autonoma.pt).
4. Na primeira página do artigo deve constar a nome completo do(s) autor(es), sem siglas, a respetiva liação,
local e país, bem como o(s) e-mail(s) de contacto de todos os autores do artigo.
5. Os textos podem ser apresentados em português, castelhano, francês e inglês.
6. Os artigos propostos são submetidos a um processo de arbitragem cientíca, de revisão cega por pares (blind
peer review) feita por, pelo menos, dois especialistas (Doutorados em Psicologia) que fazem parte do Conselho
Editorial da revista, e cuja maioria é externa à Universidade Autónoma de Lisboa.
7. O processo de submissão e avaliação dos manuscritos submetidos seguirá os seguintes passos:
Os artigos são recebidos pelo Editor da revista e enviados para dois revisores. Os artigos serão
enviados sem o nome dos autores para os revisores. Todo o processo de avaliação dos artigos é feito
sob o anonimato dos autores para garantir uma “revisão cega por pares”. No processo de avaliação,
os revisores também serão mantidos anónimos para os autores;
Os revisores avaliarão os artigos e expressarão a sua opinião sobre a qualidade do artigo, sobre a
pertinência da sua publicação na revista e poderão indicar sugestões de melhoria tão especícas
quanto possível para a reformulação do artigo. No caso das opiniões dos revisores serem discordantes,
o Editor poderá decidir sobre a publicação, após a sua própria análise ao artigo, ou pode pedir um
outro parecer a um terceiro revisor;
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Os autores serão informados da decisão editorial, num período médio de três meses, que pode
consistir em:
A) Aceite (o manuscrito foi aceite para publicação na sua forma atual);
B) Aceite condicionalmente, mediante pequenas reformulações, neste caso, após as alterações
introduzidas, o artigo reformulado pode ser aceite pelo editor;
C) Convidado a re-submeter após reformulações substanciais (o tema interessa à revista, porém,
o artigo necessita de uma reformulação profunda). Nestes casos, os autores são convidados a
reformular o artigo de acordo com as sugestões dos revisores e a re-submeter à revista. Após
a reformulação dos artigos, estes serão enviados novamente aos revisores para uma segunda
avaliação;
D) Rejeitado (quando foi considerado que o manuscrito não cumpriu os critérios para
publicação na revista).
8. A linguagem de base para o envio dos cheiros originais é “.doc”.
9. A dimensão dos artigos tem um limite de 30 páginas, excluindo a lista de referências bibliográcas, tabelas
e guras.
10. As imagens (esquemas, mapas, tabelas e grácos) deverão ser referidos e identicados em obediência à
última edição do Publication Manual of the American Psychological Association (APA).
11. A estrutura dos artigos deve obedecer às regras da última edição do Manual de Publicações da APA. O
título e o resumo devem ser escritos na língua original do artigo e em inglês, bem como as palavras-chave do
artigo. O resumo tem uma dimensão limite até 200 palavras e seguem-se-lhe as palavras-chave, no máximo
de cinco.
12. As citações e referências bibliográcas são feitas de acordo com as normas da última edição do Manual de
Publicações da APA, por exemplo:
A) Artigos de Revista Cientíca: Herbst-Damm, K. L., & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support,
marital status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229.
https://doi.org/10.1037/0278-6133.24.2.225
B) Livros de Autor: Mitchell, T. R., & Larson, J. R., Jr. (1987). People in organizations: An introduction to
organizational behavior (3rd ed.). McGraw-Hill;
C) Capítulos de Livros: Bjork, R. A. (1989). Retrieval inhibition as an adaptive mechanism in
humanmemory. In H. L. Roediger III & F. I. M. Craik (Eds.), Varieties of memory & consciousness
(pp.309 -330). Erlbaum.
13. Sempre que se justique, sem prejuízo da sua inclusão no documento em “.doc”, os cheiros originais dos
quadros e guras podem ser enviados em separado, em formato JPEG, TIFF ou XLS.
14. As notas de rodapé são feitas de acordo com as normas da última edição do Manual de Publicações da APA.
15. A Psique publica cinco tipos de artigos:
A) Artigos empíricos que apresentam relatórios de investigações cientícas originais.
B) Artigos de revisão de literatura que desenvolvem análises críticas de material anteriormente
publicado.
C) Artigos teóricos em que o autor desenvolve avanços sobre teorias inovadoras ou anteriormente
publicadas.
D) Artigos metodológicos que apresentam novas abordagens metodológicas, modicação de
métodos existentes ou discussões sobre as abordagens quantitativas ou qualitativas na investigação
cientíca.
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E) Estudos de caso que reportam material de casos obtidos ao longo do trabalho com indivíduos,
grupos, uma comunidade ou uma organização.
16. A revista Psique tem um limite máximo de publicação de um artigo de um mesmo autor em cada volume.
17. O conselho editorial da Psique, responsável pela avaliação dos artigos publicados, é constituído em, pelo
menos, 75% por membros de instituições académicas externas à instituição de acolhimento da Psique.
18. A publicação é semestral, com data de publicação de 1 de janeiro a 31 de junho e de 1 de julho a 31 de
dezembro.
19. A Psique subescreve os códigos de ética e boas práticas editoriais, designadamente:
O Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for Journal Editors, do Committee on Publication
Ethics Committee on Publication Ethics (2011). Code of Conduct and Best-Practice Guidelines for
Journal Editors. Retrieved from http://publicationethics.org/les/Code_of_conduct_for_journal_
editors_Mar11.pdf
O White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications, da Council of Science
Editors Scott-Lichter, D. & Editorial Policy Committee, Council of Science Editors (2012). CSE’s
White Paper on Promoting Integrity in Scientic Journal Publications. Retrieved from https://www.
councilscienceeditors.org/wp-content/uploads/entire_whitepaper.pdf
Para mais detalhes sobre obrigações éticas dos autores, revisores e coordenação editorial, consultar
o separador Ética Editorial e Boas Práticas.
20. Em nenhuma etapa do processo editorial se estabelecem custos para os autores. A Psique é uma publicação
cientíca sem ns lucrativos.
21. Em caso de publicação, os autores permitem o uso do seu trabalho através da utilização da licença
creative commons, CC-BY [https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/], que permite a cópia, distribuição
e transmissão do conteúdo, assim como a sua adaptação para uso comercial.
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APÊNDICE 1
Lisboa, x de x de 20xx
A Revista Psique solicita que os autores do manuscrito intitulado “xxx”, a ser publicado no volume xxx,
concedam os direitos autorais do manuscrito para publicação na forma impressa e eletrónica. Informa-
mos que a concessão dos direitos autorais só será legítima, se todos os autores assinarem a presente carta.
Ao assinar o presente documento os autores garantem que o artigo submetido para publicação é ori-
ginal, é exclusivamente da sua autoria e que respeitou os padrões éticos e metodológicos internacionais
vigentes na área cientíca da Psicologia, propostos pela American Psychological Association (APA) e pela
European Science Foundation (European Code of Conduct for Integrity of Research). Os autores são in-
tegralmente responsáveis pelo que está escrito nos artigos e garantem que não submeteram o trabalho
simultaneamente a outra revista para publicação.
A Psique detém os direitos de autor sobre o conjunto da publicação, no entanto, cada autor tem os direi-
tos de autor do copyright do seu próprio texto. No caso de o republicar mais tarde, noutro local, pede-se
a referência à publicação na Psique. A revista publica em acesso aberto, não procede a qualquer embargo
dos artigos e os autores podem divulgar o artigo em sistemas de auto arquivo ou em repositórios institu-
cionais.
Seguem abaixo os nomes completos dos autores por extenso para assinatura:
Xxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
_______________________________________________________________
Odete Nunes
Editor Diretor Psique
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REVIEWERS INSTRUCTIONS
Article Review
The articles submitted to be published in Psique will be evaluated by two experts in the scientic domain of
the paper, Ph.D in Psychology.
These are the steps involved in the process of manuscript submission and acceptance/rejection:
1. Manuscripts are received by the journal’s editor in chief and aer a preliminary analysis will be
sent to two reviewers, in a double-blind peer-review system. Both reviewers’ and author’s anonymity
is preserved;
2. Reviewers will assess the manuscripts and express their opinion on the quality and pertinence for
the journal’s aims and scope and should suggest specic reformulations to improve the quality of the
manuscript.
3. In case both reviewers disagree on their assessment, the editor in chief may assess the manuscript
and decide about its publication or request the opinion of a third reviewer.
Each reviewer should carefully read the manuscript and issue a justied and reasoned report on the
appropriateness of manuscript for publication in Psique. The dimensions to consider in the evaluation process
are the following:
1. Relevance and up to date of the theme of the manuscript for the scientic eld of Psychology;
2. Coverage, adequacy and up to date of the analyzed scientic literature;
3. Appropriateness of the methodological procedures in relation to the objectives of the study;
4. Clarity of writing and correction of the article structure, according to the APA structure criteria;
5. Validity of the results obtained in relation to the objectives and the methodological procedures
developed;
6. Scope, articulation and in depth of the discussion of the results obtained;
7. Formal correction of bibliographical references, formulas and tables; according to the APA formal
criteria.
For guidelines on the ethical criteria in the editorial process please read the Publication Ethics and Best-
Practice Guidelines.
Authors will be informed of the editorial decision, usually during the period of three months, which may be:
a) Accepted (the manuscript is accepted for publication as it is);
b) Conditionally accepted (requires minor reformulations), in this case the paper may be accepted by
the editor once the author introduces the minor reformulations;
c) Invited to re-submit aer major revisions (the theme is of interest, yet the manuscript needs major
revisions). In this case, authors are advised to rewrite the manuscript in accordance to reviewers’
suggestions and re-submit it. Re-submitted manuscripts are sent to reviewers for re-assessment;
d) Rejected (when the manuscript does not meet the criteria for publication).
On the link below you will nd the evaluation format for the evaluation of manuscripts submitted to Psique
Manuscript Evaluation Sheet.
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INSTRUÇÕES AOS REVISORES
Revisão de artigos
Os artigos submetidos para serem publicados em Psique serão avaliados por dois especialistas no domínio
cientíco do estudo, doutorados em Psicologia.
As etapas envolvidas no processo de submissão e aceitação / rejeição dos manuscritos são as seguintes:
1. Os manuscritos são recebidos pelo editor da revista e, após uma análise preliminar, serão enviados
para o parecer de dois revisores, sob um sistema de revisão de pares anónimo duplo. É preservado o
anonimato tanto dos autores, como dos revisores.
2. Os revisores avaliarão os manuscritos e emitirão o seu parecer sobre a qualidade e pertinência dos
manuscritos, face aos objetivos e âmbito da revista e devem sugerir reformulações especícas para
melhorar a qualidade dos manuscritos.
3. Caso os dois revisores não estejam de acordo sobre a avaliação de um manuscrito, o editor pode
avaliar o manuscrito e decidir sobre sua publicação ou solicitar a opinião de um terceiro revisor.
Cada revisor deve ler cuidadosamente o manuscrito e emitir um relatório justicado e fundamentado sobre
a adequação do manuscrito para publicação na Psique. As dimensões a considerar no processo de avaliação
são as seguintes:
1. Pertinência e atualidade do tema para o campo cientíco da Psicologia;
2. Cobertura, adequação e atualidade da literatura cientíca analisada;
3. Adequação dos procedimentos metodológicos face aos objetivos do estudo;
4. Clareza da escrita e correção da estrutura do artigo, de acordo com os critérios APA;
5. Validade dos resultados obtidos face aos objetivos e aos procedimentos metodológicos
desenvolvidos;
6. Abrangência, articulação e profundidade na discussão dos resultados obtidos;
7. Correção formal das referências bibliográcas, fórmulas e tabelas, de acordo com os critérios
formais APA.
Para instruções sobre os critérios éticos no processo editorial, por favor, leia o separador Ética Editorial e Boas
Práticas de Publicação.
Os autores serão informados da decisão editorial, geralmente durante o período de três meses, que pode ser:
a) Aceite (o manuscrito foi aceite para publicação na sua forma atual);
b) Aceite condicionalmente, mediante pequenas reformulações. Neste caso, após as alterações
introduzidas, o artigo reformulado pode ser aceite pelo editor;
c) Convidado a re-submeter após reformulações substanciais (o tema interessa à revista, porém, o
artigo necessita de uma reformulação profunda). Nestes casos, os autores são convidados a reformular
o artigo de acordo com as sugestões dos revisores e a re-submeter à revista. Após a reformulação dos
artigos, estes serão enviados novamente aos revisores para uma segunda avaliação;
d) Rejeitado (quando foi considerado que o manuscrito não cumpriu os critérios para publicação na
revista).
Em seguida para download, encontra a cha de avaliação de manuscritos para publicação na Psique
Ficha de Avaliação de Manuscritos
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